quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Mensagem de Natal

Por Klauber Cristofen Pires

Em nossa família, sempre temos cultivado a figura do bom velhinho, que, segundo dizem, teria realmente existido, como um caridoso bispo alemão. Em todos os Natais, temos contratado um Papai Noel, para trazer os brinquedos das crianças. Creio que a fantasia da brincadeira acabe por enternecer mais os adultos do que propriamente as crianças, quando constatam nelas os olhinhos brilhando, a ansiedade por abraçá-lo e a atenção que lhe prestam quando faz a elas as suas recomendações e as exorta a rezarem para “Papai do céu”.

Minha filha tem hoje 6 aninhos, a idade, em média, com que os pequeninos começam a questionar a figura do Papai Noel. Lembro-me que, no Natal de 2004, o nosso Papai Noel era um amigo do prédio bem jovem e moreno, o que chegou a despertar nela alguma desconfiança, a qual veio a me revelar depois, em privado: “- papai, posso te contar um segredo?” “-Sim, filha, pode falar...”. Então, em tom bem reservado, ela me contou: “- eu acho que aquele não era o Papai Noel de verdade, mas um homem que veio vestido como ele...” Tentando segurar o riso, afaguei-a e, sem confirmar a sua desconfiança, e tampouco sem negá-la, sugeri a ela que talvez o Papai Noel se utilizasse de ajudantes, já que tem o mundo todo para distribuir seus presentes...”. Naquele dia, “colou”.

Entretanto, o amadurecimento vem chegando, e temo que neste ano talvez não consigamos mais, vamos dizer assim, “enganá-la”. Suas amiguinhas mais velhas já andam “estragando a festa”, e ela nos vem, a mim e à minha mulher, com questionamentos lógicos, sobre os quais não podemos refutar, sob pena de confundi-la, o que não seria bom. A pena é que faltam apenas alguns poucos dias...Sendo ela a criança mais jovem da família, a chegada do Papai Noel passará a ser um evento sem o brilho natural que encobria os Natais anteriores.

Pensar nesta tradição familiar faz-me também recordar, por contraste, de um colega e amigo que tive. Embora pessoalmente um bom sujeito, ele é comunista até o último fio de cabelo. Em sua casa, não havia Natal. Não havia enfeites, presépios, árvores, papai Noel, nem nada. O Natal, segundo ele mesmo, que, aliás e coerentemente, também era ateu, não passava de uma festa burguesa. Papai Noel, então, era a própria encarnação da diferença entre classes, pois trazia presentes só para as crianças ricas (muito embora ele sempre tivesse tido dinheiro suficiente para comprar para o seu filho um bom presente.).

Que pena, que dó! Refiro-me ao seu filhinho, naquele tempo também com a idade de quatro aninhos, a olhar todas as casas ao redor com as famílias reunidas, as comidas, com as roupas novas, as correrias das crianças, e com papai Noel. Enquanto nos outros lares cantam-se glórias a Jesus, na sua casa tinha de agüentar, em volume bem alto, para abafar o Natal (ou a própria consciência) aquelas músicas pra lá de “deprê” do Chico Buarque! Para este colega de trabalho, papai Noel é apenas uma fantasia, e isto não prestava para seu filho, que tinha logo de conhecer a “realidade”.

Como vêem, para os comunistas é assim: a fantasia não deve pertencer às crianças, mas aos adultos! Enquanto as crianças dos petralhas, bolivarianos e quetais são jogadas desde os tenros aninhos na “real”, muitas vezes servindo até como escudos humanos em invasões de terras, os adultos, mesmos os velhos, num exemplo clássico de síndrome de Peter Pan, refugiam-se como podem, covardemente, nos sonhos de suas utopias malévolas, negando toda a realidade que se lhes impõe às suas vistas cotidianamente.

O Natal não é a apoteose da divisão das classes sociais. Pelo contrário, é justamente o momento do congraçamento. Basta vermos quantas pessoas se dedicam, nesta época, a coletar alimentos, brinquedos, roupas, remédios; basta vermos quantas pessoas visitam as cadeias e os hospitais. O Natal é uma época que convida a todos a darem um tempo na correria diária pela sobrevivência.
Pratos requintados e brinquedos caros não fazem a essência do Natal. Nos lares mais humildes, um delicioso arroz de galinha cai tão bem quanto o bacalhau que será servido nos lares mais abastados. Para uma criança doce de coração, um caminhãozinho ou uma boneca de plástico, desses que qualquer pai que receba salário mínimo pode comprar, torna-a mais alegre e cheia de gratidão do que os brinquedos mais requintados para as respectivas crianças mais abonadas.

Esta luta cotidiana, esta que os comunistas dizem ser a realidade e que, por covardes que são, dela se escondem, enquanto a empurram goela abaixo de seus próprios filhos, é apenas uma realidade-meio, uma realidade instrumental, necessária para manter os nossos corpos em relativo conforto. Não somos gado, somos seres humanos! O trabalho não é um fim em si. Trabalhamos, na verdade, para termos comemorações tais como o Natal, a Páscoa, o Corpus Christi, ou mesmo o singelo domingo que toda semana está lá, para nos possibilitar abraçar nossos queridos, conversarmos em família, e refletirmos sobre as coisas mais altas de nossas vidas.
Feliz Natal a todos!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Imagine Agora...

