Por Klauber Cristofen Pires
A exemplo do presidiário que preenche seu tempo e suas energias costurando bolas, e com isto distrai-se das agruras da vida de detento ao mesmo tempo em que, cansado da rotina de trabalho estafante, volta para a sua cela adiando qualquer plano de fuga, podem se considerar os empresários que aderem de corpo e alma a determinadas campanhas de responsabilidade social. Ignoram, ao colaborar com um projeto alheio, quais os seus objetivos últimos e para que fins emprestam os seus recursos.
Aproveitando o exemplo acima, cumpre lembrar que a boa fama pelo programa de recuperação dos presos é auferida, afinal, pelo diretor do presídio: ele é quem vai aparecer na entrevista da tv como sendo magnânimo, humanitário e genial; certo, os presidiários também podem vir a serem entrevistados, mas de uma maneira bem diferente, isto é, com a câmera apontada de cima para baixo, para transmitir aos telespectadores uma imagem de sua inferioridade, e o com um tom impresso pelo entrevistador que lhes extraia sentimentos tais como arrependimento e anseio pelo perdão, quando não também a alegria de poderem se redimir e diminuir as suas penas.
Pessimamente assessorados por uma geração inteira de administradores formados segundo teorias marxistas e keynesianas, que na vida profissional somente reproduzirão os cânones gramscistas de formação cidadã da futura sociedade socialista, permitem-se acreditar que investem na boa imagem de suas empresas, e devido a isto que aumentarão a aceitação de seus produtos por parte de um público consumidor cada vez mais exigente e “politicamente consciente”.
Bom, no que depender de mim, desistam, pois decido o que comprar medindo variáveis que eu conheço, tais como qualidade, preço, quantidade ou facilidades de pagamento. Não me permito comprar algum produto porque na tv determinada empresa alega que cuida de crianças carentes, patrocina a dança do boi-qualquer-coisa ou protege o mico-leão dourado, simplesmente porque, para mim, na condição de um consumidor varejista, é impossível medir o custo-benefício disso com base na oferta de um produto que se encontra na prateleira. Tampouco, desconheço quem, mesmo entre aqueles a quem sabidamente conheço como defensores públicos de tais políticas, ajam diferentemente quando de forma prosaica e baixando a vigília, visitam o supermercado ou a loja de departamentos, tal como já os flagrei.
Os alegados bens sociais não podem ser medidos, e não tenho como saber se a empresa age de forma eficiente ou não. Hipoteticamente, é possível que, para cuidar de uma creche com duzentas crianças, por exemplo, uma empresa extraia dos seus consumidores uma quantia tal que exceda em muito o custo necessário para este fim; uma quantia que poderia, a bem dizer, ser mais bem utilizada para o bem de mais crianças se fosse deixada na mão dos próprios consumidores, que poderiam decidir de per se como utilizá-la.
Ademais, não deixa de ser uma certa agressão ao direito de propriedade e de escolha do consumidor: já houve em minha vida determinadas instituições que pediram a minha colaboração,e eu, julgando a sua idoneidade, com algumas tenho colaborado, com outras deixei de colaborar e a outras mais nem sequer dei ouvidos. Idoneidade, portanto, também não é uma característica extrínseca do produto, e muitos consumidores podem acabar pagando a mais, mesmo sem querer, por uma eventual falta de escolhas no mercado local, como por exemplo, a pessoa que pára em frente a um posto de gasolina e que por isto obriga-se a financiar o maracatu, os jogos pan-americanos, a proteção à baleia jubarte e à tartaruga marinha, a restauração de um sem-número de igrejas (mesmo se for um ateu), quando o que tudo o que desejava era não mais que alguns litros de gasolina.
Voltando ao esquema gramscista, tais empreendedores negligenciam o cuidado de a quem entregar a execução de seus empreendimentos sociais, e expõem gerações de jovens ingênuos aos cuidados de ardilosos agentes de transformação social, que ali edificarão as madraçais para a criação de um PT-eleitorado, havido por esclarecer aos seus pupilos que seus patrocinadores se encontram, se utilizarmos a metáfora acima, não no papel do diretor, mas no do presidiário arrependido. (isto, na melhor das hipóteses).
