terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Eu vi a arma salvar




por Redação MSM em 15 de julho de 2003

Resumo: No caso das notícias sobre o Desarmamento na mídia, interessantes são as conotações lingüísticas habilmente escolhidas: os apresentadores de telejornais ou participantes de debates praticamente nunca usam o termo “criminalidade”, ou semelhantes, como a tentar inferir de que a violência não é obra destes, ou pelo menos, não somente destes.

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Klauber Cristofen Pires - Mais do que diariamente, estamos vendo, por toda a mídia, notícias sobre a escalada da violência, e, a cabo, uma intensa campanha de desarmamento civil. Interessantes são as conotações lingüísticas habilmente escolhidas: os apresentadores de telejornais ou participantes de debates praticamente nunca usam o termo “criminalidade”, ou semelhantes, como a tentar inferir de que a violência não é obra destes, ou pelo menos, não somente destes.



Para justificar seus argumentos, procuram, onde for possível achar, um acidente doméstico com armas de fogo, ou uma briga de bar com morte. Isto como se pessoas não se acidentassem por outras causas ou se mortes por brigas de bar não pudessem resultar de agressões por facas ou mesmo com as próprias mãos.



Fique claro aqui que não estou a defender tais efemérides. Mas é importante evidenciar as relações de causa e efeito, e apropriá-las dentro de julgamentos que cada caso importa. Nos dois exemplos citados, vemos uma responsabilidade culposa (da pessoa que deveria zelar pela guarda da arma) e um crime qualificado, cuja ausência de arma pouco importaria para que fosse consumado. Em ambas, não enxergamos a atitude normal da vasta maioria da população, cujos cidadãos desvelam-se entre o trabalho e a família, sem o menor constrangimento de dar suas vidas pelos seus. Vemos sim, a atitude de irresponsáveis e inconseqüentes, pessoas que acabariam envolvidas em crimes por outras situações, e que, absolutamente, são a plena exceção.



Colocar num mesmo plano uma população inteira de cidadãos que zelam por suas armas, e o irresponsável que não o faz, não configura somente um ato de ignorância, mas de precipitação, pois as vidas e os bens de todos doravante estarão ameaçados. Emparelhar pessoas trabalhadoras e ordeiras com bêbados desocupados já configura um cinismo patente, pois quer dizer que honestos e foras-da-lei são a mesma coisa.



A habilidade com que a mídia põe nos lares o choro das vítimas dos casos acima citados comove os incautos, mas não resiste a uma análise mais perfunctória. Por exemplo: há muitos mais casos de acidentes domésticos com morte por choque elétrico, ou queimadura, ou intoxicação, e cada um exibe estatísticas maiores de per si, em relação aos acidentes com armas. Então pergunto: deixaremos de utilizar a eletricidade, o fogão ou o detergente? Significam estas facilidades domésticas a “violência”, por si mesmas? E, que dizer ao pai ou mãe de família que não tem tempo nem dinheiro para afundar-se em prazeres etílicos, noites adentro? Que, para que os boêmios não se matem com armas de fogo (pois se matarão de outra forma), não poderão eles defender a si e às suas famílias?



Em contraponto a todos estes falsos argumentos, aqui vou apresentar um, verdadeiro, de que uma arma pode salvar vidas. Trata-se de meu testemunho, de um caso que presenciei, há cerca de vinte anos.



O fato aconteceu em São Francisco do Sul, SC. Era noite de Carnaval, e os blocos exibiam-se na avenida. Eu era garoto, aproximadamente com onze anos de idade, e estava junto a meus pais.



Em um determinado momento, aparece um fusca, com placa de Curitiba-PR, e querendo passagem, buzina. Parecia o motorista estar perdido, e possivelmente desejoso de sair dali. Houve alguma discussão com um bloco de “sujos” (em Santa Catarina, blocos informais, geralmente de homens que se fantasiam de mulher).

Lembro-me de, depois que o fusca já estava saindo, um destes ter gritado: - Vamos atrás dele! – Vamos pegá-lo! A partir daí, causou-se uma pitoresca perseguição, de todos aqueles doidos bêbados correndo atrás do carro cujo motorista, desesperado por ter de fugir e desvencilhar-se da multidão, não sabia o que fazer.



O homem infeliz, seguindo a teoria “murphista”, manobra à direita e depois, rapidamente, à direita, novamente. Começaria aí o seu drama: acabara de ingressar no pátio da igreja matriz...



Muito rapidamente, a turba fantasiada cerca o veículo, e daí a pouco estarão pulando por sobre o teto uns, tentando extrair os ocupantes outros, e não menos, virar o carro, os restantes. Até aqui eu ocultei quem eram os passageiros. Este é, pois, o momento certo: além do jovem motorista, sua esposa grávida, uma criança, e uma senhora mais idosa, possivelmente mãe do motorista, ou da esposa. Todos sob o terror daquela gente de terrivelmente baixa estirpe.



Enquanto este cenário se desenvolve, meu pai corre até seu veículo, e saca de sua arma, um revólver calibre 32, existente até hoje. Lembro-me de ter ouvido um disparo, mas não vi nenhum ferido. Possivelmente ele atirou para o alto ou para uma direção segura. O resultado da ação enérgica foi a fuga instantânea e desenfreada dos meliantes, com a prisão de alguns, menos sortudos. A família fora salva!



Isto eu vi. Não ouvi dizerem alhures. Possivelmente, há centenas de relatos como o meu. Mas nenhum ocupa os espaços, tendenciosos, da TV.



Tenho escutado das pessoas, quando coloco meus argumentos, não contra-argumentos, mas frases prontas, repetidas como se fossem ditas por zumbis, e totalmente descoladas dos fatos que apresento. As frases campeãs são: “arma é violência!” e “violência atrai violência!”. Difícil é imaginar como uma arma pode criar pernas e sair por aí atirando em inocentes, ou como pode uma pessoa honesta ser acusada de violência causal, quando é conseqüencial, por defender-se.



Finalmente, fecho este relato com a dica de Jesus Cristo: “Reconhecerei as árvores, pelos seus frutos...”.