Possivelmente a maior parte das pessoas já tenha ouvido falar da lenda de Robin Hood. A história medieval atravessa os séculos e se revigora nos dias contemporâneos, principalmente graças às maravilhas das superproduções cinematográficas, que popularizaram a história do personagem britânico.
“Roubar dos ricos para dar aos pobres” tem sido a máxima que acompanha o mito em sua versão mais conhecida, aliás, bastante propícia para ser oportunamente aproveitada, em tempos de alta do pensamento politicamente correto, por defensores de teorias igualitárias e coletivistas. Na linha oposta, os defensores dos ideais conservadores lamentam a popularização e o glamour de a quem não consideram mais que um ladrão.
Afinal de contas, seria Robin Hood um herói ou um fora-da-lei?
Que tal então fazermos uma análise da lenda, em sua linha essencial, como um meio de decifrar a questão?
Com base na versão do filme “Robin Hood, O Príncipe dos Ladrões”, estrelado por Kevin Costner, a saga tem início no século XIII, quando Ricardo Coração de Leão, o prestigiado Rei da Inglaterra, parte com seu exército para engrossar as fileiras cristãs nas Cruzadas. Interinamente, o governo passa às mãos do sherife de Nottingham.
O temido vilão, ambicionando tomar o trono para si próprio, passa a perseguir os nobres e demais súditos leais ao rei, entre os quais, o próprio pai de Robin Hood, o lorde de Locksley e lota a corte com uma multidão de apadrinhados compostos principalmente por clérigos corruptos e ávidos funcionários públicos (Alguma coincidência com o nosso Brasil do século XXI, com seus “Freis Bettos”, “teólogos da libertação”, mensaleiros e cerca de trinta mil cargos de confiança criados só para servir de cabide de emprego a quem o povo alijara da vida pública por meio do voto ?), os quais lhes prestarão o apoio legitimador de suas tiranias, entre as quais exigir pesados impostos dos camponeses, artesãos e feirantes.
Neste contexto, surge Robin Hood, que lidera o povo humilde em uma campanha de resistência comparável a uma atividade de guerrilha, em que comanda saques a caravanas e a pequenos grupos de militares, até que, suficientemente munido de recursos materiais e já tendo consigo uma respeitável hoste de guerreiros treinados, parte para o confronto aberto, retomando o poder e restaurando o trono para seu legítimo rei.
Há outras versões para o filme, uma das quais a figura do xerife de Nottingham é substituída pela do príncipe John, ou a de que Robin Hood não teria uma ascendência nobre. De qualquer forma, tais desvios não chegam a alterar a sinopse do enredo, tal como foi aqui formulada.
Terá o leitor notado algo de novo, alguma informação diferencial? Talvez não, pelo menos aparentemente. Mas aqui tem lugar a nossa proposta: veja que Robin Hood, mais precisamente, não “roubava dos ricos para dar aos pobres”. Na Inglaterra medieval, não havia entre os ricos quem trabalhasse. Isto somente se deu quatro ou cinco séculos mais tarde, quando, por meio de muito sacrifício e sangue, um grau suficientemente razoável de liberdade individual foi conquistado, o que possibilitou aos camponeses, artesãos e feirantes prosperar por meio do trabalho, e que mais tarde viram a se transformar em fazendeiros, industriais e comerciantes.
Naquele tempo, como é fácil de se inferir, “ricos” eram os que desfrutavam os privilégios da corte e que viviam a boa vida graças à brutal (em sentido literal) exploração dos que trabalhavam arduamente. Talvez, portanto, fosse mais propício dizer que Robin Hood “roubava dos nobres para dar aos pobres”, mas nem esta expressão seria exata, já que estes não eram de fato nobres, mas impostores proclamados ilegitimamente.
Enfim, seja qual for o mote, que se esclareça: os ricos daquele tempo não eram os mesmos dos tempos atuais, isto é, daqueles que se afirmaram por meio de trabalho honesto. Infelizmente, no Brasil de hoje, como na Inglaterra de setecentos anos atrás, a classe rica vem novamente sendo representada cada vez mais por burocratas que já tomam ares de uma casta, como que se achando “nobres”, enquanto, a pretexto de acabar com a pobreza e as mazelas, expropriam o fruto do trabalho dos cidadãos por meio de uma carga tributária que não pára de crescer. Brasília já detém a maior renda per capita de nosso país, o que somente pode ser interpretado como uma deplorável vergonha e uma alarmante aviso.
No contexto da lenda, agora melhor compreendida, é possível resgatar o mérito do heroísmo de Robin Hood, embora não pelos mesmos motivos defendidos ultimamente. Que esta lenda, agora revigorada, sirva de inspiração para todos os que leram este artigo, de forma a não mais permitirmos xerifes de Nottinghams a roubar-nos a liberdade e os nossos bens.
Caro Klauber,
ResponderExcluirConcordo com você que Robin Hood é um dos personagens mais mal interpretados de todos os tempos.
Os nobres daquele tempo eram os beneficiários dos impostos escorchantes que a Coroa inglesa cobrava da plebe, sem lhe dar qualquer retorno. A luta de Robin Hood não era, portanto, contra os ricos, mas contra a espoliação promovida pelo Estado e a sua voracidade arrecadatória, que deixava aos mais pobres apenas o suficiente para a sobrevivência.
A injustiça contra a qual se insurgiu o herói não tem nada de semelhante com a famigerada luta de classes marxista, mas, antes de tudo, representa a bravura de um homem contra o poder absoluto e despótico daquele que Hobbes viria a chamar, posteriormente, de Leviatã.
Um abraço
João Luiz Mauad