O homem contra o homem
Por Armando Soares
O maior inimigo do homem tem sido
durante milênios o próprio homem, uma verdade que não pode ser refutada por
ninguém em nenhum momento da história universal. Esse é o maior problema a ser
superado pela raça humana para que haja efetivamente avanço na Terra, um
planeta manchado de sangue e impregnado de ódio desde os primórdios da
civilização. Não busquemos nenhum outro culpado, o homem é o único culpado por
todas as misérias, por todo o sofrimento, por todos os conflitos, por toda a
discriminação e desamor que existe na Terra.
Pesquisadores
fizeram progredir a ciência por saltos sucessivos, por sobressaltos dolorosos,
como Galileu e Copérnico, para fugir em seu tempo de perseguições de
instituição religiosa cujo corpo dirigente tinha mentes fossilizadas, o que
determinou a escravização de multidões e atrasou durante séculos o avanço da
ciência e de civilizações, o que ainda ocorre em nossos dias com os físicos,
biólogos e matemáticos através de governos e sociedades retrógradas.
O
Universo está em constante evolução queiram ou não religiões que se perderam no
tempo e homens ignorantes prepotentes. O estudo da história revela que toda
civilização atravessa processos cíclicos: gênese, crescimento, apogeu,
decadência e morte. Toynbee assevera que “a gênese de uma civilização é devida
a um desafio que um grupo levanta em face do ambiente natural, social ou
psicológico, provando assim uma resposta criativa que o levará a induzir um
novo processo de civilização”. Outras pesquisas demonstram que o nascimento de
uma civilização é provocado por um saber ou um conhecimento transmitido por uma
raça em declínio, às vezes após a face de desintegração final. Depois de ter
atingido seu apogeu, as civilizações tendem, pois a perder seu élan vital e a
declinar. As estruturas se tornam rígidas, a tal ponto que a sociedade não pode
mais fazer face às mudanças incessantes pela lei universal da evolução. O
sistema “desafio-resposta”, que representa a saúde criadora de uma raça,
desaparece pouco a pouco, dando lugar a modelos sociais e ambientais
constrangedores e restritivos. A elite perde sua animação e seu dinamismo,
enquanto a desmotivação e o medo do amanhã florescem nas camadas inferiores da
sociedade. Em seu processo de degenerescência, as civilizações esquecem pouco a
pouco as verdades fundamentais que fizeram sua força de outrora. O véu do
esquecimento se abate sobre a memória da elite e o processo de desagregação
final é estabelecido. A civilização perde sua alma e estoura nos quatro cantos
da eternidade, a menos que seja dissolvida pelo dinamismo conquistador de outra
raça, então no pico de sua glória. Só restam então os escritos, os monumentos
abandonados, as tradições orais. Às vezes nem sobra nada. No primeiro caso
estão os sumerianos, os egípcios, os gregos ou os astecas, e de certo ponto de
vista os índios da América do Norte. No segundo caso, estão os celtas, dos
quais não resta mais nada, senão fragmentos de saber, ou do continente mítico
da Atlântica, que nem mesmo sabemos hoje se realmente existiu.
Mas,
como conceituar civilização? Para Norbert Elias, o conceito de civilização é uma
apropriação de um “termo nativo” (utilizado na França e na Inglaterra, a partir
do século XVI, principalmente) e implica não só em uma realidade específica,
empiricamente observável, como também em uma abstração teórica, um modelo de
interpretação da história e da sociedade, entendida como um processo e
constituída a partir de uma rede de interdependência funcional. O processo
civilizador, segundo ele, manifesta-se numa cadeia de lentas transformações dos
padrões sociais de auto-regulação e caminha "rumo a uma direção específica
de forma não linear e evolutiva, mais de modo contínuo, com impulsos e
contra-impulsos alternados". A "civilização" também pode se
referir à cultura de uma sociedade complexa, e não apenas à sociedade em si.
Toda sociedade, civilizada ou não, tem um conjunto específico de ideias e
costumes e um determinado conjunto de manufaturas e artes que a tornam única.
As civilizações tendem a desenvolver culturas complexas, que incluem a
literatura, a arte, arquitetura, uma religião organizada e costumes complexos
associados à elite. A cultura complexa associada com a civilização tem uma
tendência a se espalhar e influenciar outras culturas, às vezes, assimilando-as
para dentro da civilização (um exemplo clássico foi o da civilização chinesa e
sua influência sobre as civilizações próximas, tais como Coreia, Japão e
Vietnã). Muitas civilizações são realmente grandes esferas culturais que
englobam muitas nações e regiões. A civilização em que alguém vive é a mais
ampla identidade cultural dessa pessoa. Muitos historiadores têm-se centrado
nessas esferas culturais amplas e têm tratado as civilizações como unidades
distintas. Um filósofo do início do século XX, Oswald Spengler, usa a palavra
alemã "Kultur", "cultura", para o que muitos chamam de uma
"civilização". Spengler acredita que a coerência de uma civilização é
baseada em um único símbolo primário cultural. As culturas experimentam ciclos
de nascimento, vida, declínio e morte, muitas vezes suplantados por uma cultura
nova poderosa, formada em torno de um novo símbolo cultural atraente. Spengler
defende que a civilização é o início do declínio de uma cultura como, "...
os estados mais exteriores e artificiais dos quais uma espécie de humanidade
desenvolvida é capaz."
