domingo, 16 de abril de 2017

O liberalismo e o liberal

Por Vanderli Camorim

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Assim como temos a matemática, uma ciência, e o matemático, um profissional dedicado a esta ciência e sua aplicação, há também o liberalismo, uma doutrina ou um corpo de princípios, e o liberal que se esforça em aplicar seus princípios na analise dos fatos complexos de nossa realidade. Não se pode condenar a matemática pelo fato do matemático errar em sua aplicação, da mesma maneira não se pode culpar o liberalismo pela mesma falta do liberal. A doutrina liberal não é a criação de uma mente iluminada querendo construir uma nova sociedade onde o homem é igualado a uma pedra ou tijolo ao gosto do pedreiro, muito pelo contrário, tenta aplicar os ensinamentos da ciência à vida social do homem. Não é uma doutrina completa nem tem dogmas imutáveis e embora mude com o tempo seus princípios fundamentais permanecem, entretanto, permanentes e inalteráveis.

Como por exemplo, o liberalismo explica que o governo ou Estado tem por única e exclusiva função a produção da segurança simplesmente, entre outras razões, de que não pode haver uma atividade econômica regular se não houver um ambiente de paz.
Dito desta maneira, para o liberalismo é irrelevante quem seja o presidente, o governador, o prefeito ou qualquer politico já que sua esfera de atividade fica restrita apenas à manutenção da paz, da lei e da ordem e não deve interferir no mecanismo do mercado ou economia. Não interferindo na economia o politico deixaria de ter o poder que tem sobre as pessoas, sobretudo de sua propriedade, e usar o cargo em seu proveito a custa da grande maioria. Não geraria estes escândalos que todos chamam de corrupção nem desviariam recursos escassos e valiosos em seu afã por poder destruindo o futuro pela gloria pessoal do presente.

Mas muitos que se dizem liberais por não dominam ainda as ideias liberais em toda sua extensão e profundidade, se desgastam em discussões nada liberal de quem seria o melhor politico para exercer tal cargo e dele esperara que a ordem liberal volte triunfante. É razoável as pessoas pensarem que a solução dos problemas da politica possa ser resolvida pelos políticos. A doutrina liberal diz que isso é uma visão errada. A solução desse problema está longe deste ponto de vista e aponta que este problema só será resolvido pelos intelectuais depois de acirrada guerra de ideias. Para o liberal a sociedade é produtos das ideias e não das lutas de classes.

Os políticos agem como o homem de negócios. Estes são pautados pelos consumidores, terão que fazer aquilo que desejam sob pena de sofrer prejuízo e saírem do mercado. Os políticos por sua vez são pautados pelos eleitores e terão que os convencer que estão a altura de suas exigênciase se não forem eficientes neste proposito perderão votos e seus cargos correm perigos na próxima eleição. Logo, a conclusão que chegamos é que o problema está junto ao conjunto dos eleitores, que estão viciados e corrompidos. O que corrompeu e viciou os eleitores foi a ideologia socialista que tem muitos nomes e é a doutrina prevalecente. Se contarmos a partir da unificação da Alemanha em 1871, onde surge o socialismo monárquico, já estamos nessa estrada cerca de século e meio, sendo, portanto natural que todos já nasçam respirando esta atmosfera, ou melhor, influenciado pela opinião publica que é o ambiente social onde as ideias se condensam e as pessoas passam a agir da mesma forma. Até o século 19 era o liberalismo que se condensava na atmosfera da opinião publica e era natural que todos que se interessassem por politica se tornassem liberal. Hoje mudou, hoje é o socialismo.

Isto é o resultado de décadas de doutrinação e isso torna particularmente difícil para alguém que se interesse pela doutrina liberal e queira se aprofundar em seu estudo. A confusão é inevitável.

No período liberal as pessoas se orientavam pelos valores que eram abraçados por todos como governo representativo constitucional, igualdade perante a lei e outras bandeiras trazidas pelo liberalismo. A lembrança ainda fresca do governo do rei despótico reforçava esta escolha e todos que entravam na politica e participassem da vida partidária tinham uma única meta que era o interesse de toda a nação e não dos grupos de privilégios que se abrigavam sob o poder do rei. Também era fácil identificar o estado ou governo na figura do rei.

