Primeiro Grande Saque
Amazônico (VII)
Por Armado Soares
Conflito entre a elite
da sociedade mercantil
e a atividade econômica da borracha.
Barbara
Weinstein mostra em seu livro que os moradores das áreas urbanas mais
importantes do Pará estavam preocupados com o crescente negócio da borracha,
pois temiam que a decadência na agricultura causasse escassez de alimentos e
elevação de seus preços, preocupação que levou o governo em 1860 a atrair os
seringueiros para trabalhar na agricultura, mesmo sabendo que os tributos
arrecadados no comércio da borracha estivessem enchendo os cofres provinciais
em volume nunca vistos. Contra a atividade da borracha ainda havia queixas de
que ela dispersava a população no interior, isto porque o tamanho das sedes
municipais, como a cidade de Breves, oscilava violentamente entre a estação
seca e a estação chuvosa. O que foi observado era que a atividade econômica da
borracha fixavam os seringueiros nos seringais, o que seria evitava que se
expandisse a agricultura. Os seringueiros não precisavam se deslocar para o
município porque tinha seu abastecimento efetuado pelo sistema de aviamento, e
não do mercado municipal.
Sobre
a decadência da agricultura, nada tem a ver com a atividade de extração da
borracha, pois estudos realizados sobre a agricultura do século XIX no Pará
demonstrou haver uma correlação surpreendentemente baixa entre o volume das
exportações de borracha e a produção agrícola naquela província. A decadência
do interior paraense distorce o quadro geral da agricultura. O surto da extração
da borracha deu origem a um período de estagnação e de relativa decadência da
agricultura paraense, particularmente entre 1880 e 1910, quando a população do
Pará cresceu rapidamente e se tornou cada vez mais urbana. Esse contraste entre
o setor da borracha em ascensão e o setor agrícola em decadência, levou a crena
de que a culpa era da borracha.
Hostilidade do Governo
Paraense à Economia Extrativa da Borracha
Barbara chama
atenção em seu livro de que a posição hostil adotada pelo governo da província
e pelos membros da elite política em relação à economia extrativa era
favorecida pela ausência quase total de indivíduos influentes entre os grupos
mais intimamente ligados ao negócio da borracha antes da expansão, fossem eles
seringueiros, comerciantes ou seringalistas. Observem que a atividade econômica
da borracha nasceu com a resistência do governo e da elite política paraense.
Nasceu, portanto, contra os próprios paraenses, o que pode justificar o
desinteresse de lutar pela borracha quando ela era transferida graciosamente
para as colônias inglesas. Repete-se em nossos dias algo parecido na Assembleia
Legislativa paraense com o ocorrido no passado quando os contrários eram
favorecidos pela ausência de grupos ligados a atividade da borracha, no caso de
hoje, ligados ao agronegócio, o que justifica as medidas nocivas impostas pelo
governo sem nenhuma reação dos deputados a favor dos produtores.
Distorção da Imagem do
Patrão
Na fase de
expansão da atividade econômica da borracha se perdeu tempo, como se perde até
hoje induzido pelos comunistas, sobre a imagem do patrão na Amazônia. O pano de
fundo dessa distorção eram os enormes domínios das casas comerciais e de um
grupo de poderosos seringalistas das terras nas regiões rio acima que se haviam
tornadas mais produtivas. Ao criticar a expansão da atividade econômica da
borracha, seus críticos esqueceram-se de informar que o sistema de propriedade
da terra que se desenvolvera nos municípios produtores de borracha mais antigos
e mais densamente povoados, como Breves, Anajás e Melgaço, era muito mais
complexo, e assim permaneceu, a despeito das incursões das firmas aviadoras
sediadas em Belém. Nessas áreas, muitos dos seringais eram pequenos, em termos
da Amazônia, medindo menos de um quarto de légua quadrada. Em sua maioria, as
famílias que tinham a posse dessas áreas eram provavelmente de origem humilde e
trabalhavam pessoalmente nas poucas estradas que possuíam. Muitos estavam
arrolados como analfabetos e, por isso, incapazes de assinar pessoalmente o
registro de terras, nomes sem acréscimo de sobrenome, sugere que pelo menos
alguns dos posseiros de áreas pequenas eram de extração indígena ou escrava.
