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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Impunidade deve dar lugar ao medo de ser preso’, diz delegado da Lava Jato

“Esperamos que essa impunidade que antes havia no pensamento dos criminosos dê lugar ao medo de ser preso por ter roubado os cofres públicos”, resumiu o delegado Luciano Flores, responsável pela 29ª fase da Lava Jato


Na fase da Operação Lava Jato que evidencia mais uma vez a estreita relação entre a atuação de mensaleiros e o bilionário esquema do petrolão, a desenvoltura com que corruptos penalizados no mensalão continuaram a embolsar propina mesmo depois de condenados representa, segundo a Polícia Federal, um “extremo deboche” contra as instituições. Na Lava Jato, os investigadores já haviam detectado que o ex-ministro José Dirceu, condenado na semana passada a mais de 23 anos de prisão, recebeu pelo menos 15 milhões de reais em propina, mesmo afastado de suas atividades políticas mais públicas e já condenado como corrupto no mensalão. Nesta segunda-feira, outro notório mensaleiro, o operador do Partido Progressista (PP) João Claudio Genu, foi detido pela Polícia Federal na etapa batizada de Repescagem. A exemplo do petista, ele também continuava recebendo propina e distribuindo dinheiro sujo a políticos da agremiação mesmo depois do julgamento do mensalão, em 2012. “Esperamos que essa impunidade que antes havia no pensamento dos criminosos dê lugar ao medo de ser preso por ter roubado os cofres públicos”, resumiu o delegado Luciano Flores, responsável pela 29ª fase da Lava Jato.

“Mesmo essas pessoas já tendo sido processadas e até condenadas, elas continuam sendo investigadas e, se for o caso presas, como foi na data de hoje o senhor Genu, ex-chefe de gabinete da liderança do PP na Câmara dos Deputados, braço direito de José Janene [ex-deputado morto em 2010] e, portanto, um dos criadores do esquema mensalão e um dos responsáveis por essa sangria dos cofres públicos”, comentou.

“Mesmo eles tendo sido responsabilizados, como no caso de Genu, condenado por corrupção e lavagem (…) pela maior corte do Brasil, com um verdadeiro deboche à justiça e à polícia, ele continuava praticando os mesmos crimes e recebendo propina até o ano de 2013 comprovadamente”, disse. “Havia um extremo deboche da justiça criminal brasileira e dos [processos de] investigação. Hoje esperamos que esse deboche tenha dado lugar ao respeito às instituições e ao Poder Judiciário, que está fazendo bem o seu papel em todas as suas instâncias”.

Na 29ª fase da lava Jato, o foco principal é a atuação do ex-assessor do PP João Claudio Genu, mas as investigações revelam ainda a participação de empresas de construção no Distrito Federal, de empresários e de familiares do operador do Partido Progressista no esquema que sangrou os cofres da Petrobras. Além de Genu, que teve a prisão preventiva decretada, foi preso o sócio dele, Lucas Amorim Alves. De acordo com a PF, Lucas e Genu têm uma parceria criminosa desde a época do mensalão e usavam o setor de construção civil para lavar dinheiro do crime. Até o momento foi identificado que mais de 7 milhões de reais entraram nas contas bancárias dessas empresas, em nome de Claudia, esposa de Genu, e do cunhado dele, Antonio Gontijo, sem qualquer identificação de origem. Os investigadores também chegaram a indícios de que Genu e Lucas eram abastecidos com dinheiro providenciado pelo doleiro Alberto Youssef e por empregados do também doleiro Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, em Brasília, e estopim da Operação Lava Jato.

“Um dos membros da quadrilha que idealizou o mensalão agora realmente foi repescado pela Lava Jato com provas cabais de mais um esquema de desvio de verbas da Petrobras”, disse o delegado Luciano Flores. A 29ª fase da Operação foi batizada de Repescagem em referência ao retorno de Genu, condenado no mensalão, ao cenário policial.

Nesta etapa das investigações, o empresário Humberto do Amaral Carrilho, que teve a prisão decretada, é considerado foragido. Ele está fora do país e poderá ter o nome inscrito no alerta vermelho da Interpol se não se apresentar às autoridades. As suspeitas contra ele envolvem o pagamento de propina ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. De acordo com os investigadores, Carrilho procurou o ex-diretor para pagar propina e conseguir um contrato com a Petrobras no rio Amazonas. A estatal já atuava na região com um navio próprio, mas a Polícia Federal diz que ela abriu mão de seu próprio patrimônio e passou a alugar um terminal e um navio do empresário depois do acerto da propina.

Foto: Veja

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