Coisa de bandido...
(última parte)
Por Armando Soares
Por esses motivos, não admira que a agenda ambientalista não priorize os grandes problemas ambientais realmente enfrentados pela maioria da população mundial. Em vez disto, por exemplo, os “verdes” têm em seu currículo: o banimento do inseticida DDT, responsável pela preservação de literalmente centenas de milhões de vidas em todo o mundo, evitando que fossem vitimadas por doenças transmitidas por insetos (o Brasil, em consequência dessa irresponsabilidade, está vulnerável ao ataque dos mosquito transmissor da febre amarela; o banimento dos clorofluorcarbonos (CFCs), versáteis produtos químicos que possibilitaram a popularização da refrigeração e seus incontáveis benefícios; um atraso de décadas nos usos pacíficos da energia nuclear; a obstaculização de incontáveis projetos de infraestrutura energéticos e viários; e outras façanhas de igual calibre.
O ambientalismo nocivo e dominador tem várias armas para pôr em prática o processo de dominação, entre as quais se destaca o princípio de precaução, a mais bandida e letal arma para conter o desenvolvimento econômico e escravizar regiões; essa arma rasteira se infiltrou na legislação dos países e consegue o apoio do Estado e seus órgãos policialescos; é uma das fontes de renda de advogados que se satisfazem em bloquear investimentos públicos e privados, e consequentemente o desenvolvimento econômico. Usada arbitrariamente para obstruir as iniciativas que os burocratas decidam impedir, desconsiderando-se qualquer estudo sério de seus efeitos sobre a saúde, sobre o meio ambiente ou sobre a vida do planeta. Esse é o resultado inevitável quando o puro charlatanismo se transforma em lei. O que o princípio realmente propõe quando examinado o contexto de sua aplicação, é o seguinte: “Se você pensa que pode haver risco, então há risco; e se há risco, proíba-o”. Arma de bandidos. Estamos diante de um princípio que proíbe e permite qualquer coisa. Seus efeitos são arbitrários e absolutos, e sentenciam as argumentações contrárias. Portanto, trata-se de uma arma política extremamente eficiente, que pode ser usada não somente pelos burocratas, mas também pelos diversos grupos de pressão, incluindo o big business, para impor o seu ponto de vista a todos.
No fim das contas é o que devemos esperar de uma filosofia que não identifica a questão real: a motivação humana. O que leva as pessoas a deteriorar o meio ambiente e o as leva a protege-lo? Ao confiscar o risco, o Estado regulador diminui a resiliência humana e expulsa – de nossa experiência social – o fator essencial para a proteção das futuras gerações, o chamado senso de responsabilidade – a consciência de que eu (neste exato momento) tenho responsabilidade por outros (que viverão no futuro).
O Ano Novo começou com dois triunfos maiúsculos para o aparato ambientalista-indigenista nocivo. O primeiro, se se confirmar, poderá ser a sua maior vitória desde que começou a operar no País, na década de 1980: o fim da construção de usinas hidrelétricas com grandes reservatórios. O segundo foi a assinatura de mais um convênio internacional para a criação de outros 5 milhões de hectares de unidades de conservação na Amazônia, em articulação com iniciativas semelhantes na Colômbia e no Peru, cujo objetivo é criar mais uma barreira ao desenvolvimento da região, de consequências imprevisíveis a longo prazo.
Na verdade, o que o secretário-executivo do MME chama de respeito a “uma visão da sociedade”, não passa da abjeta atitude de submissão que sucessivos governos brasileiros vêm mantendo diante das campanhas de pressão baseadas no ambientalismo-indigenismo, desde o final da década de 1980, somada à não menos nefasta adesão preferencial ao rentismo “globalista”, ferozmente refratário aos investimentos públicos em infraestrutura, em favor do serviço da dívida pública.
É inconcebível que a sociedade brasileira, em especial, os representantes do setores produtivos e técnicos, aceite passivamente tal decisão, possivelmente tomada por tecnocratas ministeriais de visão curta, aparentemente acomodados, pouco dispostos a enfrentar ventos contrários e descompromissados com as necessidades reais da Nação.
Em dezembro último, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) anunciou a assinatura de um novo convênio internacional que contempla a criação de mais 3 milhões de hectares de novas unidades de conservação na Região Amazônica, nos próximos seis anos. O acordo envolve recursos de 60,3 milhões de dólares (cerca de R$ 193 milhões) do Fundo Ambiental Global (GEF, na sigla em inglês) e contempla ações coordenadas em quatro estados – Amazonas, Acre, Rondônia e Pará – e em dois países vizinhos, Colômbia e Peru (MMA, 19/12/2017).
Um breve exame do mesmo permite vislumbrar que a intenção dos mentores do projeto é a velha agenda de consolidar uma virtual barreira de unidades de conservação e terras indígenas ao longo da bacia do rio Amazonas, a qual constituiria um sério obstáculo a toda sorte de projetos de infraestrutura e de desenvolvimento, em toda aquela vasta região.
A presença do GEF e da CI à frente do projeto sinaliza que se trata de uma iniciativa de alta prioridade para o aparato ambientalista internacional. O GEF, criado em 1991, como um braço ambiental do Banco Mundial, ganhou autonomia após a conferência ambiental Rio-92, no ano seguinte, e convertido numa agência independente, com o banco atuando como curador. Desde a sua criação, já alocou mais de 15 bilhões de dólares a fundo perdido e cofinanciou mais de 75 outras atribuições, atua como o mecanismo financeiro para a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), entidade encarregada de implementar as medidas referentes à agenda climática no âmbito mundial, a qual tem representado a ponta de lança do ambientalismo internacional em seus esforços de limitação da industrialização e do desenvolvimento das economias emergentes.
Com o GEF e outras agências, as potências controladoras do ambientalismo dispõem de meios para pressionar os países alvo a aceitar a agenda “verde-indígena”, sob pena de verem complicadas as suas operações financeiras internacionais, em especial, as ligadas às suas dívidas externas. Como, em geral, estes países estão sempre às voltas com restrições orçamentárias para as atividades ligadas ao meio ambiente e às comunidades indígenas, os recursos internacionais costumam ser aceitos sem maiores questionamentos quanto às exigências antidesenvolvimentistas impostas pelo aparato internacional.
Esse é o vergonhoso cenário do atual Brasil.
Armando Soares – economista
E-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com
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