O Primeiro Grande Saque Amazônico (VI)
Por Armando Soares
Trechos dos Estudos realizados por
Barbara Weinstein necessários para repor a verdade histórica retirados do seu
livro “A Borracha na Amazônia: Expansão e Decadência (1850-1920)”.
Distribuição da seringueira –
Configuração fundiária – Trabalho escravo – Resistência à atividade de extração
do látex - Cabanagem
Na década de 1850, quando pela primeira vez a borracha firmou sua
supremacia no comércio regional, apenas um pequeno setor da classe dos
proprietários, no estado do Pará, tinha como base econômica a economia
extrativa. Além disso, o maior grupo dentro desse setor era a comunidade
mercantil predominantemente portuguesa, que apenas duas décadas antes havia
estado em guerra com a elite de brasileiros natos. No Pará, como no Brasil em
geral, a base econômica da classe superior tradicional era a terra, ficando
para a comunidade dos estrangeiros a maior parte das atividades comerciais. (uma
das causas que justifica a transferência da seringueira para o sudeste asiático).
Em outras regiões os interesses desses dois grupos mostraram-se muitas vezes
compatíveis: uma expansão nas exportações seria uma dádiva tanto para os
agricultores que cultivavam o produto, quando para os negociantes que o
comercializavam. Contudo, isso mostrou não ser verdade na Amazônia, uma vez que
a borracha não era uma mercadoria agrícola, e o padrão de propriedade fundiária
não coincidia, necessariamente com a configuração natural do crescimento e da
exploração da Hevea. (conflito determinante para facilitar a
transferência da seringueira e o domínio estrangeiro da comercialização e
industrialização da borracha). As principais áreas em que cresce a
seringueira na região amazônica formam aproximadamente um crescente que começa
no delta próximo à foz do rio, estende-se a oeste pela província do Amazonas e
termina no Acre e no Beni boliviano. No Pará, as maiores concentrações da Hevea brasilienses encontram-se na
região das ilhas e ao longo dos sistemas fluviais do Xingu e do Tapajós. As
bacias do Tocantins e do Guamá, às quais se chega facilmente a partir da cidade
de Belém, também continham áreas de seringueiras que, porém, deviam ser
inferiores em qualidade e em quantidade às das outras áreas mencionadas, já que
se esgotaram rapidamente e, após 1900, produziram principalmente cernambi. (a
distribuição de seringueiras como descrita confirma o desenho e mapa da
montagem da civilização Amazônia realizada através da exploração da borracha. A
qualidade da borracha do Xingu, Tapajós e Baixo Tocantins não eram inferiores
às borrachas de outras áreas e não se esgotaram pela má qualidade da
seringueira. O que acontecia era que a seringueira era sangrada com machadinha,
instrumento que estragava o painel, propiciava doenças de painel, e matava a
seringueira. O látex era de boa qualidade e o preparo da borracha era errado,
ou seja, o coágulo era jogado num curral no rio, para que o coágulo adquirisse
mais peso - consequentemente “quebrava mais” [tentativa de enganar o consumidor
ou comprador da borracha, prática que prejudicou em muito a atividade] durante
o processo de beneficiamento, o que reduzia sensivelmente o preço da borracha
no mercado, principalmente pela perda da qualidade, pois a borracha depositada
no “curral” degradava e perdia suas principais propriedades exigidas para a
fabricação de pneus e artefatos.)
Os latifúndios do Pará, contudo, tendiam a localizar-se em áreas não produtoras
de borracha – e não por mera coincidência. O setor extrativo da economia,
durante o período colonial, dependia mais do controle da mão-de-obra do que da
terra. As florestas exploradas pelas expedições coletoras eram quase sempre
terras não reclamadas (e, por vezes, inexploradas) da Coroa, acessíveis a quem
quer que se disponha a pagar e equipar uma turma de trabalhadores. Uma vez que
desmatar e cultivar essas longínquas extensões de floresta era desnecessário e
economicamente inviável, quase não havia incentivo para um colono
reivindicá-las como de sua exclusiva propriedade. (a questão agrária na Amazônia
começa e ser entendida a partir do processo histórico e não através de
ideólogos do comunismo). Por essa razão, as sesmarias (sesmaria para quem não sabe é um lote de terra inculto ou abandonado,
que os reis de Portugal cediam a sesmeiros que se dispusesse a cultivá-lo.