Por Klauber Cristofen Pires

Recentemente, recebi de uma querida amiga uma mensagem, destas que se transmitem em cadeia pela internet, com a divulgação do artigo “Agora, Imaginei”, publicado originalmente no jornal O Globo, no dia 10/11/2007, de autoria do Sr Cristovam Buarque.

Como me enviara com um certo ar de empolgação, e porque a tenho em boa consideração, dei-me ao trabalho de explicar-lhe as armadilhas armadas nas entrelinhas, assim, detalhadamente.
O motivo pelo qual dei-me a tal estafante trabalho é justamente mostrar às pessoas mais leigas que, tal como a minha amiga, muitas vezes realmente bem-intencionadas, deixam-se levar pela forma – mais ou menos bem apurada - carregada de romantismo e idealismo com que certos formadores de opinião procuram transmitir a sua visão de mundo.

O grande problema que estes agentes de propaganda socialista causam é que, por saberem lidar com as emoções das pessoas mais despreparadas, geralmente logram, além de fazê-las engolir sua gororoba ideológica, também torná-las refratárias a quem busca chamar-lhes a atenção para os fatos e a lógica. É mais ou menos como quem, ao se deparar com o sorriso meigo e a forma terna de falar de um menino levado, encanta-se com sua aurinha angelical e recusa-se a acreditar que ele tenha quebrado as janelas dos vizinhos, mesmo com tantas testemunhas a acusá-lo, justamente por quê, encantado com os modos do infante, se esquece de observar o estilingue, que ele mal esconde atrás de si.

Mais abaixo, segue a reprodução do artigo, com algumas pequenas colocações adicionais, tendo sido os meus comentários colocados parágrafo a parágrafo, em letras itálicas.

“Agora, imaginei que todas as crianças brasileiras, entre quatro e dezoito anos, estavam assistindo aula. Não apenas matriculadas, mas freqüentando, assistindo, aprendendo, até o final do Ensino Médio. Imaginei que o dia escolar começaria na hora certa, e todas as crianças ouviriam juntas o Hino Nacional. Cada aula duraria o tempo previsto. Imaginei todas as crianças em bonitos uniformes, sem diferenças por renda, luxo, pobreza.”

Hora certa, tempo previsto, Hino Nacional, uniformes (destaque: sem diferenças de renda, luxo ou pobreza): o parágrafo pega leve - é uma introdução, apenas - mas, quem se dispuser a identificar nas entrelinhas, poderá enxergar aquele tom de ordem unida, de homem-massa. Um lugar modelo? Que tal a Coréia do Norte, onde a população é acordada diariamente às sete da manhã, com sirenes, tal como nos quartéis? Em tempo: porque sem diferenças de renda? Minha filha tem 6 anos e já compreende que há crianças mais ricas e mais pobres que ela, e que a inveja e a cobiça dos bens alheios são pecados.

“Imaginei que nenhuma criança iria embora logo após a merenda, e que depois do almoço elas ainda teria m atividades escolares complementares: nadariam, pintariam, jogariam, ouviriam música, aprenderiam idiomas, leriam, fariam trabalhos comunitários, assistiriam a filmes, fariam experiências científicas, teatro, dança, aprenderiam a tocar instrumentos musicais.”

A idéia é bonita, não fosse o tom de obrigatoriedade, inclusive quanto ao tal do trabalho comunitário. Aliás, elas teriam de fazer tudo isto ao mesmo tempo? E se meu filho abominasse música, ainda assim seria obrigado a comparecer às aulas? E se ele adorasse física e química? O tempo perdido com todas estas atividades não o atrapalharia?

“Imaginei que todas chegariam ao final do ano e passariam nos exames, por terem aprendido, sem necessidade de promoção automática. Que todos os jovens concluiriam o Ensino Médio, salvo raras exceções por motivos de saúde. E que o Ensino Médio teria 4 anos, garantindo também o domínio de um ofício, ensinado na própria escola. Todos aprenderiam a se deslumbrar com as belezas do mundo, a se indignar com suas injustiças, a entender a lógica das coisas, a querer fazer um planeta melhor e mais belo, a sobreviver dignamente no atual mundo do conhecimento.”

Por partes: 1) A própria tese do homem perfeito, não? Por acaso, alguém já viu um índio com problemas de má formação congênita? Ah, não? Então eles são uma raça superior? Bom, se forem superiores porque esmagam a cabeça dos nenéns com uma pedra...aliás, bem do jeito como receitavam Stalin, Polpot, Hitler et caterva.... –a propósito, sugiro assistir ao filme "A escolha de Sofia". 2) A idéia de se ministrar obrigatoriamente um ofício na grade escolar, tradicionalmente defendida pelos adeptos da intervenção estatal no ensino (para quem a educação não passa de um treinamento de capacitação de operários) é um estorvo para o jovem que pretende se preparar para a faculdade e, ao mesmo tempo, um flagrante desperdício de recursos, na mesma medida em que ele jamais exercerá a profissão de nível médio. 3) Agora é necessário "aprender" a contemplar as belezas do mundo? 4) Indignar-se com as injustiças? Quais injustiças? A que os professores, a mando do partido-estado, lhes ensinarem? As injustiças do sistema de liberdades civis, inclusive o de livre comércio, vulgo sistema capitalista? 5) A entender a lógica das coisas? Caramba, estes jovens serão super-homens...eu tenho quase 40 e ainda sei tão pouquinho... - lógico, tal como Pol Pot, que matou pelo menos uns três milhões, os outros é que não o compreendiam... 6) ah, deixa pra lá...cansei...

