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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Permita-se-me declinar do convite

Por Klauber Cristofen Pires

Tendo denunciado as manobras da Anvisa para pôr de joelhos a indústria alimentícia, segundo os moldes bolivarianos (por quê não usar este termo, se é isto o que ele representa?) da estratégia da tomada de poder por via da legislação administrativa, recebo como comentário de um corajoso e ilustre leitor "anônimo": 


Pelo tamanho e forma do seu corpinho tenho que lhe contar que IMC elevado é fator de risco independente para morte por doença cardiovascular. Esse risco é representado por uma taxa, mas se acontecer com você serão 100%. No egoísta âmbito individual das coisas acho boa política interessar-se menos nas liberdades coletivas e individuais dos outros e precupar-se em tirar das recomendações "anvisionarias" algo que o beneficie, individualmente.

Caro Sr "anônimo", em primeiro lugar, peço as devidas desculpas por não ter publicado a minha resposta de uma forma mais tempestiva. Ocorre que, estando de férias, escrevo naquelas brechas possíveis.

O seu comentário é rico em informações. Informações que não estão escritas, mas que denunciam o ânimo que o fez expor a sua opinião, e de tal maneira são tão interessantes, que peço-lhe vênia para publicar a minha resposta na forma de um artigo, ao invés da mera tréplica no espaço dos comentários. 

Não, não vou comentar sobre o meu peso. Talvez o Sr ou algum leitor possa pensar que nas linhas seguintes tratarei de arranjar uma justificativa sobre mim mesmo, ou procurar apresentar algum dado que conteste suas expectativas, ou ainda, fazer a apologia de um homem que gosta de ser como é, ou pelo menos, que assume as consequências de um estilo de vida do qual não deseja abrir mão.  Quaisquer destas hipóteses, entretanto, significaria dar razão ao argumento oculto, qual seja, a da legitimidade da acusação a mim imputada pelos meus quilos a mais. Pois, quem pensou assim, caiu do cavalo. 

Sr Anônimo, se o seu comentário valeu o dia por ser tão ilustrativo, o foi pela tipicidade com que as pessoas sempre recomendam a intervenção estatal sobre os outros, e não a si mesmos. Em, outras palavras, você é a prova mais concreta do que venho denunciando em meu blog e nos sites que gentilmente hospedam meus escritos. 

Se algo me atemoriza quanto aos regimes mais tirânicos, não é a capacidade deles enfiarem as piores atrocidades goela abaixo dos cidadãos. O que me atemoriza, isto sim, é a ditadura do bem, esta que se auto-justifica mediante a opinião pública, pois este é o estágio em que se solidifica. O pior vem depois, quando ninguém mais tem o direito - ou o poder - de discordar. 

O filósofo Ludwig von Mises foi muito feliz em esclarecer porque o socialismo é um sistema político tão popular, ao informar que as pessoas o apóiam segundo seus próprios pontos de vista. Vejamos como ele se expressa em seu último discurso:

As pessoas aceitam o socialismo do ponto de vista de suas próprias idéias. Elas estão inteiramente convencidas de que um sistema socialista irá proceder precisamente no modo pelo qual elas mesmas gostariam de proceder. Elas estão inteiramente convencidas que todas as outras pessoas deveriam ser forçadas a adaptarem-se a este sistema, o qual certamente elas consideram como o melhor e o único sistema possível. Quando falamos sobre o Socialismo nós assumimos, se estamos a favor dele, que o sistema socialista irá funcionar precisamente no modo pelo qual o indivíduo socialista quer que ele funcione. Nós então assumimos que este sistema, este método, irá trazer precisamente aqueles resultados e aquelas situações que este indivíduo apoiador da idéia socialista quer que sejam obtidos.
 
Portanto, prezado Sr "anônimo",  permita-me gentilmente declinar do seu convite. Eu pago plano de saúde privado, naquele esquema de promoção brasileiro do "pague dois, leve um", eis que, como tenho recorrentemente dito, pago à força um plano de saúde público ineficiente e corrupto, que por causa disto, pretende ser tutor do meu corpo.  Ademais, não sou ignorante: obtenho as minhas informações de onde quero, e enfim, não lhe pedi nenhum conselho de ordem pessoal. Don't tread on me!

