Censura
mascarada
Por Armando Soares

Muito se
escreve e fala-se em censura como se fosse própria de regimes ditatoriais ou de
impérios dominadores. Entretanto a censura também é arma poderosa usada em
regime democrático pela imprensa mercantilista comportamento que evita que a
sujeira, a verdade venha à tona e possa ser conhecida da sociedade brasileira que
infelizmente vive e pensa através dos outros e não por si próprio, por isso
perdeu a alma, a liberdade para servir a governantes e políticos sórdidos.
Pior, muito pior de que um ditador estúpido e de seus soldados animalescos é a
censura praticada nas sombras, dentro de uma democracia ou pseudos democracias,
em revistas, jornais e outros meios de comunicação.
O que é
censura? Censura é o uso pelo estado ou grupo de poder, com objetivo de
controlar e impedir a circulação de informação de interesse da sociedade. Entretanto,
numa democracia a censura interesseira obstaculiza informações importantes em
proveito próprio. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa
de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas
da arte. O propósito da censura está na manutenção do status quo, evitando
alterações de pensamento num determinado grupo e a consequente vontade de
mudança. Desta forma, a censura é muito comum entre alguns grupos, como certos
grupos de interesse e pressão (lobbies), religiões, multinacionais e governos,
como forma de manter o poder. A censura procura também evitar que certos
conflitos e discussões se estabeleçam para mascarar a realidade.
A censura pode ser explícita, no caso
de estar prevista na lei, proibindo a informação de ser publicada ou acessível,
após ter sido analisada previamente por uma entidade censora que avalia se a
informação pode ou não ser publicada, ou pode tomar a forma de intimidação
governamental ou popular, onde as pessoas têm receio de expressar ou mostrar
apoio a certas opiniões, com medo de represálias pessoais e profissionais e até
ostracismo. Pode também a censura ser entendida como a supressão de certos
pontos de vista e opiniões divergentes, através da propaganda, contrainformação
ou manipulação dos meios de comunicação social. Esses métodos tendem a
influenciar opinião pública de forma a evitar que outras ideias, que não as dos
grupos dominantes, tenham receptividade. Formas modernas de censura referem-se
a limitações de acesso a certos meios de comunicação, ao modo de atribuição de
concessões de rádio e televisão por agências reguladoras ou a critérios
editoriais discricionários, segundo os quais um jornal, por exemplo, pode não
noticiar determinado fato.

Muitas vezes a censura se justifica
em termos de proteção do público, mas, na verdade, esconde uma posição que
submete artistas, intelectuais e o próprio movimento social ao poder do estado
e infantiliza o público, considerado como incapaz de pensar por si próprio. Atualmente
a censura pode ser contornada mais eficazmente, com o recurso à Internet, graças
ao fácil acesso a dados, de maneira e independentemente de fronteiras
geográficas.
A convivência quotidiana com a
censura pode suscitar, entre os produtores culturais e formadores de opinião,
uma atitude de defesa bastante corrosiva - a autocensura, que consiste em
evitar a abordagem de certos assuntos ou a não expressar opiniões que possam
gerar situações de confronto com o poder.