“Imaginei que todos os professores seriam muito bem remunerados, dedicados e bem formados. Que nenhum professor precisaria parar as aulas para pedir aumento de salá rio. Que um Plano Nacional de Carreira quebraria a vergonhosa desigualdade na qualificação e na remuneração dos professores, dependendo do Município e do Estado. E que todos os nossos professores disporiam dos mais modernos equipamentos pedagógicos, cujo uso dominariam. Cheguei a imaginar que, quando nascesse uma criança, seus pais desejassem para ela a profissão de professor.”

Numerando: 1) Quem não quer um bom salário? Quem não merece? O médico? O motorista de ônibus? O vendedor? Ah, bem me lembro de um torneiro mecânico que não dispensa um terno Armani, pijamas de algodão egípcio, champanhes de 11 mil dólares, e claro, um avião com sauna, que ninguém é de ferro... 2) Qual o problema da desigualdade na qualificação e remuneração dos professores? Todos têm de ser igualmente burros? Todos têm de receber o mesmo salário? Ficarão todos igualmente felizes pelo salário igual que receberem? As condições dos locais em que vivem são iguais? São iguais seus planos e aspirações? Todos os professores terão de saber tudo sobre todas as áreas? E se algum descobrir ou inventar algo novo, terá de jogar sua descoberta/invenção no lixo, para ficar igual aos outros? O ensino não é algo raro e desejado, e portanto, sujeito à lei da oferta e da procura, assim como todos os demais?

Imaginei o fim da desigualdade na qualidade da educação no nosso país, e que a escola dos pobres seria igual à escola dos ricos, a dos morros igual à dos condomínios, todas com a máxima qualidade. Imaginei a escola do Brasil igual às melhores do mundo. Jovens disputando o vestibular em igualdade de condições, independentemente da renda de sua família e da cidade onde vivessem. E a universidade recebendo assim os melhores dos melhores entre todos os brasileiros, com a máxima formação, e não apenas os melhores entre os poucos que concluem o Ensino Médio, com a mínima qualificação. Imaginei que os melhores desses novos alunos optariam pela Carreira Nacional do Magistério.

De novo, por números: 1) Como é que se mede a qualidade? Não é comparando o melhor com o pior? O que seria igualdade de condições? Seria algo como submeter os jovens a uma rotina diária rigorosamente igual, tal como no filme "Os meninos do Brasil”? Quando morresse o pai de um, o pai dos outros deveria ser executado? Quando um sentisse dor de barriga, a todos os demais seria receitada alguma substância que lhes causasse semelhantes sintomas? Que todos estudem, desde o jardim até o fim do segundo grau, exatamente durante o mesmo número de horas, com os mesmos livros, e mais, que tenham as suas aulas com os mesmos professores, e que aprendam por igual? 2) Para quê então os pais, mesmo os pobres, se sacrificam tanto para pagar a melhor escola particular possível para seus filhos? Para que aprendam o mesmo que aprendem nas escolas públicas? Para que sejam iguais, ou para que sejam melhores? 3)Os melhores no magistério? Imagine relegar aos grandes gênios, os indivíduos mais talentosos e empreendedores, não as grandes descobertas que lhes esperam, mas a atividade de repetição e imitação que corresponde ao ensino...não seria andar pra trás?

“Imaginei a dinâmica e força dessa nova universidade, as pesquisas que ela desenvolveria, os profissionais que formaria, imaginei até os prêmios Nobel que o Brasil receberia.”

Do jeito que o Nobel anda se desvalorizando, premiando até político democrata americano que faz alarde fraudulento de aquecimento global...

“Imaginei como estariam o desemprego, a violência, a corrupção, a desigualdade, a pobreza, a eficiência, a auto-estima, a participação, a cidadania, a economia, a saúde, a ciência e tecnologia, o meio ambiente, quando todos os brasileiros tivessem uma educação da maior qualidade. Vi que tinha imaginado um Brasil completamente diferente daquele que a realidade nos faz temer, porque o futuro tem a cara que as escolas têm no presente.”

Que tal pensar que uma educação pode melhorar concomitantemente com outros requisitos, tais como o exercício pleno das liberdades civis, inclusive a da livre –iniciativa e do livre-mercado, a formação de poupança privada, a descoberta de novos conhecimentos, das novas tecnologias e das novas oportunidades que o mercado vier a abrir? Que tal pensar em nossa sociedade sem um grande timoneiro a querer impor aos outros a sua visão estreita de mundo, tal como um alguém que, arvorando-se colocar no lugar de técnico de futebol, por vezes manda todos os jogadores para a frente, e outras vezes manda todos recuarem?

