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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Data vênia, nóis vai...não!

Por Klauber Cristofen Pires

Algumas pessoas mais próximas a mim têm sugerido que eu passe a me expressar de forma mais simples. Dizem que me utilizo de termos ou expressões difíceis, e que isto prejudica a popularidade. Não deixo de emprestar-lhes certa razão, pois, de fato, comunicar-se com o público tem sido uma histórica deficiência da direita...



Entretanto, não guardo ilusão de este blog vir a ser lido com a mesma procura dos blogs de fofocas televisivas, tomados estes como exemplo. Por mais que me utilizasse de uma linguagem mais simplificada, o fato é que o povo brasileiro tornou-se extremamente frívolo, de modo que o que exigem mesmo é que se faça a comunicação dentro já não dos moldes de um aceitável coloquialismo, mas como um simulacro de linguagem, totalmente ferida de morte nas suas ligações lógicas, e portanto, incapaz de transmitir racionalmente as idéias, principalmente as mais enlevadas.

Talvez os leitores com um pouco mais de idade venham a recordar de um antigo artigo de opinião exarado por um cidadão brasileiro nas páginas amarelas da revista Veja. Em seu texto, aquele senhor nos exortava a modificar a letra do Hino Nacional, haja vista que ele próprio, somente após muito custo, passou a compreender o seu significado. Por um destes milagres que são de difícil explicação, uma grossa corrente de indignação percorreu todo o país, com a firme convicção de que o hino deveria permanecer tal como foi consagrado. Chegou-se mesmo a utilizar como bordão o célebre neologismo magrista: "- o hino é imexível". Sinceramente, não sei como a população de hoje reagiria....

Conheci a letra do Hino Nacional ainda no ensino fundamental pelo brilhante trabalho de minha professora de Português, a Sra Edith Stöckl Simão, que o expôs em ordem direta, para analisá-lo com os alunos. Nada de extraordinário: apenas o bom trabalho que toda professora de português deveria ter feito. Nunca mais me esqueci da letra do Hino, e sei corretamente o que diz a letra, que transcrevo ao final destas considerações.

Tenho, portanto, de carregar a tocha acesa da instrução do bom exemplo e do bom ensino que aquela mestra me proporcionou. Que maravilhoso é poder se valer das palavras dentro de uma estrutura gramatical correta e culta, mesmo quando conversamos com nossos familiares e amigos. Que bonito é ver alguém se expressando bem!

A comunicação verbal não precisa descer para os porões da gíria, da tosca concordância e dos infernais vícios cacofônicos para demonstrar naturalidade. Uma certa sensação de imitação pode ocorrer aos que estão se esforçando para corrigir a fala, mas com o tempo isto se torna tão espontâneo que passa despercebido, tanto a elas quanto aos seus interlocutores. Uma pessoa que sabe se expressar com desenvoltura tem muito menos dificuldade em transpor o seu pensamento para a linguagem escrita, e consegue formar expressões e raciocínios mais elaborados do que as pessoas de linguajar mais tosco.

Não, meus caros leitores! Não vou ajudar a mudar o hino! O hino é "imexível" mesmo. Não vou colaborar com o trabalho de alienação das pessoas. Elas é que têm de se convencer a serem mais estudiosas, mais sérias e mais educadas. A ignorância das massas aproveita bem à esquerda; aproveita aos petistas e comunistas, que se valem da mentira, da dissimulação, da empulhação e da mistificação para enganar a todos e implantar o seu projeto totalitarista.

Tendo o que vai acima compreendido, é mais ou menos certo que não tenho muito como ajudar diretamente o "povão", a não ser, claro, pelos poucos casos de exceção. Quando descemos, seja por nosso falar ou por nossos atos, criamos um novo padrão, situado agora num patamar inferior, e uma nova demanda para piorar tudo se levanta. Por isto é que o trabalho consiste em trazer estas pessoas mais simplórias para o alto, ao invés de descer com elas. Foram o construtivismo e o relativismo que percorreram o caminho inverso e causaram tamanho estrago na educação do nosso Brasil.

