O país virou um grande leilão… Mas o povo pode dar o último lance!
Amigos, vamos aos tristes fatos: nosso país se transformou em um imenso leilão a céu aberto. Seus rumos são decididos em um balcão de negócios escusos, infelizmente sediado no que deveriam ser as instituições republicanas. Novos obstáculos apareceram, nos últimos dias, para a necessária batalha pelo impeachment de Dilma Rousseff e a consequente queda do governo petista.
Tudo isso se deve, para variar, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que retém os pedidos em suas mãos – e nesta sexta recebe a versão atualizada do mais importante deles, o de Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., aprimorado pela oposição partidária com dados do procurador Júlio Marcelo demonstrando que as pedaladas fiscais continuam acontecendo. Dizíamos, como tantos outros, que a nota da oposição pedindo a saída de Cunha havia sido um erro pavoroso. Aparecem, agora, as notícias dando conta de que Cunha negocia com o governo, desejando que o PT trabalhe pela manutenção de seu mandato junto ao Conselho de Ética, defendendo-o no processo de cassação que PSOL e Rede moveram contra ele. Algumas reportagens dão conta de que as exigências de Cunha para não levar o impeachment adiante vão além: quer a troca do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, por Michel Temer, e garantias de que a Operação Lava Jato, como destaca a Folha de São Paulo, vai “pegar mais leve” com ele.
Há dúvidas se o governo pode entregar todo o pacote que está sendo discutido. Limitar os avanços da Lava Jato, por exemplo, sobretudo agora que informações sobre contas secretas na Suíça estão envolvidas na brincadeira, parece um pouco além da conta para as possibilidades do governo. O juiz Sérgio Moro, por exemplo, evidentemente não é controlado por Dilma Rousseff. Cunha está bem encrencado. Porém, um clima de desânimo toma a oposição. Aparentemente, as “ofertas” do governo, suficientes ou não, são mais atrativas para Cunha. A nota desastrada pode ter gerado uma indisposição. Cunha busca o lado que lhe ofereça mais garantias. Se esse lado for o governo, ele não hesitará em aceitar um acordo e desistir de assumir postura ativa na busca do impeachment. Não se pode, convenhamos, chamá-lo de traidor. O traidor é aquele que luta em uma fileira e depois a abandona. Cunha nunca foi um “dos nossos”. Sua utilidade sempre foi como instrumento que, movido por seus próprios interesses, ajudava em nossos propósitos. Se não for mais de seu interesse, ele não ajudará mais.
E o que teremos? O presidente da Câmara domesticado – embora ele vá tentar derrubar as liminares do STF que impedem o recurso da oposição em caso de indeferimento de pedidos de impeachment, procurando manter armas na manga para dar o troco no governo caso suas exigências não sejam entregues. O próprio STF, como vimos, bastante obstruído pela “maioria de circunstância” de que falava Joaquim Barbosa, ajudando a emperrar o Poder Judiciário. Uma oposição obtusa, que decidiu agir com mais virulência apenas depois de muita demora, e não consegue fazer valer a vontade da maioria absoluta da população que quer a saída da presidente. Um governo que tomou nas fuças as três maiores manifestações da história do país; que recebeu uma rejeição de contas unânime no TCU; que, portanto, comprovadamente violou a Constituição; que desapareceu com cifras “trilionárias” e se estruturou sobre o maior esquema de corrupção da história do país – mas, porém, contudo, todavia, que permanece no poder. Por fim, um sistema eleitoral sem qualquer credibilidade. Pergunto-me: podemos chamar isso de democracia? Talvez tecnicamente não seja adequado designar essa situação de “ditadura”, mas se tratará explicitamente de um regime autoritário configurado. Criminosos CONFESSOS governam o país, sob a revolta total da população, mas absolutamente nada lhes acontece. Já estaremos, então, lutando contra uma espécie de tirania moderna, de inspiração bolivariana, e não tanto mais contra tentativas de implantá-la. Realmente não acredito estar exagerando.
É por isso que entendo o tom negativo de nosso estimado amigo e colunista, o artista João César de Melo,em seu artigo Por que o PT vencerá, publicado aqui neste espaço. Entendo mesmo. Cansa. Revolta. Acumulamos muitas derrotas, e estamos sempre em desvantagem, diante do mal poderoso com que nos defrontamos. Mas, se a posição de Eduardo Cunha e a casta cleptocrática que governa nossa máquina estatal transformaram o encaminhamento das graves questões do país em um imenso leilão, preciso acreditar que nós, o povo brasileiro, podemos dar o último lance. Meu amigo João César de Melo, bem o sei, considerará ingênua a minha postura. Respeito e admiro muito a sua produção e o seu esforço inequívoco em defesa da liberdade, mas, nessa questão particular, eu prefiro a minha ingenuidade – ou, antes, a minha teimosia. Não admitirei a derrota em momento algum. É do meu país que estou falando, é da vida dos meus pais, da vida dos meus amigos, da vida dos meus filhos, netos, sobrinhos ou primos. Não podemos parar, nem aceitar que todo e qualquer esforço que estejamos fazendo seja em vão.
O PT terá que defender Eduardo Cunha no Conselho de Ética, caso vença a oposição nesse leilão particular pela “alma” do peemedebista. Depois da campanha intensa e violenta que vem sendo travada contra ele, diante das denúncias que pesam sobre seus ombros e da postura oposicionista que assumiu, isso certamente pegará muito mal para a trupe de Dilma. Tem potencial para agitar novamente, com mais força, a revolta popular. É aí que mando um singelo recado aos movimentos populares, ao Movimento Brasil Livre, ao Vem Pra Rua e quejandos. Vocês terão um papel de responsabilidade muito grande nesse momento. Se sofrermos nova derrota, se o desejado impeachment sofrer mais um adiamento e o país continuar sem respirar, teremos que voltar às ruas, contra tudo e contra todos. Mesmo que vivencie uma espécie de autoritarismo civil, o Brasil não é uma Venezuela chavista. Vamos reverter isso.
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