quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Antes Voto Nulo do que Pasteurizado!

Por Klauber Cristofen Pires


No último fim de semana recebi um panfleto da candidata dos Democratas à prefeitura da minha cidade. No teor do documento, nada de novo, apenas o mesmo blá-blá-blá que caracterizam os candidatos de todos os partidos, sem exceção. Pensando bem, vi coisa pior: a candidata pretende apoiar a “educação inclusiva”, isto é, aquele programa do atual Ministério da Educação e Cultura, do PT, que pretende extinguir entidades como as APAE e a Fundação Pestalozzi, para colocar na sala de aula das escolas comuns (obrigatoriamente) as crianças com síndrome de Down!

Em alguma das eleições passadas, pasme o leitor, um candidato dos Democratas encheu-se de eloqüência para afirmar que o Orçamento Participativo, aquele programa do PT que pretende usurpar os poderes-deveres das câmaras de vereadores, era uma farsa! Puxa, até que animei e colei no sofá! Porém, pensando que ele fosse discursar sobre a inconstitucionalidade e ilegalidade do teatro armado por militantes convocados que se fazem passar por uma assembléia plural de cidadãos comuns de diversas tendências para pretensamente “deliberar” o que já fora de antemão decidido pelo partido, o que ocorreu foi que ele denunciou que o Orçamento Participativo só incluía 1% do orçamento do município, e que, na sua gestão, caso fosse eleito, subiria para 3% (estas percentagens trago da lembrança, não são exatas, mas as proporções seriam aproximadamente tal como as coloquei).

Os Democratas realmente não têm jeito! Como querem os Democratas se oferecer como uma oposição, se oferecem aos eleitores os programas dos seus adversários, e se expressam segundo os seus conceitos? Ora, quem o eleitor há de escolher, entre o produto original e a imitação?

Pois, doravante o meu voto será o recado para os Democratas e vá lá, para o PSDB também (embora estes pra mim sejam mais o PT de gravata! E gravata borboleta!): vou anular o meu voto!

Tenho que todas as pessoas que não se sentem representadas deveriam anular o seu voto. Quem sabe, assim, os Democratas passarão a enxergar o seu eleitorado? Não, não venham me dizer que já existe o voto em branco. O voto em branco significa: “qualquer um de vocês serve”, e não é isto o que desejo expressar nas urnas. O que eu quero afirmar na hora de exercer o meu direito de sufrágio é “nenhum de vocês serve”. Isto, só o voto nulo pode prover. Curiosamente, em nosso simulacro de democracia, não existe tal tecla.

O voto nulo, contrariamente ao que apregoa a Justiça Eleitoral e a massa dos formadores de opinião, tem muito com o que contribuir para o fortalecimento da democracia. Em primeiro lugar, ele acusa justamente uma população de eleitores que não se sentem representados por nenhum dos partidos políticos existentes e em seguida, recomenda aos novos mandatários colocarem as “barbas de molho” – imaginem um governador que tenha sido eleito apenas com uma percentagem ligeiramente superior ao voto nulo dos descontentes – tal informação seria essencial para as oposições e para ele mesmo, quanto à contenção de ímpetos radicalmente reformistas, por exemplo.

O fato de que significativas populações em diversas regiões encontrem-se ao desamparo de representatividade política decorre de nosso sistema eleitoral, que consagra aos vencedores dos cargos executivos uma absoluta hegemonia sobre as minorias vencidas. Além disso, a falta do voto distrital e o desrespeito ao princípio do “one man, one vote”, substituídos por um peculiar, intrincado e discutível sistema de voto proporcional, confere aos eleitos para as casas parlamentares uma completa independência sobre os eleitores, já que estes não podem cassá-lo por meio do impeachment, nem sequer interromper-lhe o patrocínio, já que doravante ele passará a viver de verbas federais.

Todo este esquema eleitoral termina, pois, com a “pasteurização” dos grupos humanos eventualmente minoritários. “Pasteurização” é uma técnica inventada por Louis Pasteur, que consiste em aquecer o alimento a uma determinada temperatura e em seguida encerrá-lo hermeticamente em alguma embalagem, para evitar a nova entrada de microorganismos. Em jargão leigo, porém, há uma relação obtida pelo fato de o leite pasteurizado ser produzido a partir da mistura do produto fornecido por vários pecuaristas, sendo colocado em panelões comuns, donde irá sair um produto com sabor a aparência homogênea – uma alusão, portanto, à perda de identidade.
Portanto, para todas as pessoas que desejam educar seus filhos segundo as suas convicções morais, religiosas e políticas; para os pais que desejam educar seus filhos em casa, sem serem obrigados por lei a enviá-los para alguma escola cuja grade seja estipulada pelo governo; para todas as pessoas que desejam pagar menos impostos; para todas as pessoas que desejam mais liberdade para trabalhar, negociar e exercer alguma atividade profissional; para aqueles que defendem a liberdade de expressão, sem as superposição de limitações legais que, pretendendo anunciarem-se como exceções, passem a constituir a regra; para todos aqueles que desejam um estado menor, mais barato e eficiente; e sobretudo para aqueles que desejam um estado que pare de tanto se intrometer na esfera privada e íntima do cidadão, bem como querer ditar a moral e os bons costumes; para todas estas pessoas, eu as exorto a anularem o voto nas próximas eleições, e nas seguintes também, até que os Democratas ou outro partido a nascer nos enxerguem e acordem para as nossas reivindicações.

3 comentários:

  1. Caro Klauber Pires, eu também tenho anulado sistematicamente o meu voto nas últimas eleições. E também me indigno com o fato de a urna eletrônica não trazer explicitamente as opções "nulo" e "branco", obrigando o eleitor consciente do voto nulo (por sinal, muito consciente) a fazer malabarismos para anular seu voto.

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  2. Amigo Klauber, seus artigos sempre me encantam... e me dão a certeza que não sou apenas uma sonhadora... Coloquei um link do seu blog no meu orkut... Beijão

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