“Então imaginei o mais difícil: que todos acreditariam que tudo isso era possível e necessário. Pensei que, se todos imaginássemos juntos, o caminho estaria aberto para transformar a imaginação em realidade. Que se os diferentes partidos, em sucessivos governos, se unissem para fazer aquilo que imaginei, o imaginado aconteceria.”

Todos unidos por um só objetivo! O grande guia manda, os camaradas obedecem. Uma só solução. Todas as outras soluções banidas! Os partidos, Sr Cristóvão Buarque, se unem pelo Brasil. Isto não significa que todos tenham de pensar a mesma coisa. Muitas vezes ajudam, quando justamente discordam. O Fuehrerurtum nunca funcionou, por mais lindas que fossem intenções, e mais doces as suas palavras.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Humanize a Natureza!

Por Klauber Cristofen Pires

Um documentário do canal Animal Planet, ou melhor, um espaço informativo que tem sido apresentado no intervalo dos programas, exibe o depoimento de uma treinadora de baleias e golfinhos, em que a moça expõe o feliz relacionamento que teve com uma baleia orca – a mesma que, salvo engano, foi a estrela do filme “Free Willy” – e destaca o fato de como o animal era dócil, inteligente e carinhoso, enquanto as cenas demonstravam os truques e as peripécias que sua mascote fazia no aquário, para divertimento da platéia.

Pois bem, tal como prossegue o programa, o sucesso do filme chamou tanto a atenção de ambientalistas preocupadíssimos com o bem-estar do bichinho (melhor “bichão”, né?), que estes, enfim, decidiram fazer de tudo para devolvê-la ao mar. Quem não assiste ao canal deve estar pensando que a nossa estrela agora deve estar por aí feliz da vida caçando focas, mas - desculpem-me – cai em ledo engano. O infeliz animal, depois de tanto bem servir ao seres humanos, de aprender a se relacionar com eles e a amá-los – morreu abandonada à própria sorte, de pneumonia. Eu diria, deve ter morrido de desgosto – pois, como o próprio programa afirmava, a coitada da orca foi diversas vezes vista a seguir navios nas costas da Noruega, na esperança de fazer contato com os seres humanos.

Este é o retrato mais fiel da mentalidade dos preservacionistas, e pior, por eles mesmos! Assim, nenhum deles haverá de pôr em questão os fatos.

Agora, pensem bem: a orca tinha lá uma boa vida, não é mesmo? Afinal, vivia em segurança, com alimentação adequada e cuidados médicos e sempre cercada de mimos e carinhos. O que então lhe aconteceu? Humanizou-se, claro! No possível para um ser de sua espécie, ela aprendeu a não ter de matar e nem a ser agressiva, mas ao contrário conviver em harmonia, colaborar (afinal, ela trabalhava!) e o resultado, enquanto morou no aquário, foi uma vida tranqüila, livre do stress típico de quem tem de permanecer em alerta o tempo inteiro para poder comer e não ser comida.

O caso desta baleia não é único: quem quer que tenha um cãozinho percebe como ele se integra nas regras e no relacionamento carinhoso que lhe oferecem seus donos; certa vez, eu soube de uma porquinha que, tão bem tratada que era, sentia uma certa repulsa dos seus irmãos de espécie no chiqueiro, afinal, parecia-lhe clara a sua superioridade com relação a eles, tanto na higiene como nos modos.

Realmente, não dá para saber o que um animal pensa, se é que pensa alguma coisa, isto é, em termos de raciocínio lógico. Todavia, já sabemos que os animais, principalmente os mamíferos mais desenvolvidos, possuem esquemas pré-lógicos, digamos assim, que lhes permitem fazer algumas escolhas. No caso do nosso querido cetáceo, isto ficou claro quando passara o resto da sua vida a seguir navios, em vão (puxa, que triste!).

Fiel à mentalidade revolucionária, entretanto, os ambientalistas-politiqueiros- marqueteiros de plantão (só porque ela fora uma estrela de cinema, pois as outras continuam com suas vidas tranqüilamente...) interferiram na vida da orca, declarando-se pensar em seu bem-estar, isto é, à revelia do animal, da tratadora - que a amava como um filho seu, e da administração do aquário, que sei lá os prejuízos que teve de suportar para ver sua estrela lhe ser subtraída.

A essência do preservacionismo é querer manter a natureza do jeito que está, e, no possível, fazer os seres humanos agirem tal como os animais. Um trabalho sem sentido, pois desde os trilobitas, que reinaram no período Paleozóico (e até antes), milhares ou milhões de espécies animais e vegetais apareceram e desapareceram da face da terra, sem que não tivesse havido absolutamente nenhuma intervenção humana.

Não raro, todavia, gente desta espécie, associada a biólogos, sociólogos, e sedizentes filósofos, buscam no comportamento dos animais selvagens explicações ou exemplos para servirem de modelo aos seres humanos. Então pergunto: por quê tem de ser assim? Por quê não pode ser o contrário?