Os meus escritos vão para as pessoas que têm a capacidade de compreender o que eu e outros escritores e articulistas mais cultos escrevem, mesmo que para isto se esforcem, o que não deixa de ser meritório. São estas pessoas que, em trabalho do tipo "formiguinha", vão acabar puxando pela mão aqueles seus próximos que estão mais por baixo. É trabalho longo e penoso, que levará tanto tempo ou mais do que todo o processo de embrutecimento a que o povo brasileiro foi submetido durante as últimas décadas.

Não obstante, se há algo de que tenho horror, é ao uso extravagante e afetado das palavras, como muitos fazem, para cobrir com uma capa de veludo a mentira ou a mera ignorância. A comunicação aqui sempre tem sido simples, moderada, e sobretudo, honesta. E vamos ao Hino Nacional Brasileiro (em ordem direta):


Parte I


As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico ,

E nesse instante o sol da liberdade brilhou em raios fúlgidos no céu da pátria,

Se conseguimos conquistar o penhor dessa igualdade com braço forte


A própria morte desafia o nosso peito em teu seio, ó liberdade,


Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!


Brasil, um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança desce à terra ,


Se (quando) a imagem do Cruzeiro resplandece em teu formoso céu, risonho e límpido .


Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso,


E o teu futuro espelha essa grandeza, terra adorada,


Brasil, tu és terra adorada entre outras mil


Ó Pátria amada!

És mãe gentil dos filhos deste solo

Pátria amada, Brasil!


Parte II

Ó Brasil, florão da América, fulguras iluminado ao sol do Novo Mundo, deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo


Teus campos risonhos (e) lindos têm mais flores do que a terra mais garrida


"Nossos bosques têm mais vida", no teu seio nossa vida (tem) mais amores


Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!


Brasil, o lábaro que ostentas estrelado seja símbolo de amor eterno,


E o verde-louro dessa flâmula diga - "Paz no futuro e glória no passado."


Mas, se (tu) ergues a clava forte da justiça ,


Verás que um filho teu não foge à luta


Nem teme a própria morte, quem te adora


Brasil, tu és terra adorada entre outras mil


Ó Pátria amada!


És mãe gentil dos filhos deste solo


Pátria amada, Brasil!

5 comentários:

  1. Sei não, mas acho que a ordem direta da primeira oração é a seguinte: "As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico" (em que "margens plácidas" funciona justamente como sujeito da oração).

    Pois se vc observar direito o texto do Hino Nacional, verá que não existe crase antes de margens plácidas...

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  2. Eduardo Rodrigues, Riomaio 22, 2010 9:13 PM

    Ótimo texto. Vai parar na caixa de entrada de um bocado de gente. Parabéns.

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  3. Caro Kleber ,boa noite .
    Seguidor que sou do seu blog , e admirador de seus artigos ,quero simultaneamente concordar e discordar do presente post.
    Concordar porque sendo publicitário de formação e profissão ,embora não exercendo mais o ofício ,aprendi que quando usamos corretamente a lingua falamos menos e comunicamos mais .Girias e outros quejandos não conseguem conter significados que a lingua pura apresenta .
    Porém discordo quanto ao hino ,pois creio que o mesmo deveria ser acessível à maioria da população ,e mesmo entre pessoas com uma cultura média,e difpicil encontrar quem saiba "in totum ' o significado de suas frases.Acredito que uma mudança ,ou atualização linguística de nosso hino permitiria um possível aumento de sua compreensão .
    Acredito também que este hino "atualizado " pudesse ser usado como instrumento para incentivar o verdadeiro patriotismo que tanta falta faz a este país .
    Abraços

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  4. o Anônimo tem razão. Declamando de cabeça, não me apercebi da existência da crase.

    "As margens plácidas" são o sujeito da oração.

    Perdoem o lapso e muito obrigado.

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  5. Caros leitores,

    Reformei o texto, de modo a corrigir o problema acima. Mais uma vez, obrigado.

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