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segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Cingapura – Por trás das grandes corporações

INSTITUTO LIBERAL
As primeiras luzes que se acendem na silhueta de Cingapura são as dos letreiros localizados no alto dos arranha-céus. Bancos. Muitos bancos. O que a paisagem não mostra é que para cada uma dessas grandes corporações existem centenas de hotéis, restaurantes e lojas de luxo; e para cada uma dessas existem milhares de pequenos negócios mantidos por pessoas comuns para atender pessoas comuns; e tudo isso emprega milhões de pessoas numa cidade desenvolvida social, econômica e urbanisticamente a um nível invejado até pelos países mais ricos do ocidente.
O que o governo de Cingapura fez para transformar uma gigantesca favela num dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo? Na verdade, a pergunta está errada. A pergunta correta é: O que o governo de Cingapura NÃO fez pelo desenvolvimento do país?
1° – Não tentou implantar uma política monetária, preferiu deixar sua moeda atrelada a outras − currency board −, não se atrevendo a manipulá-la para criar panoramas econômicos artificiais, o que atraiu investimentos estrangeiros de longo prazo e em grande escala.
2° – Não recorreu a empréstimos internacionais, obrigando o Estado e a economia local a buscar em si mesmos as soluções para seus problemas e os investimentos para seus projetos.
3° – Não impediu a entrada de grandes corporações capitalistas sob o argumento, tão comum na América Latina, de que isso feriria a soberania e roubaria o capital nacional.
4° – Não ousou controlar o mercado. Desde sua independência da Malásia, em 1965, o país segue a política (ou melhor, a não-política) de facilitar a vida da iniciativa privada, seja ela individual ou empresarial, nacional ou estrangeira. Baixa tributação e quase nada de regulação e de burocracia (o que, por si só, já minimiza o ambiente para a corrupção) possibilitaram que pessoas e empresas se dedicassem apenas a superar suas próprias limitações e os desafios do mercado para prosperarem.
5° – Não avançou sobre a propriedade privada sob o argumento de atender “interesses coletivos”.
6° – Não fez do governo um gigantesco cabide de empregos, mantendo o princípio de eficiência administrativa, consumindo menos de 20% do PIB nacional.
7° – Não implantou programas sociais em descompasso com o desenvolvimento econômico.
O resultado é visto nas ruas, na “cota do pedestre”, como dizem os arquitetos e urbanistas. Calçadas amplas e limpas, praças e parques maravilhosamente arborizados, lojas e restaurantes cheios todos os dias, moradores e imigrantes de todas as partes do mundo interagindo entre si econômica, social e culturalmente. Quase não se vê policiais. Não há mendigos. Não há favelas. Não há violência urbana. As escolas estimulam as crianças a ler, escrever e fazer contas, não a “brincar de médico” com o coleguinha. A Universidade é um lugar voltado para a pesquisa, não para a militância socialista.
Mesmo longe do centro empresarial e turístico da cidade, vemos e sentimos o que a liberdade econômica produz. Tomando como exemplo os bairros onde moram os imigrantes (chineses, indianos, paquistaneses etc), são áreas totalmente urbanizadas e arborizadas que contam com praças, parques, escolas, centros comerciais e um excelente sistema de transporte coletivo. A cidade, em toda sua modernidade, passa-nos a impressão de ter sido plantada dentro de uma floresta, dado o nível de arborização em todas as ruas, em todos os bairros.
Lee Kuan Yew, o homem que liderou tanto o processo de independência do país quanto seu desenvolvimento social e econômico é acusado de ter sido um déspota e também de ter limitado muitas liberdades civis e culturais. Diante disso, creio ser pertinente compararmos seu governo ao de outro líder, Fidel Castro, já que ambos assumiram o papel de “salvadores da pátria” na mesma época e permaneceram no poder por muitas décadas.
Cingapura não conta com nenhum recurso natural e à véspera de sua independência era um canto esquecido e miserável do mundo; Cuba é rica em recursos naturais e à véspera da revolução socialista era um dos países mais desenvolvidos do continente americano.
Lee Kuan Yew levou a pequena ilha de Cingapura à independência por vias legais, sem perseguições, sem expropriações, sem fuzilamentos; Fidel e seus anjinhos socialistas, a partir da revolução que promoveram, 
perseguiram, expropriaram e fuzilaram milhares de pessoas.
Lee Kuan Yew moldou seu projeto de desenvolvimento sobre os pilares da liberdade econômica; Fidel moldou seu projeto progressista proibindo a iniciativa privada.
Lee Kuan Yew incentivou a integração de Cingapura com o resto do mundo, principalmente com os países mais desenvolvidos, instaurando o inglês como língua oficial e convidando as multinacionais a ganharem dinheiro em seu país; Fidel impôs o nacionalismo em mais alto grau, proibindo a instalação de empresas estrangeiras e coibindo qualquer manifestação cultural que não fosse por meio da língua local e alinhada aos interesses da “revolução”.
Lee Kuan Yew proibiu as pessoas de mascarem chicletes na rua; Fidel proibiu os cubanos de saírem de Cuba.
Lee Kuan Yew tomou distância de todas as ditaduras socialistas e coibiu qualquer movimento de esquerda; Fidel se aliou a todas as outras ditaduras socialistas e tornou-se o principal mentor e patrocinador de todos os movimentos de esquerda da América Latina e África.
Lee Kuan Yew manteve o Estado enxuto e funcional; Fidel fez do Estado a casa de seu partido e vetor de doutrinação ideológica.
O resultado: Cuba foi transformada no que Cingapura era antes de sua independência; Cingapura foi transformada na cidade onde qualquer pessoa do mundo gostaria de viver. A segunda conclusão é que, sejam quais forem os programas sociais e os projetos de infraestrutura almejados por um governo, eles devem se sustentar sobre uma economia sólida e dinâmica, o que só é atingido por meio da liberdade econômica − dinheiro não brota do chão logo após conversas filosóficas, como creem os socialistas.
Cingapura sempre teve e ainda tem seus programas sociais, mas cada um deles foi implantado na medida do enriquecimento do país, o contrário do que foi feito em Cuba e em todas as ditaduras e governos socialistas, onde tentaram oferecer tudo a todos sem permitir que as pessoas pudessem pensar e trabalhar em função de si mesmas.

SOBRE O AUTOR

João Cesar de Melo

João Cesar de Melo

Arquiteto, artista plástico e escritor. Escreveu o livro “Natureza Capital”.


Fonte: Instituto Liberal

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