Se os humanos são filhos de Deus, conscientes de sua existência, e a única espécie racional do planeta, por que não humanizar os animais, ao invés de barbarizar o homem? Todas as espécies de animais que se associaram aos seres humanos evoluíram, tornaram-se mais graciosas, têm vivido melhor e foram granjeadas com maiores garantias de perpetuação do que no estado selvagem. Até mesmo animais silvestres que têm tido um contato marginal com seres humanos tornam-se mais tranqüilos, meigos e até colaboradores, tais como os jacarés ou catitus, nas fazendas do Centro-Oeste, ou os golfinhos pescadores, nas praias catarinenses.

Certa vez, assisti comovido a um caso que aconteceu no zoológico da Inglaterra: foi quando uma criancinha caiu da balaustrada, indo parar direto na área dos gorilas. O curioso foi ver um dos gorilas, talvez o chefe, impedir os outros de sua espécie de se aproximarem do menino, que jazia inconsciente. Caso por caso, o gorila foi mais humano do que aqueles da espécie homo sapiens, que proclamando serem “defensores dos direitos dos animais”, na Alemanha, propunham sacrificar um ursinho de três meses, batizado de Knut, somente porque a mamãe ursa o havia rejeitado (alegavam que, na natureza, o ursinho morreria, e que isto deveria ser emulado também no cativeiro...).
Se é a missão bíblica do homem trabalhar na obra divina, ou, num discurso mais apropriado aos ateus, se o homem é o ser racional e consciente, porque ele mesmo não deve ser a medida das coisas, pacificando os animais, transformando os desertos em campos verdejantes e purificando os ambientes insalubres e pestilentos?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

CAdê o Super-Tiro?

Por Klauber Cristofen Pires

Um dos brinquedos mais bacanas que eu tive na infância foi um rifle de repetição a ar comprimido. O “Super-Tiro”, como era seu nome, era produzido pela Estrela e disparava um projétil de plástico, semelhante a uma minúscula peteca. Ele tinha um carregador lateral, e era alimentado por um puxar da empunhadeira. Com ele, também vinha um alvo, cujas “moscas” caíam quando acertadas pelos projéteis.

Eu, meus primos e meus amigos brincávamos a valer naquele tempo. Quase sempre com armas de brinquedo. Brincávamos de guerra, de polícia e ladrão e de faroeste. A bem dizer, nas nossas brincadeiras de criança, diga-se, sempre privilegiávamos o papel do soldado aliado (brasileiro ou americano que fosse) e principalmente, o da polícia (bem diferentemente do que ocorre hoje com estes videogames com jogos de lutadores de gangues de rua). De todos os que me acompanharam nestas atividades lúdicas, que eu saiba, não saiu nenhum assassino, ladrão, estuprador, matador de aluguel ou coisa parecida, para desgosto dos sociólogos, psicólogos, pedagogos e demais profissionais de plantão afins. Aliás, que eu me lembre, fora insetos e baratas, o único ser vivo que eu já matei até hoje foi uma galinha para o Natal, e ainda assim “paguei um mico” danado (eu estava com pena da bichinha e isto aumentou várias vezes o seu sofrimento, porque a execução demorou além da conta. “Tadinha”...).



Jamais aceitei o fato de o Super-Tiro ter sido retirado do mercado. (Gostaria até que, se alguém da Estrela ler este artigo, ou mesmo alguém que tenha sido um feliz dono de um exemplar - que se pronunciasse acerca da sua extinção). Era um produto de boa fabricação, inofensivo (o disparo não era mais forte do que um pequeno “peteleco”), divertido (porque reunia a família inteira – lembro-me dos campeonatos de tiro-ao-alvo que fazíamos), e a melhor notícia para qualquer pai, não usava pilhas!



Há alguns anos atrás, a mídia noticiou com estardalhaço o fato de um menino ter desfilado no dia sete de setembro como mascote de uma guarnição da polícia militar, à frente da tropa, uniformizado e, ora, pasmem, empunhando a arma padrão da corporação, se não me engano, uma submetralhadora ou algo assim! Na mente de quem se achava no dever não de informar, mas de servir-se como agente de transformação social, aquilo foi o fim do mundo, e o que era para ser motivo de orgulho de um pai, de seu filho por ele, da organização militar e por tabela, da sociedade, foi “vendido” ao público como a vergonha extrema.



Naquela época, a condenação total do acontecimento, sem nenhuma voz influente a discordar e proteger a corporação militar, jogou longe a tradição de prezarmos as nossas instituições incumbidas de zelar pela lei e pela ordem. Funcionou mais ou menos como o seguinte recado que a sociedade tivesse lhe dado: “- olha, Polícia Militar, você é somente um mal necessário, uma assassina legalizada que nós, cidadãos, pagamos a contragosto – e atendemos pela porta dos fundos”. Para o menino – e talvez também para seu pai, que era um dos policiais no desfile - deve ter sobrado o trauma e a frustração pela função que exercem. Que coisa, hein?



Na Receita Federal, os brinquedos apreendidos provenientes de descaminho (popularmente conhecido como contrabando) são encaminhados para destruição. Necessário dizer mais alguma coisa? Aliás, parece que as crianças hoje não brincam mais com armas de brinquedo – usam as de verdade, mesmo!



