Raposas do PMDB parecem dar passo atrás e Lava Jato é golpeada: desanimaremos?
A Lava Jato prossegue, e os delatores apontam os dedos diretamente para a campanha de Dilma; João Vaccari, Renato Duque e André Vargas foram condenados. Em plena Nessun dorma, atual fase da operação, o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima fala abertamente que as investigações se concentram na Casa Civil do governo Lula. Lula este que segue com as barbas de molho, e não tem motivos para ficar sossegado. A CPMF ainda virá à votação, no centro do projeto de ajuste do governo, deverá ser rejeitada e isso implicará uma derrota fragorosa. O movimento pelo impeachment está institucionalizado em uma frente parlamentar, já possui site e mais de um milhão de assinaturas. O grau de investimento do Brasil foi rebaixado em uma das principais agências de classificação de risco, e deverá sê-lo pelas demais. O TCU está prestes a se pronunciar, provavelmente pela rejeição das contas do governo federal; a ação do PSDB no TSE, embora ainda sem data definida, que pode levar à impugnação da chapa, está liberada para prosseguir. O dólar bateu os R$ 4 – o valor mais alto desde o Plano Real. Ufa! O cenário, convenhamos, não é nada tranquilo. Com tudo isso, a pergunta que não quer calar: o que ainda segura este governo? Por que se diz por aí que demos passos para trás esta semana?
A votação dos vetos de Dilma, embora ainda não encerrada, sinalizou uma espécie de vitória da presidente. Naturalmente que, se rejeitados, imporiam um extremo – definitivo, talvez – custo político ao seu governo, muito embora também ainda mais ao país, em termos financeiros, porque isso aumentaria consideravelmente os gastos públicos. A oposição partidária fica dividida, como ficou nos últimos tempos – nem sempre, pode-se dizer, decidindo da melhor forma -, entre pensar no país financeiramente e pensar em desfechar um golpe derradeiro em um governo que, por outro lado, em ganhando continuidade e sobrevida, também tem todo o potencial para nos destruir. É preciso encontrar uma postura equilibrada nesse cenário, que não deixe de contemplar os dois propósitos. O setor público não pode gastar mais. O governo, por sua vez, também não pode continuar.
Contudo, o que ainda parece ajudar a segurar Dilma é um rescaldo das próprias relações sobre as quais se construiu o sólido esquema de poder lulopetista, e nas quais está incluído, gostemos ou não, em um misto de parasitismo e repulsa recíproca com o PT, o PMDB. Já defendemos algumas atitudes do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e sua subida de tom contra o governo, independente de quais sejam os motivos, mesmo que ele só queira proteger a própria cabeça.Já defendemos o impeachment e, se não há outro remédio, a subida do PMDB e de Michel Temer ao poder. O resto, resolveríamos depois. Continuo sustentando todas essas posições. Nunca é demais frisar, porém, que elas não são posições irrefletidas de um iludido. Não espero do PMDB honestidade, lisura, preocupações nobres com o bem público, liberalismo ou conservadorismo.Espero apenas um pingo de pragmatismo no interesse próprio de sobreviver.Foi isso, da parte dos caciques peemedebistas, que nos salvou até hoje de uma ainda maior radicalização à esquerda, e eu gostaria de seguir apostando minhas fichas de que isso levaria à derrubada da presidente. Antes de pensarmos em fazer do Brasil um grande país, com democracia sólida e partidos representando exemplarmente nossas convicções, precisamos pensar em salvá-lo.
Os líderes peemedebistas, recusando indicar nomes aos ministérios na reforma administrativa – para variar, nada confiável – que Dilma pretende realizar, sinalizaram com um maior afastamento do governo, o que nos alegrava. Voltaram atrás, no entanto. Indicaram alguns nomes. Segundo o jornalista Josias de Souza, da UOL, os indicados Celso Pandera para a Infraestrutura e Manoel Junior para a Saúde são próximos do próprio Cunha, e por isso ele foi acusado de traição pelos parlamentares oposicionistas. Comenta-se que Cunha tem um acordo com a oposição; esta semana começaria a se manifestar sobre os pedidos de impeachment, depois de responder à questão de ordem levantada por Mendonça Filho (DEM) acerca do rito a ser seguido, e iria, de acordo com o combinado, rejeitar todos – até o último, o de Hélio Bicudo e Miguel Reale, aguardando que as decisões de TCU e TSE o reforçassem. A oposição entraria então com recurso e, com maioria simples, poderia instaurar o processo. Josias de Souza sugere que há preocupação com um revés, a partir de uma possível perda do apoio da figura de Cunha.
Estou com aqueles que acreditam que a situação é tão ruim e degenerada que, mesmo com essa volta atrás, não haverá salvação para Dilma. Longe de mim qualquer intenção de desanimar ainda mais todos aqueles que, como eu, desejam que urgentemente essa despreparada insana se retire do posto que não tem condições de ocupar; acredito que vamos conseguir. No entanto, é importante termos conhecimento de todo o cenário, em especial dos potenciais obstáculos para se chegar a esse objetivo.
Ao final, porém, voltemos ao começo: o que mais me preocupa, mesmo, é o que o colunista de O Globo, Noblat, chama de golpe contra a Lava Jato. Com razão. A informação é de que ministros do Supremo Tribunal Federal entendem “que só cabe a Moro investigar o roubo da Petrobras. Mesmo que os ladrões da Petrobras tenham roubado outras empresas”. Como Noblat bem lembra, a investigação começou menor, tendo apenas doleiros por alvo, até descobrir um posto de gasolina em Brasília onde se pagavam propinas. A partir daí, toda a podridão hoje escancarada se revelou, e a devassa assumiu as proporções que agora aturdem a todas as consciências com um pingo de pudor. Desmembrar a Lava Jato e retirar das mãos de Moro a prerrogativa de investigar todas as células desse esquema não pode cheirar bem. A Lava Jato é o acontecimento mais importante da história recente do Brasil. Ela deve ir à frente. Os bandidos devem ser pegos e punidos. Se necessário for, os milhares que protestaram pelo impeachment e prestaram até homenagens a Sérgio Moro terão de se fazer ouvir mais uma vez a esse séquito de surdos.
Será que vamos precisar ir às ruas mais uma vez?
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