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sábado, 12 de março de 2011

Mão dupla

Por João Bosco Leal

A maturidade têm me mostrado coisas que realmente não conseguia ver quando tinha menos idade. Não que agora pense serem os mais velhos mais competentes, mas que eles, como eu, com a vida, aprenderam a partilhar.


Amizades, afeto, carinho, amor, e mesmo negócios, são atividades que não se consegue só. É necessário ter uma outra pessoa de quem sejamos amigos, por quem tenhamos afeto, a quem possamos dar, e de quem possamos receber carinho, amor, ou mesmo com quem possamos realizar negócios.

A vida nos mostra, desde o nascimento, que não conseguimos sobreviver só, como muitos animais, que já nascem e buscam a própria sobrevivência sem a ajuda de ninguém, como as tartarugas, e tantos outros. O ser humano precisa de quem lhe corte o cordão umbilical, o amamente, e forneça todas as outras coisas que certamente necessitará, até que consiga andar, falar, trabalhar e, a partir daí, ser parcialmente independente.

Mesmo assim, temos muita dificuldade em entender que assim será por toda a vida, e normalmente não partilhamos detalhes da vida, que certamente nos fariam, e a outros, mai felizes.
Poucos dias atrás ouvi de uma senhora de idade já bem superior à minha, e que, talvez até por isso mesmo eu a considere uma sábia, que 'a vida é feita de detalhes'.

Pelo pouco que sei sobre ela, foi com a vida que aprendeu a dar, muito mais do que recebeu, e isso a tornou uma pessoa admirada e querida por todos. Apesar de por determinado período haver recebido muito pouco, ou nada, em quase todos os sentidos da vida, ela não deixou de dar, e agora, penso, colhe os frutos.

Entretanto, se observamos cuidadosamente o comportamento humano, poderemos notar o quanto ele é mesquinho, só pensa em si, e quanto mais recebe mais se acha no direito de receber, sem se importar em buscar, em uma auto análise, se também está dando tudo o que recebe. Isso é facilmente notado em relacionamentos entre pais e filhos, onde os pais dão tudo o que os filhos solicitam.
Relacionamentos entre seres humanos, seja de amizade, entre pais e filhos, ou de casais afetivamente ligados, acabam envolvendo outras pessoas, que nos cercam, e, nesse caso, quando damos, exigimos que além de nos dar, nosso parceiro dê também aos nossos, algo que na maioria das vezes achamos que só nós damos.
Nos relacionamentos entre casais, seria perfeito se, além de nós, os nossos também dessem, e recebessem, mas se isso não ocorre, penso ser até injusto cobrar de alguém, que lhes dê o que deles não recebe, ou que seja cobrado para dar o que não recebe.

Quando permitimos, ou sequer notamos, que os nossos não dêem o mesmo que recebem, estamos agredindo emocionalmente quem certamente tanto queremos, que dá, e não recebe.

Com a maturidade, acabamos percebendo que não podemos nos relacionar com outros seres humanos, seja afetiva ou comercialmente, sem que o que damos tenha algum retorno, assim como o que recebemos merece também uma devolução equivalente, proporcional.

Amizades, relacionamentos, namoros e até casamentos são prejudicados, ou até chegam ao fim, por não darmos a devida atenção ao retorno, tanto nosso, como dos nossos, de também dar o que recebemos.

Normalmente, deixamos de ser felizes por muito pouco. Não percebemos que, quando a via é de mão única, não se sobrevive caminhando no sentido contrário.

João Bosco Leal                                                                                                                       www.joaoboscoleal.com.br

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