A este ponto chegou a paranóia dos militantes em favor da causa desarmamentista, vistos estes três pequenos exemplos, tirados a olho grosso. Que tivessem influenciado a Administração Pública (no caso dos brinquedos apreendidos) até que era coisa de aceitarmos, digamos, com aquela complacência protocolar; mas esta gente conseguiu interferir nas nossas vidas privadas, e especialmente no caso do menino que desfilou no sete de setembro, conseguiram produzir uma inversão de valores tal que somente muitos filmes com o “Capitão Nascimento” conseguirão – quem sabe - fazer com que passemos a dar o devido valor à polícia (isto, independentemente das suas falhas, o que é outra história).




É com isto que nós, brasileiros, temos de nos preocupar e abrir os nossos olhos. Por uma mera questão de opinião, que já se mostrou falsa de tudo quanto é jeito, estes grupos conseguiram impor a sua vontade sobre os nossos valores e nossas preferências. Conseguiram invadir as nossas vidas! Dali em diante, tornaram-se supercidadãos, e nós, algo como os “intocáveis” (não me refiro aos heróis do filme americano da década de 30, mas àquela casta indiana que, por estar abaixo de todas as demais, não usufruem quase nenhum direito e vive de esmolas e dos serviços mais sujos).

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Possui a Sociedade uma Alma Própria?

Por Klauber Cristofen Pires

Não há duas pessoas iguais neste mundo. Todo aquele que sustenta que os seres humanos necessitam disto ou daquilo, ou que têm de voltar as suas atenções para tais e quais objetivos, somente estatui arbitrariamente parâmetros medidos em termos de suas próprias convicções. A liberdade, portanto, é o principal meio de garantia pelo qual um ser humano pode, por ele mesmo, julgar as suas necessidades e conveniências e valorando-as, tentar conquistar a sua felicidade.

No Brasil, se queremos apontar uma causa em especial para a progressiva relativização da liberdade individual, que paulatinamente temos visto tornar-se mais diáfana, será a tese do “interesse público”. Nas faculdades, nas tribunas, nos debates televisivos, nos artigos de opinião da mídia impressa, não há quem falte a defender que o “interesse coletivo deve prevalecer sobre o do particular”.

À primeira vista, pelo menos intuitivamente, somos levados a concordar com tal postulado, pelo menos quando colocado em termos abstratos. Os defensores do princípio da prevalência do interesse público, animados por teorias coletivistas, para sustentar-lhe a validade amparam-se na crença da existência de um pensamento coletivo, do qual, claro, apresentam-se ou como um de seus porta-vozes, ou, pelo menos, advogados dos que reclamam para si este poder.

Neste cenário plúmbeo, apresentamos a lição objetiva e elucidativa de Ludwig von Mises (1): “Se alguém diz Eu, nenhuma outra informação é necessária para estabelecer o seu significado. (...) Mas, se alguém diz Nós, é preciso alguma informação adicional para indicar quais Egos estão compreendidos nesse Nós. É sempre um simples indivíduo que diz Nós; mesmo que muitos indivíduos o digam em coro, permanece sendo diversas manifestações individuais.

O Nós não pode agir de maneira diferente do modo como os indivíduos agem no seu próprio interesse. Eles podem agir juntos, em acordo, como um deles pode agir por todos. Neste último caso, a cooperação dos outros consiste em propiciar uma situação que torna a ação de apenas um homem efetiva para todos. Somente neste sentido é que o representante de uma entidade social age pelo todo; os membros individuais do corpo coletivo ou obrigam ou permitem que a ação de uma só pessoa lhes seja também concernente.”

Como compreendemos do argumento acima, não podemos deixar de flagrar aquele que, pretendendo falar em nome de qualquer interesse coletivo, o declama por sua própria boca e, portanto, segundo tão somente a sua particular visão das coisas.

Oportunamente, observemos também que a palavra “interesse”, para dar significado ao conceito de “interesse coletivo” pode ser bastante desastrosa: por exemplo, podemos assinalar que os nazistas (a maioria) tinham o interesse “coletivo” de exterminar os judeus (a minoria). Seria, então, este um direito legítimo, ainda que fosse para matar um só judeu?

Mais adiante, vejamos que também existe diferença entre o que se costuma denominar de “interesse coletivo” e “interesse do Estado”, muito embora estas expressões sejam corriqueiramente “empurradas” como sinônimas. Por exemplo, o Estado tem muito interesse no instituto de substituição tributária (um dispositivo legal pelo qual ele obriga alguém a recolher os tributos em lugar de terceiras pessoas – tal como ocorre com o recolhimento de imposto de renda na fonte pelas empresas, em relação aos seus empregados), mas até hoje não ficou demonstrado se este interesse, que é claramente do Estado, porque lhe gera uma economia, atende os interesses da sociedade, analisados os critérios de justiça e também da própria economia, balanceada a redução de custos pelo estado, quando contraposta com a elevação dos custos pelos particulares.

Certamente, há antes bens públicos, do que interesses públicos; podem ser tangíveis como uma estrada ou praça, ou intangíveis, como o dever de todos de respeitar o direito à vida de seus compatriotas. Mas o que lhes distingue categoricamente de qualquer alusão a um dado “interesse público”, quando assim proferido como uma verdade categórica, é sempre a manifestação positiva e inequívoca por todos os integrantes de uma comunidade, e respeitadas as minorias, mediante a garantia permanente de proteção aos direitos individuais, já consagrados para todos; isto, afinal, é o que devemos esperar de uma democracia que se esmere em ser fielmente representativa.