Sesmeiro, portanto, era quem de concedia uma sesmaria para cultivar a terra)
generosamente concedida pela Coroa portuguesa para estimular a colonização da
Amazônia, não eram nessas áreas longínquas de floresta, mas em terras
apropriadas para a agricultura ou a pecuária, localizadas nas vizinhanças dos
centros comerciais de Belém e Santarém. No lado leste do Pará, as terras em
torno de Belém e as áreas banhadas pelos rios Guamá e Tocantins eram os locais
em melhores condições para as sesmarias, e acabaram por ostentar a maior
concentração de cultura de açúcar, arroz e mandioca. A zona preferida para a
pecuária era a ilha de Marajó, a leste da qual a zona de baixios consistia de
pastagens prontas par serem utilizadas para a criação de gado.
Na
região conhecida como Baixo Amazonas, situada na parte oeste do Pará, as áreas
nas vizinhanças de Santarém e da desembocadura do rio Tapajós eram as mais
atraentes para a colonização. Além de estarem próximas ao único centro
comercial importante, depois de Belém, durante o período colonial, essas áreas
ofereciam também grandes extensões de um solo incomumente fértil, pastagens
naturais e grandes cacauais. Em consequência, a produção das fazendas do baixo
Amazonas tendia a ser relativamente diversificadas. Poucas sesmarias permaneceram
nas mãos de seus donatários (ou de seus descendentes) por todo o período
colonial, mas o modelo primitivo de posse de terra continuou relativamente
inalterado pelo século XIX adentro. A expulsão dos jesuítas, que controlavam
enormes fazendas na ilha de Marajó, representou um retrocesso temporário para a
pecuária na ilha. Contudo, a Coroa logo transferiu a maior parte das
propriedades desocupadas para a posse de particulares, e essas fazendas acabaram
por tornar-se a base econômica para famílias eminentes, políticas e socialmente
como os Bezerra, os Chermont, os Lobatos, os Miranda e os Montenegro. Na
verdade, durante o período que se seguiu imediatamente à independência, parecia
afinal que o setor agrário assumia posição predominante na economia amazônica.
A decadência do comércio do cacau na década de 1820 deixou o setor extrativo
sem um produto de importância para exportação, e todo o pequeno capital
disponível na região voltou-se cada vez mais para as culturas de açúcar, arroz
e algodão, para as fazendas de gado e para outros empreendimentos rurais. A
maioria deles concentrava-se nos arredores de Belém, de onde expulsavam
fazendeiros caboclos mais pobres; mas algumas culturas importantes também
apareceram mais distantes, rio acima, como em Barra do Rio Negro, mais tarde
conhecida como Manaus. Quanto à mão-de-obra, a maior parte dos fazendeiros
dependia dos escravos africanos ou do trabalho forçado dos índios. (o
passado explicando comportamentos do presente).
