terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A dignidade do empresário

Marcos, 33:35 Quando chegaram à cidade de Cafarnaum e estavam em casa, Jesus perguntou aos discípulos: «O que é que discutíeis pelo caminho?» 34Os discípulos ficaram calados, porque tinham discutido sobre qual deles era o maior. 35Então Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: «Se alguém quer ser o primeiro, deverá serA o último e ser aquele que serve a todos»

Marcos, 42:44 Jesus chamou-os e disse: «Sabeis como aqueles que se dizem governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes exercem sobre elas a sua autoridade. 43Mas entre vós não deverá ser assim: quem de vós quiser ser grande, deve tornar-se o vosso servidor, 44e quem de vós quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos”.


De um processo histórico que remonta a décadas, tem o Brasil importado convicções de ideologias claramente equivocadas, e que de tal modo propagaram-se, que assim podemos reconhecê-las por hegemônicas.

Um dos postulados mais propagados destas correntes é o de apontar os empresários como as aves de rapina da nação. Quem não ouviu ainda da boca dos nossos políticos termos tais como “ganância” e “egoísmo”? Quem ainda não prestou atenção às nossas músicas (...mas a usura desta gente, ôô, já virou um aleijão – ôôô, gente estúpida! Ôôô, gente hipócrita!...; outra: ...a burguesia fede...a burguesia quer ficar rica...)? Ou aos jornais, aos livros acadêmicos, principalmente os de Economia, Sociologia e Direito? E como não pensar que tal pensamento dominante não se reverta em ação, efetivada em leis contra o “poder econômico” e contra o “abuso” do direito de propriedade, por exemplo? E como não reconhecer que nossas autoridades não imponham dificuldades e limitações à atuação empresarial, a ponto de humilhar os homens de negócios, a ponto de fazê-los mesmo crer piamente em sua culpa original?

Tais ideologias apóiam-se no fato de seus defensores acreditarem que a riqueza nasceu com o planeta, de modo que, num jogo de soma zero, os ricos somente são ricos pelo que dos pobres roubaram. Bastaria simplesmente acompanhar a história recente para verificar que a riqueza do mundo multiplicou-se várias vezes, desde que esta gente começou a formular tais idéias. Hoje, nosso país e nosso mundo são muito mais ricos do que há cinqüenta anos atrás, e as pessoas que viviam naquele tempo, também mais ricas do que as de duzentos ou dois mil anos atrás. Quem hoje ousaria trocar a sua vida pela de um príncipe do mundo antigo? Quem abdicaria da moderna medicina, da variedade de alimentos e roupas industrializados, da luz, da TV, do telefone, do fogão a gás ou de microondas, para ser César ou Henrique VIII?

Não obstante, tal pensamento, infelizmente, ainda ganha espaço nas mentes dos brasileiros, principalmente entre os jovens. Isto porque estas ideologias lidam com simbologias, ideais, e sonhos. O sucesso e o resultado não fazem parte de seu discurso, vez que isto nunca aconteceu em lugar nenhum do mundo.

Tão penetrantes tais idéias nas mentes, que mesmo muitos empresários aderiram a tal forma de pensar – por ignorância ou por oportunismo de curta visão - e deixam-se flagrar por atos de masoquismo explícito, conforme se pode verificar de seus comentários em público, ou de ações que perfazem como a desejar minimizar a culpa de serem homens de negócios. Patrocinam congressos disputadíssimos sobre “responsabilidade social”, enquanto poderiam discutir competitividade ou oportunidades de negócios.

Em seu livro “O Capital”, Karl Marx denuncia as péssimas condições de vida a que eram submetidos os operários ingleses do século dezenove. Trata o famoso livro de sustentar que tais pessoas eram exploradas por seus patrões, que lhes roubavam o fruto do trabalho, de modo a não lhes deixar mais do que o estritamente necessário para sobreviver. Foi assim que nasceu a teoria da “mais-valia”, cujo exemplo clássico, o do sapateiro, pretende demonstrar como o patrão se apropria do trabalho do sapateiro que deixou de sê-lo para tornar-se seu empregado. A “mais valia”, no caso, era o excedente entre o lucro que o patrão usufruía, e o salário que pagava ao sapateiro-operário.

