Primeiro Grande Saque
Amazônico (X)
Início da Atividade
Econômica Morna no Pará
Por Armando Soares
O Pará teve seu setor extrativo da borracha
durante a década de 1870 com certa morosidade. Uma das causas foi o preço da
borracha. Outra causa foi à fraca expansão da industrialização da borracha,
cuja demanda não acompanhou o ritmo crescente da produção. Nesse período, a
borracha era utilizada na fabricação de botas, capas de chuva, mangueiras,
cintos e material isolante, mas ainda muito cara para utilização em grande
escala. A borracha ia ter que esperar que nascesse a indústria de pneus para
ser chamada de “ouro negro”, e montar a civilização amazônica.
A Base da Economia
Paraense e a Localização Geográfica do Pará
Enquanto
o Pará, em 1870 não entrava na idade do “ouro negro”, exportava quantidade
elevada de cacau, castanha do Pará, e algodão que iria desaparecer da
estatística na década de 1890. Entretanto, a prosperidade de Belém tinha a seu
favor a sua localização próxima à foz do Amazonas, como a ausência de
concorrentes, Manaus não passava de um entreposto de menor importância, com
apenas 5.000 habitantes. Contudo o centro de gravidade da economia da borracha
deve ter se deslocado do Pará para o Amazonas na década de 1870, mas era em
Belém que quase toda a borracha amazônica continuava a ser armazenada,
acondicionada e vendida para exportação.
Belém
prosperou com a atividade econômica da borracha extrativa tanto quanto Recife,
com a economia açucareira ao tempo da colônia, e São Paulo, com a disseminação
da produção cafeeira. Os surtos de exportação no Brasil geraram nascimentos de
centros urbanos importantes. Seria de se esperar que esse fenômeno trouxesse
vantagens ao desenvolvimento do Pará.
A Importância Econômica
da Borracha
A
borracha amazônica não monopolizou toda a atividade comercial da Amazônia. Não
obstante, a borracha tornara-se líder indiscutível entre os produtos de
exportação da região; durante os trinta anos anteriores ao inicio da expansão,
as exportações da borracha aumentaram, em volume, para mais de 500%.
Durante
as décadas de 1830 e 1840, quando o mercado da borracha ainda era limitado, e
sem utilização restrita a alguns poucos itens de consumo não estratégicos, o
Pará era tanto produtor de borracha bruta, como pequeno fabricante de
utensílios de borracha. Em alguns casos, o seringueiro moldava sapatos e
garrafas com o látex no próprio seringal; em outros, enviava a matéria-prima
para pequenas oficinas em Belém. Na verdade, apenas pequenas partes da borracha
produzida naquela época saia do Pará sob a forma de peles – a forma esférica
que mais tarde, se tornaria a marca registrada comercial da região. Quando
Harry G. Johnson, representante da Bertram & Curven Shoe Company, de Salem,
Massachusetts, viajou ao Pará, em 1850, sua missão não era comprar borracha
bruta, mas sim estabelecer uma fábrica de sapatos em Belém. Dali, os sapatos
seriam embarcados para Salem, sofrendo então uma pequena remodelagem e pintura,
antes de serem lançados no mercado – onde os melhores fregueses eram os
pescadores locais, interessados em calçados à prova d’agua. Assim, por um breve
período, as posições estiveram invertidas, com a Amazônia atuando como
principal centro industrial, e as nações capitalistas, apenas como importadoras
e consumidoras. Tal ajuste, porém, durou pouco tempo: já em 1855, só se
exportavam como produto acabado quantidades desprezíveis de borracha e, menos
de uma década depois, todo o setor manufatureiro do Pará desaparecera.
