domingo, 14 de fevereiro de 2010

Quem humilhou quem?

Por Klauber Cristofen Pires

Os homens fardados conhecem os seus limites institucionais e, portanto, têm conhecimento do atual status de tomada de decisão a que estão sujeitos. Nem por isto deixaram de fazer o seu trabalho com técnica, lisura e patriotismo. Os militares deram um banho de respeito ao dinheiro público, sem se preocupar em bajular um presidente tosco, arrogante, prepotente, ignorante, irascível e notoriamente perdulário...
Os leitores já devem estar a par dos fatos envolvendo a compra de novos caças para a Força Aérea Brasileira, dentre os quais o relatório emitido pelos militares concluindo pela maior vantajosidade do caça sueco Gripen, na contramão do desejo da Presidência da República em adquirir os Rafale franceses.

Já não sei se é do conhecimento de todos que os aviões franceses estão sendo oferecidos ao Brasil por quase o dobro do preço - que os mesmos Rafale - ofertados à Índia, país que classificou este caça em último lugar quanto às suas qualidades entre cinco concorrentes, tendo mesmo chegado temporariamente ao ponto de desclassificá-lo por não cumprir com exigências técnicas mínimas do edital (retornou ao certame depois da impugnação de um recurso). Isto sem dizer que os Rafale custam bem mais do que os Gripen.

Fora a revista Veja, praticamente toda a mídia tradicional, especialmente a televisiva, adocicou o escândalo que promete ser o maior dos mensalões já visto na história. Tudo para que Lula consiga comprar um carro usado chamado de promessa de vaga no Conselho de Segurança da ONU (bem, a pensar no desvio da bufunfa, isto está mais para pretexto do que para objetivo).

Porém, não é disto que tratarei aqui nestas linhas. Venho apenas para discordar da análise dos especialistas por terem concluído que a Presidência e/ou o governo do PT humilharam os militares ao empurrar-lhes goela abaixo a decisão pelos Rafale. Em minha singela opinião, foram os militares que deram uma boa lição ao governo de Lula, e tanto pior para ele que se decida pelos franceses.

Os homens fardados conhecem os seus limites institucionais e, portanto, têm conhecimento do atual status de tomada de decisão a que estão sujeitos. Nem por isto deixaram de fazer o seu trabalho com técnica, lisura e patriotismo. Os militares deram um banho de respeito ao dinheiro público, sem se preocupar em bajular um presidente tosco, arrogante, prepotente, ignorante, irascível e notoriamente perdulário.

Como resultado, a decisão que já havia sido tomada antes mesmo de iniciados os procedimentos de licitação ainda perdura em aberto, e já demonstra conter sinais de vacilo ante a opinião pública.

Se uma comparação for válida, eu a faria com o general romano Maximus, do filme "Gladiador", estrelado brilhantemente por Russel Crowe, que mesmo como um escravo das lutas nas arenas consegue vencer até mesmo quando submetido a trapaças e humilhações, como quando soltaram um tigre dos alçapões para matá-lo, o que lhe resultou ao fim por angariar com isto o respeito e a admiração do público, para desespero do imperador frívolo e poltrão que, a uma hora, é obrigado a lhe encarar de frente.

Depois de tantos anos de propaganda comunista, depois de milhares de livros , teses acadêmicas , filmes e seriados em que a imagem das Forças Armadas é achincalhada à exaustão, nenhuma instituição permanece gozando de tanto prestígio no Brasil. Pergunte-se a qualquer cidadão simples e de mais idade e ele responderá que naquele tempo um pai de família ia para o trabalho e dele voltava sem medo, e que as crianças iam pra escola pra aprender. Talvez ele também se lembre do seu primeiro fusca.

Também qualquer pessoa isenta poderá reconhecer que praticamente toda a infra-estrutura do país permanece sendo aquela herdada do tempo dos governos militares: estradas, hidrelétricas, portos, estaleiros, usinas siderúrgicas, a conquista do centro-oeste, que veio a se transformar no novo celeiro do Brasil, e o povoamento da Amazônia com a convivência amistosa com os índios e o atendimento prestimoso aos povos ribeirinhos. De lá para cá, praticamente não se produziu energia para uma lâmpada a mais, e foi por isto que no governo FHC sofremos com um desastroso racionamento; nossas estradas se apodrecem, os lares viraram celas, os professores vivem com medo dos alunos, a corrupção deixou de ser notícia para se tornar expediente e a produção agropecuária chega ao limiar da decisão de abandonar o campo.

Se o filme a que aludi nos traz alguma mensagem, poderá chegar a hora em que o imperador cínico tenha de vir a prestar contas de seus desmandos. Os militares mataram o tigre da arena.

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