Juros
baixos seriam bons, se viessem da poupança para o investimento, mas
não é isto o que está acontecendo...
Por
Klauber Cristofen Pires
Algumas
pessoas (e alguns petistas* sonsos) têm me perguntado sobre a
questão dos juros, isto é, questionam-me pelo fato de os juros
altos sempre terem sido um alvo dos comentários dos que se opõem às
políticas do governo na área econômica, e sentem-se ainda mais
desorientadas porque agora que estão baixos, os mesmos comentaristas
- eu incluso – seguimos criticando a equipe econômica.
A
confusão exsurge agora porque historicamente as taxas no Brasil
foram mantidas muito mais altas do teriam sido estipuladas em um
regime de livre mercado, como forma de atender à política
macroeconômica dos diferentes governos. Isto, por sua vez, se deu
porque os governos desde há muito vinham utilizando as taxas de
juros como ferramenta de controle da inflação, por meio da
contenção do consumo por parte da população, estimulada que foi a
comprar mais por conta das sucessivas expansões monetárias, já que
a produção no Brasil sempre foi severamente deprimida por conta da
tributação excessiva e da burocracia infernal.
Como
se vê, trata-se de um típico caso da torneira avariada a jorrar
água pela casa toda, onde os seus moradores preferem ir cobrindo as
passagens das portas com toalhas para conter o alagamento, ao invés
de fechar o registro geral. Em palavras mais diretas, trata-se de um
típico caso de intervenção estatal que, longe de surtir os efeitos
esperados, gera novos e piores problemas, criando assim um redemoinho
cuja solução de continuidade só se encontra no colapso total da
sociedade.
Que
se esclareça: não há nenhuma posição da Escola Liberal Austríaca
quanto ao governo manter os juros neste ou naquele patamar, alto ou
baixo. Pode parecer hilário valer-se aqui de um conhecido bordão
popular, mas a verdade é justamente esta: “antes o contrário!”.
O
que defendemos é que os juros submetam-se às exigências do
mercado, para que cumpram o importantíssimo papel de orientar as
escolhas dos consumidores e dos produtores.
Aqui
vai uma estorinha bem simples e didática, que pode ensinar às
pessoas como funciona o mecanismo dos juros em uma sociedade de livre
mercado: João vem ao banco pedir dinheiro emprestado para plantar
arroz, e sai de lá onerado por uma taxa de juros – vamos dizer a
título de lúdico exemplo, de 2% a.a. (ao ano). Em seguida, vem
Pedro, que diz também querer plantar arroz. Então o banco, que já
andou pesquisando o mercado e verificou que já existe suficiente
arroz no mercado, responde-lhe: Prezado cliente, sugerimos que você
plante feijão, ao invés de arroz; se você for plantar feijão,
vamos oferecer aqueles 2% que João contratou, mas se ainda assim
você quiser plantar arroz, então o risco será maior, de modo que
precisaremos cobrar 4%, ao invés de 2%. Passado mais algum tempo,
vem Fábio, e somente por constatar que os juros para o arroz estão
já demasiado altos, prefere por si mesmo plantar milho.
Como
vocês, caríssimos leitores, podem constatar, em uma sociedade de
livre mercado os empréstimos bancários servem essencialmente para
financiar a produção, e os juros, para ajudar os produtores a
escolherem melhor onde investir a produção. O resultado final é um
contínuo aprimoramento de alocação de recursos, que tenderá a
levar a sociedade para um estado de progressivo enriquecimento.
Por
outro lado, em uma sociedade de livre mercado, isto é, onde vige o
padrão-ouro e não o fictício papel-moeda, o dinheiro captado pelos
bancos provêm das pessoas físicas que vão ser obrigadas a conter o
consumo, porque o dinheiro que tinham para isto foi dirigido para a
produção. Desta forma, os recursos materiais permanecem à
disposição dos produtores, e por causa disso, mantém-se baixos os
seus preços. Além disso, sem uma demanda adicional para os bens
disponíveis, não há um movimento de ascensão inflacionária e
portanto, as taxas de juros também não sofrem uma pressão de alta.
Entretanto,
quando o governo intervém na economia, tudo se desarranja. Em
primeiro lugar, ao ter revogado o padrão-ouro e inventado que
aqueles pedaços de papel-pintado passariam a ser chamados de
dinheiro, o governo capacitou-se a arrancar dos cidadãos mais
recursos do que pelos meros métodos tradicionais de tributação,
graças à sua prerrogativa de simplesmente imprimir mais dinheiro. A
isto é que se dá o nome de expansão monetária. Para alguém
imaginar de uma forma bem simples o que isto significa, imagine
alguém colocando mais água no feijão, a fim de receber mais
convivas que chegaram inesperadamente ao seu pagode...
