Luiz Gonzaga Beluzzo, Keynes, Paulo Nobre: crise e austeridade no Palmeiras
por RENATO BATTISTA*
Qual seria a relação que existe entre os nomes citados no título deste artigo? Além de falar de dois presidentes do Palmeiras, o texto busca mostrar a diferença entre as políticas de austeridade e as políticas keynesianas; porém, estas serão retratadas e correlacionadas com a gestão de um clube de futebol.
O economista Luiz Gonzaga Belluzo foi presidente do Palmeiras em 2009/2010. O ex-presidente alviverde já havia participado da política brasileira no governo Sarney, além de ser um dos teóricos que influenciaram na criação do Plano Collor, que pretendia controlar as poupanças para combater a inflação. O resultado foi o colapso generalizado que aconteceu no Brasil nesta época. Belluzo ainda participa da política, principalmente no apoio aos governos do PT, além de ser colunista da Carta Capital.
Belluzo tem como seu economista preferido John Maynard Keynes. Keynes, o mesmo que disse que “no final das contas estaremos todos mortos mesmo”, foi um dos grandes teóricos inflacionistas do século XX. Keynes propunha a redução de impostos e dos juros e a desvalorização da moeda, e caso isso não funcionasse o governo deveria aumentar os gastos para estimular a demanda agregada. Hayek já alertava sobre como a expansão do crédito, ao passo em que eram reduzidas as taxas de juros, gerava os ciclos econômicos. A expansão econômica keynesiana começava com essa expansão de crédito, que era vista como poupança “real”, de maneira equivocada. Diferentemente do Palmeiras, essa expansão feita nos EUA conseguiu trazer certa estabilidade sem passar por grandes períodos de austeridade até o momento, porém, uma hora a conta chegará visto a dívida interna de quase 6 trilhões de dólares. E mostrará como a austeridade é a maneira mais viável para se sair de crises. E sem artificialidades.
Belluzo, como bom aprendiz, resolveu aplicar o que seu teórico preferido ensinou na gestão da Sociedade Esportiva Palmeiras. O ex-presidente, principalmente em 2010, resolveu elevar os gastos do clube e, assim, estimular a “demanda”. Repatriou Valdívia, Kléber Gladiador e Felipão por valores exorbitantes. Adiantou a receita do campeonato paulista dos 5 anos seguintes. Entregou o clube com 25% das receitas do ano para o próximo mandatário. Além disso, contratou mais de 80 jogadores em sua gestão, batendo recordes. Esse alto investimento tinha como objetivo vencer o campeonato brasileiro; não deu certo. Felipão foi embora com um rebaixamento nas costas, Kléber saiu brigado e Valdívia não rendeu o esperado e foi embora quando seu contrato acabou. Logo, o pior aconteceu. Os palmeirenses receberam de Belluzo um time com mais de 300 milhões de reais de déficit (tal como propunha Keynes: aumento do déficit em épocas de recessão), sem títulos e sem vaga na Libertadores da América. Belluzo tem a maior parcela de culpa sobre as dívidas alviverdes ao final de sua gestão, porém também deve uma boa parcela do fracasso ao ex-presidente Afonso Della Monica, que pegou um clube com mais de 30 milhões em caixa, e começou a debandada de gastos artificiais. Algumas variáveis são diferentes, claro, porém o que pode ser resumido desta correlação é que a conta hora ou outra chega. A expansão de crédito não é uma poupança real como pressupõem os keynesianos.
Qual a saída para sair deste endividamento? Os últimos presidentes da Sociedade Esportiva Palmeiras nos mostraram isso. Arnaldo Tirone e principalmente Paulo Nobre. A saída era a austeridade. Arnaldo Tirone começou o mandato cortando gastos até as folhas coloridas da imprensa para folhas em preto e branco. Foram tempos difíceis para a torcida que sonhava com grandes contratações, porém, antes viver em sua realidade financeira do que viver artificialmente como Keynes; a ressaca tinha que chegar. O crescimento que o clube foi obtendo com as medidas de austeridade, além de buscar novas formas de investimento como o aumento do programa de sócio-torcedor e o investimento feito de maneira realista na nova arena,foram os motores para que o Palmeiras se restabelecesse e começasse a temporada contratando jogadores e recebendo investimentos. Outra lição econômica facilmente perceptível: uma boa estabilidade financeira atrai mais investimentos.
Nobre assumiu a presidência do clube com apenas 25% das receitas disponíveis em 2013. A saída que Nobre encontrou foi de adquirir empréstimos em seu nome e repassar ao clube, pois, como o ex-piloto de rali possui um bom nome no mercado financeiro (já que trabalha com fundos de investimentos), conseguiu angariar empréstimos com taxas de juros muito menores do que um clube conseguiria adquirir (clubes não tem boa fama de pagadores). Ou seja, Nobre simplesmente diminuiu a taxa de juros das dívidas alviverdes drasticamente, aliviando as contas do clube em 320 milhões de reais. E isso não significa que o mesmo só fez isso pelo seu amor cego ao clube. O repasse foi baseado em um Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que possui a isenção de Imposto de Renda (IR). Também há um fundo feito pelo mandatário para garantir a devolução de seu dinheiro antes de fazer os repasses. Esta foi a única saída encontrada por Paulo Nobre para pagar a dívida palmeirense e recomeçar o clube. Uma jogada de craque.
A gestão de Paulo Nobre no Palmeiras pode ser comparada, de certa maneira, com a de Angela Merkel na Alemanha, em que, através da austeridade (que nada mais é do que tratar a economia de maneira realista), o país conseguiu se recuperar da recessão, diferentemente da Grécia, que caso fosse um time de futebol, estaria pior que o Vasco da Gama. O ano ainda não acabou para o Palmeiras, que está em sua segunda decisão no ano. Os frutos de uma gestão responsável serão colhidos com o tempo.
“Não adianta nada brigar pelo título e passar cinco, sete anos pagando a briga pelo título. A máquina precisa girar, mas se você faz atitude populista trazendo jogadores a qualquer custo… Você pode ganhar ou não, só que fatalmente essa conta vai ter de ser paga um dia (…). Enquanto eu for presidente, haverá austeridade financeira, que é a obrigação de todo brasileiro. Não serei populista. As pessoas confundem isso com time ruim, mas é não gastar mais do que arrecada” – Paulo Nobre, Presidente reeleito da Sociedade Esportiva Palmeiras.
*Renato Battista é coordenador do MBL-SP e estudante de Relações Internacionais da ESPM.
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