A borracha, os ingleses e o brasileiro.
Por Vanderli Camorim
Por Vanderli Camorim
Made in China
Acontece a todo o momento. Algo dorme o sono eterno sem
ninguém sequer notar a sua existência. Aí de repente aparece alguém de mente
criativa e com vontade de fazer uns trocados e PIMBA! Inventa alguma coisa ou encontra
uma utilidade para aquilo que ninguém dava importância. Foi assim com o
petróleo, o café, e... a borracha, entre tantas outras. Henry Wickham, e Goodyear,
poderiam ser considerados heróis da economia de mercado pelos seus feitos que
forneceram à indústria o que chamamos de solução criativa. Pode ser pra lá no
país deles, pois pra cá são bandidos da pior espécie que “só querem lucrar”.
Somos um país diferente, uma União Soviética que deu certo.
A economia de mercado apelidada pejorativamente de
capitalismo é um sistema que a todo o momento está incorporando métodos de
racionalizações de bens, capital e trabalhos. São coisas escassas e que devem
ser usadas de forma muito criteriosa para que dêem lucros, do contrário nada
feito. Os Ingleses trazem esta tradição. Já o Brasil nunca foi amante destas
coisas, gosta mais de burocrata, governo e político que homens de negócios que
chamam de ladrões, gatunos e depravados.
A diferença se fez brutal.
Em 1912, no Brasil, o pico da produção do látex tinha
atingido 42 mil toneladas sendo 11 toneladas só no Acre, para onde ia uma
enxurrada de gente quase mais para a morte do que para a produção da borracha
nativa. Mas em 1920, na Malásia, onde os Ingleses a plantaram de modo racional
como pede o figurino da produção em larga escala, mais produtivo, barato e
lucrativo e em uma área bem menor se comparado às vastidões da Amazônia, era
extraída 400 mil toneladas. Isto mesmo: 400 mil toneladas.
Foi questão de tempo para a borracha brasileira, da Amazônia, cara, lenta, irracional, mortífera e essencialmente extrativista ter sido superado pela produção inglesa na Ásia que obedecia ao padrão industrial. Enquanto as seringueiras brasileiras situavam-se no "inferno verde" a da Malásia pareciam estar em um jardim, plantadas racionalmente com distancias padronizadas entre si e etc. com custos reduzidos em todos os sentidos, com qualidade e eficiência.
Foi questão de tempo para a borracha brasileira, da Amazônia, cara, lenta, irracional, mortífera e essencialmente extrativista ter sido superado pela produção inglesa na Ásia que obedecia ao padrão industrial. Enquanto as seringueiras brasileiras situavam-se no "inferno verde" a da Malásia pareciam estar em um jardim, plantadas racionalmente com distancias padronizadas entre si e etc. com custos reduzidos em todos os sentidos, com qualidade e eficiência.
Como consolo o
brasileiro praguejou os céus e os infernos para buscar culpados quando é sua
mentalidade tacanha que adora governo e despreza o homem empreendedor e o seu
universo. O governo não é solução, mas problema.
E como não mudamos a cabeça as coisas podem até piorar
bastante. A China planta árvores geneticamente modificadas, sendo o segundo
país depois dos EUA a ter tal procedimento. Um dia até o Açaí estará sendo
cultivado nas estepes da Mongólia para desespero dos amazônidas que se
contentarão em chamar os outros de ladrão. Wickham teria sido o primeiro a
praticar a biopirataria. E nos não olhamos para o próprio rabo. Quantas destas
árvores e frutas vieram de fora, trazidos pelos índios, negros e o branco
colonizador e aqui se adaptaram e ninguém reclama? Roubamos também?
Perdemos a corrida da borracha e muitas outras coisas porque
não temos liberdade de empreender. Isso ninguém dá a ninguém, nem se encontra
solto por aí, cai com as chuvas ou está no galho das árvores para se pegar com
as mãos. Isso se adquire com raciocínio, com aquisição da mentalidade de livre
empresa. Como por exemplo, que governo foi constituído não para se meter nos
negócios, mas para dar segurança para as pessoas empreenderem, trabalharem,
criarem e terem certeza que vão colher os frutos de seus esforços e que não
serão roubadas, principalmente pelo...governo. É da mentalidade sintonizada com
os negócios que reflita as regras da economia de mercado que se faz necessário
para que todos os negócios, qualquer que seja, frutifique e inove.
O ambiente político brasileiro, infenso a empreendedores
independentes e voluntários, só deixa margem àqueles que toparem uma aventura
sob a batuta de um político ou, como o PT inovou um partido político em um
esquema de governo para o exercício eterno do poder.
