segunda-feira, 24 de abril de 2017

Gerações sacrificadas

Por Armando Soares

            Os políticos e governantes brasileiros são peritos em sacrificar gerações, o que pode explicar o gigantesco fosso que nos separa dos países desenvolvidos. Esse cenário estabelece um paradoxo, ou seja, como explicar que a inteligência dos brasileiros se submeta ao comando de indivíduos comprovadamente insanos, incompetentes, desonestos, imorais, aéticos e cínicos durante 3 a 4 séculos? Se essa verdade histórica não é válida para todo o Brasil, o que tenho dúvida, certamente é válida para a Amazônia e em boa parte para o Nordeste.

                  Vou me ater a tratar das gerações sacrificadas na Amazônia, particularmente no Pará e em Belém, onde tenho mais intimidade dado a minha vivência nessa região e ao estudo que realizo a bastante tempo para entender por que a Amazônia sendo uma região tão rica continua subdesenvolvida gerando pobreza.

                A Amazônia foi um presente dado pelos portugueses que os brasileiros nunca vão pagar. Diante do total desconhecimento das riquezas amazônicas que acompanha os brasileiros desde o momento em que os portugueses nos entregaram a Amazônia, idiotice que se propaga no tempo, estamos certos de que dificilmente os amazônidas terão a satisfação de ver a sua região desenvolvida no curto, médio e longo prazo, considerando o atual cenário político e institucional atual e o fosso intelectual que nos separa do mundo desenvolvido.

Voltando no tempo, mesmo sabendo que não tínhamos uma classe empresarial com saúde para promover e sustentar o desenvolvimento da Amazônia a época do boom da borracha, poder-se-ia atrair investidores estrangeiros para essa finalidade, na certeza de que teríamos sucesso. Por que essa certeza? Porque a invenção do pneumático, do carro e do avião só poderia materializar-se com a borracha, e o único produtor da borracha no mundo era a Amazônia. Ingleses, americanos, franceses, italianos, holandeses tinham consciência dessa verdade, e sabiam que o processo de industrialização que a borracha iria provocar iria trazer um extraordinário e acelerado desenvolvimento em todo o mundo, com vantagens para o país que produzisse a borracha. A borracha promoveu a revolução do sistema de transportes no mundo como a história e a realidade econômica comprova.

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Teatro da Paz - Belém

Desse momento histórico amazônico nasce o primeiro sacrifício imposto a uma geração, sacrifício como mostraremos se repetirá em outros momentos. Vivia-se em Belém nessa época, graças a economia promovida pela exploração da borracha, como se estivéssemos no Primeiro Mundo. Os paraenses educavam seus filhos na França e Paris era mais visitado do que o Rio de Janeiro. Essa qualidade de vida foi interrompida pela elite política e econômica centrada no Sudeste brasileiro, uma elite perniciosa aos interesses amazônicos e do Brasil face a incompetência desse pessoal. Os políticos, sempre eles, e a classe governante decidiram unilateralmente que não interessava ver a Amazônia desenvolvida, decisão que levou os ingleses a levarem as sementes da seringueira para planta-la no Sudeste Asiático. Após 20 anos, quando os ingleses começaram a produzir sua borracha com menor custo produzida em seus plantios no Sudeste Asiático, a economia amazônica e paraense entrou em colapso. A região ficou sem sustentação econômica, estagnou, a sociedade empobreceu, acontecimento que deixou a próxima geração sem horizonte, sem perspectivas. O golpe na economia foi tão profundo que alcançou os nossos dias, deixando a região sem forças e sem encontrar uma célula econômica tão significativa como a borracha que pudesse sustentar o custo de manutenção da região e produzir desenvolvimento. Sobrou para a nova geração que despontava apenas bons costumes, boa educação e nada mais, herança que o tempo destruiu por razões óbvias. De ricos e de boa qualidade de vida, os amazônidas foram transformados em molambos, em farrapos humanos por políticos estúpidos, sem capacidade mental para perceber a força econômica da borracha.

