Viver no Brasil
Por Armando Soares
Hoje já se pode afirmar que quem
vive no Brasil é um herói, um idiota ou um herói idiota.
A revista em quadrinhos editada no
passado chamava para esse tipo de vida brasileira, vida apertada. Vive-se ou se
se consegue viver ou sobreviver no Brasil nessa vida apertada uma grande
maioria do povo, não porque queira, mas por não ter outra opção; aqueles que
têm outra opção não usam por idiotice ou por mero prazer de sofrer, puro
sadismo.
O triste dessas verdades é que fomos
nós mesmos, os brasileiros, os principais responsáveis por esse tipo de vida
apertada, perigosa e doentia. Perigosa porque não se sabe se ao sair de casa
para trabalhar, para fazer compras ou se divertir perde-se a vida para qualquer
criminosos entre os milhares que habitam as ruas sob a vista de uma polícia mal
equipada, e por isso impotente para proteger; sob a vista de uma justiça
ineficiente, e de governos que não governam, e de uma mídia que tudo assiste e
faz de contas que nada vê, ocupada em dar continuidade ao seu principal e único
objetivo egoísta de lucrar com a decrepitude de uma Nação que perdeu o rumo, a
moral e a razão de ser e estar.
Nesse Brasil que nós brasileiros
permitimos a sua destruição elegendo políticos e governantes incompetentes e
desonestos desde longa data, a pobreza jorra de forma hereditária, natural e
geometricamente, nasce de uma raiz econômica e política doente, o que
impossibilita que o pobre se liberte da pobreza, e, quando tem a sorte de se
libertar para se transformar num assalariado, num micro empresário, num pequeno
empresário, num médio ou grande empresário, logo se vê acorrentado por um
Estado devorador de seus salários e ganhos através impostos e taxas absurdas de
toda a natureza. Nesse cenário absurdo e estúpido quem mais sofre são os
pobres. Mas, como assim, se eles vivem em precárias condições e com dinheiro
apenas para sua sobrevivência? Acontece que os alimentos e produtos que compram
para suas necessidades todos eles têm seus preços recheados de impostos, o que
significa dizer que são os pobres que pagam proporcionalmente os maiores
impostos. Essa verdade mostra o quanto os políticos que se alimentam da
ignorância dos pobres são bandidos e desonestos. A monstruosidade do Estado não
para aí. O Estado devora 4 meses, no mínimo, do salário dos trabalhadores e da
classe média, e muito mais se considerarmos os impostos que paga na compra de
produtos e alimentos para sua necessidade. O massacre do Estado continua em
grande escala sobre os micros, pequenas, médias e grandes empresas. O ataque
começa a mostrar suas garras no abrir e fechar um negócio ou uma empresa. Para
abrir exigisse um montão de documentos e pagamentos de emolumentos, e para
fechar, nunca se consegue, pois, o Estado nunca concede a liberdade do seu
escravo. A carga tributária sobre os negócios chega a 70%, ferocidade a que se
soma a política trabalhista que tem como finalidade principal a paralização dos
negócios privados e a apropriação do patrimônio da empresa e de seus titulares
que é distribuído entre advogados e trabalhadores bandidos.
Quem se achar prejudicado ou roubado
nesse cenário brasileiro infernal e procura a justiça vai se defrontar com uma
estrutura viciada corporativa inoperante que destrói a vida das pessoas
lentamente, dia-a-dia, mês-a-mês, ano-a-ano até sua morte, antes primeiro,
causa o empobrecimento do reclamante. A justiça brasileira existe apenas no papel.
Para o brasileiro ela representa apenas mais um custo oneroso que sustenta
milhares de juízes, funcionários públicos, advogados, rendimentos garantidos
pelo trabalho dos pobres, dos assalariados e das empresas; uma estrutura
ineficiente enorme criada para explorar quem trabalha e produz. No meio dessas
sanguessugas, estão os professores de ensino público, a burocracia, os
servidores que são utilizados pelos sindicatos vampíricos mercantilistas para
sugar ainda mais os brasileiros que trabalham e geram renda e impostos.
Para viver no Brasil é preciso estar
consciente que o país é uma espécie de fortaleza construída e dominada por
classes privilegiadas, por políticos podres, por sindicatos chantagistas, por
uma burocracia cara e ineficiente, pelo tráfico de drogas, por instituições
carcomidas pelo comunismo e por vadios que se mantém à custa do Estado. O
Brasil se transformou num país de ladrões. Roubasse no varejo e no atacado.
A sociedade é uma herança
compartilhada em nome da qual aprendemos a circunscrever as nossas demandas, a
ver nosso lugar nas coisas como parte de uma corrente contínua de doações e
recebimentos, a reconhecer que as coisas extraordinárias que herdamos não são
nossas para destruirmos. Há uma genealogia de deveres que nos vincula àqueles
que nos deram o que temos; e nossa preocupação com o futuro é uma extensão
dessa linhagem. Levamos em conta o futuro da comunidade não em virtude de
cálculos fictícios de custo-benefício, mas, de maneira mais concreta, por nos
vermos como herdeiros dos benefícios que retransmitiremos. Precisamos pôr para
correr urgentemente quem está
destruindo essa herança.
Edmund Burke
A sociedade, para Burke, depende das relações
de afeto e lealdade que só podem ser construídas de baixo para cima, por uma
interação face a face. É assim na família, nos clubes locais e nas associações,
na escola, nos locais de trabalho, na igreja, na equipe esportiva, nos
regimentos e na universidade em que as pessoas aprendem a interagir como seres
livres, assumindo a responsabilidade por seus atos e levando em consideração o
próximo. Quando uma sociedade é organizada de modo hierarquicamente
descendente, tanto por um governo centralizado de uma ditadura revolucionária
quanto por decretos impessoais de uma burocracia impenetrável, em seguida a
responsabilidade rapidamente desaparece da ordem política e também da
sociedade. Governos centralizados produzem indivíduos irresponsáveis, e o
confisco da sociedade civil pelo Estado leva a uma recusa generalizada dos
cidadãos de agirem por vontade própria.
Vou terminar este artigo com um
trecho do verso declamado pelo saudoso Paulo Gracindo no extraordinário show
Brasileiro Profissão Esperança, que também contou com a grande e saudosa cantora
Clara Nunes, trecho que serve para expressar a minha indignação, e acredito da
maioria do povo brasileiro, de tudo que está acontecendo de ruim no Brasil, um
caminho que não quero ir nunca, que é o caminho da desesperança e da desgraça.
“Ah, que ninguém me dê piedosas
intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: vem por aqui!
A minha vida é um vendaval que se
soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se
animou...
Não sei por onde vou
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí! ”
Armando
Soares – economista
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