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terça-feira, 23 de junho de 2015

De que o brasileiro se orgulha?

Por Armando Soares

Os japoneses tem uma cultura de invejar. Nas escolas as crianças limpam as salas de aula, os corredores, servem as refeições. Durante a Copa do Mundo no Brasil deram lição de limpeza e humildade recolhendo das arquibancadas o lixo, limparam as cadeiras. Se este gesto de humildade cultural fosse praticado no Brasil seria considerado exploração de menores e sujeito as penas da lei. Essa prática japonesa só acontece em países aculturados e desenvolvidos. Infelizmente o Brasil é um país subdesenvolvido e embrutecido, que joga lixo nas ruas para a criação de baratas e ratos que infestam as casas e quebram as cadeiras do estádio. No Japão sujeito a terremotos, uma estrada destruída é reconstruída em semanas, no Brasil isso levaria anos. O Japão destruído pela guerra e duas bombas atômicas tem muito do que se orgulhar. No Japão não falta água mesmo sendo um território com poucos recursos naturais. O Brasil não tem nada para se orgulhar. O sucesso do Japão chama-se cultura. A realidade social brasileira é sinônima de incultura.


Procuro algo no Brasil em que o brasileiro possa se orgulhar e não encontro. Podemos nos orgulhar dos políticos, dos governadores e dos presidentes da república? Podemos nos orgulhar do nosso futebol que perdeu sua identidade e maneira de jogar para copiar os europeus? Podemos nos orgulhar da nossa justiça, lenta, vacilante e caricata? Podemos nos orgulhar dos nossos sindicatos fazedores de greve e braço político de partidos? Podemos nos orgulhar da educação transmitida as nossas crianças e jovens, submetidas a profissionais que visam apenas os seus interesses e seu compromisso com ideologias perniciosas que contaminam as mentes infantis? Podemos nos orgulhar de nossos transportes coletivos verdadeiras estufas sem nenhum conforto, um martírio para quem deles necessita? Podemos nos orgulhar do atendimento de nossos hospitais públicos? Podemos nos orgulhar de sermos um dos campeões da corrupção? Podemos nos orgulhar das filas quilométricas a que estão sujeitos os brasileiros em repartições públicas e bancos? Podemos nos orgulhar de termos as piores estradas do mundo? Podemos nos orgulhar de sermos um dos campeões de tributos no mundo, sem retorno em serviços públicos? Podemos nos orgulhar de sermos um dos campeões de crimes hediondos e de outras naturezas? Podemos nos orgulhar de não termos nenhuma proteção e estarmos sujeitos a assaltos, assassinatos e roubos a todo o momento? Podemos nos orgulhar de termos uma imensa população de jovens criminosos protegidos por uma legislação inadequada? Podemos nos orgulhar de agasalharmos centenas de ONGs estrangeiras na Amazônia interferindo nas ações do governo e fazendo parte de ministérios? Podemos nos orgulhar de termos uma política externa capenga que valoriza países em decadência? Podemos nos orgulhar da política trabalhista fascista que emperra o desenvolvimento e faz do direito do trabalhador um negócio contra as empresas? Podemos nos orgulhar do comportamento de fiscais, de burocratas do governo que usando de suas prerrogativas humilham a quem viaja e quem procura esclarecimentos? Podemos nos orgulhar de trabalhadores que se valem dos benefícios trabalhistas só para pegar seguro desemprego e ainda ter o direito de recorrer à Justiça do Trabalho inventando mentiras com falsa testemunha, tudo aceito pela Justiça do Trabalho que acolhe todas as reclamações sem provas penalizando a empresa e dificultando cada vez a admissão de empregados, cenário podre só possível de suportar de grandes corporações, de multinacionais? Podemos nos orgulhar do estafante trânsito brasileiro, fator de estresse? Podemos nos orgulhar do comércio de multas de trânsito criadas para aumentar o caixa das prefeituras sem nenhum benefício para a melhoria do trânsito? Podemos nos orgulhar do governo brasileiro ter criado dentro da Amazônia enorme e absurda reservas para favorecer índios e indiretamente países colonialistas? Podemos nos orgulhar em sabermos que a América Latina foi herdeira do padrão ibérico, que solidificou uma cultura de intervencionismo e paternalismo estatal, em lugar de uma economia vibrante e impulsionada pela operosidade dos indivíduos e pela ação das empresas privadas, modelo que engendrou um ambiente de privilégios, descaso pela educação, protecionismo, ausência de concorrência e rentismo? Podemos nos orgulhar de saber que o esforço de garantir uma série de direitos pela força da Lei — no caso, da própria Carta Magna —, o país descuidou das condições para que a prosperidade econômica pudesse ser alcançada de maneira efetiva por todos, que em vez de “ensinar a pescar”, resolveu “dar o peixe” para todos, sem distinção. Podemos nos orgulhar de o Brasil está se convertendo em uma verdadeira vitrine de políticas sociais voltadas para a melhoria de bem-estar de clientelas específicas? Podemos nos orgulhar que enquanto o resto do mundo, cada vez mais, se volta para o desafio da criação de riquezas, o Brasil persiste no desenvolvimento de um modelo distributivista em essência, fortemente baseado no intervencionismo estatal e, em alguns casos, com um acentuado viés anticapitalista, virando uma economia com mentalidade de funcionários públicos, no que isso em geral é associado a certo espírito de acomodação e de dependência do Estado? Podemos nos orgulhar de o governo financiar um grupo de vagabundos que invadem propriedades rurais que sustentam a economia do país? Podemos nos orgulhar de termos um governo que financia ditaduras comunistas com o dinheiro brasileiro? Podemos nos orgulhar de não termos condição de escoarmos nossa produção, deficiência que encarece o custo da exportação? Podemos nos orgulhar da decisão do STJ de expulsar produtores rurais de Roraima e entregar aos índios via reserva Raposa do Sol ponto estratégico brasileiro? Podemos nos orgulhar de ter um povo que levanta a bandeira vermelha com a foice e o martelo, ao invés de levantar a bandeira verde e amarela do Brasil? Podemos nos orgulhar de termos tido um presidente que era simpático ao nazismo? Podemos nos orgulhar de um povo que entregou a borracha para os ingleses para ficar com o café? Podemos nos orgulhar de um povo que vê seus semelhantes ser mortos nas ruas e nada fazem? Podemos nos orgulhar de termos famílias que jogam seus filhos nas ruas para se transformarem em bandidos e culpam a sociedade e o governo? Podemos nos orgulhar da guerra diária realizada nas favelas?

