(Inspirado no artigo “Recycling: What a Waste!”, de Jim Fedako, em
Tempos atrás, recebi um programa de um concerto musical produzido em papel reciclado. Achei curioso e decidi pesquisar um pouco sobre este modismo politicamente correto, e encontrei algumas informações que, digamos, valem por um questionamento.
Primeiro, vale lembrar – ou informar, pra quem não sabe - que a produção de papel, no Brasil, é ponta de lança mundial. Nós temos simplesmente o melhor e mais barato papel do mundo, e todo ele fabricado a partir de árvores plantadas. Nosso país possui uma relativa abundância de madeira e grandes reservas de caulim de excelente qualidade (o pigmento que deixa o papel branquinho e brilhante).
Já o processo de reciclagem de papel, mesmo aquele feito por processos semi-industriais ou industriais, tem como resultado, na melhor das hipóteses, algo parecido com o que se usa nas casas de secos e molhados para embrulhar pão, lingüiça ou farinha. É um papel de cor ocre, grosseiro, com visíveis impurezas; as fotos perdem a nitidez e as cores ficam pálidas.
Todavia, conquanto se pareça com um mero papel de embrulho, o reciclado custa muito mais caro, e tanto é assim que seu uso se restringe a usos nobres, como cartões natalinos, prospectos de shows de teatro e convites de formatura. Na verdade, o que faz o sucesso do papel reciclado é a sugestão que move as pessoas a pagar um alto preço por ele, pensando que assim ajudam a natureza.
Entrementes, por alto que já seja o preço do papel reciclado no mercado consumidor, ele ainda não comporta em si todos os custos para a sua produção, pois não entram na sua contabilidade o IPTU e a taxa de coleta de lixo, que todos pagamos, e que, dependendo do município, cobrem os custos de coleta, seleção e possivelmente, de alguma etapa prévia de sua reindustrialização. Destarte, também não cobre o nosso próprio custo doméstico de comprar mais recipientes para a separação, e nem, afinal, o nosso trabalho de separá-lo.
A economia nos ensina que, dados dois ou mais métodos de se produzir alguma coisa, a escolha pelo menos custoso é a que mais preserva os recursos naturais. Será preciso provar este postulado? Então vejamos: quem consome mais tinta? A moderna caneta esferográfica, ou a caneta-tinteiro? E quem consome mais gasolina? Um carro popular atual ou aqueles “DKV’s” que, além do combustível, também queimavam óleo? Falando de carro, quem consome mais aço? Os de hoje ou os da metade do século anterior? E eletricidade? A tv de hoje ou aquela de válvulas?
Já ouvi dizer que os office-boys da famosa rede Wall-Mart são instruídos para coletarem de volta os clipes dos documentos que foram entregues aos destinatários, como parte de seus procedimentos de redução de custos. Como era de se esperar, tem havido protestos, com alegações, em função disso, de condições de trabalho ultrajantes. Ora, isto nada tem de ultrajante. Reutilizar os grampos não ofende ninguém e cada clipe que retorna gera uma economia que pode ser repartida entre a empresa, o cliente e o governo. E a natureza? Agradece, claro!
Em outros países, os clientes podem comprar detergentes e produtos parecidos a granel: de posse do vasilhame, é só levá-lo ao supermercado e enchê-lo. No Brasil, esta técnica ficou melhor assimilada com o uso das embalagens “refill”, feitas de um saquinho plástico, para que o cliente em casa complete o frasco. Ei, e vale lembrar que ainda funciona o método de comprar refrigerantes e cervejas com troca do “casco”; uma invenção simples e econômica que já existia muito antes da ordem unida: “-reciclar!”
Como vimos, “reduzir” e “reutilizar” produzem muito mais resultado do que reciclar. Ao observarmos o trabalho dos catadores de lixo, verificamos que, no possível, eles procuram manter a integridade dos objetos e materiais coletados, justamente pensando em “reutilização”, como no caso das caixas de papelão e vasilhames de vidro. Lembremos que os catadores de lixo agem de acordo com as demandas de mercado.
Dado o alto preço do alumínio, a relativa facilidade de obtê-lo no lixo e um produto da reciclagem ser tão bom quanto o original, é possível que a coleta de latas de bebidas tem sido um dos poucos materiais que tornam economicamente viável a reciclagem. No caso do papel, entretanto, não soa ser assim, no que pese tamanha campanha pró-reciclagem. Nos telejornais e programas sedizentes educativos, mostram-se crianças nas escolas aprendendo a reciclar papel: moem, molham, adicionam cola, prensam, e aprendem nestas oficinas como podem desperdiçar seu precioso tempo, e deixar de fazer algo mais benéfico para si mesmas e para a humanidade para poder produzir algo com péssima qualidade.
Quem de fato está interessado a ajudar a natureza, pode decidir por tomar atitudes melhores de que pagar para ajudar a produzir algo que depois pagará de novo, e mais caro, para obter: atualmente, por exemplo, dificilmente precisamos de documentos escritos; uma apresentação com “data-show”, que alguém deve fazer, para digamos, relatar as realizações de seu departamento, pode muito bem dispensar o acompanhamento de cópias impressas dos slides. Isto é perda de tempo e de dinheiro. Depois os ouvintes jogarão estas cópias no lixo. Melhor fizer se coletar o endereço de todos e depois enviar o arquivo por email.
Outra boa solução é imprimir os dois lados da folha. Ela foi feita pra isto, mas muita gente, por ignorância ou preguiça, as utiliza em um só lado; impressões de ambos os lados resultam em documentos e processos menores, mais fáceis de manusear, e economizam. Outra dica é visualisar o documento antes de imprimi-lo. É incrível, mas a maioria das pessoas que conheço são aquelas que imprimem várias vezes e também várias vezes dizem: “droga”(ou coisa pior...)
Concluindo, não se trata aqui de refutarmos – a priori – a reciclagem. Ela pode ser útil e necessariamente preservadora da natureza se for economicamente viável. Com o papel, é visível que os custos de reciclagem superam em muito os da já bastante eficiente produção nacional de papel original, e pior, para resultar num produto muito inferior. Isto claramente indica que, para a sua produção, utilizamos, com desperdício, outros recursos que poderiam ser melhor utilizados em outras finalidades.
A reciclagem de papel, portanto, pode agravar a poluição e e devastação, ao invés de contê-la. O erro dos ecologistas está em tomar a reciclagem como uma ordem geral, despida de qualquer raciocínio lógico e pragmático, e pautada caso a caso. Erros assim são típicos dos déspotas e tiranos, ignorantes conscientes e orgulhosos dos princípios do livre-mercado.