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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Macarthismo Climático

“O Pensamento silenciado é sempre rebelde. Maiorias, é claro, estão muitas vezes equivocadas. É por isso que o silenciamento das minorias é necessariamente perigoso. Crítica e dissidência são o antídoto indispensável para as grandes ilusões”. Alan Barth
Os chamados céticos sempre foram tratados pelos fanáticos das mudanças climáticas como hereges.  Nada mais apropriado, afinal o dito aquecimento global antropogênico há muito se tornou uma religião.  De uns tempos para cá, entretanto, o fanatismo se transformou em “guerra santa” e os mais radicais adeptos desta religião estão empenhados numa verdadeira cruzada contra os hereges.
Duvidam?  Então leiam isso:
“Mudanças climáticas antropogênicas estão acontecendo. Elas matam muita gente e vão matar muito mais. Nós temos leis para punir aqueles cujas mentiras contribuam para a morte das pessoas. É hora de castigar os mentirosos das mudança climáticas… Esses negadores devem enfrentar a prisão. Eles devem enfrentar as multas. Eles devem enfrentar processos de pessoas cujas vidas e meios de subsistência estão mais ameaçados pelas suas táticas negacionistas.”
Confesso que não dei muita atenção ao que vai acima, quando li pela primeira vez.  Afinal, era coisa de um site (blog) sem qualquer expressão, provavelmente parida da cabeça de algum lunático.  Qual não foi a minha surpresa quando deparei com uma carta, endereçada ao presidente Obama, assinada por 20 cientistas de diversas universidades americanas, basicamente pedindo a mesma coisa.
Depois de elogiar as recentes iniciativas do presidente em relação às mudança climáticas, o grupo sugere a Obama a utilização de uma nova arma contra os negadores:
“Uma ferramenta adicional – recentemente proposta pelo senador Sheldon Whitehouse – é a investigação formal – com base na Racketeer influenced and Corrupt organizations Act (RICO) – de corporações e outras organizações que têm conscientemente enganado o povo americano sobre os riscos das alterações climáticas, como meio de prevenir a resposta da América a estas alterações”.
(…)
“Se as indústrias de combustíveis fósseis e os seus apoiadores são culpados dos crimes que foram documentados em livros e artigos de jornal, é imperativo que estes crimes sejam interrompidos tão logo quanto possível, para que a América e o mundo possam prosseguir tentando encontrar formas eficazes de reestabilizar o clima da terra, antes que um dano mais duradouro seja feito”.
Eis aí, meu caro leitor, estampado em cores vivas, o caráter autoritário de muitos dos que militam no chamado grupo “aquecimentista”.  Pretendem calar os oponentes à força e não através da persuasão ou dos argumentos científicos.
Não por acaso, alguns deles já foram denunciados por esconder dados e fatos que pudessem colocar em dúvida os seus experimentos e, principalmente, as suas conclusões, nun caso rumoroso que ficou conhecido como “climategate”.  Como muito bem resumiu Judith Curry, “em seus esforços para promover sua ‘causa’, instituições científicas por trás da questão do aquecimento global caíram na armadilha de subestimar as incertezas associadas ao clima. Este comportamento arrisca destruir a reputação de honestidade da ciência. São a objetividade e a honestidade que dão á ciência um lugar privilegiado à mesa.  Sem essa objetividade e honestidade, cientistas serão vistos como qualquer outro grupo lobista.”  Bingo!
Como já escrevi certa vez, ciência não é matéria sujeita a consensos, escrutínios e, muito menos caça às bruxas. Ao contrário, espera-se que as teorias sejam constantemente testadas e, se for o caso, falseadas.
Imagine como seria a física hoje se Galileu não tivesse questionado a teoria aristotélica, se Newton não tivesse estendido e generalizado o trabalho de Galileu e Einstein estivesse plenamente satisfeito com as conclusões de Newton. Na verdade, o esforço para “negar” as teorias científicas é tão antigo e saudável quanto a própria ciência.
É assim que as ciências da natureza trabalham. Observações levam a hipóteses. Hipóteses são testadas através de experimentos. Os resultados são divulgados, examinados e duplicados antes que uma boa teoria seja divulgada. Certezas são raras, leis são muito poucas. Ciência não é fonte de autoridade, mas de conhecimento.
O antídoto contra o uso político da ciência é realçar a própria falibilidade científica, além de estimular o ceticismo. Não é justo, nem inteligente, sair por aí chamando de herético ou pretendendo enjaular quem desconfia da atividade humana como causa do aquecimento global, ou duvida das catastróficas previsões dos computadores. A ciência não prescreve dogmas, nem evolui conforme a opinião da maioria.

SOBRE O AUTOR

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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