4 comentários:

  1. Não tive a intenção de ofender, Sr. Klauber. Quero responder ao seu último artigo, motivado pelo meu comentário, porém vou manter-me anônimo. Quem decidiu por se expor publicamente mediante a publicação de um "blog" contendo idéias foi vossa senhoria. Como não há a necessidade de convite para lê-lo, eu o faço, anonimamente, e dessa mesma forma novamente me expresso:
    Reitero que embora eu tenha sido um pouco sarcástico anteriormente, não quis ofender ou agredir.
    O Sr mencionou um ponto importante no fim do seu texto que é a existência do SUS. Partindo desse fato e olhando de um modo atuarial, nada mais lógico que o Estado se encarregue de minorar os custos a que ele próprio se incumbe, constitucionalmente. Se há acerto na criação de um plano de saúde universal e integral como o nosso SUS, há controvérsia. Mas já que ele existe, e dificilmente deixará de existir num futuro próximo, que se faça o mais barato possível, então. Eu também acho que é exagerada a forma como a "educação" para a alimentação da população está desenhada pelo governo atual, mas o conteúdo dela é irrepreensível. Não se pode negar as conclusões dos diversos ensaios clínicos populacionais feitos mundo afora. Todos são sempre uníssonos em apontar o consumo de alimentos gordurosos, sal, sedentarismo, obesidade, álcool e tabagismo como fatores de risco para a morte e morbidade cardiovascular. Cumpre lembrar que quem banca em última análise esses dois eventos, que são danosos tanto ao coletivo quanto ao individual, é o Estado, ou seja, nós dois e todos os outros.
    Digo que é danoso ao coletivo, pois se o Sr infartar ou tiver um "derrame" ou algo parecido, que Deus o livre, o Sr provavelmente gozará de uma boa aposentadoria por invalidez paga pelo coletivo, e deixará de contribuir com seus bons préstimos profissionais a um grande número de pessoas.
    Lembre-se sempre que os planos de saúde privados têm inúmeras restrições contratuais plenamente legais e que podem tornar um futuro tratamento desgastante e oneroso. E que em parte das vezes recorre às garantias constitucionais do SUS.
    Esse é o contraditório. O cenário que se forma após a criação do SUS e do INSS, e até mesmo dos regimes previdenciários próprios, principalmente pelas suas implicações financeiras, moralmente, permite-me (a mim e ao todo) praticar esse enxerimento na vida pessoal do senhor.

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  2. Sr Anônimo,

    Não me senti ofendido, e se o Sr manifesta a sua intenção de não ofender, eu a aceito.

    Todavia, vejo como o Sr (re)incide no mesmo erro. Perceba: "Partindo desse fato e olhando de um modo atuarial, nada mais lógico que o Estado se encarregue de minorar os custos a que ele próprio se incumbe, constitucionalmente."

    Caro Sr anônimo, eu concordo que, dentro de uma sociedade livre, a operadora do plano de saúde, sendo nada mais que uma espécie de seguro, decida cobrar mais caro das pessoas mais gordas.

    Todavia, em nenhum caso, seja no plano privado, seja no estatal, alguém tem o direito de dizer COMO eu devo levar a minha vida.

    Vou repetir: não é porque eu pago - à força - um plano de saúde vagabundo, ineficiente e corrupto, que o estado pode se dar ao direito de conduzir a minha vida. Não há direito nenhum nisto: nem direito natural, nem direito constitucional. Há apenas uma falácia do pensamento coletivista! Há apenas a sanha totalistarista!

    Se o estado pode determinar o que ou quanto eu devo comer, então igualmente ele tem o mesmo direito de dizer o que eu devo ler, se achar que isto faz mal à sociedade. Enfim, se tudo o que ele faz é tão bom, então quem escreve manifestando a sua contrariedade notavelmente age contra a sociedade, e deve portanto, ser contido. Percebe? leia O Caminho da Servidão, de Hayek, disponível na Livraria Virtual deste blog.

    Por fim, seu argumento sobre o anonimato é falso. Acertadamente, a nossa Constituição dclara: é livre a expressão do pensamento, sendo vedado o anonimato. Logo, o Sr incorre em delito. Ademais, eu não escrevo para anônimos, mas para pessoas, com nome e sobrenome, e eu me identifico para quem me lê. Não é justo eu ter de debater com alguém que não quer se apresentar.

