Amazônia
(continuação- última parte)
Outras
tentativas de internacionalização da Amazônia: (1) a proposta de criação do
Instituto da Hileia Amazônica, que encontrou grande oposição por parte de
Arthur Bernardes, então deputado federal, e Augusto Meira, senador pelo Pará;
(2) o projeto científico da Academia de Ciências de Washington (1965), (3) o
projeto do Lago Amazônico, do Hudson Institute (1967/68), que faria sumir do
mapa da Amazônia, cidades como Santarém, Alenquer, Óbidos, Faro, Juruti,
Parintins, Itacoatiara e parte de Manaus. A oposição a duas últimas tentativas
esteve sob a liderança de Arthur César Ferreira Reis. No presente poderíamos
incluir a Proposta de Conservação da
Floresta Amazônica; a Lei de Patentes elaborada pelo governo; o Acordo
firmado entre a EMBRAPA e o Instituto Malaio de Pesquisa da Borracha (RRIM) que
oficializa o saque de material genético da seringueira e outras espécies
florestais, a que se associa a Política
Nacional Integrada para a Amazônia, do governo FHC dentro do programa de
abertura da economia brasileira, considerando-se a prioridade para grandes
projetos com apoio de capital estrangeiro e o esquecimento da civilização
amazônida, endossado e aumentado no governo Lula que engessou definitivamente
territorial e economicamente a Amazônia para atender interesses das nações
ricas e por grandes corporações econômicas.
O subdesenvolvimento da Amazônia
originária da estagnação imposta no passado de quando da transferência
programada da seringueira para o sudeste asiático e demais problemas, é também
resultado do desvio do desenvolvimento da região, para atender interesses
inconfessáveis, sendo a prova maior o aumento da pobreza, os conflitos
fundiários, invasões criminosas, presença alarmante de ONGs estrangeiras,
economia estagnada e corrupção abundante. As questões ecológicas de outras
regiões do globo terrestre não apresentam as mesmas características das da
Amazônia; questões amazônicas podem ser resolvidas no curto prazo e com
eficiência se o governo brasileiro tiver vontade política e boas intenções para
com a região. Com certeza a poluição e a desordem urbana não é responsabilidade
dos amazônidas e nem por isso sofrem intervenção do governo federal.
A Amazônia, ou melhor, os
estados amazônicos é o exemplo mais fiel do desrespeito ao regime federativo, coisa
que só existe no papel.
Saques amazônico relevantes:
a) estagnação econômica para
atender os interesses dos ingleses e da região sudeste, ou seja, trocou-se a
borracha pelo café atendendo os interesses do Sudeste e dos estrangeiros;
b) convocação de seringueiros,
seringalistas, agricultores e comerciantes para sustentar uma guerra (II Guerra
Mundial), o que representou o sacrifício de mais vidas para produzir borracha
do que soldados mortos na Itália. A compensação por esse sacrifício resultou
que o governo brasileiro negociou com os americanos a usina de Volta Redonda
para o Rio de Janeiro, deixando a Amazônia mais pobre e rica em malária;
c) confisco de imensas áreas de
terra no Pará e toda a riqueza mineral da região para o pagamento da dívida
externa brasileira, e posteriormente entregue aos índios, sócios dos
estrangeiros;
d) imposição de um programa
ambiental à região, concebido no seio da Comunidade
Europeia e Grupo dos Sete com
objetivo de obstaculizar o desenvolvimento amazônico e facilitar o seu domínio
por estrangeiros – venda disfarçada.
Quem usa a terra tem o seu domínio.
Fato importante e grave: o governo FHC facilitou a
presença de ONGs estrangeiras na Amazônia, o que o caracteriza como simpático
ao aparato ambientalista-indigenista, simpatia que o levou a entregar aos
índios na ONU a Amazônia, atitude seguida pelo governo Lula, este com decisões
que ferem profundamente a soberania amazônica, se curvando ao poder hegemônico
dos países ricos e poderosos.
O problema do governo brasileiro em relação à
Amazônia, além do desinteresse, da hipertrofia da visão e da vontade política é
acima de tudo do desconhecimento da sua potencialidade econômica, da realidade
sócio-econômica-ambiental e cultural e resultante de uma cultura colonial que
gerou uma elite política dominante descompromissada e insensível com os
interesses da região e com a vontade e sentimentos de seu povo, tendo como
alimentador dessa anomalia a cultura de colonizado do amazônida que se fecha e
admite pacificamente essa violência, principalmente quando se trata de elites
econômicas e lideranças empresariais voltadas para seus interesses no
Sul/Sudeste. Em razão do exposto, o governo brasileiro tem sido o maior instrumento
de desnacionalização da Amazônia, com repercussão profunda dentro e fora do
país, haja visto a visão deformada do brasileiro citadino a respeito da
floresta amazônica que não é e nunca foi o pulmão ou refrigerador do mundo, puro
besteirol, enganação de piratas internacionais, o que caracteriza o menosprezo
de brasileiros de outras regiões ao amazônida.