Hoje as coisas são diferentes. Após século e meio de socialismo tudo perdeu a sua essência e mais que ajuda a criar um ambiente de confusão dos mais generalizados. Os partidos políticos, criação das ideias liberais, não tem como funcionar sob o socialismo tornando-se mera casca onde o que não mais se defende é o interesse de todo o povo, mas de castas das mais variadas. Por essa razão os partidos políticos se multiplicam como cogumelos após a chuva, pois muitos e variados são os interesses particulares. O governo representativo e constitucional passa a ser uma colcha de retalhos que especifica e garante os velhos interesses de castas que o liberalismo uma vez quis acabar. A igualdade perante a lei ficou apenas uma frase oca. O governo ou estado que era fácil identificar na figura do monarca agora é algo abstrato podendo ser defendido pelo porteiro ou mesmo pela servente que serve o cafezinho na repartição pública. O estado se tornou o que resumiu Bastiat, em um instrumento em que muitos vivem a custa do resto na nação.  As pessoas que hoje se interessam por politica logo se tornam socialista porque ela é a filosofia prevalecente, constitui a atmosfera da opinião pública que todos respiram e assim se tornam socialistas, agem e pensam como tal sem as vezes se darem conta da mesma maneira que monsieur Jourdan, o personagem de Moliére que fazia prosa e não sabia.  Fugir dessa atmosfera não é a mesma coisa que ocorria no período liberal. É preciso força de vontade e muito estudo para se livrar das amarras do pensamento que a doutrina socialista inculca nas pessoas. Não é sem razão a confusão no meio dos que escolheram defender o liberalismo em plena era do socialismo. Constantino por exemplo, se diz um liberal que não tem medo de polemica. E ai tem um problema. 

O liberalismo e o liberal não entram em polemica, muito pelo contrário, tenta convencer seus oponentes explicando que seus pontos de vistas estão em desacordo com as categorias da ação humana.  O liberalismo não se pauta pela ideia das lutas de classe que leva à uma guerra eterna, antagônica e irreconciliável. O liberalismo se pauta pela harmonia de interesse e se esforça para que o mais ferrenho guerreiro perceba seu erro. Há também aqueles que costumam unir termos antagônicos como liberal conservador; também os que usam termos inadequados e confusos, como esquerda, direita, centro direita, centro esquerda, e etc. Isso tudo mostra que o aprendizado está deficiente e que é preciso reforçar a teoria para aplica-la na luta das ideias. É esta fraqueza que responde o porquê o socialismo continua soberbo e dando as cartas sem quase nenhuma contestação senão a que é imposta pela realidade, pois afinal de contas o socialismo é uma impossibilidade e terá que se haver consigo mesmo quando as politicas adotadas faz a sociedade se aproximar do abismo.  Quando caiu o muro de Berlim as pessoas se apressaram a dizer que foi a vitória do capitalismo. Não foi. Foi só mais uma prova de que o socialismo é impraticável, mas que em função da abordagem teórica inadequada não serviu para quase nada ainda, sendo um cadáver que continua insepulto.


A mudança passa pela mudança da mentalidade. São os intelectuais que trocam em miúdo as ideias e as lançam sobre as massas. As massas não pensam, seguem as lideranças. É aí que se deve travar o verdadeiro combate e só daí surgirá a mudança. Se os intelectuais tiverem sucesso de mudar a mentalidade prevalecente, o que não se pode fazer da noite para o dia, muito menos pelo voto, e aperfeiçoarem o seu domínio sobre a teoria liberal, o sucesso pode ocorrer. 

O contrário da doutrina socialista é a doutrina liberal. Não há meio termo. Os variados nomes que são empregados nas duas doutrinas em choque são testemunhos que os conceitos estão borrados e que a confusão persiste e só favorece o socialismo.

Vanderli Camorim

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Camorim é articulista de Libertatum

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