Os sinais de progresso
na economia agrária podem ter sido estimulantes para a elite dos proprietários
de terra da Amazônia, mas em breve as esperanças de um crescimento continuado
se destruíram devido a uma rebelião regional de proporções nunca vistas. A
cabanagem, que desintegrou a vida econômica e social de toda a Amazônia, de
1835 a 1839, teve início em Belém como uma disputa política entre as facções
portuguesa e paraense da elite local. Porém, como se deu em várias outras
regiões do Brasil durante esse turbulento período, o conflito não se restringiu
a facções da elite política. À medida que o partido dos brasileiros natos
começou a receber o apoio popular, o conflito passou rapidamente dos embates
limitados à luta aberta nas ruas da cidade. E à medida que a revolta se
espalhou pelo interior, sob a forma de guerrilha (cujos participantes, os
“cabanos”, deram o nome ao conflito), ela atraiu milhares de caboclos e antigos
escravos descontentes, cuja participação pouco tinha a ver com as causas
originais da rebelião. Muitas propriedades rurais sofreram danos graves e
irreparáveis em consequência da revolta. É típica a experiência de um
português, agricultor de cana, de nome Godinho, dono de uma grande fazenda no
município de Vigia, próxima do litoral. Com enormes plantações de cana na
várzea fértil, aproximadamente cem escravos a seu serviço e um dos mais
modernos engenhos de açúcar do Pará, Godinho prosperava admiravelmente até
1835, quando os cabanos antiportugueses o obrigaram a abandonar a província. Ao
regresso, dez anos mais tarde, encontrou seu engenho em ruínas e sua
mão-de-obra dispersa. De modo semelhante, Archibald Campbell, escocês de
nascimento, mas morador do Pará há muito tempo, acabou decidindo abandonar uma
de suas fazendas na ilha do Marajó, uma vez que o prejuízo que teve com o gado,
equipamentos e trabalhadores causou tantos danos à propriedade que não era
possível recuperá-la. A reparação de equipamentos danificados e a
reconstituição das manadas dizimadas criaram graves problemas para uma elite
rural permanentemente desprovida de capital. Ainda mais preocupante, porém,
para a classe abastada, foi o flagelo da extrema escassez de mão-de-obra no
setor agrário que se seguiu à cabanagem. Em parte, isso resultou das
inevitáveis perdas humanas oriundas de meia década de conflito violento; a revolta,
juntamente com uma série de epidemias de varíola, pode ter sido responsável
pela perda de 30.000 vidas, de uma população estimada em 130.000, antes da revolução.
Para tornar ainda pior as coisas para a elite, grande número de trabalhadores
rurais aproveitou-se da agitação e da desordem para evadir-se das fazendas, às
quais haviam estado presos como escravos comprados, ou como peões, escravizados
por dívidas. (cenário histórico que explica muitas dúvidas a respeito das causas que
de alguma forma foram obstáculos para o desenvolvimento da região). O
afrouxamento dos controles sociais e políticos que caracterizou os anos de
guerra civil acelerou a formação de uma população rural semiautônoma – uma
tendência que já havia começado no século XVIII. Os escravos negros abandonavam
em grupos as fazendas agrícolas e de pecuária, muitos dos quais, indo formar
comunidades de fugitivos, conhecidas como quilombos, nas regiões mais
longínquas do interior. Analogamente, muitos trabalhadores índios semiescravos
abandonavam as zonas de agricultura tornando-se agricultores de subsistência ou
“nômades”, destruindo desse modo os últimos vestígios do sistema colonial.
Assim, uma importante consequência da Revolta da Cabanagem foi à expansão de
uma população cabocla que havia rompido a maior parte de seus vínculos ou
obrigações para com a elite branca. (Eis a causa da resistência da elite
econômica fazendeira contra a produção da borracha, atividade libertária, onde
originalmente não havia “patrão”.). Com o estado geral de confusão
causado pela revolta e devido aos padrões de povoamento extremamente dispersos
da região, não foi difícil à população “fugitiva” encontrar refúgios seguros.
Logo a seguir à zona da periferia de Belém, Santarém e outros centros urbanos,
poucas fazendas havia e apenas um ou outro armazém comercial. Segundo relatos
da época, a maior parte desses fugitivos não precisou ir para muito longe;
parece que muitos se reagruparam nas partes mais atrasadas da região das ilhas,
ou ao longo dos trechos menos acessíveis dos rios Xingu, Trombetas ou Tapajós.