Em suma, viver em sociedade exige a mitigação de algumas liberdades, mas somente no tanto necessário para que esta se faça possível, e sempre com vista à obtenção de benefícios gerais compensadores dos sacrifícios por todos suportados; em linha contrária, a edição sem fim de normas casuístas, justificadas com base em considerações de “interesse público” por arrogantes que crêem serem donos das escolhas alheias, somente transforma uns em fidalgos e outros, em servos.

(1) Ação Humana, 2ª ed. 1995, Instituto Liberal, pg. 46.

A Propriedade e sua Função

Por Klauber Cristofen Pires

Para começarmos a falar sobre Economia e Livre Iniciativa, necessariamente precisamos introduzir o conceito de propriedade privada. Os méritos para a compreensão da função da propriedade privada devem ser atribuídos primeiramente aos economistas clássicos, e mais precisamente, aos economistas austríacos, especialmente o filósofo Ludwig von Mises, ao terem demonstrado que, sem a propriedade privada dos meios de produção, não há preços, e portanto, não há uma avaliação racional sobre a utilização de recursos. Segundo os “austríacos”, este foi o principal fator para o colapso da economia dos países comunistas, e em especial, da União Soviética.

De forma absolutamente diferente do que estabelece a Constituição brasileira de 1988, ao arbitrar critérios absolutamente convencionais para definir uma “função social da propriedade privada”, podemos atribuir ao instituto da propriedade privada cinco valores apriorísticos, e portanto, fundamentais, a saber:

1. Do valor jurídico: a primeira forma de obtenção da propriedade privada é a “apropriação original”. Por este conceito, um indivíduo declara ser dono sobre um dado recurso natural jamais antes pertencente a outro indivíduo. O conceito de propriedade emerge sempre que pensamos em raridade dos recursos, e é por si mesmo, a medida solucionadora de disputas entre dois seres humanos. Mesmo o próprio local no qual um ser humano põe os pés sugere a necessidade de um critério pacífico de resolução de conflitos, dado que duas pessoas não têm como ocupar o mesmo lugar no espaço. Da apropriação original, surgem diversos destinos que uma pessoa pode dar ao seu bem: a troca, a doação, o empréstimo, gratuito ou oneroso, ou outras formas mais complexas de relacionamento com outros humanos, todas pacíficas e porque voluntárias, também mutuamente benéficas.

2. Do valor filosófico: do conceito de propriedade privada surge a garantia de liberdade de um ser humano. A primeira propriedade de uma pessoa é o seu próprio corpo. Um ser humano tem um elo lógico, naturalmente aceitável por qualquer um, para declarar seu corpo como sendo sua propriedade: é ele quem o ocupa, que o forma e que o mantém; qualquer outro critério que alguém alegue para declarar a sua propriedade sobre o corpo de outrem, digamos por exemplo, o fato de ser mais forte, ou mais claro, ou de ter sido encarregado de uma missão divina, é destituído de qualquer vínculo natural e lógico, mas antes, baseado em conceitos puramente arbitrários por ele mesmo estabelecidos.

3. Do valor moral: a liberdade, que é o fruto garantido pelo direito de propriedade, não tem um valor finalístico próprio, mas é ela mesma incondicionalmente ligada à procura da felicidade. Dado que não há, absolutamente, nenhum critério pelo qual um ser humano possa ditar a outro como ser feliz, a busca da felicidade, objetivamente considerada, deve envolver somente o juízo de cada indivíduo, e do que ele estabelece para si mesmo como sendo o alvo de suas aspirações. Quando alguém –um indivíduo, ou um grupo de indivíduos unidos por uma convenção, digamos, o Estado - começa a ditar restrições ao direito de propriedade, ou mais sutilmente, sobre as variações de uso da propriedade, por exemplo, sobre o modo como as trocas podem ser feitas, inexoravelmente inicia um processo de derrogação da liberdade e portanto, da felicidade humana individual.

4. Do valor econômico: Já vimos até aqui que, com a propriedade privada, surge a possibilidade de os seres humanos efetuarem trocas. Estas trocas, quando realizadas pacifica e voluntariamente, atendem ex-ante aos anseios dos seus protagonistas e permitem, com o uso de um meio de troca, ou seja, da moeda, uma avaliação cada vez mais apurada e precisa dos valores que uma dada população atribui a cada bem, dado que os indivíduos, com o objetivo de incrementarem suas condições de vida, tendem a balancear as relações de custo X benefício. Nos países comunistas, os preços eram convencionalmente estabelecidos por burocratas desvinculados de qualquer conhecimento sobre os custos de produção, daí que torravam capital material e humano em empreendimentos que inexoravelmente produziam menos do que o investimento feito.

