Espaço Cultural Libertatum

![]() |
JORGE LUIS BORGES (1899-1986) - Argentino, um dos mais prestigiosos escritores da América hispânica. Antes conhecido por suas ficções do que pela poesia, embora se incluam neste gênero seus primeiros livros: Fervor de Buenos Aires, Luna de Enfrente, Cuaderno San Martín.
A chuva.
A tarde
bruscamente se aclarou,
Porque já
caí a chuva minuciosa.
Caí e caiu.
A chuva é só uma coisa
Que o
passado por certo freqüentou.
Quem a
escuta cair já recobrou
O tempo em
que a fortuna venturosa
Uma flor lhe
mostrou chamada rosa
E a cor
bizarra do que cor tomou.
Esta chuva
que treme sobre os vidros
Alegrará nuns
arrabaldes idos
As negras
uvas de uma parra em horto
Que não
existe mais. A umedecida
Tarde me
traz a voz, a voz querida
De meu pai
que retorna e não é morto.
São os rios.
Somos o
tempo. Somos a famosa
parábola
de Heráclito o Obscuro.
Somos a
água, não o diamante duro,
a que
se perde, não a que repousa.
Somos o
rio e somos aquele grego
que se
olha no rio. Seu semblante
muda na
água do espelho mutante,
no
cristal que muda como o fogo.
Somos o
vão rio prefixado,
rumo a
seu mar. Pela sombra cercado.
Tudo
nos disse adeus, tudo nos deixa.
A
memória não cunha sua moeda.
E no
entanto há algo que se queda
e no
entanto há algo que se queixa.


Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá! Seja benvindo! Se você deseja comunicar-se, use o formulário de contato, no alto do blog. Não seja mal-educado.