Amazônia
Por Armando Soares
“As pessoas não podem
delegar ao governo algo que seria ilegal elas próprias fazerem”.
(John Locke)
O que a
Amazônia significa para os amazônidas paraenses? Deveria representar
oportunidades para investimentos, desenvolvimento, geração de renda, emprego e
qualidade de vida, para os amazônidas e brasileiros. Entretanto, a história
comprova que a Amazônia se transformou numa região de saque, discriminação,
produto de troca e vazio de poder, cenário de difícil superação. Sua história é
rica em exemplos de obstáculos para o seu desenvolvimento, com destaque para o
vazio de poder (ausência do estado brasileiro), o que facilita o saque, com
destaque para o endocolonialismo praticado secularmente pelas elites políticas
e econômicas dominantes. Enquanto os estados amazônicos não se libertarem dos
obstáculos que impede o seu desenvolvimento, dessa escravidão, dessa canga, não
haverá desenvolvimento e a pobreza aumentará, assim como os conflitos de toda a
natureza. Relatório da mineradora Vale classificou, em passado recente, os
municípios paraenses como "sonolentos", naturalmente querendo dizer
com isso que os municípios paraenses estão presos secularmente pela preguiça,
pela incompetência do povo amazônico, e, como consequência pelo
subdesenvolvimento, anomalia econômica que cabe encaixar na teoria de Gunnar
Myrdal, em sua obra Economic Theory and Underdeveloped Regions (1957). Ele é um
dos autores centrais da formulação do modelo de causação circular cumulativa,
cujo foco eram as relações estabelecidas entre espaços desequilibradamente
desenvolvidos, que acarretariam uma trajetória de crescente agravamento das
disparidades matriciais nos níveis de desenvolvimento. Analisando
comparativamente os níveis de desenvolvimento econômico entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento, Myrdal (edição brasileira de 1972) constata
três situações simultâneas: existe um pequeno número de países prósperos e uma
grande quantidade de países extremamente pobres; os países prósperos
encontram-se em processo de desenvolvimento contínuo, enquanto os países pobres
defrontam-se com um nível médio e lento de desenvolvimento, quando não estão
estagnados ou mesmo em retrocesso. A base teórica de sua contestação parte da
premissa de que existe um processo de causação circular cumulativo, cujos
efeitos surgem de uma mudança social ou econômica primária, que está na
essência da explicação do porque se verifica e amplia as desigualdes entre países e regiões
prósperos e pobres, e, consequentemente, da disparidade entre seus respectivos
níveis de desenvolvimento, se constituindo este processo como mais adequado
para a análise de tão crucial questão, que a interseção das curvas de demanda e
oferta a um preço de equilíbrio automaticamente determinado pelo mecanismo do
mercado. Entretanto, sabemos que a ausência de mão de obra qualificada para
aproveitamento em grandes projetos deve-se ao processo de estagnação econômica
e cultural que atingiu a região de quando da derrocada da economia da borracha
arquitetada pela pirataria inglesa com total apoio do governo brasileiro
objetivando atender aos interesses dos “barões” do café, o que representou uma
troca inusitada e sem par na história econômica dos povos – a troca da borracha
pelo café. Como bem evidenciou Edward W. Said, o "mito do nativo indolente
é sinônimo de dominação, e a dominação baseia-se no poder." O
comportamento da elite dominante brasileira localizada no Sul/Sudeste, por mais
honesta que seja, reflete uma cultura colonialista e mesmo considerando bom o
discurso e as intenções brasileiras, que nunca foram sinceras, quando
transformados em planos, programas ou projetos para o desenvolvimento,
funcionam como vazo comunicante para despejar recursos públicos nas mãos de
maus políticos e de empresários piratas, ou seja, é veículo de saque e de
exploração. Em síntese, em relação à Amazônia, nossa elite política age como
colonizadora e o povo amazônida responde como colonizado, subjugado pelo poder
e pelas vicissitudes, anomalias que poderiam explicar sociologicamente a
indolência e a "sonolência" dos municípios.
A partir das experiências desastrosas
praticadas para planificar economicamente à Amazônia, realizadas por governos
identificados apenas com os interesses das regiões sul/sudeste/centro-oeste e
de países ricos sem nenhum conhecimento da Hileia amazônica, podemos afirmar
sem receio de cometer erro de avaliação, que uma das causas principais da
estagnação e do saque que se realiza na região, resulta da fragilidade e
inadequação de políticas governamentais para a região, isto porque já ficou
exaustivamente comprovada que planificar para a Amazônia, simplesmente uma
referência geográfica, redunda em fracasso, como é exemplo, o Plano de
Valorização Econômica da Amazônia, a política ambiental intitulada Proposta
para a Conservação da Floresta Amazônica Brasileira, incluído o zoneamento
econômico-ecológico, a Política Nacional Integrada para a Amazônia Legal, a
qual os políticos ligados a FHC tiveram a audácia e cinismo de chama-la a
"bíblia" amazônica ou livro da sabedoria, projeto demagógico que se
propôs, num passe de mágica, erradicar a pobreza, o saque, a discriminação e
reverter o quadro mais que secular da estagnação, política hipócrita
enriquecida no governo Lula, simpático a causa ambientalista-indigenista que
contribuiu, como Fernando Henrique Cardoso, para o engessamento da Amazônia
facilitando as ações de ONGs estrangeiras para consolidar a dominação
estrangeira e o controle das riquezas minerais, biodiversidade e outras, de
forma sutil sem intervenção militar. A Política Ambiental Brasileira espelha
com autenticidade e fidelidade o documento oficial que acaba com a soberania
amazônica, e transforma em soberania relativa, reduz a região a um “produto de
troca” para servir a interesse de estrangeiros e brasileiros do sul, sudeste e centro-oeste,
confisca sutilmente a propriedade privada através da reserva legal (confisco
disfarçado), inexistente em qualquer parte do mundo, limita o crédito às
exigências ambientais impossíveis de serem cumpridas, cria custos e, no médio
prazo mata o núcleo produtivo florestal e agropecuário, atividade que sustenta
o PIB regional e/ou submete esse núcleo às regras estabelecidas pelo aparato
ambientalista-indigenista internacional e a criação de “municípios verdes”,
invenção da ONG IMAZON e do pífio governo paraense, para promover seu
enriquecimento e meio de se infiltrar nos órgãos governamentais e suas
instituições. Anunciada a proposta de conservação da floresta amazônica pelo
governo Collor, Manu militari, como
sempre acontece quando se trata da Amazônia, é logo integrada à política de
desenvolvimento regional (que nunca existiu efetivamente, ficou apenas no papel
e no discurso), teve, e continua a ter, como não podia deixar de ser, profundas
repercussões na Amazônia, interrompendo o processo de desenvolvimento regional
iniciado com muita competência no governo do presidente Castelo Branco.
Presidente Castelo Branco
A
Amazônia até os nossos dias não passou de laboratório de experiências insanas e
sempre foi considerada como quintal do Brasil, até o momento em que pela
constatação de suas riquezas passou a ser objeto de cobiça internacional como
transparece a política ambiental com a implantação de reservas ricas e a
presença de centenas de ONGs estrangeiras.
Armando Soares – economista
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