quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Quem é o entreguista, afinal?

Muito embora a lógica econômica e a própria história universal nos digam justamente o contrário, a esquerda nunca se cansou de massificar a velha lengalenga a respeito da preservação dos interesses estratégicos do país, sempre vinculada ao petróleo e demais recursos naturais e à necessidade de estatizarmos a produção e distribuição desses recursos.
O discurso prevê ainda a associação de privatizações a um suposto “entreguismo” do patrimônio nacional a empresas e governos estrangeiros.  Essa narrativa esteve presente quando da privatização da Cia Vale do Rio Doce e renasce com força sempre que algum incauto sugere a necessidade de privatizar a Petrobras.  Reparem, por exemplo, no trecho abaixo, retirado de um artigo recente publicado no site de esquerda “Brasil 247”:
“Parece não haver dúvida de que todo esse processo objetivando a derrubada da presidenta Dilma Rousseff, com a participação decisiva da grande mídia – e que tem como um dos principais componentes a Lava-Jato – seria inspirado no exterior. A espionagem americana revelada pelo wikileaks não deixa dúvidas quanto ao interesse dos Estados Unidos pela nossa economia, particularmente pelo nosso petróleo. A queda de Dilma e a ascensão do tucano Aécio Neves seria, no momento, o melhor caminho para que os americanos alcançassem nossas riquezas petrolíferas, mais precisamente o pré-sal.”
(…)
“Além do esforço desesperado para tomar o governo a qualquer preço, usando todos os recursos para defenestrar a presidenta Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, eles tentam também entregar o nosso petróleo ao capital estrangeiro pelas vias legais.”
Já o deputado petista Dr. Rosinha escreveu o seguinte, no site Congresso em Foco: “Toda vez que penso sobre as privatizações, penso em três palavras: entreguismo, corrupção e insensibilidade.”
Se o leitor se der ao trabalho de jogar no Google as palavras “privatização” e “entreguismo” encontrará mais de 106.000 entradas, quase todas acusando os adeptos das privatizações de entreguistas.
Pois bem.  Vocês se lembram de quando, em 1º de maio de 2006, o presidente Evo Morales expropriou duas refinarias da Petrobras em solo boliviano?  Lembram-se de como o então governo do presidente Lula se mostrou extremamente condescendente com aquela apropriação indébita do patrimônio brasileiro pelo índio cocaleiro?
Fora alguns poucos comentaristas que, a exemplo desse escriba, reclamaram enfaticamente daquele verdadeiro crime de lesa-pátria, a grande imprensa passou batida pelo ocorrido, tratando como um fato absolutamente normal o roubo de propriedade alheia, em nome de um tal “interesse nacional” ou de uma tal “soberania” dos bolivianos.

SOBRE O AUTOR

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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