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domingo, 1 de fevereiro de 2015

O Pato Manco e a velha raposa

By V. Camorim




Pato manco é a expressão usada nos Estados Unidos da América ao político em fim de mandato. No caso o Obama. O fim de mandato de um Presidente é muito triste. Poderoso, vê sua força declinar em muito. Pode chegar ao ponto que se pedir um simples cafezinho corre o risco de não ser atendido. 

Pensando nisso, e por contar com minoria no congresso, resolveu investir em ações do qual não dependerá do consentimento do mesmo e assim realizar alguma façanha com que possa ser lembrado como um astuto estadista. Mirou em Cuba e em 17 de dezembro do ano passado anunciou o reatamento das relações diplomáticas com a ilha de Fidel causando muito barulho. 

Foi, sobretudo um surpreendente golpe de propaganda. Em meio a controvérsias que o anúncio causou, a recepção da idéia foi acolhida como positiva por grande parte do mundo político e sua popularidade de pronto se elevou alguns pontos. Menos, é claro, com a velha guarda cubana em Miami. No Brasil, onde Fidel é tido como o pequeno e intrépido David, a notícia foi acolhida com entusiasmo. Os advogados do governo se apressaram em justificar como acertado e coisa de visionário a dinheirama que o governo tem jogado na ilha. 

Nos EUA, o Secretario de agricultura, Tom Vilsack, não se fazia de rogado e previa negócios fabulosos, milionários, lamentando inclusive que durante todo este tempo do embargo tenham perdido terreno para países da Europa e da América do sul. Agora quer recuperar este tempo e logo passou a exibir uma longa lista de produtos exportáveis para cuba, tudo vendido a credito. Um outro item que se soma a isto é o turismo. Coisa muito importante para Cuba, na mesma proporção que o petróleo para o Irã e Arábia Saudita. 

Por isso ele é assunto de Estado e os militares têm o estrito controle deste setor e de seus correlatos, como hotéis, posto de abastecimento, casa noturna, restaurantes, aluguel de carros e etc. Levantar a barreira que impede o embarque de turistas a partir dos Estados Unidos tem sido um assunto relevante tanto para Cuba como para o governo Obama. Isto garantirá uma torrente de dólares para a felicidade do cubano e ajudará a abrir os portões de Cuba a democracia, eles pensam. Obama está tão determinado a fazer os diabos para realizar uma façanha qualquer que deixe sua marca para a posteridade, que ignora a história e despreza o futuro. Pensa que será eternamente lembrado como o cara cujo governo libertou cuba da opressão dos irmãos Castros.  

O certo é que Cuba não tem muita coisa a oferecer em termos de comércio, ou melhor, o que produz não cobre o que compra lá fora. Comercio quer dizer simplesmente troca. Cuba não tem indústria, nem produtos agrícolas, nada em volume que possa justificar esta expectativa de comercio milionário, como pensa o secretario de agricultura dos Estados Unidos. Fazer negócio com Cuba teve sempre o significado de calote puro e simples. Rússia recentemente desistiu de cobrar 26 bilhões de dólares que a ilha lhe deve ou no caso,devia. O próprio embargo tem sua origem na "expropriação" das propriedades de estrangeiros pelo governo revolucionário as quais não foram indenizadas. Desde aí ficou como um costume não pagar as contas, por isso 

Fidel não tem crédito no mundo dos negócios levado seriamente. No fundo a ilha tem vivido por muito tempo de ajuda que lhe presta alguns países, inclusive os EUA. Um ex-presidente do México chamou Cuba de chupa cabra, que na gíria quer dizer o que vive à custa alheia. Agora Obama desconhecendo toda esta historia de calote no seu desespero de marcar a sua política externa com algo de positivo, sinaliza com vendas a credito de produtos agrícolas norte americanos. Já sabemos que o contribuinte americano é que ai pagar este pato. O que o político não faz para ficar bem na foto!

Mas se Obama fez um cálculo a fim de faturar em seu favor esta empreitada, não contava com a esperteza dos Castros. Obama neste fim de mandato está desesperado por um feito marcante e tem pressa. Cuba seria, nos seus cálculo, um bom alvo. Mas Fidel é um cara passado na casca do alho e não se deixaria passar pra traz por um socialista amador, ele um veterano de longa data. 

Quarta feira passada, em um encontro na Costa Rica, longe de se mostrar agradecido por este gesto simpático de Obama, Raul Castro deixou bem claro que para se restabelecer as relações com os EUA Cuba quer a eliminação do que se diz bloqueio de Cuba, mais a reparação econômica por suposto dano causado pelo embargo a ilha por todo este tempo; assim como o retorno de Guantánamo ao controle do governo de Cuba e a retirada de apoio aos dissidentes. Se Obama pensava que Cuba estava no Papo se enganou. Parece que ele é que está no papo.

Qualquer um em sã consciência que não seja um inveterado socialista sabe que o socialismo não dá certo nem que a vaca tussa. Não é má vontade, olho grande, inveja ou impedimentos causado pelos países capitalistas. Mas porque é impraticável do ponto de vista econômico. Ao confiscar a propriedade privada de seus legítimos donos passando para o domínio do Estado se está eliminando as condições básicas da formação dos preços de mercado. 

Estes são como os sinais de transito que transmitem aos interessados uma oportunidade de negócio, a escassez de determinados bens e fatores de produção, expectativas de ganhos e etc. Sinaliza aos homens de negócios o que os consumidores mais desejam em que quantidade, qualidade e preço. 

Ao confiscar a propriedade privada como fez Fidel logo em seguida a sua revolução, ele dá início a um processo que iria deixar Cuba com a língua de fora. Este processo não é novo. Lênin experimentou na pele esta verdade e teve que recuar criando a NEP, a nova economia política que não era outra coisa que o reconhecimento da impossibilidade de destruição do mercado sem que se destrua a própria sociedade. Obama ignora tudo isso. Se não ignorasse teria argumento com que invalidaria toda reclamação dos Castros.

O que ficou no imaginário das pessoas é que o embargo americano a Cuba foi o responsável por sua miséria. Do modo como Obama tratou esta questão deu a Fidel todo o motivo para sair de vilão a herói e ele, de herói a vilão. Os Castros vão bater nesta tecla e insistir em sua tese, pois não tem pressa. 

Diferente de Obama que tem pressa e vai ficar bastante embaraçado em encontrar uma saída para este check ao rei pois a “justa” reparação que querem os Castros é de milhares de milhões de dólares. Quanto a Guantánamo, tudo bem. Os EUA tinham que sair não só do território cubano, mas também do restante do mundo onde tem base militar. Já aos dissidentes, aí é demais.

Mas o que os Castro querem mesmo é humilhar o Obama, tirar o máximo de proveito da situação e inverter o incômodo do embargo capitalizando-o politicamente, reforçando assim a imagem do pequeno David que enfrenta o gigante Golias. Mas não é nada disso. É só uma raposa velha brincando com um pato manco.


V. Camorim é autodidata e articulista de LIBERTATUM

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