sexta-feira, 8 de julho de 2016

A borracha, os ingleses e o brasileiro.

Por Vanderli Camorim



Made in China

Acontece a todo o momento. Algo dorme o sono eterno sem ninguém sequer notar a sua existência. Aí de repente aparece alguém de mente criativa e com vontade de fazer uns trocados e PIMBA! Inventa alguma coisa ou encontra uma utilidade para aquilo que ninguém dava importância. Foi assim com o petróleo, o café, e... a borracha, entre tantas outras. Henry Wickham, e Goodyear, poderiam ser considerados heróis da economia de mercado pelos seus feitos que forneceram à indústria o que chamamos de solução criativa. Pode ser pra lá no país deles, pois pra cá são bandidos da pior espécie que “só querem lucrar”. Somos um país diferente, uma União Soviética que deu certo.

A economia de mercado apelidada pejorativamente de capitalismo é um sistema que a todo o momento está incorporando métodos de racionalizações de bens, capital e trabalhos. São coisas escassas e que devem ser usadas de forma muito criteriosa para que dêem lucros, do contrário nada feito. Os Ingleses trazem esta tradição. Já o Brasil nunca foi amante destas coisas, gosta mais de burocrata, governo e político que homens de negócios que chamam de ladrões, gatunos e depravados.

A diferença se fez brutal.

Em 1912, no Brasil, o pico da produção do látex tinha atingido 42 mil toneladas sendo 11 toneladas só no Acre, para onde ia uma enxurrada de gente quase mais para a morte do que para a produção da borracha nativa. Mas em 1920, na Malásia, onde os Ingleses a plantaram de modo racional como pede o figurino da produção em larga escala, mais produtivo, barato e lucrativo e em uma área bem menor se comparado às vastidões da Amazônia, era extraída 400 mil toneladas. Isto mesmo: 400 mil toneladas. 

Foi questão de tempo para a borracha brasileira, da Amazônia, cara, lenta, irracional, mortífera e essencialmente extrativista ter sido superado pela produção inglesa na Ásia que obedecia ao padrão industrial. Enquanto as seringueiras brasileiras situavam-se no "inferno verde" a da Malásia pareciam estar em um jardim, plantadas racionalmente com distancias padronizadas entre si e etc. com custos reduzidos em todos os sentidos, com qualidade e eficiência. 

Como consolo o brasileiro praguejou os céus e os infernos para buscar culpados quando é sua mentalidade tacanha que adora governo e despreza o homem empreendedor e o seu universo. O governo não é solução, mas problema.

E como não mudamos a cabeça as coisas podem até piorar bastante. A China planta árvores geneticamente modificadas, sendo o segundo país depois dos EUA a ter tal procedimento. Um dia até o Açaí estará sendo cultivado nas estepes da Mongólia para desespero dos amazônidas que se contentarão em chamar os outros de ladrão. Wickham teria sido o primeiro a praticar a biopirataria. E nos não olhamos para o próprio rabo. Quantas destas árvores e frutas vieram de fora, trazidos pelos índios, negros e o branco colonizador e aqui se adaptaram e ninguém reclama? Roubamos também?

Perdemos a corrida da borracha e muitas outras coisas porque não temos liberdade de empreender. Isso ninguém dá a ninguém, nem se encontra solto por aí, cai com as chuvas ou está no galho das árvores para se pegar com as mãos. Isso se adquire com raciocínio, com aquisição da mentalidade de livre empresa. Como por exemplo, que governo foi constituído não para se meter nos negócios, mas para dar segurança para as pessoas empreenderem, trabalharem, criarem e terem certeza que vão colher os frutos de seus esforços e que não serão roubadas, principalmente pelo...governo. É da mentalidade sintonizada com os negócios que reflita as regras da economia de mercado que se faz necessário para que todos os negócios, qualquer que seja, frutifique e inove.

O ambiente político brasileiro, infenso a empreendedores independentes e voluntários, só deixa margem àqueles que toparem uma aventura sob a batuta de um político ou, como o PT inovou um partido político em um esquema de governo para o exercício eterno do poder. Aliás, é a nossa história. A colonização brasileira é um projeto político e militar desde o início e nada foi modificado, apenas se sofisticou. A adoção de algumas aparências de mercado lhe empresta uma fisionomia de país moderno. Mas é só isso.

