Gerações
sacrificadas
Por Armando Soares
Os políticos e
governantes brasileiros são peritos em sacrificar gerações, o que pode explicar
o gigantesco fosso que nos separa dos países desenvolvidos. Esse cenário
estabelece um paradoxo, ou seja, como explicar que a inteligência dos brasileiros
se submeta ao comando de indivíduos comprovadamente insanos, incompetentes,
desonestos, imorais, aéticos e cínicos durante 3 a 4 séculos? Se essa verdade
histórica não é válida para todo o Brasil, o que tenho dúvida, certamente é
válida para a Amazônia e em boa parte para o Nordeste.
Vou me ater a
tratar das gerações sacrificadas na Amazônia, particularmente no Pará e em
Belém, onde tenho mais intimidade dado a minha vivência nessa região e ao
estudo que realizo a bastante tempo para entender por que a Amazônia sendo uma
região tão rica continua subdesenvolvida gerando pobreza.
A Amazônia foi um presente dado pelos portugueses que
os brasileiros nunca vão pagar. Diante do total desconhecimento das riquezas
amazônicas que acompanha os brasileiros desde o momento em que os portugueses nos
entregaram a Amazônia, idiotice que se propaga no tempo, estamos certos de que
dificilmente os amazônidas terão a satisfação de ver a sua região desenvolvida
no curto, médio e longo prazo, considerando o atual cenário político e
institucional atual e o fosso intelectual que nos separa do mundo desenvolvido.
Voltando
no tempo, mesmo sabendo que não tínhamos uma classe empresarial com saúde para
promover e sustentar o desenvolvimento da Amazônia a época do boom da borracha,
poder-se-ia atrair investidores estrangeiros para essa finalidade, na certeza
de que teríamos sucesso. Por que essa certeza? Porque a invenção do pneumático,
do carro e do avião só poderia materializar-se com a borracha, e o único produtor
da borracha no mundo era a Amazônia. Ingleses, americanos, franceses,
italianos, holandeses tinham consciência dessa verdade, e sabiam que o processo
de industrialização que a borracha iria provocar iria trazer um extraordinário
e acelerado desenvolvimento em todo o mundo, com vantagens para o país que
produzisse a borracha. A borracha promoveu a revolução do sistema de
transportes no mundo como a história e a realidade econômica comprova.
Teatro da Paz - Belém
O
segundo sacrifício imposto a geração amazônica pela elite política brasileira aconteceu
muitos anos depois, no governo militar que teve início com o presidente Castelo
Branco. Militar brilhante, profundo conhecedor da Amazônia e de sua
potencialidade, assim como de seus problemas econômicos e sociais. Castelo
Branco logo mostra suas intenções boas intenções ao colocar a frente do Banco
da Amazônia o saudoso e competente Armando Mendes e sua equipe, com o
compromisso de implantar um programa para promover o desenvolvimento econômico
através da iniciativa privada, o motor próprio para essa tarefa. Em pouco tempo
os efeitos dessa política se fez sentir em toda a região amazônica, com
destaque para Belém, território onde se instalaram dezenas de empresas as mais
diversificadas, como de bebidas, refrigerantes, sorvetes, parafusos, vidros,
óleos, sacaria, pesca, borracha, e outras tantas. Belém, após longo tempo
entregue a sua própria sorte, começou a pulsar economicamente gerando emprego,
renda e qualidade de vida a população. Infelizmente o sonho de desenvolver
Belém durou pouco. A saída de Castelo Branco da presidência da república,
afastou do comando da economia amazônica toda a equipe de Armando Mendes,
substituída seguidamente por pessoas sem nenhum preparo e conhecimento da
região, o que resultou na destruição de todo o núcleo industrial belemense
promovido, por incrível que pareça, pelos órgãos de desenvolvimento, SUDAM e
BASA, responsáveis pela sua criação durante a gestão de Armando Mendes. Com
novas administrações medíocres, BASA e da SUDAM, se transformaram no paraíso da
malandragem com destaque para a manipulação dos incentivos fiscais por agentes corretores
a serviço das empresas do sul e sudeste, o que se configurou como uma espécie