Mesmo as maiores posses registradas na década de 1850 não apresentavam
dimensões como seringais. Barbara informa que encabeçando a lista de
latifundiários estava certo Antônio Luís Moura de Carvalho, que ocupava um
seringal de seis léguas quadradas aproximadamente 140 quilômetros quadrados, ou
34.560 acres, em Melgaço. Em qualquer outro lugar seria uma propriedade
principesca. Moura Carvalho estava muito satisfeito em ter algo como 450
estradas abertas de seringueiras, o que não é nada em comparação com as dez mil
estradas de seringueiras vendidas em Anajás, pelo Visconde de São Domingos no
auge da expansão da borracha. É preciso destacar que as estradas de
seringueiras nas regiões do rio abaixo não expressavam uma efetiva medida.
Portanto, a questão fundiária desse período não expressa a verdadeira
radiografia do tamanho das propriedades.
Concentração de
Propriedade
Assim a
concentração da propriedade fundiária em Breves, Melgaço e Anajás, antes de
1880 foram maiores do que as 950 inscrições registradas para o período
indicado. Não obstante, observa Barbara Weinstein, o quadro apresentado pelos
registros de terra – de um grande número de pequenos seringalistas de origem
humilde e uma quantidade muito pequena de seringais grandes – contrasta com as
descrições que se costuma fazer das áreas de seringueiras da Amazônia. A
própria existência de títulos fundiários para seringais já desde a década de
1850 contraria a imagem de uma zona selvagem de fronteira em que o direito
individual à terra se determinasse apenas pelas armas. Como também não havia
qualquer propriedade composta de “áreas de diversas centenas de milhas quadradas”
com milhares de trabalhadores escravizados por dívidas, em situação degradante.
Não que não houvesse qualquer disputa por escassez de terra, ou até mesmo
surtos ocasionais de violência contra concorrentes intrusos, ou vizinhos mais
francos; não era esse, porém, o único fundamento para as posses de terra na
érea.
Demarcação de Terras e
Posse
Weinstein
esclarece que é importante examinar se a região das ilhas era absolutamente
excepcional. Estabelecida muito tempo antes do período de expansão da borracha
– antes do surgimento das grandes casas aviadoras e da influência dos migrantes
nordestinos, e mesmo da introdução da navegação a vapor -, essa área esteve
sujeita a todo um conjunto de circunstâncias históricas distintas das zonas de
seringueiras do rio acima. As estradas de seringueiras em Breves e em outros
municípios rio abaixo, que eram os mais importantes centros de produção de
borracha até a década de 1880, eram usualmente abertas por seringueiros
independentes eu já haviam estabelecidos como posseiros em determinada área.
Isso contrasta completamente com áreas de rio acima, estabelecidas durante os
anos de expansão, onde poderosas casas comerciais ou poderosos comerciantes iriam
demarcar imensas extensões de terras, abrir estradas de seringueiras e, depois
recrutar indígenas locais como seringueiros, ou assentar retirantes da seca
cearense como arrendatários das estradas. O mais comum era a firma ou individuo
que controlava a área fundamentar sua posse, não por meio de títulos legalmente
reconhecidos, mas sim, através da violência. Em tais circunstâncias, o número
de modestos seringalistas que detinham posses oficialmente registradas de suas
estradas de seringueiras seria muito menor do que nas zonas de mais antigas
seringueiras.
Esse
e outros cenários amazônicos estão servindo para uma regularização fundiária
honesta ou tudo que está sendo feito tem dedo da politicagem e interferência de
políticas criadas pelo comunismo petista e de outros partidos mascarados de
democratas, mas na realidade também comunistas. A Amazônia política e fundiária
é uma farsa e precisa ser revista com urgência.
Armando Soares – economista
e-mail:
armandoteixeirasoares@gmail.com
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