Em uma sociedade livre, o que conta para a preservação da religião e dos valores morais do povo não são leis, mas a vontade deste povo em manter-se firme a elas. Para tanto, estes valores devem ser praticados, vivenciados e defendidos publicamente. Aos poucos, as concepções teológicas mais imperfeitas darão lugar àquelas mais consistentes e elevadas, dentro de um ambiente de paz e de respeito mútuo.
Se a religião islâmica, com os vícios de ambição política que traz na mala, tivesse de se confrontar com uma população européia religiosamente vigorosa, que trabalhasse duro e que tivesse filhos a criar ao invés de viver em clubes “privés”, não teria crescido ao ponto em que chegou...
Vamos aqui perguntar sobre algo muito sério: quem é o maior responsável pela salvação da alma de uma dada pessoa? Bom, é certo que ela possa recorrer a um bom serviço de consultoria teológica, i.e., um padre, um pastor, ou qualquer outra espécie de clérico. Ainda assim, eu arrisco afirmar que lhe resta permanecer com toda a responsabilidade sobre este assunto, tanto quanto é o capitão o responsável pelo navio, por mais que se utilize dos conhecimentos do prático.
Que exista uma ordem divina, perfeita, permanente e imutável, isto parece ser pacífico entre todas as pessoas que não sejam ateístas. Entretanto, como humanos imperfeitos, nossa compreensão sobre esta ordem difere de indivíduo para indivíduo, de geração para geração e mesmo muda conforme o passar do tempo para um mesmo indivíduo.
Utilizando-me aqui das minhas próprias convicções pessoais - não com a finalidade de expô-las, que não é esta a tarefa a que me dedico, mas meramente a título ilustrativo - eu não creio na existência de um Diabo, nem de um lugar geográfico chamado inferno, e muito menos que aos seres humanos reste eternamente o paraíso ou o inferno. De novo, peço que ninguém faça comentários sobre o teor de verdade desta minha crença. O que peço para prestarem atenção aqui é no meu direito político de pensar assim, e de me associar a pessoas que pensam como eu.
Se ao estado atribuirmos a prerrogativa de guardar os valores de uma dada tradição teológica – qualquer que seja – ele irá cumprir a sua tarefa da seguinte maneira: tornará oficial a crença vigente e tratará como foras-da-lei quem não se enquadre nos seus termos.
Isto traz por imediata consequência confiscar os méritos de cada ser humano sobre assuntos que só dizem respeito a ele. Uma pessoa resignada a uma ordem religiosa cumpre seus ritos não por fé, mas por automatismo. Quanto aos dissidentes, eles terão de viver à margem desta ordem, tornando-se assim cidadãos de segunda categoria, ou mesmo párias, se a repressão promovida pelo estado for violenta, como é nos países islâmicos.
A segunda conseqüência poderá ser o revanchismo dos grupos minoritários, quando superarem em número ou poder seus rivais, cujo grau de repressão ao antigo grupo hegemônico dependerá da intensidade do ressentimento pelas injustiças que sofreram.
Pode parecer incrível, mas não são somente os ateus comunistas militantes os interessados na retirada de símbolos religiosos das repartições públicas. Em Belém do Pará, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é ostensivamente cultuada pelos servidores públicos e muitas vezes também pelos cidadãos, conjuntamente. Porém, já ouvi da boca de evangélicos fervorosos, a quem poderia quase que com certeza afirmar que não possuem uma tendência para o comunismo, que eles entendem que a figura da Virgem Maria é ofensiva à sua crença, senão até mesmo herética. Na concepção deles, ela não merece as adorações (ou devoções) que lhe são dirigidas pelos católicos.
Se desconsiderarmos uma hipotética ordem social não-estatal ou anárquica, então teremos de forçosamente concluir que o estado, qualquer que seja, precisa ser laico. Em uma ordem liberal minarquista, um estado laico não significa um estado ateu. Significa uma instituição que, por meio dos seus agentes, prometa atender tão bem a um católico quanto a um judeu ou a um evangélico.
Pode parecer a um brasileiro que isto seja um despropósito. Isto se deve a uma grande tolerância espontânea que se desenvolveu em nosso povo. Todavia, em muitos lugares não tem sido assim. Se um judeu fizer um requerimento em um órgão qualquer do estado e seu atendente for um muçulmano daqueles que fazem questão de mostrar a sua fé, seja usando um turbante ou carregando um masbarrat, ele terá motivos suficientes para acreditar que o trâmite do seu processo poderá ser sabotado. O mesmo poderá ocorrer na Irlanda, entre um católico e um protestante, ou mesmo entre dois grupos protestantes diferentes, tal como nos EUA, nos primórdios da formação daquela nação.
Quando os liberais falam em liberdade de religião, não se pronunciam tão somente em bases teóricas. Os Estados Unidos, a nação mais poderosa do mundo, simplesmente não teria nascido se não tivesse sido criada a liberdade religiosa para criar um senso de união entre colônias de confissões diferentes e em muitos casos antagônicas.