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O brasileiro para se orgulhar do Brasil precisa antes ter orgulho de si mesmo. Como o brasileiro pode se orgulhar de si mesmo ficando distante da política, permitindo que o país se transforme numa republiqueta dominada por bandidos e corruptos? Num lixo civilizatório?

                
            Termino com Lobão: “E assim continuaremos a fabricar um sem-número de nacionalistas xenófobos, bichos-grilos ecológicos, ripongas neocomunistas. Seremos imunes a qualquer crítica quanto à nossa infraestrutura desmoronada e falida, quanto à nossa terminal condição moral, só conseguindo enxergar as trapaças dos grupos adversários, a exibir com jactância e orgulho, sem a menor cerimônia, um rabo mais imundo que o do opositor. Viveremos a cultuar esse mesmo carnaval como nossa incapacidade máxima de nos qualificarmos com alguma relevância no cenário internacional através de qualquer outra manifestação cultural.” “...Não conseguimos aprender com a sucessão dos fatos, não conseguimos nos desprender das mesmas ideias que nos paralisam. Morremos de medo de um dia sermos finalmente comparados com o mundo civilizado e desmascarados diante da nossa mediocridade, soberba, inoperância e impotência.”
                
         Com tanta lama pútrida é difícil achar alguma coisa para se orgulhar do Brasil.

Armando Soares – economista



Soares é articulista de LIBERTATUM

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