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  3. Agora são dois pontos, Sr. Klauber.
    Primeiro. O anonimato é vedado na constituição, sim, mas isso não é axioma. A questão é controversa e cabe discussão como em quase tudo. O anonimato é lesivo sempre que denigre, achincalha, acusa, que é ofensivo, criminoso. Não discordaria do Sr se este fosse o caso. Embora não sejam os mais profícuos, os debates entre anônimos, ou com um anônimo, não são inúteis. Eu não me declaro ou intenciono ser pensador ou formador de opinião, nem quero contestar suas idéias publicamente. Fica sempre a seu critério a publicação ou não do comentário e da extensão da discussão. O anonimato a que eu recorro é frágil, pois pode ser quebrado facilmente nesta rede, e só visa a proteger a minha intimidade e a dos que me cercam. Não vá tão longe e nem seja tão superficial na sua afirmação de que é delituoso. Pode ser, mas também pode não ser. Há casos e casos. O Sr mesmo terá facilidade em imaginar situações hipotéticas em que preferiria se manter anônimo.
    Segundo. Um plano de saúde privado pode cobrar mais caro do mais gordo, do mais velho, sem dúvida, pode até mesmo excluí-lo do plano. É perfeitamente lícito. Mas o SUS, o plano de saúde vagabundo e corrupto, não pode. Nem se o cliente for gordo. Não cobra mais caro e também não exclui.
    Concordo em parte com o Sr, quando diz: "em nenhum caso, seja no plano privado, seja no estatal, alguém tem o direito de dizer COMO eu devo levar a minha vida." Só faço um reparo: dizer como, todos podem, não podem é obrigá-lo a nada. Corretíssimo. A diferença entre dar um conselho e obrigar a cumprí-lo é razoável.
    Tenho asco ao totalitarismo, ao coletivismo burro que cerceia liberdades e inibe talentos. Leia meu comentário e observe que discordei pouco do seu texto. Afirmo que as orientações nutricionais são sempre benvindas, contanto que estejam embasadas em estudos baseados em evidências clínicas. O acesso a essas informações não é tão simples para a maioria da população e enganar quem não tem informação é muito fácil. E se um fabricante de biscoito de chocolate achar que vai ter mais lucro se escrever na embalagem que ele faz bem para atrites, e nada o impedir, não receie, ele o fará. E eu não o julgo mal por isso. Enquanto o governo quiser somente informar, sem segundas intenções e restrições, com o único intuito de melhorar a saúde da população e, assim, deixar o SUS mais barato, eu o apoio. A partir do momento em que passa a falar em "diretrizes", regras, proibições, eu também condeno.
    Adicionalmente, excesso de ingestão de água não faz mal a ninguém, a menos que ultrapasse a capacidade de eliminação renal, que no ser humano adulto é cerca de 24 litros de urina por dia. Até aí, o único porém, é que se urinará o tempo todo. É só acima disso que haverá problema, pois a água se acumulará. Tenha certeza de que "quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, ou de sódio" fazem mal à saúde, e muito. Se for só para informar com critério, eu apoio, acima disso é que há problema. A propósito, a fraldinha recheada ficou muito boa.

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  4. Sr Anônimo,

    O fato de eu ter sempre aceitado os comentários anônimos (logicamente, excluindo os off-topics e os insultosos) demonstra a minha boa fé para a força do argumento por si só.

    Ainda assim, resta-me sempre um estado de desvantagem, senão de insegurança -e aqui estou sendo mais específico para os que me insultam e ameaçam.

    Em alguns artigos eu já falei de um grande patrimônio das empresas que tem sido desvalorizado, justamente em função do excesso de intervenção estatal: a reputação. Ainda vou reiterar mais isto nos próximos escritos.

    Em uma sociedade livre, imensa é a preocupação das empresas com a reputação, porque eles dependem do apoio público para viverem.

    Assim, por exemplo, ocultar informações nas embalagens de biscoitos, como o exemplo que o Sr deu, pode se tornar algo muito arriscado, vez que tanto os concorrentes quanto empresas de avaliação e afinal, os próprios consumidores, podem questionar a qualidade de seus produtos publicamente e ainda pior, exigir reparações judicialmente.

    Obrigado pela recomendação da fraldinha. Por favor, faça o devido comentário no post dela.

    Sds

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