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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Saia Injusta

Por Klauber Cristofen Pires

Nesta semana, assisti a um pequeno trecho bastante ilustrativo na tv: tratava-se do programa "Saia Justa", em que uma das comentaristas fazia alguma alusão sobre o contrato da atriz  Isabella Rosselini com a Lancôme, uma conhecida marca de cosméticos. Pelo que captei, pois peguei a conversa no meio, teria havido alguma inconformidade pelo fato de a empresa ter decidido não dar continuidade ao mesmo, possivelmente em face do estado de envelhecimento da famosa atriz. Segundo a dita comentarista, isto se deu em função da "lógica do capitalismo", desta "sociedade injusta em que vivemos"... 

Pior ainda foi a intervenção de outra apresentadora, ainda no mesmo quadro, que disse: "Ah, mas ela se deu bem, com seus milhões de euros adquiridos por aquela campanha", fazendo parecer que a atriz italiana teria agido como uma cúmplice, uma traidora dos nobres ideais da humanidade, ou ao menos, como uma prostituta. 

Pelo que entendi da celeuma criada pelas participantes do quadro, a fabricante dos cosméticos usava da excelente plástica da modelo justamente por esta se encontrar em idade madura, já que seus produtos se destinavam a esta faixa etária. Entretanto, possivelmente em função da decadência da aparência da garota-propaganda, mudaram sua linha de marketing, e isto teria suscitado a sugestão, entre as presentes ao quadro, de uma situação tal como a de alguém que chupa uma laranja e depois despreza o bagaço.

Na China, um exemplo que costuma sair fácil da boca dos esquerdistas, por ocasião das últimas Olimpíadas, uma menina cantora foi escondida do público, substituída por outra, detentora de uma plástica mais privilegiada, e nada disso aconteceu por contrato, mas apenas por determinação de um burocrata do partido. Nos EUA, anos atrás, um grupo que ganhou o prêmio Grammy Awards teve de devolvê-lo, depois que se confirmou que apenas dublavam a música cantada por outrem, em um flagarnte de que em uma sociedade livre, as pessoas não precisam necessariamente apoiar as fraudes.

Eu não trago aqui uma defesa para a Lâncome, exceto aquela em que ela é livre para fazer e rescindir contratos. Contratos de propaganda são, por natureza, de prazo certo. Imaginemos, ainda, apenas por hipótese, uma situação tal em que a atriz tivesse adotado um comportamento em sua vida que tivesse abalado sensivelmente a sua saúde: muitas noites, bebidas, drogas. Neste caso, deveríamos atribuir a razão à empresa contratante, haja vista a responsabilidade da modelo em manter a sua imagem.

Não obstante as condições contratuais justas e respeitadas, talvez um lapso de moralidade tenha pervadido a campanha, o que faria às possíveis clientes e consumidoras receber o caso como uma fraude. Certa vez, houve uma fraude por conta da fabricante Volvo. Em um estádio, um monster-truck passava por cima de vários carros, amassando-os todos, exceto um Volvo, claro. Foi um escândalo, portanto, quando veio à  tona a fraude, denunciada por um indivíduo que filmou os preparativos e mostrou os responsáveis pelo evento a serrar as estruturas dos carros concorrentes e reforçar as do carro objeto do comercial. Naquele tempo, a Volvo pagou caro, ao perder muitas vendas.

Fraudes existem no sistema capitalista. E também existem no sistema socialista. Entretanto, no sistema capitalista, elas podem ser denunciadas e as pessoas podem decidir deixar de patrociná-las. No sistema socialista, isto é praticamente impossível, pois quem houver por corajoso ou tolo o suficiente perderá a sua cabeça ou passará o resto dos seus dias numa fétida prisão, e o patrocíonio, por sua, vez, é oriundo do fornecedor do produto, o estado, e não dos consumidores.

Concluindo, o possível indicador de falta de moralidade apontado pelo programa Saia Justa quanto à empresa Lâncome pode lá ter a sua razão de ser, mas é o próprio sistema capitalista, com seu mecanismo de patrocínio difuso entre os consumidores, o melhor remédio, desde que cada consumidora pode escolher se deve continuar adquirindo seus produtos. Em uma sociedade "mais justa", como a que devaneiam as apresentadoras, não haveria cosméticos, nem comercial, nem modelo, nem contratos...nem o próprio quadro televisivo em que proferem tantas besteiras. Saia Justa? Não, macacão mesmo..

2 comentários:

  1. O programa referido é de mediocridade gritante. Assisti-o umas quatro vezes, para ter certeza de que realmente não me havia enganado quanto à minha avaliação. Poucas coisas existem de pior do que pessoas que se julgam intelectuais a falar como se fossem inteligentes e soubessem do que estão falando. É o que ocorre. As participantes podem até ter um QI considerado razoável, mas quando a pauta exige conhecimentos mais avançados sobre essa ou aquel'outra matéria, chega a ser triste o papel que fazem algumas participantes - ou todas.
    O autor pinçou o ponto nodal da questão e com bastante objetividade.
    'Beleza só, não põe mesa'.

    Parabéns.

    Mirna Cavalcanti de Albuquerque

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  2. Aposto um dedo do Lula que foi Márcia Tiburi quem soltou esse flatus voices

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