vaso comunicante, ou seja, a parcela do imposto de renda das empresas que era
dirigido a projetos na Amazônia voltavam as empresas através do alto percentual
de corretagem paga ao corretor que era ligado as empresas optantes do imposto
de renda a projetos amazônicos. Foi esse mecanismo mercadológico mafioso de percentual
elevadíssimo que promoveu a descapitalização das empresas regionais e matou as
empresas recém-nascidas, que determinou o insucesso da tentativa de criar um
parque industrial paraense. Acrescente-se
a esse cenário o seguinte absurdo: o empresário paraense, obedecendo o
critério determinado pela lei de incentivos fiscais, aplicava a sua parte no
investimento com recursos próprios (30%), ficando aguardando a contrapartida
dos incentivos fiscais (70%) a ser liberado pela SUDAM e BASA; isso não
acontecia de imediato, mas a médio prazo, fato que defasava o cronograma
financeiro em consequência da inflação galopante à época; por sua parte a SUDAM
não corrigia automaticamente o cronograma financeiro, obrigando ao empresário a
apresentar um novo projeto que levava muito tempo para aprovação, procedimento
obrigava aos empresários a solicitarem empréstimo ao BASA para dar continuidade
a implantação do projeto; a administração do BASA, por pura idiotice e sem
nenhum motivo que justificasse, determinou a
execução dos empréstimos que estavam garantidos pelos recursos oriundos
dos incentivos fiscais, ação que levou a morte prematuramente todas as empresas
antes de maturação do seu investimento. Esse foi o processo criminoso que matou
todas as indústrias em processo de montagem; um ato criminoso dos diretores e
administradores do BASA e da SUDAM realizados no período do governo militar. Salvo
os projetos agropecuários, que tiveram a sorte de sobreviver, durante esse
período, toda a tentativa de industrializar o Pará foi sabotada pela
incompetência administrativa dos dois órgãos responsáveis para estimular o
desenvolvimento econômico. Fato importante a registrar é que se os projetos
agropecuários foram beneficiados durante o regime militar, em contrapartida, no
governo civil foram e estão sendo perseguidos por uma política ambiental
criminosa, do que se conclui que as elites políticas brasileiras,
independentemente do tempo, são as principais responsáveis pela estagnação da
região amazônica.
Necessário
ressaltar que os empresários apoiados por Armando Mendes tiveram sempre ao seu
lado como incentivadores a mídia paraense, representada pelos jornais Folha do
Norte e Província do Pará, uma mídia que podemos qualificar de consciente,
apoio que envolve o então governador Alacid Nunes. Sentimos saudades nos dias
atuais de um governador como Alacid Nunes, amigo dos empresários, assim como
desses jornais, incentivadores dos empresários e de sua maneira de exercer um
jornalismo honesto e competente e de sua luta em favor de Belém e do Pará e não
apenas de seus interesses mesquinhos como é a prática em nossos dias. Fazem
muita falta nos dias sombrios amazônicos, paraenses e brasileiros contaminados
pela indignidade e imoralidade política destruidoras do nosso Estado e do
Brasil. Talvez se esses jornais não tivessem desaparecidos, as empresas
montadas em Belém ainda estivessem vivas gerando desenvolvimento.
O
terceiro e último sacrifício imposto a geração amazônica, de maior nocividade,
nasce na constituinte através da visão ambientalista e da predisposição a
gatunagem desse aglomerado de indivíduos mal-intencionados, fato consumado e facilitado
por uma constituição vagabunda de 88. Falido o Estado nas mãos do governo civil
e de políticos incompetentes e desonestos, e, no momento em tentativas de
sobrevivência, mesmo que seja salvo da falência, muito tempo ocorrerá, talvez
duas, três ou quatro gerações serão ainda sacrificadas, realidade que
assimilada pelos jovens, poderá ter efeitos ainda mais danosos ao
desenvolvimento da Amazônia. O futuro do Brasil e da Amazônia diante tudo que
estamos assistindo é difícil de se antever.
Armando Soares –
economista
Soares é articulista de Libertatum
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