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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Considerações sobre Seguro e Poupança

Por Klauber Cristofen Pires

Em certa oportunidade, descobri que um amigo meu não contrata nenhum plano de saúde. Ele confia no SUS? Ora, nem os petistas confiam. Não há petista ou comunista que, tendo algum dinheiro, não deixe de pagar um plano de saúde. O SUS é para os otários que os elegem.

O nosso precavido amigo tem feito, sim, seu plano de saúde, mas segundo uma estratégia particular: desde o início de sua formação profissional, tem depositado na poupança um valor semelhante ao que pagaria por um plano de saúde para si e sua família. Mas deixe estar que, da mesma forma que o plano de saúde, ele também não paga seguro imobiliário, nem automotivo, nem odontológico, e inclui todas estas despesas em uma conta única de poupança (ou de investimento).  Interessante, não?


Se considerarmos um plano de saúde como uma espécie do gênero "seguro", creio ser válido lembrar que os primeiros já existiram na antiga Atenas, para cobrir as cargas das viagens marítimas. Trata-se, portanto, de um produto reconhecido pelo bem que proporciona. O nosso desafio aqui, portanto, é tentar saber quem está com a razão.

Comparando-me com meu colega, eu pago tudo quanto é tipo de seguro: De saúde, são cerca de 500 reais por mês, já descontado o auxílio subsidiado que recebo do governo, de aproximadamente 180 reais. Além disso, pago 140 reais de plano odontológico, 2.500 reais anuais pelo automóvel, e pelo menos 180 de seguro contra roubo dos cartões de crédito, e para falar a verdade, nem sei quanto pago de seguro residencial. Descontando o seguro contra roubo de cartões, que suspeito que ele deva também contratar, eu tenho uma despesa anual de aproximadamente 10.180 reais, apenas para pagar pelo risco de viver. Uau! Uma soma considerável!

Em meus vinte e poucos anos de carteira, eu nunca bati meu carro (fui batido uma vez, e o dono  me ressarciu...pelo seu seguro.). Isto faz com que a minha despesa com a cobertura do risco do meu carro seja notável. Mal e mal, 2.500 reais hoje compram duas TV's de LCD. Quanto ao plano médico, eu e minha família já usamos algumas vezes, embora eu creia firmemente que o que eu tenha pago ao longo de nossas vidas excede em muito o utilizado.

Portanto, pensemos: quanto teríamos se economizássemos 10.000 reais por ano, durante vinte anos, a 6% a.a. (os juros da poupança)? Utilizando-me aqui de um cálculo para uma série de pagamentos, teríamos algo perto de 390.000 reais! Que tal? Dá para cobrir uma internação? Com certeza, não?

Portanto, a diferença entre o nosso poupador e eu reside no fato de que ele possui qualquer quantia entre zero e este valor (conforme tenha se utilizado dela ao longo do tempo), patrimônio este que é seu, e que lhe gera rendimentos. Ao fim de uma expectativa de vida, tal valor possivelmente duplicará ou triplicará, servindo aos seus filhos e netos, que poderão, talvez, diminuir as aplicações mensais, à medida que o dinheiro investido de capaz de se auto-sustentar pelo seu próprio retorno.

Será então que se declara aqui o fim do seguro? Não creio. Pois uma coisa é uma família manter uma poupança. Ora, mas a poupança é o investimento de aplicação no mercado produtivo. Desta forma, é uma piada mandar um empresário aplicar seu dinheiro nela.

No ramo empresarial, se o empreendedor optasse por poupar para a cobertura da remessa de cada fatura, teria uma montanha de dinheiro parado, o que não pode acontecer, em nome da máxima eficiência possível na aplicação dos recursos. Ele precisa se especializar no que faz, aplicando a maior parte de seus recursos no seu proprio negócio. 

Para o empresário, portanto, o seguro convém economicamente, desde que, com uma utilização massiva, pague um prêmio que cubra o risco com um mínimo de desembolso. A diluição do valor do prêmio, no seu caso, é notavelmente maior do que a que se utilizam os consumidores finais, como nós.

E como fico eu nesta história? Certamente, qualquer decisão, no Brasil, é muito arriscada; ninguém sabe quando um próximo Collor virá para confiscar a poupança, ou quando virão novas regras para os planos de saúde, um ramo já tão absurdamente regulado. Bom, como já utilizei cerca de vinte anos da minha vida profissional contratanto seguros, eu precisaria ter acumulado tamanho capital para abandoná-los agora. Dentro da mesma expectativa, deverei aplicar, por fora, durante mais vinte anos, para pensar em chegar a este patamar, mas a esta altura minha idade já começará a exigir mais desembolsos. Entretanto, creio que o raciocínio seja válido, pelo menos para o automotivo e odontológico.

Um comentário:

  1. Concordo, em parte.
    Os 390 mil talvez bancassem uma internação. Mas e duas, e três? E se tivesse UTI? E cirurgia de alta complexidade? Talvez os 390 mil não dessem nem pro começo. Sou médico e conheço os valores dos quais estou falando. Eu não tenho seguro automotivo, mas de saúde, não dá pra deixar de ter. O risco de sinistro automotivo é muito mais passível de controle por mim do que o risco de sinistro médico. Há muitos detalhes aí que devem ser considerados. Sou um poupador contumaz, mas nem por isso fecho os olhos para certos benefícios de se ter alguns tipos de seguros. O excesso de seguros confisca a sua poupança, mas a falta total deles, o coloca numa situação delicada. Uma saída talvez seja fazer o plano de saúde mais para frente em termos de idade.

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