O segundo sacrifício imposto a geração amazônica pela elite política brasileira aconteceu muitos anos depois, no governo militar que teve início com o presidente Castelo Branco. Militar brilhante, profundo conhecedor da Amazônia e de sua potencialidade, assim como de seus problemas econômicos e sociais. Castelo Branco logo mostra suas intenções boas intenções ao colocar a frente do Banco da Amazônia o saudoso e competente Armando Mendes e sua equipe, com o compromisso de implantar um programa para promover o desenvolvimento econômico através da iniciativa privada, o motor próprio para essa tarefa. Em pouco tempo os efeitos dessa política se fez sentir em toda a região amazônica, com destaque para Belém, território onde se instalaram dezenas de empresas as mais diversificadas, como de bebidas, refrigerantes, sorvetes, parafusos, vidros, óleos, sacaria, pesca, borracha, e outras tantas. Belém, após longo tempo entregue a sua própria sorte, começou a pulsar economicamente gerando emprego, renda e qualidade de vida a população. Infelizmente o sonho de desenvolver Belém durou pouco. A saída de Castelo Branco da presidência da república, afastou do comando da economia amazônica toda a equipe de Armando Mendes, substituída seguidamente por pessoas sem nenhum preparo e conhecimento da região, o que resultou na destruição de todo o núcleo industrial belemense promovido, por incrível que pareça, pelos órgãos de desenvolvimento, SUDAM e BASA, responsáveis pela sua criação durante a gestão de Armando Mendes. Com novas administrações medíocres, BASA e da SUDAM, se transformaram no paraíso da malandragem com destaque para a manipulação dos incentivos fiscais por agentes corretores a serviço das empresas do sul e sudeste, o que se configurou como uma espécie vaso comunicante, ou seja, a parcela do imposto de renda das empresas que era dirigido a projetos na Amazônia voltavam as empresas através do alto percentual de corretagem paga ao corretor que era ligado as empresas optantes do imposto de renda a projetos amazônicos. Foi esse mecanismo mercadológico mafioso de percentual elevadíssimo que promoveu a descapitalização das empresas regionais e matou as empresas recém-nascidas, que determinou o insucesso da tentativa de criar um parque industrial paraense. Acrescente-se  a esse cenário o seguinte absurdo: o empresário paraense, obedecendo o critério determinado pela lei de incentivos fiscais, aplicava a sua parte no investimento com recursos próprios (30%), ficando aguardando a contrapartida dos incentivos fiscais (70%) a ser liberado pela SUDAM e BASA; isso não acontecia de imediato, mas a médio prazo, fato que defasava o cronograma financeiro em consequência da inflação galopante à época; por sua parte a SUDAM não corrigia automaticamente o cronograma financeiro, obrigando ao empresário a apresentar um novo projeto que levava muito tempo para aprovação, procedimento obrigava aos empresários a solicitarem empréstimo ao BASA para dar continuidade a implantação do projeto; a administração do BASA, por pura idiotice e sem nenhum motivo que justificasse, determinou a  execução dos empréstimos que estavam garantidos pelos recursos oriundos dos incentivos fiscais, ação que levou a morte prematuramente todas as empresas antes de maturação do seu investimento. Esse foi o processo criminoso que matou todas as indústrias em processo de montagem; um ato criminoso dos diretores e administradores do BASA e da SUDAM realizados no período do governo militar. Salvo os projetos agropecuários, que tiveram a sorte de sobreviver, durante esse período, toda a tentativa de industrializar o Pará foi sabotada pela incompetência administrativa dos dois órgãos responsáveis para estimular o desenvolvimento econômico. Fato importante a registrar é que se os projetos agropecuários foram beneficiados durante o regime militar, em contrapartida, no governo civil foram e estão sendo perseguidos por uma política ambiental criminosa, do que se conclui que as elites políticas brasileiras, independentemente do tempo, são as principais responsáveis pela estagnação da região amazônica.

Necessário ressaltar que os empresários apoiados por Armando Mendes tiveram sempre ao seu lado como incentivadores a mídia paraense, representada pelos jornais Folha do Norte e Província do Pará, uma mídia que podemos qualificar de consciente, apoio que envolve o então governador Alacid Nunes. Sentimos saudades nos dias atuais de um governador como Alacid Nunes, amigo dos empresários, assim como desses jornais, incentivadores dos empresários e de sua maneira de exercer um jornalismo honesto e competente e de sua luta em favor de Belém e do Pará e não apenas de seus interesses mesquinhos como é a prática em nossos dias. Fazem muita falta nos dias sombrios amazônicos, paraenses e brasileiros contaminados pela indignidade e imoralidade política destruidoras do nosso Estado e do Brasil. Talvez se esses jornais não tivessem desaparecidos, as empresas montadas em Belém ainda estivessem vivas gerando desenvolvimento.

O terceiro e último sacrifício imposto a geração amazônica, de maior nocividade, nasce na constituinte através da visão ambientalista e da predisposição a gatunagem desse aglomerado de indivíduos mal-intencionados, fato consumado e facilitado por uma constituição vagabunda de 88. Falido o Estado nas mãos do governo civil e de políticos incompetentes e desonestos, e, no momento em tentativas de sobrevivência, mesmo que seja salvo da falência, muito tempo ocorrerá, talvez duas, três ou quatro gerações serão ainda sacrificadas, realidade que assimilada pelos jovens, poderá ter efeitos ainda mais danosos ao desenvolvimento da Amazônia. O futuro do Brasil e da Amazônia diante tudo que estamos assistindo é difícil de se antever.

Armando Soares – economista

e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com

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Soares é articulista de Libertatum

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