por José Azel, quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Em contraposição a isso, o libertarianismo afirma que cada indivíduo é moralmente um fim em si próprio, e possui o direito moral de agir de acordo com seu próprio juízo, livre da coerção estatal. Foi assim que o individualismo impulsionou a inovação, as revoluções agrícola e industrial, e a mais inspiradora explosãona criação de riqueza e na redução da pobreza que o mundo já vivenciou.
Não obstante seu imbatível e inigualável histórico de redução da pobreza, o individualismo — o qual representa essencialmente nossa busca pela liberdade pessoal — tem sido impiedosamente castigado porintelectuais coletivistas como sendo uma filosofia que exalta o egoísmo e que, por isso, deve ser substituída por um igualitarismo imposto pelo estado. E, no entanto, é justamente dessa igualdade forçada que aqueles indivíduos estão fugindo ao desertarem em massa de regimes coletivistas.
A liberdade é individual, e não coletiva. A liberdade não é negociável.
Cubanos que fogem daquela trágica ilha já vivenciaram as devastadoras consequências morais e econômicas de políticas coletivistas que buscam modelar uma sociedade igualitária — um experimento fracassado que buscou criar um "novo homem", o qual teria uma visão de mundo comunal e se sacrificaria sempre em prol do "bem comum". Esse experimento resultou em uma sociedade anti-utópica e economicamente falida, que tem como principais características a miséria generalizada e um incrivelmente repressivo sistema de controle social, gerido por um governo com poderes ilimitados sobre seus cidadãos.
Sendo bem claro, a igualdade da qual milhões fogem é a igualdade de resultados econômicos imposta pela elite governante. Esses milhões de pessoas rejeitam o igualitarismo e, de certa maneira, são a refutação viva de todas as teses e políticas que clamam por redistribuição de renda. Os defensores da redistribuição de renda não entendem que, quando se confisca a riqueza de uma pessoa, estamos diretamente violando sua liberdade e seu direito de propriedade.
Não é insensível explicar que, por definição, em qualquer sociedade livre e a qualquer período da história, 20% da população estará no quintil mais baixo da renda (os pobres) e 20% da população estará no quintil mais alto da renda (os ricos). Porém, em uma economia de livre mercado, que está continuamente em expansão, a renda irá crescer para ambos os quintis. Sim, os ricos ficarão mais ricos, mas os pobres também enriquecerão.
Se o objetivo é melhorar as condições de vida das pessoas, dando um padrão de vida digna a todos, então a preocupação tem de ser com a pobreza, e não com a desigualdade. O objetivo tem de ser enriquecer os pobres e não empobrecer os ricos.
Igualmente importante é o fato de que, em economias de mercado, a população de ambos os quintis está continuamente mudando. Ao se analisar todos os históricos de como a renda é distribuída em sociedades de mercado, observa-se um notável grau de mobilidade de renda, com indivíduos subindo e descendo nas escalas da distribuição de renda à medida que as circunstâncias econômicas vão se alterando (veja ótimos exemplosaqui e aqui). Ou seja, os quintis sempre estarão preenchidos por alguém, mas nem sempre pela mesma pessoa.
Sociedades de livre mercado oferecem a oportunidade de se escapar dos quintis mais baixos. Sociedades de livre mercado oferecem a oportunidade de se escapar da igualdade (e da pobreza) forçada imposta pelo coletivismo.
Sendo assim, uma das atrações das sociedades livres é que elas são caracterizadas por aquilo que os sociólogos rotulam de "rodízio de elites", em que ninguém é impedido de fazer parte da elite econômica. Em economias de mercado, as elites econômicas estão sempre abertas a novos membros; já em sociedades mais estatizadas, essas elites econômicas tendem a ser estáticas, fortemente dependentes ou do poderio militar ou das ligações com os membros do governo. Havia mobilidade social na URSS? Há mobilidade social em Cuba ou na Coréia do Norte?
Há inúmeros exemplos de indivíduo que abandonaram seu país natal — cujo mercado era severamente restrito e tolhido pelo governo em troca de privilégios para grupos de interesses politicamente influentes — e que, no espaço de um uma geração, conseguiram se tornar extremamente bem-sucedidos em economias de mercado, ascendendo da pobreza para o quintil mais alto da renda. Os cubanos que moram em Miami são um grande exemplo.
Sempre que políticos e intelectuais começarem a falar sobre redistribuição de renda, vale a pena, antes de tudo, tentar entender por que as pessoas fogem justamente dessa igualdade que está tentando ser imposta.
O cientista social José Benegas diz que escravidão é quando a renda decorrente da mão-de-obra de um indivíduo lhe é 100% expropriada. Apropriar-se coercivamente de qualquer fatia da renda de um indivíduo é escravidão parcial.
José Azel é acadêmico sênior do Instituto para Estudos Cubanos e Cubano-Americanos, da Universidade de Miami. Azel foi exilado político de Cuba aos 13 anos de idade, em 1961, e é o autor do livro Mañana in Cuba.
Fonte: Instituto Ludwig von Mises Brasil
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