Um estado liberal minarquista pode cumprir a função de estrita neutralidade; um estado social-democrata ou um socialista já não o podem, pois eles tendem a estender seus longos tentáculos sobre aspectos da vida que estão intimamente ligados às concepções religiosas das pessoas, como a educação e a sexualidade. Com o aumento do grau de intervenção, se um estado assumir uma postura religiosa, imporá os dogmas que defende com vigor cada vez maior sobre os grupos minoritários. Se ele trouxer uma herança de laicismo, ele o transformará aos poucos em um ateísmo, já que, tendo em tudo e por tudo que manter-se neutro, e tendo as pessoas cada vez mais ocupadas, subordinadas e dependentes de repartições públicas, a intensidade da prática da religião cada vez perde mais espaço para ser vivenciada em proveito do discurso politicamente correto.
Em uma ordem a mais liberal possível, as repartições públicas tendem a ser muito poucas, e o fato de não exibirem símbolos religiosos em suas dependências em nada afeta as crenças dos indivíduos, já que eles podem praticar a religião e toda a vivência decorrente dela na esfera privada.
Mediante uma estrutura de convivência contratual, cada indivíduo pode se permitir pertencer a qualquer grupo religioso. Ninguém precisa se mantér um quaker só porque nasceu dentro desta tal ordem privada. Precisaria, isto sim, se esta ordem fosse estatal. Ao indivíduo que optar por se converter em católico basta-lhe exercer a sua preferência.
Desta forma, todas as tradições têm a chance de serem honestamente vivenciadas pela fé, e não por imposição. Se algumas delas começarem a ser abandonadas pela maioria das pessoas, podemos debitar este problema ao teor de verdade que professam, e que pode estar sendo colocado em dúvida.
O contrário também pode acontecer, isto é, uma dada ordem privada religiosa pode carregar de fato um teor de verdade legítimo, e pode ser a maioria da população aquela que se deixou contaminar por vícios ou iniqüidades. Entretanto, é o próprio regime de liberdade o que poderá trazer estes filhos pródigos à observância de um código moral e religioso, depois de verificarem o estado de miséria (material, moral ou espiritual) em que se deixaram resvalar. Se, ao contrário, é toda uma sociedade que se perde, e assim se procede por meio de uma ordem estatal, somente um grande trauma coletivo poderá trazê-los novamente a tomar juízo. Foi o que aconteceu com as sociedades nazistas e comunistas.
Trazendo esta proposta para a vida real, sempre problemas circunstanciais podem aparecer. Nos EUA, este problema nasceu mínimo, porque aquele país desde a fundação foi criado dentro de uma ordem liberal que abarcasse as diferenças crenças e valores religiosos já então existentes. No Brasil, viemos de um estado monárquico em que a religião oficial era a católica. Até há poucas décadas atrás, os outros credos, todos juntos, podiam ser considerados dentro de uma taxa percentual insignificante. Porém, nos nossos dias atuais, isto está mudado.
Hoje, existe um movimento mundial que pretende retirar das repartições públicas - e talvez até de tudo o que for público - os símbolos religiosos cristãos. Sabendo-se que são grupos de pressão ideológica que prezam por um estado socialista, claro está que agem com desvio de finalidade, isto é, utilizam-se do princípio do estado laico como pretexto, para instalarem um estado ateu (justamente porque o estado haverá de educar seus cidadãos conforme seus próprios objetivos).
Desta forma, tendo em vista este conjunto de circunstâncias, eu me posiciono ao lado dos conservadores, embora não exatamente pelos mesmos motivos. Eles desejam manter os símbolos porque eles têm em mente preservar a maioria dos órgãos públicos. Se estivéssemos vivendo um momento de cortes de tributos e diminuição expressiva da máquina pública, não me importaria muito tal medida.
Em uma sociedade livre, o que conta para a preservação da religião e dos valores morais do povo não são leis, mas a vontade deste povo em manter-se firme a elas. Para tanto, estes valores devem ser praticados, vivenciados e defendidos publicamente. Aos poucos, as concepções teológicas mais imperfeitas darão lugar àquelas mais consistentes e elevadas, dentro de um ambiente de paz e de respeito mútuo.
A religião islâmica tem trazido consigo motivações expansionistas aos seus fiéis, que, sem surpresa, pretenderão impô-las a todos os outros grupos sociais quando se tornar numericamente superior. Para isto se vale da intimidação e da execução da política do estado de bem-estar social, que tem entorpecido o senso moral da população, por deseducar as crianças na escola pública à revelia dos pais; por interferir na formação e organização familiar; por proporcionar uma vida fácil, sem trabalho, a muitos, principalmente imigrantes de países islâmicos; e atualmente, por aplicar a liberdade de expressão e de religião de forma parcial, contra cristãos e a favor de muçulmanos, sob pretextos de correção política.
Se a religião islâmica, com os vícios de ambição política que traz na mala, tivesse de se confrontar com uma população religiosamente vigorosa, que trabalhasse duro e que tivesse filhos a criar ao invés de viver em clubes “privés”, não teria crescido ao ponto em que chegou na Europa.
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