quarta-feira, 2 de março de 2016

AS  FARC mostraram que podiam amarrar o Exército em um setor-chave de nossas fronteiras. O que acontecerá da próxima vez?

No dia 18 de fevereiro, o Exército da Colômbia perdeu uma batalha contra as FARC. Entraram massivamente com ajuda interna e externa no município de Fonseca (Guajira) e realizaram, durante várias horas, um barulhento ato de propaganda armada e de intimidação. Não mataram nem seqüestraram ninguém, parece, mas humilharam e aterrorizaram o país. O Exército da Colômbia durante essa obscura jornada não moveu um dedo para impedir esse atropelo.

O Exército foi paralizado, pois aceitou ser paralizado. Hoje seus chefes devem estar envergonhados com o espetáculo miserável que deixaram a população civil de Fonseca e de El Conejo totalmente à mercê de esquadras de narco-terroristas armados até os dentes.

Ninguém no governo quis dizer quem deu a ordem de abandonar os cidadãos e de deixar entrar 200 ou 300 guerrilheiros armados e uniformizados em La Guajira. É a primeira vez que isto ocorre na Colômbia. Um novo récord do presidente Santos. Nem ele, nem seu ministro da Defesa, tão loquaz em outras ocasiões, nem os altos comandos do Exército e da Polícia, explicaram o que aconteceu em 18 de fevereiro. Algum dia terão que fazê-lo. Enquanto isso, todos eles atraíram as reprovações indignadas, porém impotentes, dos colombianos. A explicação oficial é cínica: as FARC iam fazer um ato de “pedagogia de paz” e “enganaram” Santos. Estamos pois ante um governo idiota, dirigido por um idiota. Mas não. Santos é um homem inteligente. Alguns o descrevem como maquiavélico. Sua responsabilidade no ocorrido nesse dia e nas conseqüências que isso terá para o país é total.

Escrevo estas linhas com grande amargura. O Exército e, em geral, a força pública, são as instituições mais respeitadas do país. A nação as admira por sua trajetória heróica, por seus enormes sacrifícios e por seus triunfos em um combate complicado e de grande fôlego que os soviéticos impuseram à Colômbia desde o começo da Guerra Fria. Esse prestígio foi manchado pelos que ordenaram e aceitaram a paralisia de 18 de fevereiro.

Os altos comandos irão querer lavar as mãos, dirão que haviam recebido ordens e que elas se cumprem cegamente. Tal explicação não satisfaz a ninguém. Os militares estão aí para cumprir ordens de seus superiores quando elas são legais e legítimas. O militar é um cidadão. Em serviço ativo cumpre as ordens e se cala mas não deixa de pensar. Eles devem desobedecer quando a ordem é manifestamente ilegal. Deixar milhares de colombianos sem proteção ante a chegada de 300 bandidos armados com fuzis e granadas não é criminoso?

Que garantia esses comandos tinham de que os guerrilheiros não matariam, sem seqüestrariam, nem extorquiriam durante sua incursão inesperada em Fonseca? Nenhuma. As hostes das FARC, chegadas ao local em caminhonetas venezuelanas, não mataram nem seqüestraram ninguém (podemos estar equivocados). Porém, agrediram sim violentamente o país com essa exibição de força e com suas arengas guerreiristas. Havia gente em uniforme e outros disfarçados de civis. Entre estes havia sapos (informantes) que tomavam nota da atitude das pessoas ante os disparates que os oradores vociferavam no palanque para passar-lhes a fatura em outro dia, quando não haja câmeras de televisão.

Acreditávamos que o desmonte do Exército da Colômbia seria feito por decreto e durante o futuro “pós-conflito”. Errado. Essa destruição já está em marcha e de maneira subversiva. É agora. Já mesmo. O ocorrido em 18 de fevereiro é o elo de uma cadeia de atos desse alcance. Isso sai do palanque de Havana. O laboratório clandestino em que se converteu a mesa, guia o desmonte da força pública colombiana pela via indireta, pois ela é o maior obstáculo ao triunfo castrista: ela venceu várias vezes as guerrilhas comunistas mais perigosas do continente. Por isso querem desmantelá-la e desde há quatro anos estão nisso. Em 18 de fevereiro essa conjura passou a uma fase mais agressiva: as Forças Armadas foram amarradas e ridicularizadas sem que elas pudessem se defender. Qual será o próximo passo?

Todos os atores que discutem em Havana estão comprometidos no que aconteceu em Fonseca-El Conejo : os chefes farianos e, Santos, De la Calle, Jaramillo, Villegas, Noruega, Cuba e a Cruz Vermelha Internacional, campeã da duplicidade.

As Forças Militares e de Polícia da Colômbia foram o muro de contenção, durante mais de 50 anos, que salvou o país da derrubada. Por isso querem colapsá-las: não mediante uma sucessão de combates e batalhas, senão pela via assimétrica da derrubada de seus resortes psicológicos, morais, legais e constitucionais.

Esse jogo vem de longe. Santos acatou a ordem de Hugo Chávez de não aceitar uma colaboração americana nas bases militares colombianas. Todos sabemos o que veio depois: o desmonte da Justiça Penal Militar, a onda de remoções, acusações e condenações aberrantes contra centenas de militares de altos graus, o desmantelamento da inteligência civil e militar, a massiva propaganda de que a paz estava acima da justiça e da democracia, o envio do general Mora Rangel à Havana, as visitas protegidas dos “negociadores” das FARC aos acampamentos de Timochenko, a libertação de presos desse bando, a assinatura de uns acordos pasmosos favoráveis unicamente às FARC, etc.

Assim, mediante uma sábia combinação de mentiras, demagogia, utopismo e propaganda armada, estão derrubando a força pública, a qual aparece hoje sem chefatura, sem objetivos e sem perspicácia. Em 18 de fevereiro as FARC mostraram que podiam amarrar o Exército em um setor-chave de nossas fronteiras. O que acontecerá da próxima vez? Chegarão com a Guarda venezuelana?


Tradução: Graça Salgueiro




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