Merece espaço, nesta ocasião, as
considerações do escritor e historiador Edward W. Said, sobre as
características da representação das velhas desigualdades imperiais, a qual bem
se encaixa a ação do governo brasileiro em relação à Amazônia. Diz o
historiador que uma das características das velhas desigualdades é o imenso
abismo econômico entre Estados ricos e pobres, verdade que se encaixa ao Brasil
rico (Sul/Sudeste) e o Brasil pobre e saqueado – a Amazônia e o Nordeste.
Fome, pobreza, miséria, doença e
desesperança, subprodutos da insensatez de homens públicos, não mais podem ser
tratados com cinismo, desrespeito e prepotência na Amazônia. Por isso, reagiremos
de forma contundente, enquanto sentirmos inconsistência e insinceridade nos
programas governamentais e enquanto persistir o processo de pauperização em
curso na região, originário de modelos, prioridades inadequadas e políticas
públicas, agora com o agravante da implantação das “bolsas” de misericórdia da
politicagem demagógica, e, principalmente enquanto a Amazônia estiver sendo
tratada como produto de troca e sob o assédio de cobiça.
Dentro de uma correta avaliação
de alternativas e enquanto não se garantir principalmente ao amazônida nativo o
avanço às condições materiais de trabalho e da qualidade de vida, mas de fato e
não de discurso, deve ser ponderada a existência de consideráveis recursos
humanos nos trabalhos da floresta. Esse contingente humano, com grande
potencial de trabalho dentro do seu habitat, torna-se mão-de-obra
desqualificada fora dele, criando graves problemas pelo alargamento das
periferias urbanas. Em suma, o custo de oportunidade do indivíduo expulso da
floresta por imposição de modelos e políticas governamentais inadequadas, e de
ações de ONGs, transforma-se, como vem ocorrendo, num valor nulo e até mesmo
negativo, confirmando-se a construção de guetos de pobreza que alimentam a
política podre, cenário que tem como defensores ignorantes e religiosos, como é
exemplo a resistência ao plantio racional de arroz no Marajó.
A Amazônia contemporânea pobre e
sem horizonte é resultante de 345 anos de exploração, retratada pelos seguintes
principais cenários históricos que impediram seu desenvolvimento:
1) Exploração da borracha (1.750 a 1910/12), período que determinou a
efetiva ocupação da região e a construção da civilização amazônica, estagnada
economicamente com a troca da borracha pelo café com os ingleses;
2)
Esforço de Guerra (1942/45) que gerou o monopólio estatal do comércio e
produção da borracha, criou o Banco da Borracha, hoje Banco da Amazônia; foi o
responsável pela escravização econômica do seringueiro, pela transferência de
renda para a formação do parque industrial de borracha no sul/sudeste
brasileiro e da origem dos conflitos de terra entre seringueiros e fazendeiros
e, significativamente da intensificação da estagnação da região. Esse cenário
vai de 1.942 a 1965, quando se deu o rompimento do monopólio estatal;
3)
Planificação econômica da região, a chamada "Operação Amazônia" de
1967, destruída pelo governo civil mal-intencionados e comprometidos com outros
interesses que não os brasileiros; planificação imposta nociva que envolve o
Plano Integrado para a Amazônia do governo Fernando Henrique Cardoso e a atual
política ambiental enriquecida pelo governo LULA, que consolidou o engessamento
territorial e econômico da Amazônia para servir aos interesses estrangeiros.
A Amazônia Clássica, a Hileia
Amazônica não se confunde com a Amazônia Legal dos incentivos fiscais, rica em
corrupção. Por outro lado, a Amazônia nada mais é do que uma figura geográfica,
fato que vem causando grandes prejuízos ao desenvolvimento econômico aos
estados amazônicos, que com isso sofrem intervenções federais permanentemente
através da imposição de planificações, todas fracassadas, pois é impossível
planificar para a Amazônia como um todo e, pior, anomalia que tira dos estados
amazônicos sua autonomia ferindo o direito constitucional e o regime federativo.
A intervenção federal e estrangeira na Amazônia
frustrou gerações, destruiu a juventude, sonhos e projetos. A atual geração e a
próxima herdaram uma Amazônia comprometida com projetos estrangeiros que
transformou a região amazônica num grande gueto de dependentes e miseráveis e
numa ilha de prazeres e felicidades para grupos econômicos ou políticos
demagogos e desonestos.
Infelizmente a Amazônia com seus estados não faz
parte do Brasil é apenas uma terra rica com um enorme vazio de poder! O
brasileiro ainda não assumiu a Amazônia como fizeram os países ricos. A verdade
é que o Estado brasileiro é um corpo doente, cego por conveniência,
desonestidade, incompetência, politicagem e corrupção.
Por tudo isso e por força de uma
experiência sofrida, conhecemos bem os homens, sua mesquinhez e seus vícios.
Uma geração e uma vida passam rápidos para que se admita que fome, miséria,
doenças e desesperança possa ser o horizonte de brasileiros amazônidas
ignorados desumanamente por elites perversas e cínicas.
Os amazônicos não podem mais se
sujeitar a uma humanidade enceguecida, é preciso honrar a vida lutando contra
quem quer a submissão e a escravidão.
Armando
Soares – economista