Como é fácil ver, democracia e
censura são termos antitéticos, antagônicos, inconciliáveis. A democracia é
inconciliável com a censura porque a censura obsta o regular funcionamento da
democracia. É que uma das condições essenciais para o funcionamento da
democracia é a livre circulação de ideias, opiniões, fatos e o pluralismo
político, ideológico e artístico. E a censura é uma imposição autocrática e
unilateral de ideias e opiniões. Assim,
por violar um direito dos mais caros ao homem, a liberdade de expressão e
informação (hoje considerada uma instituição fundamental para o funcionamento
da democracia), a censura torna-se incompatível com a democracia.
A
liberdade de expressão e informação, consagrada em textos constitucionais, sem
nenhuma forma de censura prévia, constitui uma característica das atuais
sociedades democráticas. Essa liberdade é, inclusive, considerada como termômetro
do regime democrático. A liberdade de expressão e informação encontra-se, igualmente,
expressa em vários documentos internacionais: a Declaração dos Direitos Humanos
de 1948, aprovada pela ONU (art. 19); o Convênio Europeu para a proteção dos
Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais, aprovado em Roma no ano de 1950;
mais recentemente, a Convenção Americana de Direitos Humanos -Pacto San de José
da Costa Rica.
O objeto da liberdade de expressão
compreende os pensamentos, ideias e as opiniões, enquanto que o direito à
informação abrange a faculdade de comunicar e receber livremente informações
sobre fatos, ou seja, sobre fatos que podem ser "considerados
noticiáveis". No âmbito da proteção constitucional ao direito fundamental
à informação estão compreendidos tanto os atos de comunicar quanto os de
receber livremente informações pluralistas e corretas. Com isso, visa-se a
proteger não só o emissor, mas também o receptor do processo da comunicação. No
aspecto passivo dessa relação da comunicação, destaca-se o direito do público
de ser adequadamente informado, tema sobre o qual RUI BARBOSA já chamava a
atenção em sua célebre conferência "A imprensa e o dever de verdade"
e que, atualmente, invocando-se a defesa dos interesses sociais e
indisponíveis, desemboca na tese de que o direito positivo brasileiro tutela o
"direito difuso à notícia verdadeira".

Se a liberdade de expressão e
informação, nos seus primórdios, estava ligada à dimensão individualista da
manifestação do pensamento e da opinião, viabilizando a crítica política contra
o ancien régime, a evolução daquela liberdade, operada pelo direito/dever à
informação, especialmente com o reconhecimento do direito ao público de estar
suficiente e corretamente informado; àquela dimensão individualista-liberal foi
acrescida de outra dimensão de natureza coletiva: a de que a liberdade de
expressão e informação contribui para a formação da opinião pública pluralista
- esta cada vez mais essencial para o funcionamento dos regimes democráticos, a
despeito dos anátemas eventualmente dirigidos contra a manipulação da opinião
pública. Assim, a liberdade de expressão e informação, acrescida dessa
perspectiva de instituição que participa de forma decisiva na orientação da
opinião pública na sociedade democrática, passa a ser estimada como um elemento
condicionador da democracia pluralista e como premissa para o exercício de
outros direitos fundamentais. Destarte, conquanto a Constituição Federal em
vigor proíba qualquer forma de censura, o cidadão e especialmente os veículos
de comunicação social, no exercício da liberdade de expressão e informação, não
devem olvidar os direitos dos outros cidadãos ou ainda os direitos da
coletividade, sob pena de ocorrer abuso da liberdade de expressão e informação.
Vale concluir a exposição com as
palavras de RUI BARBOSA, bastante apropriadas para o espaço democrático que estamos
procurando construir e garantir, espaço democrático que reserva grave
responsabilidade para a liberdade de imprensa. Assim RUI BARBOSA pronunciou-se
na referida conferência: "A imprensa é à vista da Nação. Por ela é que a
Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe
malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou
roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou
destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que a ameaça. “Sem
vista mal se vive. Vida sem vista é vida no escuro, vida na soledade, vida no
medo, morte em vida: o receio de tudo; dependência de todos; rumo à mercê do
acaso; a cada passo acidentes, perigos, despenhadeiros. Tal a condição do país,
onde a publicidade se avariou, e, em vez de ser os olhos, por onde se lhe exerce
a visão, ou o cristal, que lhe clareia, é a obscuridade, onde perde, a ruim
lente, que lhe turva, ou a droga maligna, que lhe perverte, obstando-lhe a notícia
da realidade, ou não lhe deixando senão adulterada, invertida, enganosa".
Armando Soares – economista
Soares é articulista de LIBERTATUM
MAGNÍFICO ARTIGO!!!
ResponderExcluirMerece ser replicado. O brilhantismo é supremo.
Grato por sua manifestação, amigo. Continue prestigiando com sua valorosa atenção nosso LIBERTATUM.
ExcluirGrande abraço.
Ivan Lima
P.S. Levarei ao conhecimento do Armando sua manifestação sobre o artigo dele.