Não trato aqui, e que isto fique bem claro, de detratar tantas iniciativas – principalmente as humanitárias – postas em prática de boa-fé por estes empreendedores. Apenas chamo a atenção para o fato de que a classe empresarial adepta destas campanhas está a criar graves dificuldades para si mesmas. Percebam que o próprio termo “responsabilidade social”, assim como “justiça social”, provém da mesma ideologia que cria sua própria língua com o fim de implantar seus objetivos, à margem de qualquer possibilidade de dissensão, e os coloca ex-ante como sujeitos culpados pelas mesmas mazelas as quais os governos apresentaram como argumentos na hora de aumentar os impostos.
Com isto, o Estado de índole totalitarista alcança vários objetivos de uma só tacada: drena dos empresários os recursos com os quais poderiam investir mais em seus produtos ou até mesmo se imbuírem em um esforço do esclarecimento de sua verdadeira contribuição à sociedade; colhe gratuitamente os louros pelo relativo sucesso dos empreendimentos sociais privados (ahh..esta eficiência burguesa...); como um chupim, celebra ao ver suas vítimas criarem seus filhotes que no futuro irão comer seus irmãos adotivos no ninho, e finalmente, libera-se dos recursos que arrecadou com o pretexto de fazer o serviço para financiar ong’s e movimentos sociais, os quais ainda mais instigarão o ódio à iniciativa privada, às relações consensuais e à liberdade de expressão.
Todos os dias, ao acordar e tomar o café da manhã, milhares de pessoas, a maioria das quais nem conheço empenham-se em fazer a minha vida melhor, e me permitem também me especializar, como retribuição a elas, com o fruto de meu trabalho. É claro que elas buscam o lucro. Mas egoísmo, sim, seria exigir que tudo o que fazem por mim tivesse de ser gratuito. O mero fato de eu não ter de acordar às quatro da madrugada para ordenhar uma vaca, moer e torrar o café e preparar a massa do pão já demonstra o imenso mutirão nesta sociedade em que todos contribuímos com algo em troca de outras coisas mais. Isto é somente para dizer que não há maior responsabilidade para um empresário que fornecer seu produto ao menor custo possível e na maior quantidade possível, para tantas pessoas que dele dependem, e que confiam nele para isto, ou senão não teriam deixado a roça!
Aos empresários realmente incorporados de um espírito patriótico e humanitário, sugiro que modifiquem um pouco a orientação de tais programas. A começar, vamos mudar de nome? Que tal “Ação Humana”, por exemplo? “Ação” indica dinâmica, movimento, empreendedorismo; “Humana” sugere humanitarismo, colaboração, acordo. “Ação Humana” foi a obra-prima monumental do filósofo Ludwig von Mises, um judeu-austríaco que fugiu da Alemanha Nazista para nos ensinar que os seres humanos são colaboradores entre si.
A seguir, sugiro que seus projetos sejam enfatizem a valorização do ser humano como indivíduo; da existência de Deus como fonte de amor e de confiança a cada uma destas pequenas almas; da autoconfiança e da responsabilidade pessoal; do empreendedorismo e da liderança; da confiança mútua como atmosfera das relações humanas; da função social da propriedade, considerada em seu aspecto apriorístico, e não segundo as definições casuístas, arbitráveis por conveniência alheia, expressas pela estrutura jurídico-ideológica vigente. (Observem como propositadamente, a palavra “confiança” aqui aparece abundantemente).
Façam isto agora: telefonem para seus amigos e combinem todos juntos esta mudança de postura. Reúnam-se, façam uma avaliação de seus programas sociais à luz do que acabei de explanar-vos e implementem, para ontem, mudanças construtivas. Não percam tempo!
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