É interessante ver a rainha da Inglaterra entregando uma medalha de reconhecimento ao criativo súdito Wickham que aqui no Brasil é chamado de ladrão sem qualquer cerimônia. Pergunto-me se ele não teria ficado por aqui desenvolvendo suas habilidades e ganhando dinheiro se o ambiente brasileiro não fosse tão hostil aos negócios?

Há um mito bastante difundido entre nós e bastante popular de que o Brasil é um país rico pelo fato de possuir em seus domínios geográficos inúmeros e diversificados recursos naturais. Em cada Estado da Federação brasileira esta versão sofre a sua adaptação. É pura bobagem, é claro, mas como retórica tufa o peito do patriota e enche de orgulho o cidadão que quer mais respeito com as coisas nacionais, uma festa para os políticos.  Embora riqueza se expresse através de bens tangíveis ela é fundamentalmente subjetiva.

Quando no início do século 19 um agricultor na América do Norte descobria que suas terras estavam tomadas por um liquido escuro, fedorento e gosmento ele se achava arruinado. Mas aí apareceu um tal de Drake que encontrou na destilação desta gosma a substancia querosene que muito interessou a Rockfeller. Os fazendeiros então não mais se acharam arruinados, mas ricos e agora passaram até a desejar encontrar nas suas terras esta agora milagrosa gosma preta. Não prestava e agora era ouro, ouro preto. Uma tremenda mudança de raciocínio. Mas há outra ilustração que também complementa este ângulo.  

Hong Kong, uma pequena ilha rochosa sem nenhum recurso natural se transforma em poucos anos, cerca de 40 anos, numa metrópole de importância econômica de dar inveja a muita gente. O elemento subjetivo aí responsável por esta façanha pode se chamar de liberdade de empreender. Começa pelo reconhecimento de que são indivíduos que produzem, criam, inventam e inovam seguindo apenas a sua própria opinião. O objetivo é fazer dinheiro, lucrar - termos que também tem conotação pejorativa entre nós, mas são apenas indicadores de que a coisa funciona e faz a felicidade de muita gente, tornando as pessoas mais ricas.

Pode-se também ver no caso da borracha a manifestação deste elemento subjetivo. O homem segue idéias e as seguidas pelos ingleses resultaram em 40 anos numa Malásia no topo da produção enquanto a do Brasil ia à direção oposta, declinava. Não podíamos nem ser sócios. Nossas idéias não se casavam, eram antagônicas. O mesmo sentimento encontramos nas ferrovias. O capital inglês trouxe os trens e os trilhos iniciando uma modernização jamais vista neste país de escravos. Respondeu-se com o nacionalismo tacanho de que os ingleses estavam nos explorando recomendando-se a intervenção do governo benevolente e imparcial.

Contrariando Frederic Bastiat aqui o mais importante é o que se vê. A seringueira foi considerada quase como um "patrimônio do povo brasileiro” sendo inclusive crime levar para fora do país as suas sementes. Desejava-se um reserva de mercado para a borracha? Não funcionou. No mundo maior que o Brasil prevalecia a concorrência e o mais hábil e criativo teria de vencer. O Brasil tinha todas as vantagens nas mãos, mas ignorante em economia perde todas.

O ambiente propício aos negócios é importante senão o mais importante. Sem este ambiente nada prospera. Produção não é mera transformação de matéria prima, emprego de fatores de capital e uso de recursos humanos, mas criação, idéias, sobretudo novas.

E isto requer liberdade de empreender que é também liberdade de criar. Só desta maneira é que aquilo que popularmente se chama de riqueza é que se transforma realmente em riqueza, em bens que pode servir aos indivíduos para alavancarem o seu bem estar e fazer surgir o sentimento de que se está rico.
 
Enquanto dormem sob o solo, sob o mar ou nas montanhas, “riquezas naturais” são apenas fatores de produção em potencial. Há um longo caminho para percorrer até que possa se constituir em capital, mas isto é outro capitulo.



Vanderli Camorim é autodidata, liberal e articulista de Libertatum. 

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