sexta-feira, 26 de maio de 2006
...A Cada Um Segundo as suas Necessidades....Uma Ova!
Por Klauber Cristofen Pires
Publicações: Diego Casagrande, Parlata, Instituto Liberdade, Blogs Coligados.
Já faz algum tempo que eu li, durante um vôo, uma coluna de um grande jornal carioca escrita por Frei Betto. O artigo falava de alguma comunidade perdida no passado europeu, onde, lá vem a frase famosa, "a cada um era dado segundo as suas necessidades". Lembro-me de ter me incumbido de responder ao jornal, mas eis que o esqueci - para sempre - repousado na poltrona do avião, de modo que, de lá para cá, fiquei no.. "Ah, ,é, é?!" De qualquer forma, duvido que minhas réplicas seriam publicadas mesmo...
O texto escrito por alguém que se diz "frei", sem de fato o sê-lo, pode levar pessoas desavisadas a pensar que a máxima citada provém de alguma passagem bíblica. Não te enganes, mesmo se estiver ounvindo isto de alguém que fale manso com a boca mole imitando sotaque italiano. Não há nada nem sequer parecido na Biblia: a frase " de cada um segundo suas capacidades a cada um segundo as suas necessidades", foi proferida pelo próprio Karl Marx, em sua "Crítica ao Programa de Gotha" (1)
Pensei em diversos títulos para este artigo que pudessem traduzir o meu intento de explicar de uma forma simples, a pessoas comuns, como rechaçar estas frases prontas absurdas, mas, por que pareçam bonitas, ou porque declamadas por alguém que se intitule uma autoridade religiosa, ganham contornos de verdade. Ao fim, desisti e postei este que agora aparece. Prefiro ainda pensar que falar ao público não significa necessariamente usar de forma medíocre o vocabulário.
Prezado leitor, para que novas oportunidades, tais como esta, que tive e perdi, não fiquem para trás a te olhar com cara de quem perdeu o ônibus, reflete apenas no seguinte: o boi recebe segundo as suas necessidades! Mas não é ele quem as elege, senão o pecuarista, que não está interessado na felicidade do animal, mas sim, em sua carne! Diz simplesmente isto para o professor de sua escola ou faculdade, ou para o padre adepto da Teologia da Libertação que reza a missa em tua paróquia.
Minha esposa costuma lembrar um dito de seu pai, hoje falecido: "Quem parte e reparte e não fica com a maior parte, é burro e não entende da arte". Sabedoria popular, e verdadeira. Você imagina mesmo que, havendo alguém que detenha a prerrogativa de te dar "...segundo as tuas necessidades" não haverá de reservar para si a melhor e maior parte, deixando-te, se muito, somente com o necessário para não morrer famélico? Diz isto a eles também! Uma simples pergunta indiscreta: " - E quem é que vai determinar quais as minhas ncessidades?", já irá deixar o seu palestrante sem saber o que responder!
Veja como se expressa de forma simples - e certeira - o grande filósofo Ludwig von Mises, em sua obra-prima, "Ação Humana" (2):
"Tem sido afirmado que as necessidades fisiológicas de todos os homens são idênticas e que essa igualdade pode servir de base para medir o grau de satisfação objetiva. Quem expressa tais opiniões e recomenda o uso desse critério na formulação de políticas governamentais na realidade está propondo que se tratem os homens da mesma maneira que um criador lida com seu gado. Tais reformadores não percebem que não há um princípio universal válido para todos os homens. O princípio que vier a ser escolhido dependerá dos objetivos que se quer atingir. O criador de gado não alimenta suas vacas com a intenção de fazâ-las felizes, mas visando a objetivos específicos que ele mesmo estabelece. Pode preferir mais leite ou mais carne ou qualquer outra coisa. Que tipo de pessoas os criadores de homem querem formar: atletas ou matemáticos? soldados ou operários? Quem pretender fazer do homem a matéria-prima de um sistema preestabelecido de criação e alimentação na verdade está arrogando-se poderes despóticos e usando seus concidadãos como um meio para atingir seus próprios fins, que são indubitavelmente diferentes dos que eles mesmos pretenderiam atingir." (Os grifos são meus.)
Portanto, amigo leitor, não ajas como gado! Desmascara estes embusteiros, e na frente de todos!
(1) A referência que eu tenho vem de uma edição do filósofo Hans Hermann-Hoppe, em seu livro: "A Theory of Socialism and Capitalism" (Hans Hermann-Hoppe, A Theory of Socialism and Capitalism: Economics, Politics, and Ethics, Kluwer Academic Publishers, segunda edição, 1990, Notas (15), pag. 220) : "Critique of the Gotha Programme" (K. Marx, Selected Works, vol. 2, London, 1942, p. 566)
(2) Ludwig von Mises, Ação Humana: Um Tratado de Economia, Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995, 2ª ed. p. 243.