E como a maior parte das terras nessas áreas ainda não havia sido reclamada por
particulares, seus novos habitantes puderam dedicar-se a atividades de
subsistência como o plantio da mandioca, a caça e a pesca, sem qualquer ameaça
maior de serem perturbados. Além disso, nem todos os rebeldes e fugitivos se
fixaram em uma rotina de estrita subsistência. As seringueiras nas terras
devolutas também eram de livre acesso a quem as desejasse e, com a alta dos
preços da borracha na década de 1840, muitos caboclos e ex-escravos começaram a
dedicar parte de seu tempo à extração. Não é de admirar que as poucas centenas
de agricultores e criadores de gado que sobreviveu à Cabanagem, e que
continuavam constituindo a espinha dorsal da elite política do Pará, se
opusessem energicamente à expansão inicial da economia da borracha. Eles
encaravam o súbito recrudescimento do setor extrativo como uma dupla ameaça. Em
primeiro lugar, porque desviava os trabalhadores potenciais dos setores agrícolas
e de transporte, onde a escassez era aguda. Alfred Wallace, que esteve na
Amazônia, passado já doze anos do fim da revolta, observou que a agricultura na
província do Pará ainda se ressentia da falta de mão-de-obra. Por exemplo, ele
considerava o arroz paraense de tão boa qualidade quanto o do estado da
Carolina, mas afirmava que o cultivo e a colheita malcuidados, devido à
escassez de mão-de-obra, tornava sua qualidade muito desigual para o mercado de
exportação. (descrição histórica que mostra uma das causas do fracasso da atividade
econômica da borracha e, a total incompetência e modo de pensar e agir de uma
elite retrógada que reclamava de mão-de-obra, pois queria que ela fosse escrava
e não livre assalariada. Lamentavelmente o Pará não teve a sorte de formar uma
elite competente, de visão e atualizada com o avanço do Primeiro Mundo).
Em segundo lugar, e talvez mais lastimável, a extração da borracha contribuía para
criar uma população relativamente autônoma de produtores semi-independentes, não
sujeitos diretamente a qualquer forma de controle ou coerção pelos membros da
elite tradicional. Isso não apenas acenava com novas desordens políticas, como
também significava que uma parcela cada vez maior da população passava a
produzir um excedente econômico de que a elite fundiária não tinha condições de
se apropriar. Receando, ao mesmo tempo, a ruína financeira e o ressurgimento da
rebelião popular, a classe alta da região recorreu a medidas extraordinárias. A
mais importante delas foi à ressureição do Corpo de Trabalhadores, uma brigada
de trabalho forçado. Segundo um membro do governo paraense, o Corpo fora
instituído “com o fim utilíssimo de conter na obediência e certa disciplina, e
de dar ocupação permanente a indivíduos proletários, vagabundos e suspeitos que
se mostravam prontos em seguir a bandeira da anarquia, e que não duvidariam
alistar-se nas fileiras de bandidos e desordeiros”. Partindo de premissa de que
estaria havendo (em certas áreas realmente havia) um aumento de banditismo e do
roubo de gado, o governo provincial declarou sujeitos a recrutamento
obrigatório todos os homens não brancos que não pudessem provar seu estado de
proprietário ou de empregado regular. Uma vez recrutados, seriam utilizados
pelo estado em obras públicas, ou cedidos a empresas privadas (fazendas,
empresas de navegação, etc.) que necessitavam de trabalhadores. Os seringueiros
estavam entre os que eram regularmente aproveitados no Corpo de Trabalhadores,
uma vez que o estado não considerava que a extração da borracha atestasse a
posse da terra ou o emprego permanente. Daí que, em 1846, um vice-presidente da
província registrasse a seguinte queixa a respeito do distrito das ilhas:
“existem muitos criminosos, e alguns destes evadidos das prisões, desertores,
escravos fugidos e outros indivíduos, que embora aplicados, como se diz, no
fabrico da seringa, vivem, todavia como independentes”. Aparentemente, a
principal preocupação do governo não era se essa gente estava empregada de
maneira rendosa ou produtiva (uma vez que a extração da borracha parecia ser
uma atividade rentável), mas sim se trabalhavam em “ocupações” em que pudesse
ser supervisionada de perto e onde sua força de trabalho pudesse ser explorada
em benefício da elite tradicional. (O que dizer desse comportamento estúpido e
contrário ao desenvolvimento da atividade gumífera).
