Por Klauber Cristofen Pires
Música nunca foi o meu forte: sempre a encarei como uma coisa acessória a algum outro tipo de satisfação ou ocupação, tal como ouvi-la em algum bar ou restaurante ou no carro...raras são as vezes que paro somente para apreciá-la. Mesmo dirigindo, comumente permanece o rádio desligado. Na minha idade, começo a perceber o valor de alguns minutos diários de um relativo silêncio.
Música nunca foi o meu forte: sempre a encarei como uma coisa acessória a algum outro tipo de satisfação ou ocupação, tal como ouvi-la em algum bar ou restaurante ou no carro...raras são as vezes que paro somente para apreciá-la. Mesmo dirigindo, comumente permanece o rádio desligado. Na minha idade, começo a perceber o valor de alguns minutos diários de um relativo silêncio.
Todavia, de uma feita, em meio a um daqueles engarrafamentos típicos do Círio de Nazaré, só pra contrariar, decidi ligar o som do meu automóvel. A primeira estação tocava um purgantíssimo “tudo o que quer de mim....”, o que só fez me lembrar de meu amigo Luís Afonso Assumpção quando teve de passar por esta mesma tortura...em Portugal! Na segunda estação, havia dois sujeitos falando do lançamento de um cd de um Zé-ninguém que só será comprado pela sua mãe; na terceira, em um décimo de segundo, percebi instantaneamente a voz de Gilberto Gil e em um átimo, passei à estação seguinte (Ufa!); na quarta, era um fock-you, fock-you! de americanos reproduzindo umas onomatopéias como se quisessem sair do aparelho pra bater em mim (é isto o que chamam de hip-hop? Eu, hein...). Então prossegui, cambiando as freqüências pra tentar achar alguma coisa que me detivesse a escutá-la, mas em vão, em um processo que me causou tal ansiedade como se estivesse num daqueles filmes de terror onde os espíritos se apossam dos aparelhos para atormentar as suas vítimas, até que, aff, chega a Voz do Brasil, para me enterrar vivo!
Resultado? Desliguei a coisa mais inútil que existe no veículo, para voltar a apreciar aquele som gostosinho do gás refrigerante quando passa pela válvula expansora do circuito do ar condicionado...
Que tempos de mediocridade! Aliás, permita-se-me a correção: o tempo dos medíocres já passou, já que no dicionário, medíocre significa “mediano”; estamos, isto sim, em plena era da hegemonia das bestas! Uma era tal como nunca se pôde constatar arqueologicamente, desde que nunca qualquer povo que tenha deixado alguma marca para a posteridade teve demonstrada sua opção preferencial pelo pior, pelo mais feio, pelo mais chulo, pelo mais asqueroso.
Que sensação de tristeza me acometeu quando, em uma festa de crianças, observei meninas de dez a doze anos perfazendo coreografias abjetas em coro, com a patética complacência de seus respectivos pais! Como podem ser tão cretinos? O quê os leva a tal nível de passividade, a ponto de achar que aquela iniciação à suruba fosse algo plenamente normal, em meio a seus salgadinhos e refrigerantes?
Naquela noite, a melodia mais enlevante que ouvi foi uma que dizia que cada um tem de estar “no seu quadrado”, algo por sinal bastante emblemático para esta geração bitolada cuja maior aspiração na vida será conquistar um emprego público. Absolutamente contrastante, para um lapso de tempo tão irrisório como que de vinte ou trinta anos, com a minha infância e pré-adolescência, quando as festas eram animadas por LP’s tais como o da turma do balão mágico, com composições e intérpretes que exortavam as crianças a viajar para além de sua imaginação, como na própria música que intitula o disco, com a voz de Djavan, ou além da burocracia (“O Carimbador Maluco”, de Raul Seixas), ou a amarem o amiguinho feio (“É tão Lindo”, de Roberto Carlos), e outras mais, feitas por Vinícius, Toquinho e outros de condigno porte.
O mundo se embruteceu - eis o fato - e o Brasil voltou aos tempos da pedra lascada. Aquela imagem folclórica do homem das cavernas que conquistava a sua mulher batendo na cabeça dela com um pedaço de pau deixou de ser um mito pra se tornar a realidade mais ordinária, ou melhor se diga, o próprio padrão de comportamento.
Mesmo sem ser um expert musical, ouso dizer que a última composição original que me atingiu o coração foi “Love by Grace”, cantado por Lara Fabian, e isto já faz alguns anos. Depois disto, só o que tenho constatado é que passamos por um infindo deserto cultural: o melhor que se alcança são reedições de antigas composições e diabos(!), as mais das vezes nem para escolher as melhores ou pelo menos imitá-las com talento se consegue mais!
Como pode ter sido que todas as décadas passadas tivessem deixado seu legado de grande ídolos e hoje, mesmo juntando uma dúzia de nomes, não se faz um meio compositor? O que irá para a História? Será “A Grande Depressão Cultural”, quando, por um milagre qualquer, a humanidade recobrar a criatividade e as mais altivas aspirações, e recordar desta época como um destes holocaustos cuja memória só servirá para nos relembrar de que não deve se repeti-lo? Ou será “A Magnífica Revolução Cultural”, comemorada anualmente com shows em estádios bancados com verbas do Ministério da Educação, com as meninas do Faustão dançando por sobre boquinhas de garrafas?
Não acredito! Ainda a Da Matta e o Ben Harper?
ResponderExcluirHaja saco...
Obrigado pela lembrança..
É a coisa está braba.
Mas agora em Portugal a música mais tocada é de uma americana que canta " I Kiss the girl , and felt good...".
A diferença é pouca...
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