Revolução Gramsciana e a Pátria Educadora
por LUCAS GANDOLFE*
O marxismo cultural defendido por Antonio Gramsci nasceu com a crítica aos métodos insurrecionais violentos utilizados na Rússia e que para ele não seriam propícios na Europa Ocidental. Gramsci projetou a revolução cultural marxista, afirmando que antes de ocupar o Estado por meios funcionais e legais, seria necessário se infiltrar nos órgãos culturais. Assim busca-se justamente uma mudança mental, ou seja, do ensino, que naturalmente levará a uma alteração comportamental na sociedade. Uma vez superada a opinião que essa mesma sociedade tinha a respeito de várias questões, atinge-se o que Gramsci denominava superação do senso comum, que outra coisa não é senão a hegemonia do pensamento, fazendo com que as pessoas aceitassem naturalmente os fundamentos impregnados na ideologia e não oferecessem resistências a revolução.
Ao modificar a estrutura cultural da sociedade, os valores burgueses seriam subvertidos e substituídos pelos valores comunistas de uma sociedade sem classes e sem donos dos meios de produção. A teoria gramscista se debruça sobre uma ideia de revolução muito mais profunda ideologicamente do que a marxista clássica ou do que a marxista-leninista, pois é feita através da inoculação socialista em toda cultura nacional e não da tomada direta do Estado.
A ideia não é somente vencer a burguesia fisicamente, com uma força armada revolucionária que tome as estruturas de poder. Esse exemplo é comum durante o século XX e efetivamente não funcionou, já que embora a subestrutura dos Estados socialistas revolucionários marxistas-leninistas tenha sido radicalmente transformada, a superestrutura internacional ainda era dominada pela burguesia. Prova disso é que a URSS, embora de inspiração inicial marxista-leninista, estava inserida em um sistema internacional de Estados-nação.
Mais tarde, a própria revolução russa é deturpada e o conceito de Estado-nação se une com a experiência soviética, efetivamente provando que esse conceito, anterior ao marxismo e abraçado pela burguesia, permanecia no inconsciente da sociedade.
Gramsci então cria o que muitos autores posteriores, como Max Horkheimer, chamam de “marxismo cultural”. O marxismo cultural é justamente a transformação da sociedade por meio de seus valores e cultura. Uma vez que a superestrutura já estivesse construída, não haveria nenhuma oposição à revolução. Na verdade, o que se imagina é um período de intensa reforma não-revolucionária, sempre dentro das instituições burguesas, mas que por ser constituído de uma sociedade com ideias modificadas, tomaria tons de uma revolução silenciosa, na qual os que não aceitaram a transformação das ideias seriam marginalizados.
Em vez de se extinguir o establishment, o mesmo passa a aderir aos valores comunistas. Não é necessário um partido de vanguarda, já que todos os partidos existentes já seguirão a cartilha cultural implantada, inicialmente em graus diferentes, mas que tenderiam a convergir com o passar do tempo. Esta é a hegemonia cultural gramscista.
No Brasil essa revolução cultural foi grandemente fortalecida no decurso e após a ditadura militar. É certo que os militares, para construir e fundamentar a sua propaganda, se uniram contra o inimigo “comunismo”; entretanto, a história mostra que eles buscavam outorgar um estado de repressão policial, sem visar qualquer doutrinação e hegemonia ideológica característicos dos Estados Totalitários.
Desta maneira, involuntariamente, o governo militar colaborou para que as universidades, o ensino, a imprensa, as manifestações artísticas se tornassem redutos e centro de difusão da ideologia socialista. Enquanto os militares baixavam seus decretos em Brasília, a revolução cultural gramsciana se alastrava a todo vapor nos centros urbanos. Os espólios da esquerda passaram a ser as cadeiras majoritárias em universidades e escolas, bem como os dois grandes partidos políticos existentes: PT e PSDB.
Todas as noções de pedagogia crítica e instrução popular de Gramsci foram teorizadas e praticadas décadas mais tarde por Paulo Freire no Brasil, aquele mesmo que só enxergava “opressores” e “oprimidos” em sala de aula, que defendia o fim da hierarquia do saber e do ensino de conteúdo objetivo, já que os alunos das periferias também trariam seu “conhecimento” para os professores. Enfim, passadas as apresentações evolucionistas históricas e a grande influência desses “teóricos” para a educação brasileira, vejamos os resultados práticos.
Com base na notícia do O GLOBO, o Brasil atingiu duas das seis metas fixadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As metas não cumpridas dizem respeito a expandir a educação e os cuidados na primeira infância, especialmente para as crianças mais vulneráveis. Garantir acesso igualitário de jovens e adultos à aprendizagem e a habilidades para a vida. Alcançar uma redução de 50% nos níveis de analfabetismo de adultos até 2015 e melhorar a qualidade de educação e garantir resultados mensuráveis de aprendizagem para todos. Outros dados oferecidos pelo mesmo veículo de informação foram os de que a maioria dos alunos brasileiros ficou nos níveis mais baixos de aprendizagem (I e II, em uma escala que vai até IV) nos resultados do Terceiro Estudo Regional Comparativo e Explicativo (Terce). Em matemática, 83,3% dos estudantes brasileiros do 7º ano e 60,3% dos que cursavam o 4º ano ficaram nos níveis I e II. Apenas 4% e 12%, respectivamente, tiveram menção máxima, no nível IV, na disciplina. Em leitura, no 4º ano, foram 55,3% nos dois primeiros níveis. Entre os alunos do 7º ano, o índice foi de 63,2%. Em ciências naturais, 80,1% também ocuparam as duas classificações mais baixas.
Não por coincidência e sim um sinal de alerta, a Unidade Escolar Paulo Freire obteve a pior média entre todas as escolas piauienses no exame do ENEM em 2014, ficando entre as 20 piores do Brasil. A escola Paulo Freire obteve apenas 428,82 na média das provas objetivas e com 225,71 na média das redações. No Brasil inteiro, a escola foi a de número 15.622 entre as 15.640 que tiveram as notas divulgadas.
Em resumo, graças aos nossos “patronos” Gramsci e Freire possuímos um sistema educacional primitivo, retrogrado e contrário ao saber, onde alunos se formam sem conhecer a escrita e fazer contas, quando não raro agridem e ofendem seus mestres. Os professores, por sua vez, são em grande maioria despreparados, inseguros e militantes ideológicos que preferem ensinar a “maravilha” do socialismo em vez de uma operação básica de matemática.
Lembremos que Dilma Rousseff, ao tomar posse do seu segundo mandato, anunciou que o lema de seu novo governo seria “Brasil, Pátria Educadora”; entretanto, pouco tempo depois, promoveu o corte de verba no valor de 7 bilhões para o ministério da educação. Ora, isso só mostra que para o PT e bajuladores educação é marketing, pois o que verdadeiramente importa é formar idealistas de Che Guevara e “bons revolucionários”. É a falência da educação.
*Lucas Gandolfe é estudante de Direito na Faculdade de Direito de Sorocaba (FADI).
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