quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Da Baía do Sol para o Brasil



Por Klauber Cristofen Pires

A Baía do Sol é um pequeno lugarejo, fundado por pescadores, que se localiza na ilha fluvial do Mosqueiro, que por sua vez, é um famoso balneário, distrito de Belém. Com os anos, estabeleceu-se no local também um certo número de veranistas, geralmente moradores de Belém, entre os quais os meus sogros, há cerca de quarenta anos atrás, leva esta de gente que aos poucos foi trazendo aos moradores nativos algumas oportunidades adicionais de sobrevivência: podiam vender o pescado diretamente, a preço de varejo; foram-lhes oferecidos trabalhos como os de pedreiro, carpinteiro, jardineiro, caseiro, serviços domésticos e outros afins.

Nesta época de rica interação social, meus sogros levaram a filha da caseira, ainda criança, para com eles morar e estudar em Belém; com o tempo, porém, o estreitamento dos laços de ternura fez desta relação mais do que meramente uma ajuda, mas, propriamente, o estabelecimento de uma efetiva união paternal. Esta menina, hoje uma mulher feita, é considerada pela minha sogra com mais uma filha e pelas suas filhas naturais como, respectivamente, sua irmã (meu sogro havia falecido antes mesmo que eu viesse a conhecê-lo).

Pois bem, eis que, após este prefácio indispensável, chego ao alvo que este artigo intenta atingir: esta mulher tornou-se a primeira pessoa daquele lugar, e até onde eu sei, até o momento, a única, a conquistar um título de nível superior! Ainda mais, como que concorrendo sozinha, já alcançou mesmo a pós-graduação, enquanto os únicos títulos que suas conterrâneas têm conquistado (e conterrâneos também) têm sido o de mães solteiras férteis, analfabetas, e desempregadas...

Contando, pois, de lá para cá, são pelos menos trinta e sete anos (é pouco?!) que as mirabolantes propostas dos políticos de todas as tendências políticas que já existiram e/ou que ainda existem, e de todas as esferas de governo, perderam fragorosamente para uma velhinha pensionista do INSS! Aliás, o que estes políticos têm conseguido tem sido justamente o contrário: ao patrocinar o MST e seus sequazes, instalaram na comunidade o reino dos furtos, da preguiça para o trabalho a ponto de hoje eles não dominarem nenhum ofício ou arte, o alcoolismo e o consumo desenfreado de drogas, a devastação da ilha pelas queimadas e o conseqüentemente empobrecimento dos próprios nativos, já que, com tanta desordem e agressão ás suas casas, os veranistas têm vendido ou abandonado seus imóveis.

Eis, portanto, porque tenho exortado os meus leitores ao voto nulo! A minha sogra, uma pessoa idosa, com claras limitações, realizou, com seus parcos recursos financeiros e ilimitados recursos do amor e do comprometimento, muito mais por aquela comunidade do que toda esta gente boçal que hoje aparece na tv pedindo o seu voto!

Eu confio no ser humano! Uma das coisas que mais me impressionaram quando cheguei na região Norte foi constatar o expressivo número de pessoas que foram adotadas ou que adotam crianças; por adotar, eu me refiro a uma infinidade de relações, tendo sido o exemplo de minha sogra apenas um exemplo.

Porém, esta maravilhosa característica do povo nortista está se esvaindo, tornando-se a cada dia mais diáfana, pois entre as famílias jovens, dificilmente vejo esta tendência se repetir. O que direi a elas? Estão com a razão, pois, se hoje em dia tal fato ocorrer, não será surpresa que dois adultos irão para a cadeia! Afinal, tipificações penais não faltam: trabalho doméstico infantil, exploração de menores, maus-tratos, violência doméstica, cativeiro privado e assim por diante...daí não me ser nenhuma surpresa a quantidade notória de crianças perambulando pelas ruas.

Se esta menina tinha de prestar deveres domésticos? Claro que tinha, assim como todas as demais filhas da minha sogra, suas irmãs adotivas! Se ela tinha horário para chegar a casa? Igualmente! Se minha sogra limitava os seus namoros? Então eu não sei, que tinha de me despedir de minha futura esposa às nove da noite (!)?

Pois, foi à base de tanta “exploração” que ela se formou como engenheira agrônoma, não teve nenhum filho avulso, tem um emprego fixo e pode se dizer, enfim, independente, após todos os anos em que recebeu teto, roupas, educação, alimentação, médico, e sobre tudo, orientação e carinho.
Caro leitor, car leitora, os homens e as mulheres livres querem fazer o bem, e sempre o fazem, com muito mais eficiência e melhor aplicação dos recursos. Desde que o estado não nos impeça, tudo de bom temos a fazer por todos nós. Basta ver que, com suas escassas provisões, minha sogra, que não é “especialista” de nada, logrou conduzir uma alminha para a senda do bem, com um máximo de sucesso e eficiência. Do ponto de vista puramente econômico, cada centavo que aplicou em sua filha adotiva foi inteiramente para ela; pois, se botarmos cem reais na mão de qualquer político, quantos centavos chegarão às mãos de uma criança necessitada?
Precisamos votar nulo, para dizermos em uníssono: políticos, nenhum de vocês presta! Estamos cansados de suas retóricas vazias, de seus debates ensaiados! Vocês têm exigido cada vez mais impostos, mas hoje não há absolutamente nenhum serviço público que funcione! Mas esperem, que hoje vocês já não querem só o nosso dinheiro: não lhes bastassem nos confiscar praticamente a metade de tudo o que produzimos, vocês querem perverter nossos filhos nas escolas, mudar os nossos valores, fazer-nos instrumentos de vossos caprichos! Não, não querem só o nosso dinheiro! Querem também ter o direito de fazer suruba na rua (literalmente) e nos botar na cadeia se não os aplaudirmos! Estamos fartos de vocês!
Caro leitor, cara leitora, precisamos anular o voto para nos enxergarmos uns aos outros! Se você começar a aderir a este movimento, que não durará só estas eleições, mas as próximas que também se seguirão, virá que existem pessoas que pensam assim mesmo, como eu e você, e fará cair a máscara dos políticos que andam falando de boca cheia que se elegeram com tantos milhões de votos aqui e ali. Pois, que eles se elejam somente com um único voto – o deles próprios! Isto, na prática, não vai acontecer, mas vai forçar paulatinamente a uma mudança, no sentido de começarem a aparecer políticos que entendam que existe uma grande parte da população que hoje se encontra sem representação política. Aí talvez as coisas tendam am mudar para melhor.

Um comentário:

  1. "Não, não querem só o nosso dinheiro! Querem também ter o direito de fazer suruba na rua (literalmente) e nos botar na cadeia se não os aplaudirmos! Estamos fartos de vocês!"

    Cada artigo seu que leio mais aprecio suas idéias efetivamente novas. Sempre trazendop apreciações inéditas que a massa nunca percebe.

    Sem ter o que dizer, eu apenas aplaudo de pé e dando vivas.

    SEMPRE SENSACIONAL!
    Sempre tocando em pontos pouco percebidos, sempre analisando o micro em vez do vago macro.

    Dizer oquê? sensacional, brilhantíssimo! ...também nos outros artigos que aqui li.
    ...mais CLAP! CLAP! CLAPS!....

    Abração
    C. Mouro

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