Como
encaixar nesses estudos de civilizações e do ser humano o Brasil e Cuba,
aproveitando o momento de crise que atravessa o Brasil e o fim de vida de um ditador
sanguinário que atrasou em cinquenta anos a vida dos cubanos.
Pode-se
afirmar que existe em Cuba uma civilização ou apenas um aglomerado de
indivíduos comandados e obedientes a um ditador esperto? E antes de Fidel, Cuba podia ser
chamada de civilização como explica Norbert Elias e Oswald Spengler? Cuba era habitada principalmente por
povos ameríndios conhecidos como taínos, também chamados de aruaques pelos
espanhóis, e guanajatabeis e ciboneys antes da chegada dos espanhóis. Os
antepassados desses nativos migraram séculos antes da parte continental das
Américas do Sul, Central e do Norte. Os nativos taínos chamavam a ilha de
Caobana. Os povos taínos eram agricultores e caçadores, ao passo que os
ciboneis eram pescadores e caçadores e os guanatabeyes eram coletores. Cuba foi
colonizada pelos espanhóis que impuseram sua maneira de viver e sua cultura.
Portanto, Cuba não teve um ciclo de cultura própria, absorveu uma cultura
imposta pelos espanhóis onde se destaca o saque e um modelo de governo onde
imperava a vontade de um Estado todo poderoso. Fidel se aproveitou do momento
em que Cuba vivia sob uma administração corrupta e de uma cultura
intervencionista para instalar o seu reinado. A civilização em Cuba, portanto,
ainda está por nascer. Cuba é apenas um conglomerado de indivíduos sem vontade
própria vivendo miseravelmente.
E o que
dizer do Brasil? Temos uma civilização e uma cultura ou temos sido ao longo do tempo como
Cuba apenas um conglomerado de indivíduos contaminados por uma cultura
portuguesa onde prevalece a vontade de um Estado todo poderoso? O crescimento pífio do Brasil
reflete a cultura que assimilou dos portugueses, onde o Estado todo-poderoso
dominava e tudo fazia. O povo brasileiro, em consequência dessa herança
cultural sofre de uma doença da renúncia a ideais elevados, e por isso, vive
mergulhado na autocomplacência, de agradar através do Estado com dinheiro de
quem explora a iniciativa privada. O governo, qualquer governo, nunca encarou e
não encara neste momento os desafios de um desenvolvimento dinâmico com taxa elevada
de crescimento. A iniciativa do governo se restringe ao discurso, porque está
preso a um modelo que não permite o desenvolvimento econômico. Enquanto o resto
do mundo se volta ao desafio de criação de riquezas, o Brasil com sua política
ambientalista e distributivista intervencionista estatal e com viés
anticapitalista impede a criação de riquezas. Vivenciamos uma economia de
funcionários públicos que se acomoda a dependência do Estado.

Países
que adotaram o regime capitalista crescem porque seu povo trabalha muito e
porque estudaram muito. O Brasil adotou um modelo econômico e político errado,
o que explica porque o Brasil cresceu pouco, portanto, não merecia crescer. No
Brasil se usa demagogicamente a pobreza como instrumento político eleitoreiro e
meio para corrupção, ou seja, a pobreza é estimulada pelo Estado através de
suas políticas demagógicas.
Os políticos e governantes não buscam
o desenvolvimento e a criação de incentivos para a melhoria da produtividade, o
aumento da produção e a geração de empregos, preferem optar pelo modelo que
prioriza a distribuição e a proteção, enquanto nos Estados Unidos, o Estado dá
ao cidadão instrumentos para sua atividade com destaque para a educação.
Adquirindo a maioridade, cada um é responsável pelo seu destino, e vai
trabalhar e produzir para a grandeza do Estado.
Infelizmente
num simples artigo não é possível mostrar o quanto o Brasil está no caminho
errado. Contudo, dado a realidade política, econômica e social que vivemos é
possível afirmar que ainda não construímos uma civilização, somos apenas um
conglomerado sem rumo, sem tradição, sem cultura. Não saímos da selvageria.
Precisamos dar início ao processo cíclico de formação de uma civilização que
justifique o sacrifício do brasileiro. Viver e trabalhar para manter no topo do
poder esse bando de aproveitadores medíocres é cruel e estúpido.
Armando Soares – economista
e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com

Soares é articulista de Libertatum
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