Não é o caso de aqui apresentarmos a refutação da teoria. Isto já foi feito brilhantemente, por cientistas tais como Jevons e Menger, e contemporaneamente a Marx, a tal ponto que ele mesmo possivelmente tenha se convencido, ou senão não teria abdicado, aos 49 anos, no auge de sua atividade intelectual, de publicar o segundo e terceiro volumes de “O capital”, que já estavam prontos antes mesmo de estruturado o primeiro. Estes volumes restantes somente foram editados e publicados por Engels, em 1884, quase trinta anos depois da publicação do primeiro volume (Ação Humana, 2ª ed., p. 80)

Aqui serão apresentados apenas alguns questionamentos simples, e externos ao fundamento da teoria comentada: por exemplo, quem quer que, a exemplo de Marx, veja os operários ingleses do séc XIX, como quem olha uma foto, talvez lhe empreste razão; mas aquele que, ao invés, o faz como quem acompanha um filme, há de pôr por terra toda esta falácia. Primeiramente, há de se indagar: “- quem eram os operários ingleses?” Ora, não eram desde sempre operários. Vieram, certamente, de algum lugar. Mais propriamente, das terras de seus antigos lordes, por quem eram tratados como criados, devendo aos primeiros as suas roupas, a sua comida e as suas próprias vidas. Trabalhavam de sol a sol, passavam a vida com apenas uma ou duas peças de roupa e comiam repolho diariamente. Mas, pior do que isto, não podiam realizar projetos pessoais, tais como desenvolver ofícios ou estudar, ou abrir negócios. Em alguns casos, até mesmo os atos de natureza estritamente pessoal, tais como casar, ficavam a critério de seus patrões.

Com o advento da Revolução Industrial, começou a mudança. Pela primeira vez na história da humanidade, pessoas simples começaram a ter domínio sobre o próprio destino; pela primeira vez, meros trabalhadores passaram a ter acesso a bens que antes, nem sequer os lordes ou reis tinham: eletricidade, sapatos, roupas, alimentos importados, remédios e educação para os filhos!

Outro fato digno de ser percebido é: estavam eles em regime de escravidão? A resposta é, simplesmente: não! Embora as condições daqueles tempos realmente não fossem fáceis, na verdade eram muito melhores que as verificadas nas terras de seus antigos patrões rurais, daí disputarem as vagas que as indústrias inglesas paulatinamente ofereciam. Com o empenho com que se lançaram, rapidamente começaram a florescer cargos e profissões de maior valor, aumentando a massa salarial média. Muitos se tornaram gerentes e diretores, e outros até acumularam capital suficiente para abrirem suas próprias empresas.

Outra pista da falácia marxista: se for certo que os patrões roubavam o trabalho dos sapateiros, por que então estes continuavam a abandonar seus ofícios, em busca dos empregos? Ora, se havia a liberdade de permanecerem como autônomos, a única explicação possível é a de que eles viam vantagem em buscar o emprego, sem contar aqueles que provavelmente prosseguiram na atividade, a ponto de se tornarem patrões de outros empregados.

Até aqui, falamos dos operários. Dos patrões, que se formaram, em princípio, dos primeiros artesãos, podemos dizer que, tal como seus empregados, a história da Humanidade viu-se irrevogavelmente transformada, e para melhor! A quem quer que lhe seja solicitada a alusão a uma grande figura da história, previsível será a lembrança de figuras como Alexandre, César ou Napoleão. Em suma, líderes que se destacaram pela conquista e pilhagem dos seus contemporâneos. Que extorquiam seus súditos mediante altíssimos tributos, senão obtendo-lhes a mais pura servidão!

Pouca gente haveria de reconhecer no dono de uma grande empresa uma figura de destaque na história, e um exemplo de liderança. Entretanto, quem dê a si mesmo o trabalho de analisar com imparcialidade, notará que os antigos comerciantes e industriais, hoje empresários, são a máxima afirmação dos fundamentos da civilização que floresceu sob a cultura cristã ocidental, daí a referência bíblica apresentada no alto deste artigo. Quem quer que se dê ao trabalho de observar com isenção, certificar-se-á que, pela primeira vez na face da terra, os homens começaram a enriquecer não por pilhar a riqueza dos outros, ou nascer de bom berço, mas por trabalhar para os outros, por servir aos outros!

Destes, os maiores, foram justamente os que criaram soluções para os mais pobres: os que criaram coisas tais como canetas esferográficas, sanduíches, sopas instantâneas, remédios, relógios eletrônicos consagraram-se como bem mais ricos do que os que fabricavam carros de alto luxo, jóias e iates. Destes, os maiores foram justamente os que procuraram atender com alegria e empenho às exigências dos consumidores, muitas vezes antecipando-se a enxergar as suas necessidades, fossem pobres ou ricos. Os que se obstinaram na “sociedade do empresário”, mesmo no Brasil, já faliram.

Este singelo artigo visa a conclamar os empresários para que recobrem a exata noção do papel que exercem na sociedade. Não há maior responsabilidade social ao que conduz um negócio do que procurar produzir seus produtos na maior quantidade possível, com a melhor qualidade possível, e ao menor custo possível. Portanto, levantem a cabeça e empunhem a dignidade abandonada como a um dever a cumprir. Vocês são os novos líderes da Humanidade, e o farol que traz a riqueza e o conforto para os demais.

Um comentário:

  1. Olá Klauber,

    Belo artigo! Emocionante na sua narração é identificarmos a figura do empresário como ponto culminante das civilizações. Os geradores de riquezas, contribuem para a melhoria da qualidade de vida. E significativamente atuam para a generalização da liberdade de expressão.

    Abraço.

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