Chega de Teorias Econômicas Malucas
Economistas sérios ficaram boquiabertos com uma questão do último ENEM que vinculou o desenvolvimento tecnológico e a globalização com o aumento dos índices agregados de desemprego. Não é de hoje que o ENEM tem demonstrado um viés absolutamente esquerdista, notadamente nas ciências sociais, mas esta superou todos os limites da razoabilidade. Por se tratar de hipótese totalmente descabida, já há inclusive abaixo-assinados na internet para anular aquela questão.
Infelizmente, porém, essa não é a única “teoria” econômica heterodoxa que vem sendo disseminada no Brasil pelos intervencionistas de plantão, não raro disfarçados de keynesianos. Entre essas teorias, destaca-se uma segundo a qual as políticas de incentivo ao consumo de baixa renda são benéficas para o desenvolvimento econômico.
Um conhecido meu, por exemplo, petista empedernido, ficou revoltado com a proposta do relator do orçamento, de glosar R$ 10 bilhões do programa Bolsa Família, como forma de reduzir o déficit primário do ano que vem. O indigitado mandou um e-mail revoltado para a sua lista de contatos, da qual eu faço parte, desancando aquela proposta.
Entre os seus argumentos estava um “estudo” do IPEA, de 2013, patrocinado pelo seu então presidente, Marcelo Neri, segundo o qual, para cada real gasto pelo governo com o Bolsa Família, haveria um incremento mágico do PIB de R$ 1,78. Segundo Neri, “isso ocorre porque o programa é pró-pobre, e os pobres costumam gastar maior percentual da renda familiar mensal do que outras faixas da população”. Trata-se, evidentemente, de uma simplificação absurda do famigerado (e não menos controverso) efeito multiplicador keynesiano.
Não pretendo aqui debater sobre a necessidade ou conveniência de programas de renda mínima, como o Bolsa Família. Há bons argumentos, contra e a favor dos mesmos, no mercado de idéias. O próprio Milton Friedman, um liberal clássico, defendeu a aplicabilidade de algo semelhante, quando propôs o seu “imposto de renda negativo”.
No entanto, a coisa começa a ficar perigosa, tornando-se inclusive uma séria ameaça ao futuro, quando esses manipuladores de ideias, assessorados pelo que há de mais nocivo na chamada heterodoxia econômica, arvoram-se a vôos mais altos e resolvem vender certas teorias esdrúxulas como padrão de prosperidade.
De acordo com esse discurso, como se nota pela fala de Neri (acima), nada estimularia mais a economia do que “dar dinheiro para o pobre gastar”. Tal narrativa pretende demonstrar que a onda consumista, gerada pelos programas assistencialistas, induz um círculo virtuoso de geração de riquezas, cujo fim não é outro que o próprio Jardim do Éden.
Ora, se demanda aquecida gerasse desenvolvimento, Robert Mugabe teria transformado o Zimbábue numa grande potência econômica. Durante anos, o tirano fabricou dinheiro e colocou-o nas mãos da população carente. Pelo raciocínio de Neri, o aquecimento da demanda deveria ter criado um círculo virtuoso de crescimento, capaz de estimular o investimento e alçar aquele país africano ao primeiro mundo. No entanto, infelizmente, a única coisa que o déspota nada esclarecido conseguiu foi criar uma dos maiores eventos inflacionários da história.
No curto prazo, de fato, o efeito de políticas de incentivo ao consumo é enganador, como assistimos em Pindorama, principalmente durante o mandato de Lula, não apenas por conta dos programas de transferência de renda, mas também de promoção artificial do crédito ao consumo.
Ora, enquanto houver capacidade ociosa, a demanda puxará a oferta, produzindo crescimento momentâneo, porém limitado. No entanto, quando alcançarmos o limite da capacidade instalada, só com novos investimentos é que promoverão crescimento. Feliz ou infelizmente, dependendo do ponto de vista, não há milagres em economia. Digam o que disserem os arautos do “Governismo Redentor”, o que gera investimento é poupança, não o consumo.
“Não existe almoço grátis”. Milton Friedman morreu, mas felizmente suas lições permanecem. O dinheiro que o governo dá aos pobres não nasce em árvore. Tudo que ele gasta, antes toma da sociedade, seja na forma de tributos ou empréstimos. O fato é que cada 100 reais dados mensalmente a João pelo governo saem, inexoravelmente, dos bolsos de José, de Pedro, de Sebastião, de Antônio.
Portanto, uma parte do que João gastou em seu consumo certamente deixou de ser consumida por outras famílias. Até aí, em termos econômicos, nada se modificou. Trata-se do famoso jogo de soma zero. O problema é que uma parte do consumo da família de João provavelmente foi financiada pelas poupanças das outras famílias, sacrificadas para o pagamento de impostos mais altos ou direcionadas para compra de títulos públicos.
Não por acaso, o tamanho dos gastos dos governos é sempre inversamente proporcional à taxa de poupança interna. Países com baixo endividamento público e baixa carga tributária têm poupança alta e vice-versa. Como, em economia, poupança é sinônimo de investimentos, os países europeus, por exemplo, que consomem boa parte da renda nacional com impostos, há muito sofrem com baixíssimos índices de crescimento. Por outro lado, economias com baixa carga tributária e, conseqüentemente, altas taxas de poupança doméstica, como a China e o Chile, têm aproveitado as ondas de bonança mundiais e obtido resultados alvissareiros.
O Brasil tem uma carga tributária equivalente a 37%, um gasto público da ordem de 40% e uma taxa de poupança de apenas 17% do PIB. A China, com uma carga tributária perto dos 20%, dispõe de uma poupança doméstica que beira os 40%. Não é difícil explicar por que aquele país tem conseguido taxas de crescimento fantásticas, desde que largou o modelo comunista, enquanto nós continuamos voando como galinhas gordas.
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