sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

crch
Por que razão a ideia de um Criador parece inacreditável a tanta gente? Porque a própria ideia da criação tornou-se inconcebível. A maior parte das pessoas nunca criou nada, nem um humilde poema para namorada, nem uma musiquinha com três acordes a falar de estrelas ou coisa assim. Mesmo os chamados "criadores" de hoje limitam-se a repetir as mesmas formas que já deram provas de sucesso ou, pior ainda, tentam desconstrui-la.
Hoje as pessoas encontram-se longe dos criadores, quer dos autênticos ou dos farsantes. Os criadores de grande parte dos produtos oferecidos às massas estão escondidos por trás do nome de uma produtora, e na frente aparece alguma "estrela" fabricada em laboratório para dar um rosto àquilo. Os criadores mais autênticos que ainda existem encontram-se numa espécie de desterro, seja por opção própria ou de maneira forçada.
O lançamento de um livro na Antiguidade consistia na sua leitura em público pelo autor. As pessoas ouviam Beethoven estrear as suas obras, dirigir a orquestra, improvisar ao piano. Claro que poucas pessoas assistiam a estes eventos, mas eles eram depois contados e recontados várias vezes, aproximando assim as pessoas aos criadores.
Mas se o contacto com os criadores é hoje quase impossível, o contacto com as obras de arte banalizou-se. Os grandes museus tem milhares de pinturas e esculturas. Cada coisa merece uns segundos de atenção apenas. Na Internet podemos ver reproduções de qualquer coisa mas tudo aquilo fora do seu enquadramento original perde o seu carácter quase mágico, como se a obra de arte tivesse de mendigar a nossa atenção.
A arte banaliza-se também de forma industrial, de onde derivam ícones infinitamente reproduzíveis, seja na publicidade, em canecas, guarda-chuvas, montagens de imagens com fins humorísticos e assim por diante. Por incrível que pareça, considera-se hoje que criativo é o sujeito que descobre uma nova forma de usar a Mona Lisa para fazer uma piada com uma situação política do momento.
O acto de criação é, também, uma participação na criação divina. Portanto, é tanto uma construção quanto uma descoberta. E ali percebe-se que o Criador quer dar-se a conhecer mas que nós quase sempre recusamos conhecê-Lo. Pode ser por receio ou pode ser por orgulho e pelo desejo de fazermos tudo por nós mesmos e substituir Deus. Daqui surgem dois tipos de arte, uma delas que pretende que quem se depara com ela se eleve e outra que pretende dominar os consumidores-objecto.
Fonte: Mídia Sem Máscara

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