Quem é o entreguista, afinal?
Muito embora a lógica econômica e a própria história universal nos digam justamente o contrário, a esquerda nunca se cansou de massificar a velha lengalenga a respeito da preservação dos interesses estratégicos do país, sempre vinculada ao petróleo e demais recursos naturais e à necessidade de estatizarmos a produção e distribuição desses recursos.
O discurso prevê ainda a associação de privatizações a um suposto “entreguismo” do patrimônio nacional a empresas e governos estrangeiros. Essa narrativa esteve presente quando da privatização da Cia Vale do Rio Doce e renasce com força sempre que algum incauto sugere a necessidade de privatizar a Petrobras. Reparem, por exemplo, no trecho abaixo, retirado de um artigo recente publicado no site de esquerda “Brasil 247”:
“Parece não haver dúvida de que todo esse processo objetivando a derrubada da presidenta Dilma Rousseff, com a participação decisiva da grande mídia – e que tem como um dos principais componentes a Lava-Jato – seria inspirado no exterior. A espionagem americana revelada pelo wikileaks não deixa dúvidas quanto ao interesse dos Estados Unidos pela nossa economia, particularmente pelo nosso petróleo. A queda de Dilma e a ascensão do tucano Aécio Neves seria, no momento, o melhor caminho para que os americanos alcançassem nossas riquezas petrolíferas, mais precisamente o pré-sal.”
(…)
“Além do esforço desesperado para tomar o governo a qualquer preço, usando todos os recursos para defenestrar a presidenta Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, eles tentam também entregar o nosso petróleo ao capital estrangeiro pelas vias legais.”
Já o deputado petista Dr. Rosinha escreveu o seguinte, no site Congresso em Foco: “Toda vez que penso sobre as privatizações, penso em três palavras: entreguismo, corrupção e insensibilidade.”
Se o leitor se der ao trabalho de jogar no Google as palavras “privatização” e “entreguismo” encontrará mais de 106.000 entradas, quase todas acusando os adeptos das privatizações de entreguistas.
Pois bem. Vocês se lembram de quando, em 1º de maio de 2006, o presidente Evo Morales expropriou duas refinarias da Petrobras em solo boliviano? Lembram-se de como o então governo do presidente Lula se mostrou extremamente condescendente com aquela apropriação indébita do patrimônio brasileiro pelo índio cocaleiro?
Fora alguns poucos comentaristas que, a exemplo desse escriba, reclamaram enfaticamente daquele verdadeiro crime de lesa-pátria, a grande imprensa passou batida pelo ocorrido, tratando como um fato absolutamente normal o roubo de propriedade alheia, em nome de um tal “interesse nacional” ou de uma tal “soberania” dos bolivianos.
Sentado ao lado do segundo homem na cadeia de comando da Bolívia, Lula revelou, para espanto de quem tem um mínimo de vergonha na cara, que foi consultado por Evo Morales, então candidato a presidente do país vizinho, sobre a possibilidade de estatizar as plantas da Petrobrás em território boliviano. Disse ele:
“O Evo me perguntou: ‘como vocês ficarão se nós nacionalizarmos a Petrobrás’. Respondi: ‘o gás é de vocês’. E foi assim que nos comportamos, respeitando a soberania da Bolívia”, disse Lula.
É estupefaciente! É patético! É uma vergonha!
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