Por Klauber Cristofen Pires
Recentemente, recebi de uma querida amiga uma mensagem, destas que se transmitem em cadeia pela internet, com a divulgação do artigo “Agora, Imaginei”, publicado originalmente no jornal O Globo, no dia 10/11/2007, de autoria do Sr Cristovam Buarque.
Recentemente, recebi de uma querida amiga uma mensagem, destas que se transmitem em cadeia pela internet, com a divulgação do artigo “Agora, Imaginei”, publicado originalmente no jornal O Globo, no dia 10/11/2007, de autoria do Sr Cristovam Buarque.
Como me enviara com um certo ar de empolgação, e porque a tenho em boa consideração, dei-me ao trabalho de explicar-lhe as armadilhas armadas nas entrelinhas, assim, detalhadamente.
O motivo pelo qual dei-me a tal estafante trabalho é justamente mostrar às pessoas mais leigas que, tal como a minha amiga, muitas vezes realmente bem-intencionadas, deixam-se levar pela forma – mais ou menos bem apurada - carregada de romantismo e idealismo com que certos formadores de opinião procuram transmitir a sua visão de mundo.
O grande problema que estes agentes de propaganda socialista causam é que, por saberem lidar com as emoções das pessoas mais despreparadas, geralmente logram, além de fazê-las engolir sua gororoba ideológica, também torná-las refratárias a quem busca chamar-lhes a atenção para os fatos e a lógica. É mais ou menos como quem, ao se deparar com o sorriso meigo e a forma terna de falar de um menino levado, encanta-se com sua aurinha angelical e recusa-se a acreditar que ele tenha quebrado as janelas dos vizinhos, mesmo com tantas testemunhas a acusá-lo, justamente por quê, encantado com os modos do infante, se esquece de observar o estilingue, que ele mal esconde atrás de si.
Mais abaixo, segue a reprodução do artigo, com algumas pequenas colocações adicionais, tendo sido os meus comentários colocados parágrafo a parágrafo, em letras itálicas.
“Agora, imaginei que todas as crianças brasileiras, entre quatro e dezoito anos, estavam assistindo aula. Não apenas matriculadas, mas freqüentando, assistindo, aprendendo, até o final do Ensino Médio. Imaginei que o dia escolar começaria na hora certa, e todas as crianças ouviriam juntas o Hino Nacional. Cada aula duraria o tempo previsto. Imaginei todas as crianças em bonitos uniformes, sem diferenças por renda, luxo, pobreza.”
Hora certa, tempo previsto, Hino Nacional, uniformes (destaque: sem diferenças de renda, luxo ou pobreza): o parágrafo pega leve - é uma introdução, apenas - mas, quem se dispuser a identificar nas entrelinhas, poderá enxergar aquele tom de ordem unida, de homem-massa. Um lugar modelo? Que tal a Coréia do Norte, onde a população é acordada diariamente às sete da manhã, com sirenes, tal como nos quartéis? Em tempo: porque sem diferenças de renda? Minha filha tem 6 anos e já compreende que há crianças mais ricas e mais pobres que ela, e que a inveja e a cobiça dos bens alheios são pecados.
“Imaginei que nenhuma criança iria embora logo após a merenda, e que depois do almoço elas ainda teria m atividades escolares complementares: nadariam, pintariam, jogariam, ouviriam música, aprenderiam idiomas, leriam, fariam trabalhos comunitários, assistiriam a filmes, fariam experiências científicas, teatro, dança, aprenderiam a tocar instrumentos musicais.”
A idéia é bonita, não fosse o tom de obrigatoriedade, inclusive quanto ao tal do trabalho comunitário. Aliás, elas teriam de fazer tudo isto ao mesmo tempo? E se meu filho abominasse música, ainda assim seria obrigado a comparecer às aulas? E se ele adorasse física e química? O tempo perdido com todas estas atividades não o atrapalharia?
“Imaginei que todas chegariam ao final do ano e passariam nos exames, por terem aprendido, sem necessidade de promoção automática. Que todos os jovens concluiriam o Ensino Médio, salvo raras exceções por motivos de saúde. E que o Ensino Médio teria 4 anos, garantindo também o domínio de um ofício, ensinado na própria escola. Todos aprenderiam a se deslumbrar com as belezas do mundo, a se indignar com suas injustiças, a entender a lógica das coisas, a querer fazer um planeta melhor e mais belo, a sobreviver dignamente no atual mundo do conhecimento.”
Por partes: 1) A própria tese do homem perfeito, não? Por acaso, alguém já viu um índio com problemas de má formação congênita? Ah, não? Então eles são uma raça superior? Bom, se forem superiores porque esmagam a cabeça dos nenéns com uma pedra...aliás, bem do jeito como receitavam Stalin, Polpot, Hitler et caterva.... –a propósito, sugiro assistir ao filme "A escolha de Sofia". 2) A idéia de se ministrar obrigatoriamente um ofício na grade escolar, tradicionalmente defendida pelos adeptos da intervenção estatal no ensino (para quem a educação não passa de um treinamento de capacitação de operários) é um estorvo para o jovem que pretende se preparar para a faculdade e, ao mesmo tempo, um flagrante desperdício de recursos, na mesma medida em que ele jamais exercerá a profissão de nível médio. 3) Agora é necessário "aprender" a contemplar as belezas do mundo? 4) Indignar-se com as injustiças? Quais injustiças? A que os professores, a mando do partido-estado, lhes ensinarem? As injustiças do sistema de liberdades civis, inclusive o de livre comércio, vulgo sistema capitalista? 5) A entender a lógica das coisas? Caramba, estes jovens serão super-homens...eu tenho quase 40 e ainda sei tão pouquinho... - lógico, tal como Pol Pot, que matou pelo menos uns três milhões, os outros é que não o compreendiam... 6) ah, deixa pra lá...cansei...