Incompetência Paraense
e o Processo Espoliativo das Nações Ricas – Grande Saque
Essa
é uma demonstração da incompetência amazônica, que como única produtora de
borracha no mundo foi incapaz de industrializa-la para se transformar num
grande centro industrial. Fica, também, caracterizado o processo espoliativo
das nações ricas e tecnologicamente mais adiantadas que passaram a dominar o
processo de fabricação. Na realidade um grande saque que viria a fazer desaparecer
os benefícios para o desenvolvimento da Amazônia, a única produtora de borracha
que, por isso, deveria sustentar a revolução do sistema de transporte no mundo.
Mais uma vez se pratica um saque monstruoso onde uma incipiente indústria
latino-americana é pioneiro num dado campo, apenas para ver usurpado seu papel
pelas potências imperialistas que a partir daí reduzem a região a mera
produtora de matérias-primas, para logo em seguida dominarem, também, a
produção dessas matérias-primas, decretando, assim, a estagnação econômica da
região.
Justificando o
injustificável
A
incipiente elite social paraense embrionária era toda estrangeira com
preponderância portuguesa. Aos poucos os portugueses cederam o controle das
operações de exportação a capitalistas ingleses, franceses, alemães e
americanos que tinham mais recursos financeiros e o domínio da tecnologia para
industrializar a borracha (produção de pneus, carros e aviões). A partir de
1860, as casas aviadoras se apresentaram como entidades distintas sob o domínio
dos portugueses. Exemplo de português bem-sucedido foi o de Elias José Nunes da
Silva, que chegou ao Pará, em 1834, com quatorze anos de idade e escalou
rapidamente a hierarquia comercial de Belém tornando-se um destacado importador
especializado em vinhos portugueses para o mercado urbano e, mais tarde,
pioneiro do negócio de aviamento no Amazonas, na Bolívia e no Peru. Seu navio
Elias foi provavelmente o primeiro barco a vapor de propriedade particular a
navegar além das fronteiras do Pará, e, em breve, se tornou o mais importante
proprietário de vapores da Amazônia; organizou e dirigiu a Companhia Fluvial do
Alto Amazonas, linha de navegação que teve curta duração constituída
especialmente para o comércio rio acima, com capital de 800 contos, subscrita
quase inteiramente pela comunidade portuguesa em Belém.
Em
1850os empreendimentos estavam sujeitos a riscos consideráveis. Para a firma
Elias José Nunes da Silva & Cia., o risco foi compensador. Com um capital
de 450 contos, se tornou a mais importante casa aviadora da região, e o próprio
Nunes da Silva, que chegara ao Pará em situação econômica modesta, se tornou o
português mais importante da província. Ocupou o cargo de presidente da Câmara
de Comércio do Pará e de Secretário do Banco Comercial do Pará. Em 1886, a
Corte portuguesa, agraciou-o com o título de Visconde de Santo Elias. Os
portugueses desempenharam papel importante no Pará e na década de 1860 fundaram
o Banco Comercial do Pará, primeiro banco local da Amazônia, e na década de
1870, constituíam a força dominante por trás da Câmara de Comércio do Pará. Na
década de 1880, os portugueses de Belém criaram projetos de novas linhas de
navegação, obras públicas diversas, e uma companhia de exportação de controle
local. A significativa contribuição portuguesa fez com que historiadores
passassem do papel desempenhado pelos brasileiros, especialmente pelos
paraenses na fase inicial do negócio da borracha.
Vários
proprietários, apesar de refratários aos negócios com a borracha acabaram por
se envolver nesses negócios. Tem destaque nesse meio Teophilo de Oliveira
Condurú, cuja firma T.O. Condurú & Cia., começou a funcionar na região das
ilhas e em breve se expandiu rio acima, aos seringais virgens do Amazonas. No
decorrer do tempo adquiriu seus próprios barcos a vapor e instalações
portuárias, até que, em 1879, dos 121 navios que atracaram no porto do Pará,
onze eram de T.O. Condurú & Cia., o que a colocava em terceiro lugar entre
todas as casas aviadoras. Era diretor da Câmara de Comércio do Pará e foi
vereador em Belém na década de 1880.