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Esse conceito de igualdade aplicado à educação parece adquirir um efeito paradoxal.Estou confusa.
ResponderExcluirCada um deve medir sua própria necessidade de forma consciente. E faltou lembrar do restante da frase "a cada um segundo sua capacidade", o que não faz do doador um "burro", mas, sim, um agente promotor de igualdade na medida em que oferece aos outros o que pode. É tudo questão de uma consciência coletiva, se prefere viver sua liberdade individual à máxima potência, não reclame da sociedade em que se encontra.
ResponderExcluirUma série de confusões, em meu entender.
ResponderExcluirEm primeiro lugar, a igualdade é uma invenção absurda, na medida em que TODOS gostamos do que é diferente. Na natureza, a diferenciação é fundamental no sustentar da complexificação, ou seja, evolução. Não, pois à igualdade, e sim ao RESPEITO pelo outro.
Seguidamente, "... cada um conforme as suas necessidades." é correcto, se representar algo a alcançar. Na realidade, todos somos diferentes e daí o termos diferentes necessidades. Cada vez mais a evolução social está a permitir satisfazer, através da diversidade da oferta de produtos (bens e serviços) as necessidades de cada um. Mas é claro que estas necessidades têm, em cada momento, de ser temperadas pelo respeito ao que nos cerca, sejam as necessidades dos outros, seja a perseveração do meio ambiente.
Que vergonha comparar pessoas a gado!E se não existir o pecuarista, todos os bois vão trabalhar, um vai plantar grama, o outro vai fazer leite, o outro vai transformar leite em queijo,o outro vai cuidar dos bois doentes...então todos iriam trabalhar o maximo e quanto mais queijo fizesse poderia trocar por mais grama de forma que os que trabalham mais e melhor receberiam mais.Não haveria bois chefes como acontece na nossa sociedade em que 1 boi ganha metade do que mil outros bois produzem enquanto esses bois trabalhadores ganham 1 queijo a cada 10 que produzem.Para melhor administrar a produção de queijo, os bois iam fazer uma eleição para qual deva ser o boi com melhor capacidade de administrar.Esse boi poderia ser a qualquer momento destituido do cargo de gestor se decidissem que esse boi nao está fazendo seu trabalho direito.Na verdade o boi chefe seria um boi contratado pelos bois produtores e que poderia ser demitido pelos bois produtores.Não haveria demissão de bois que não fosse feito por decisão democratica de todos os bois da cooperativa de queijo.E mesmo que ele fosse demitido ele ainda poderia continuar produzindo leite com os mesmos equipamentos que ele tinha quando trabalhava na cooperativa e poderá entrar em outra cooperativa.de forma semelhante as cooperativas produtoras de grama seriam varios pastos pequenos cada um de um só boi que seriam administrados juntos ainda que cada pedacinho de terra tivesse um dono.nesse reino dos bois livres todos teriam acesso aos mesmos meios de produção e teriam o mesmos direitos de votar e ser votado para ser chefe assim como o direito de votar pela mudança de chefe.Alguns iam conseguir fazer queijo mais rapido e mais entao teria mais queijo para trocar por grama ou leite.o primeiro artigo da constituição desse pais ia ser "O país dos bois adota os seguintes principios: liberdade,democracia,igualdade de oportunidades e trabalho"
ResponderExcluiro segundo artigo seria "não faz sentido machucar ou roubar dos outros bois já que só seres muito primitivos matam ou roubam por ganancia crueldade odio inveja ou raiva.Se é melhor ter amigos que inimigos porque os bois magoariam ou machucariam outros bois?Nenhum boi tem menos chances na vida que outro boi na terra dos bois então se um boi quer ter mais que o outro ele simplesmente trabalha mais que o outro"
e a terceira e ultima lei seria "os bois vão sempre se ajudar, serem amigos e no final das contas o objetivo da existencia do pais dos bois é que todos tenham o que precisam e merecem pelo trabalho duro que fizeram para que no final do dia a razão de existencia do mundo e dos bois seja a alegria de viver e o mais importante; o amor "
Prezado anônimo, Acho que você leu somente as primeiras linhas da orelha do livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell. Leia o resto do livro, rapaz
ResponderExcluirOpa, Klauber! Então, na sua opinião, qual seria a alternativa para "a cada um segundo as suas necessidades"? Pelo seu artigo, isso não ficou claro para mim. Abs!
ResponderExcluirCheguei a este blog pesquisando a frase. Só ao pesquisar que soube que é do Marx.
ResponderExcluirCuidado, Klauber!
Ao apenas criticar as frases e não apresentar um ponto de vista ou uma proposta moderada, você pode dar a entender que é extremista. Suponho que não seja, mas...
Se formos levar em conta apenas teu texto, uma consequência é falarmos: "E cabe ao escravo exigir de seu dono mais liberdade? Eles nasceram sem liberdade, nunca a tiveram e nem saberiam o que fazer com ela."
Cuidado