Aliás, é a nossa história. A colonização brasileira é um projeto político e
militar desde o início e nada foi modificado, apenas se sofisticou. A adoção de
algumas aparências de mercado lhe empresta uma fisionomia de país moderno. Mas
é só isso.
É interessante ver a rainha da Inglaterra entregando uma
medalha de reconhecimento ao criativo súdito Wickham que aqui no Brasil é
chamado de ladrão sem qualquer cerimônia. Pergunto-me se ele não teria ficado
por aqui desenvolvendo suas habilidades e ganhando dinheiro se o ambiente
brasileiro não fosse tão hostil aos negócios?
Há um mito bastante difundido entre nós e bastante popular
de que o Brasil é um país rico pelo fato de possuir em seus domínios geográficos
inúmeros e diversificados recursos naturais. Em cada Estado da Federação
brasileira esta versão sofre a sua adaptação. É pura bobagem, é claro, mas como
retórica tufa o peito do patriota e enche de orgulho o cidadão que quer mais
respeito com as coisas nacionais, uma festa para os políticos. Embora riqueza se expresse através de bens
tangíveis ela é fundamentalmente subjetiva.
Quando no início do século 19 um agricultor na América do
Norte descobria que suas terras estavam tomadas por um liquido escuro,
fedorento e gosmento ele se achava arruinado. Mas aí apareceu um tal de Drake
que encontrou na destilação desta gosma a substancia querosene que muito interessou
a Rockfeller. Os fazendeiros então não mais se acharam arruinados, mas ricos e
agora passaram até a desejar encontrar nas suas terras esta agora milagrosa
gosma preta. Não prestava e agora era ouro, ouro preto. Uma tremenda mudança de
raciocínio. Mas há outra ilustração que também complementa este ângulo.
Hong Kong, uma pequena ilha rochosa sem nenhum recurso
natural se transforma em poucos anos, cerca de 40 anos, numa metrópole de
importância econômica de dar inveja a muita gente. O elemento subjetivo aí
responsável por esta façanha pode se chamar de liberdade de empreender. Começa
pelo reconhecimento de que são indivíduos que produzem, criam, inventam e
inovam seguindo apenas a sua própria opinião. O objetivo é fazer dinheiro,
lucrar - termos que também tem conotação pejorativa entre nós, mas são apenas
indicadores de que a coisa funciona e faz a felicidade de muita gente, tornando
as pessoas mais ricas.
Pode-se também ver
no caso da borracha a manifestação deste elemento subjetivo. O homem segue idéias
e as seguidas pelos ingleses resultaram em 40 anos numa Malásia no topo da
produção enquanto a do Brasil ia à direção oposta, declinava. Não podíamos nem
ser sócios. Nossas idéias não se casavam, eram antagônicas. O mesmo sentimento
encontramos nas ferrovias. O capital inglês trouxe os trens e os trilhos
iniciando uma modernização jamais vista neste país de escravos. Respondeu-se
com o nacionalismo tacanho de que os ingleses estavam nos explorando
recomendando-se a intervenção do governo benevolente e imparcial.
Contrariando Frederic Bastiat aqui o mais importante é o que
se vê. A seringueira foi considerada quase como um "patrimônio do povo brasileiro”
sendo inclusive crime levar para fora do país as suas sementes. Desejava-se um
reserva de mercado para a borracha? Não funcionou. No mundo maior que o Brasil
prevalecia a concorrência e o mais hábil e criativo teria de vencer. O Brasil
tinha todas as vantagens nas mãos, mas ignorante em economia perde todas.
O ambiente propício aos negócios é importante senão o mais
importante. Sem este ambiente nada prospera. Produção não é mera transformação
de matéria prima, emprego de fatores de capital e uso de recursos humanos, mas
criação, idéias, sobretudo novas.
E isto requer liberdade de empreender que é também liberdade
de criar. Só desta maneira é que aquilo que popularmente se chama de riqueza é
que se transforma realmente em riqueza, em bens que pode servir aos indivíduos
para alavancarem o seu bem estar e fazer surgir o sentimento de que se está
rico.
Enquanto dormem sob o solo, sob o mar ou nas montanhas,
“riquezas naturais” são apenas fatores de produção em potencial. Há um longo
caminho para percorrer até que possa se constituir em capital, mas isto é outro
capitulo.
Vanderli Camorim é
autodidata, liberal e articulista de Libertatum.
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