O
mesmo sucesso teve Antonio B. Dias de Mello (mais tarde, Barão de Cametá). Teve
êxito em fazer com que alguns pequenos negócios em Belém e em Cametá se
transformassem numa das mais duradouras firmas aviadoras em funcionamento no
Tocantins e na região das ilhas.
Rio
acima, um paraense José Ayres Watrin foi pioneiro no comércio da borracha no
baixo Tapajós. Watrin ocupou cargos públicos, tornou-se um dos membros mais
atuante da Assembleia legislativa do Pará.
O
capital e o empreendimento dos brasileiros também contribuíram para criar a
infraestrutura bancária e de transportes pré-requisito de expansão da produção
da borracha.
Figura de Destaque no
Período
Barão de Mauá.
A
figura de destaque do desenvolvimento comercial da Amazônia foi o Barão de
Mauá, o mais famoso empresário do Brasil no século XIX. Dentre suas
realizações, o barão pode ser considerado o fundador da primeira linha de
navegação a vapor e da primeira casa bancária regular da região. O envolvimento
de Mauá na economia amazônica fez parte de um empenho brasileiro de limitar a
penetração estrangeira na região. Nos primeiros anos da década de 1850, os
Estados Unidos procuraram pressionar o governo brasileiro para permitir que um
grupo de empresários americanos fizesse funcionar um barco a vapor no Rio
Amazonas. Esse grupo – provavelmente inspirado no relato otimista de William
Edwards sobre o potencial econômico da região – acreditava que o transporte a
vapor iria revelar uma verdadeira descoberta do tesouro de riquezas tropicais
que se exauriam intocadas por falta de investimentos adequados. O governo
imperial, porém, vendo nessa abertura uma ameaça potencial a integridade
territorial do Brasil, recusou-se a abrir a embarcações estrangeiras a
navegação no grande rio. Ao invés disso, decidiu que o meio mais eficiente de
proteger a soberania brasileira sobre a região seria convidar Mauá a constituir
uma linha de navegação a vapor sob controle nacional. Para tornar mais atraente
à oferta, prontamente aceita pelo barão, o governo concedeu-lhe subsídio
financeiro e direitos de monopólio – embora estes últimos fossem revogados um
ano depois do inicio do funcionamento, por causa dos protestos dos defensores
do livre-cambismo no parlamento nacional.
(Esse parágrafo escrito por
Barbara Weinstein é prova do que o governo brasileiro não conhecia e não queria
conhecer, a potencialidade da Amazônia, e muito menos a grandeza econômica da
borracha como agente poderoso do desenvolvimento. Anotem quanta estupidez nas
medidas adotadas para preservar a soberania brasileira proibindo a navegação de
navio americano e entregando apena a um brasileiro o monopólio da navegação e o
desenvolvimento da região. A soberania foi preservada para depois, em nossos
dias ser destruída pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, de Lula e da
Dilma do PT, quando, de maneira criminosa, criaram monstruosas reserva
indígenas, caminho mais curto para entregar a quase totalidade da Amazônia a
estrangeiros representados pelos índios em nome do aparato
ambientalista-indigenista. A Amazônia não foi desenvolvida pelo barão, por
qualquer governo brasileiro, continua estagnada e seu povo empobrecido e sem
forças para sair desse estágio de pauperização. Esse é mais uma prova do saque
que a Amazônia vem sofrendo pelo endocolonialismo e por ações estrangeiras.
Enquanto o governo brasileiro protegia as riquezas amazônicas dos americanos,
os ingleses sorrateiramente estavam transferindo a seringueira para suas
colônias asiáticas. Um atestado de total ignorância, que também prova a
incompetência de administradores públicos e políticos. O Brasil de hoje é o
retrato fiel dessa verdade.)
Armando Soares – economista
e-mail: armandoteixeirasoares@gmail.com
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