Além
da expansão monetária criada pelo governo, a criação do
papel-moeda deu ensejo a outro nefasto fenômeno, qual seja, o
sistema das reservas fracionadas, uma prática empregada pelos bancos
de emprestar a segundas, terceiras e até a enésimas pessoas o mesmo
dinheiro que havia emprestado ao primeiro tomador. Qualquer pessoa
que venda um mesmo lote de terra ou qualquer bem a mais de um
comprador incorre no crime de estelionato, mas o sistema de reservas
fracionadas é largamente usado hoje no mundo todo de forma legal.
Para
(tentar) evitar que os empréstimos bancários de reserva fracionada
desaguem no infinito, os governos estipulam os chamados “depósitos
compulsórios”, de modo que cada banco é obrigado a manter
depositado no Banco Central uma determinada quantia, em percentagem,
do total das captações dos clientes.
Sob
estes dois mecanismos, o mercado ficou simplesmente acéfalo, porque
nem os consumidores têm uma ideia clara do seu poder de consumo, nem
os produtores recebem as informações necessárias para orientar os
investimentos.
A
partir destas duas condições, sobressaem-se comumente dois
cenários:
O
primeiro, semelhante ao Brasil, um país pobre em investimentos, com
alta tributação e de legislação prolífica, onde se praticam
tradicionalmente juros (artificialmente) altos para conter a demanda
provocada por falta de bens e excesso de emissão de moeda, que tem
por resultado conviver com altas taxas de inflação, como já vimos
nos parágrafos acima, e;
O
segundo, como é o caso das grandes nações industrializadas, como é
o caso dos Estados Unidos, onde a política prevalecente tem sido a
da manutenção de juros (artificialmente baixos), e que tem tido por
resultado a promoção de uma distorção na alocação dos recursos,
por orientar os investimentos em projetos de longo prazo de maturação
e de eficiência duvidosa. O estouro da bolsa Nasdaq e depois, do
mercado imobiliário, são exemplos do seu colapso.
No
primeiro caso, temos uma crise relacionada à carência de bens e
serviços prestados à população; no segundo, temos uma
superabundância de alguns bens e serviços, pari
passu
à falta de outros que sustentem, no conjunto, a economia de modo
permanente.
Curiosamente,
sem ter tido uma experiência de completa industrialização –
muito pelo contrário, o setor vem definhando - o Brasil inaugura na
atualidade um terceiro fenômeno: a crise fomentada pelos juros
(artificialmente) baixos e pela expansão indiscriminada do crédito,
tudo para incentivar a população ao consumo.
Agora
sim, torna-se mais claro responder: sim, sempre foi desejável que o
Brasil praticasse juros mais baixos dos que os que vinham sendo
praticados antanho. Todavia, necessário se faz que sejam juros
estipulados pelo mercado, e que os empréstimos sejam oriundos da
poupança.
O
que o governo atualmente está fazendo é baixar os juros de forma
politicamente motivada e totalmente arbitrária, bem como ativando
desmesuradamente os mecanismos de facilitação do crédito para que
os cidadãos se endividem no afã de adquirir bens de consumo. Em
outras palavras, o governo está estimulando o povo a torrar as suas
já minguadas reservas no presente, o que não pode resultar em outra
coisa que não sacrificar inexoravelmente o futuro.
Prezados
leitores, decididamente, eu não faço parte da turma do “quanto
pior, melhor”. Não sou urubu magro a torcer pela morte do cavalo
gordo! Até porque, nestas horas, os que mais sofrem somos nós
mesmos! Apenas demonstro o quanto minhas previsões – e com mais
justiça, de todos quantos têm avaliado os fatos sob a luz da teoria
austríaca – estavam certas, mesmo quando uma aparência de
progresso do Brasil se mostrava aos tolos, no vácuo de uma crescente
exportação de comoddities, especialmente para a China,
simultaneamente a um processo de declínio da nossa participação no
mercado mundial de produtos industrializados.
No
jornal O Liberal de domingo, do dia 03/06/2012, a manchete foi muito
apropriada e muitas e muitas vezes anunciada por mim: “Inflação
dispara em Belém”. Em franca desindustrialização, nossa barca da
salvação, o agronegócio, já faz água perante os rombos no casco
causados pelo impacto das políticas messetistas, ambientalistas,
quilombolas e trabalhistas. A produção de alimentos já encolheu 7%
e a do álcool, 40%! O mercado imobiliário já está com o pavio bem
curto e pior, aceso. Falta bem pouco para um desastre colossal.
* petistas são todos os socialistas, comunistas, progressistas, onguistas, e claro, os petistas propriamente ditos.
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