“Imaginei que todos os professores seriam muito bem remunerados, dedicados e bem formados. Que nenhum professor precisaria parar as aulas para pedir aumento de salá rio. Que um Plano Nacional de Carreira quebraria a vergonhosa desigualdade na qualificação e na remuneração dos professores, dependendo do Município e do Estado. E que todos os nossos professores disporiam dos mais modernos equipamentos pedagógicos, cujo uso dominariam. Cheguei a imaginar que, quando nascesse uma criança, seus pais desejassem para ela a profissão de professor.”
Numerando: 1) Quem não quer um bom salário? Quem não merece? O médico? O motorista de ônibus? O vendedor? Ah, bem me lembro de um torneiro mecânico que não dispensa um terno Armani, pijamas de algodão egípcio, champanhes de 11 mil dólares, e claro, um avião com sauna, que ninguém é de ferro... 2) Qual o problema da desigualdade na qualificação e remuneração dos professores? Todos têm de ser igualmente burros? Todos têm de receber o mesmo salário? Ficarão todos igualmente felizes pelo salário igual que receberem? As condições dos locais em que vivem são iguais? São iguais seus planos e aspirações? Todos os professores terão de saber tudo sobre todas as áreas? E se algum descobrir ou inventar algo novo, terá de jogar sua descoberta/invenção no lixo, para ficar igual aos outros? O ensino não é algo raro e desejado, e portanto, sujeito à lei da oferta e da procura, assim como todos os demais?
Imaginei o fim da desigualdade na qualidade da educação no nosso país, e que a escola dos pobres seria igual à escola dos ricos, a dos morros igual à dos condomínios, todas com a máxima qualidade. Imaginei a escola do Brasil igual às melhores do mundo. Jovens disputando o vestibular em igualdade de condições, independentemente da renda de sua família e da cidade onde vivessem. E a universidade recebendo assim os melhores dos melhores entre todos os brasileiros, com a máxima formação, e não apenas os melhores entre os poucos que concluem o Ensino Médio, com a mínima qualificação. Imaginei que os melhores desses novos alunos optariam pela Carreira Nacional do Magistério.
De novo, por números: 1) Como é que se mede a qualidade? Não é comparando o melhor com o pior? O que seria igualdade de condições? Seria algo como submeter os jovens a uma rotina diária rigorosamente igual, tal como no filme "Os meninos do Brasil”? Quando morresse o pai de um, o pai dos outros deveria ser executado? Quando um sentisse dor de barriga, a todos os demais seria receitada alguma substância que lhes causasse semelhantes sintomas? Que todos estudem, desde o jardim até o fim do segundo grau, exatamente durante o mesmo número de horas, com os mesmos livros, e mais, que tenham as suas aulas com os mesmos professores, e que aprendam por igual? 2) Para quê então os pais, mesmo os pobres, se sacrificam tanto para pagar a melhor escola particular possível para seus filhos? Para que aprendam o mesmo que aprendem nas escolas públicas? Para que sejam iguais, ou para que sejam melhores? 3)Os melhores no magistério? Imagine relegar aos grandes gênios, os indivíduos mais talentosos e empreendedores, não as grandes descobertas que lhes esperam, mas a atividade de repetição e imitação que corresponde ao ensino...não seria andar pra trás?
“Imaginei a dinâmica e força dessa nova universidade, as pesquisas que ela desenvolveria, os profissionais que formaria, imaginei até os prêmios Nobel que o Brasil receberia.”
Do jeito que o Nobel anda se desvalorizando, premiando até político democrata americano que faz alarde fraudulento de aquecimento global...
“Imaginei como estariam o desemprego, a violência, a corrupção, a desigualdade, a pobreza, a eficiência, a auto-estima, a participação, a cidadania, a economia, a saúde, a ciência e tecnologia, o meio ambiente, quando todos os brasileiros tivessem uma educação da maior qualidade. Vi que tinha imaginado um Brasil completamente diferente daquele que a realidade nos faz temer, porque o futuro tem a cara que as escolas têm no presente.”
Que tal pensar que uma educação pode melhorar concomitantemente com outros requisitos, tais como o exercício pleno das liberdades civis, inclusive a da livre –iniciativa e do livre-mercado, a formação de poupança privada, a descoberta de novos conhecimentos, das novas tecnologias e das novas oportunidades que o mercado vier a abrir? Que tal pensar em nossa sociedade sem um grande timoneiro a querer impor aos outros a sua visão estreita de mundo, tal como um alguém que, arvorando-se colocar no lugar de técnico de futebol, por vezes manda todos os jogadores para a frente, e outras vezes manda todos recuarem?
“Então imaginei o mais difícil: que todos acreditariam que tudo isso era possível e necessário. Pensei que, se todos imaginássemos juntos, o caminho estaria aberto para transformar a imaginação em realidade. Que se os diferentes partidos, em sucessivos governos, se unissem para fazer aquilo que imaginei, o imaginado aconteceria.”
Todos unidos por um só objetivo! O grande guia manda, os camaradas obedecem. Uma só solução. Todas as outras soluções banidas! Os partidos, Sr Cristóvão Buarque, se unem pelo Brasil. Isto não significa que todos tenham de pensar a mesma coisa. Muitas vezes ajudam, quando justamente discordam. O Fuehrerurtum nunca funcionou, por mais lindas que fossem intenções, e mais doces as suas palavras.