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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Calma, Fé e Perseverança!

Por Klauber Cristofen Pires

Escrevo para comentar sobre o último artigo do respeitável articulista Heitor de Paola, "Estratégia tucano-petista: dessensibilização sistemática", cujos argumentos não são de pronto irrefutáveis, se é que o são de alguma forma.


Em apertada síntese, o autor declara o seu pessimismo com o sistema eleitoral amparado pelo conhecimento da estratégia das esquerdas da "dessensibilização sistemática", nos termos em que o fiel leitor do site Mídia sem Máscara, Luciano Garrido, como Psicólogo e conhecedor da Psicologia Comportamental, apontou:

"De candidato menos ruim em candidato menos ruim, em breve estaremos no pior dos mundos possíveis. Acho que essa é a tática da esquerda hoje em dia. Algo semelhante ao que em psicologia se chama de "dessensibilização sistemática". Essa ampla aceitação do Serra, até por seguimentos ditos conservadores, é um sinal claro do fenômeno. O eixo da política está se deslocando paulatinamente à esquerda ante uma platéia anestesiada..."

O que o douto leitor apresentou com invejável conhecimento é fato: afinal, nenhum outro papel cumprem o PSOL, o PCO, o PSTU e o PC do B que não dar a impressão que o próprio PT é de direita, ao mesmo tempo em que vão lançando as suas propostas nos programas gratuitos e fazendo-as amadurecer, por repetição, nas mentes mais desavisadas. De forma alguma pretendo contestar este fenômeno. Muito pelo contrário, pois já escrevi sobre esta mesmíssima estratégia em um artigo datado de 06 de fevereiro de 2010, sob o título "Tira bom, tira mau", em que exponho o seguinte:

"Durante décadas, as esquerdas usaram aquela tática dos filmes policiais, a do "tira bom e do tira mau". Para quem não compreendeu, revisemos o script: o suspeito ou acusado durão está na sala de interrogatório sendo questionado por um "tira" (esta gíria existe no mundo real?) truculento, que depois de socar a mesa, agarrar-lhe o colarinho com os punhos e até mesmo dar-lhe umas bofetadas, não lhe extrai nada; então sai o policial gorila e entra o mocinho, que lhe oferece um cigarro, puxa um papo, e então o marginal se deleita em confissões...


Assim tem sido na política, com as esquerdas representadas no papel do "tira mau" por aqueles partidos mais nominalmente radicais, e obtendo tudo o que querem por meio das siglas "cor-de-rosa". Pensando justamente afastar o terrível cenário de uma sovietização, os brasileiros em geral, e especialmente a classe do empresariado tem concordado com seguidas concessões à liberdade e à propriedade privada, até que hoje pode-se afirmar literalmente que o direito de propriedade é uma concessão do estado (quando nasceu para servir justamente como um mecanismo de resistência a ele)."

Lembro-me de já ter sugerido em outro escrito que os Democratas justamente, como resposta, criassem a partir de sua própria costela, um partido quebra-gelo para puxar o discurso para a direita. Uma sigla que, justamente por pequena que fosse, não tivesse muito a se arriscar, mas que teria como absorver uma determinada fatia do eleitorado e ainda por cima desse o seu recado. Lembro-me, por exemplo, do Enéas, que obteve magnífico sucesso eleitoral, em que pese seu gênio um tanto excêntrico e os papagaios de pirata que trouxe consigo por sua retumbante votação, isto é, gente sem a necessária preparação doutrinária. Outro político isolado é o ex-Capitão do Exército Jair Bolsonaro, que decidiu entrar na política com qualquer representação que tivesse à mão, mas que tem o seu lugar garantido no Congresso. Se tal idéia ainda não vingou, talvez seja hora de ser pensada.

Enfim, a estratégia funciona, e quanto a isto, estamos pacíficos. Resta-nos, todavia, refletir sobre o que podemos fazer quanto às nossas escolhas possíveis. Para tanto, recorro ao exemplo dos prisioneiros dos campos de concentração nos tempos da Alemanha nazista: diariamente, eles tinham de enfrentar o frio e a fome, trabalhar até o limite da exaustão e como se não bastasse, sempre apanhando muito! Decerto, muitos deles preferiram entregar-se ao suplício como forma de abreviação dos seus sofrimentos. Entretanto, os que sobreviveram, sem contar a sorte ou a Divina Providência, foram aqueles que perseveraram até o último minuto, isto é, aqueles que apostaram em um dia após outro de sobrevivência. Portanto, em qual dos exemplos haveremos de nos embasar?

Data vênia, discordo que em vinte anos nada aconteceu, como assevera o nobre colega, para replicar, de minha parte, que em cem ou duzentos anos é que nada houve mesmo, e isto porque toda a história do Brasil foi protagonizada por desenlaces palacianos, incluindo a nossa Independência e a Proclamação da República. De nenhuma delas o povo tomou uma parte ativa e consciente. Se escapamos de hoje vivenciarmos um regime à moda cubana, foi devido à intervenção direta das Forças Armadas na década de sessenta, medida que hoje alguns saudosos evocam como a clamar pela proteção de um pai agora falecido.