Desde o início, o
Corpo de Trabalhadores mostrou ser um triste fracasso. A província simplesmente
não possuía força militar de dimensão e competência suficientes para patrulhar
tão vasta região, ou para vencer a resistência generalizada ao recrutamento.
Assim sendo, na década de 1860 o Corpo já havia sido extinto. Não obstante,
paraenses de prestígio continuaram a protestar contra “o emprego quase
exclusivo dos braços na extração e fabrico da borracha”, argumentando que isso
fomentava a criminalidade e tronava o setor agrícola fadado à decadência. (Essa
postura burra da elite dominante mostra a total miopia em relação ao valor da
atividade econômica da borracha, pois nunca procurou ou admitiu considera-la
como atividade agrícola, desde que saísse da extração, do empirismo
extrativista, em plantio, como sabiamente fez o inglês. O resultado todos
conhecemos: estagnação e pobreza). Havia, naturalmente, alguns
agricultores e fazendeiros de mais sorte, cujas propriedades incluíam também
estradas de borracha. O juiz de paz do rio Guamá, visitado por William Edwards
em 1846, estava transformando gradativamente parte de sua fazenda em um
seringal. E certo senhor Seixas, que hospedou Alfred Wallace durante sua viagem
de 1851 pelo Tocantins, teve a sorte de descobrir inúmeras Heveas no meio de seus cacauais. Alguns proprietários de terra,
contudo, eram contrários à ideia de explorar suas seringueiras. O Barão de
Pombo, chamado por Edwards de “o maior proprietário da província”, devia sua
riqueza e fama às fazendas, plantações, moinhos e mais de mil escravos que
possuía. Contudo, as inúmeras Heveas
que havia em sua propriedade na ilha Mexiana foram mantidas intocadas – pelo
menos até meados da década de 1850, quando um bando de antigos cabanos invadiu
a ilha e começou a sangrar as árvores em proveito próprio. Com base nos
registros de posse de terras, a maior parte dos fazendeiros e dos criadores de
gado não tinha condições de fazer uma transição rápida da agricultura para a extração da
borracha. Apesar de duas terças partes da ilha de Marajó consistir de densas
florestas ricas em Hevea, poucos
fazendeiros possuíam alguma posse nas áreas produtoras de borracha. Na verdade,
os registros relativos a Breves e Anajás (ambas, zonas de seringueiras no
Marajó) não mostram sequer um nome normalmente associado à elite de fazendeiros
entre os 989 assentamentos até 1872. Essa é a razão por que muitos
proprietários de terras tinham de competir por trabalhadores com a economia
extrativa, ou juntar capital suficiente para adquirir mais escravos africanos.
(incrível, mas verdade). Contudo,
mesmo esta última alternativa foi se tornando cada vez mais insustentável. Em
consequência de pressões inglesas, oficialmente o Brasil tornou ilegal o
tráfico de escravos africanos em 1831; contudo, o governo eximiu-se de executar
a proibição, do que resultou um maciço contrabando – exceto nas regiões mais ao
norte, onde navios ingleses com base no Caribe tiveram amplo êxito na extinção
do vergonhoso tráfico. Afinal, em 1851, o comércio de escravos foi efetivamente
interrompido em todo o Brasil, e o comércio interno de escravos que
imediatamente o substituiu atendia quase que exclusivamente às florescentes
zonas cafeeiras do Rio de Janeiro e São Paulo. Na verdade, a Amazônia jamais
fora um “consumidor” de peso de mão-de-obra escrava, registrando, em 1819, uma
participação de apenas 4% da população escrava do Brasil, porém, um município
agrícola, como Igarapé-Miri, com inúmeras fazendas de açúcar e de arroz e uma
população escrava inferior apenas à de Belém, sem dúvida sofreu, ao longo do
tempo, com escassez de escravos. E foram atingidas até as áreas pecuárias do
Marajó, onde, em 1832, 18% da população eram de escravos. Nessas circunstâncias,
era quase inevitável que houvesse certa dose de hostilidade em relação à
florescente economia da borracha e contra os negociantes estrangeiros
adventícios que com ela lucravam.
Armando Soares – economista
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