Sem dúvida, tal como nos tem ensinado o mestre Olavo de Carvalho, havia uma produção intelectual mais respeitável antes da decadência moral e espiritual que se produziu em nosso povo, e não deixo de citar o filósofo Mário Ferreira dos Santos como seu expoente máximo. Entretanto, o que ponho em dúvida é até que ponto tal vivificação intelectual estava disseminada no meio acadêmico daquela época e por extensão, entranhada na cultura geral do nosso povo, de sorte que a inserção do pensamento comunista se fez tão forte e sem resistências.

Pedindo desde já o perdão pela aparente prepotência, mas que não é senão a curiosidade honesta de decifrar um tempo em que este que aqui escreve ainda estava por nascer, eu pergunto se o povo, amparado por seus formadores de opinião e partidos políticos, tinha uma idéia clara ou pelo menos básica da necessidade da defesa da propriedade privada e da livre iniciativa, bem como da importância de defender as suas liberdades individuais contra as investidas estatais.

Sim, claro, não enganam os jornais da época que o povo realmente aplaudiu a contra-revolução protagonizada pelos militares, mas isto não o exime de ter eleito João Goulart como presidente, o que denuncia que naquele tempo uma escalada democrática socialista estava em andamento tal como nos dias atuais, se bem que abortada um tanto antes. Por quê isto, então, aconteceu?

Se houve um confronto que se possa reconhecer como ideológico e que tenha sido verificável até então no ano de 1989, reputo-o antes como o do começo do fim dos antigos coronelatos estaduais, os quais nada tinham exatamente de ideológicos, ou para usarmos um termo mais apropriado, doutrinais. Estes eram apenas os representantes de um status quo que não era lá muito diferente em natureza do atual, a não ser pelo que agora o curral eleitoral anda concentrado na figura de um só partido e para ser mais específico, no de um só homem.

Não obstante, é preciso ver o filme dos últimos vintes anos com mais atenção. Se nos primeiros dez assistimos à consolidação da completa hegemonia das esquerdas, na segunda metade germinaram vários articulistas e instituições dos quais o nosso caro Heitor de Paola é justamente um dos mais ativos e experientes.

Pois então, eis o que sustento: que nunca no Brasil se fez um verdadeiro e amplo confronto ideológico. Sempre perdemos por WO. Penso que pela primeira vez em nossa história é que estamos sendo convidados a nos olhar no espelho e "discutir a relação". Nós, da população civil, e não os militares ou outra forma de socorro vinda e esperada desde fora.

Além disso, a imprensa e as religiões parecem ter sentido a bolacha delas queimarem, de tal forma que até os jornalistas e analistas mais governistas hoje apontam para as iniquidades perpetradas pelo PT, bem com vários padres e pastores já estão alertas e instruindo os seus fiéis a conhecerem o projeto do partido do polvo tal como escancarado pelo PNDH-3. Creio que este é um caminho sem volta, com prejuízo inestimável para a conquista da simpatia do público.

Não sei se as instituições religiosas e a imprensa sonolenta acordaram tarde demais para este certame eleitoral, até porque a desconfiança sobre a idoneidade das pesquisas paira no ar e nos deixa a todos no escuro, mas isto importa menos do que saber que as ideias que movem o PT e as esquerdas estão começando a sofrer resistência e o contraditório. Somente para oferecer um breve contraponto, ofereço ao juízo do leitor o artigo, "Apertem os cintos, o PT sumiu", escrito pelo autor Raymundo Araújo Filho, que pela leitura do seu texto indica tratar-se de um petista também pessimista, dado que ele prevê com lamentos a ampla derrota que o seu partido deverá sofrer nas próximas eleições para o cargo de governador.

Enxergo o fenômeno Índio da Costa como um termômetro de um novo cenário que se descortinará mais lá adiante, se perseverarmos com calma, confiança e fé em Deus. Entendo que o então candidato à vice-presidência apostou, a meu acertadamente, em um eleitorado que já se apresenta consciente e minimamente numeroso. Enquanto os políticos tradicionais apostam na vigência do modelo tradicional da política, este jovem está olhando para o futuro, de olho nesta parcela da população que de pronto o reconheceu.

Pode parecer a alguns dos leitores que ainda sejamos como ilhas isoladas em um Oceano Pacífico, mas deixem-me contar-lhes de um fato recente: estava uma colega minha a comentar comigo de um amigo dela que elogiou um artigo sobre uma tal candidata "mulher-melancia", ao que imediatamente reconheci como sendo o meu artigo "Marina é a oposição-espelho". O sujeito é funcionário do Banco do Brasil com o qual eu nunca tive contato em minha vida. Isto, para vocês verem como estas informações se espalham como rastilho de pólvora.

Há poucos anos, ninguém acreditaria que uma Colômbia absolutamente arrasada e com a maior parte do seu território entregue à guerrilha comunista e aos barões do narcotráfico teria se levantado de forma tão surpreendente e altaneira. Hoje este país é um grande produtor de café, tem um elevado conceito de turismo e as suas favelas, antes tão parecidas com as atuais do Rio de Janeiro, são comunidades ordeiras que contam até com teleféricos.

Persistamos! Por mais quatro anos, por outros mais quatro e quantos mais forem necessários.

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