5. Do valor praxeológico: a Praxeologia, a ciência desenvolvida pelo filósofo Ludwig von Mises, estuda a ação humana, e define categoricamente os eventos e situações em que o ser humano age, sempre com o intuito de prover uma melhoria de seu bem-estar. Neste aspecto, a acumulação dos frutos do trabalho tem o efeito de estímulo à produção de mais bens, os quais poderão ser trocados com os demais indivíduos que com ele se relacionam, o que acarreta, paulatinamente, um incremento geral no padrão de vida de todos os envolvidos.

Quando compreendemos o que acima foi exposto, podemos claramente entender que a defesa do instituto da propriedade privada possui um caráter apriorístico e fundamental, bem diferente, como apresentamos acima, dos equivocados conceitos estabelecidos pelos constituintes de 1988; em suma, não é uma dada propriedade particular que irá cumprir uma função – social(?) – da propriedade, se estiver em dia com determinadas obrigações ou requisitos estabelecidos por terceiros. O que define a segurança, tranqüilidade, estado de confiança mútua e paz no seio de uma sociedade é a compreensão mesma dos valores intrínsecos da propriedade privada, e que qualquer derrogação, mesmo parcial, sempre acarretará uma corrosão no edifício social.

Finalmente, devido ao fato de que a ação humana é sempre um ato individual, e que a busca da felicidade ampara-se sempre em critérios absolutamente pessoais e subjetivos, qualquer explicação macro-econômica da sociedade irremediavelmente escora-se em valores de juízo arbitrariamente - e por isto injustamente - estabelecidos por seus propositores.

domingo, 14 de outubro de 2007

Vá procurar seus direitos!

Por Klauber Cristofen Pires


Quem se lembra de uma novela que, em algumas de suas cenas, apresentava o ator Flávio Migliaccio a interpretar o papel de um aposentado que aguardava eternamente a revisão de sua aposentadoria pelo INSS? Nas suas falas, o personagem insistia mais ou menos assim: “-eles querem me ver morto, mas não vão, não vão conseguir...”.

Mais uma vez, veio uma novela politicamente correta a sugerir a necessidade do brasileiro de “ir procurar e lutar por seus direitos”, à custa, necessário dizer – de uma estóica persistência e utópica fé (no governo). Eu nem sei se o personagem afinal foi abençoado com a tal revisão, mas sei que demorou muito, o suficientemente bastante, por exemplo, para que ele pudesse, por hipótese – ter falecido antes de alcançar seu objetivo. Em termos de aposentadoria, cada ano perdido não se recompensa, nem pelo pagamento em dobro.

De certa forma, portanto, não podemos deixar de pensar que o personagem tinha razão, quando dizia que queriam vê-lo morto, pois o sistema de pagamento de aposentadorias no Brasil é do tipo de repartição de receitas, onde é coletado o dinheiro arrecadado pelos trabalhadores ativos para com ele se pagar os aposentados e pensionistas. Entretanto, se fosse só assim, até que não seria mal, mas some-se a isso a irredutibilidade do valor das aposentadorias, e aí sim temos um sistema que nasceu pra não dar certo, já que não há nenhum elo que ligue a receita com a despesa. Ao Tesouro Nacional, resta arcar com o faltante.

Neste cenário, que não é de novela, mas real, não surpreende que no ninho dos burocratas não haja quem torça, e mais, que não esteja disposto a dar uma forcinha, para pessoas como o personagem aqui descrito deixe de dar despesa. É a lógica dos chapéus: onde houver dez cabeças e nove chapéus, corte-se uma cabeça para prover a bonança. Será por acaso coincidência esta campanha que vemos pela legalização do aborto e pela eutanásia?

A tônica do argumento socialista (também comunista, petralhista, marxista, etc.) reside na proposta de que, embora o cidadão arque com os impostos considerados às vezes altos, será beneficiado em seguida com educação “gratuita”, saúde “gratuita”, segurança “gratuita”, transportes “gratuitos”, etc. Depois, quando os pais têm de dormir na rua para poder matricular seus filhos numa escola pública (que coisa mais bizarra...); quando as pessoas morrem numa maca largada num corredor fétido em meio a uma centena de outros coitados a esperar por algum atendimento médico; quando um INSS decide não pagar a aposentadoria, e assim por diante, aí não faltam “especialistas” com cara de boçais, a afirmar que os brasileiros precisam aprender a fazer valer os seus direitos, tipo assim, ir à rua e protestar, fiscalizar as contas dos governantes, e que tais...

Ora, então pergunto aqui a quem me lê: Terá sido um bom negócio pagar certo por algo que se receberá incerto? Será justo, ou conveniente, que se deva pagar por alguma coisa e depois ter de lutar – e ainda por cima por meios abstratos - para consegui-la? O que, digamos, eu preciso fazer quando vou ao supermercado? Simplesmente não pego minhas coisas, pago e as levo? E com relação às escolas particulares? Não é simplesmente chegar, pagar e ver seu filho estudando? E com relação ao serviço de tv a cabo, ou o consórcio do carro? Não é simplesmente receber o serviço, no primeiro caso, e a carta de crédito no momento avençado, no segundo?

Agora, já seria de se ver os tais especialistas batendo o pé e clamarem: “- mas então como se dão as coisas no meio privado quando os serviços não funcionam?” Ora, o que ocorre quando, por exemplo, o plano de saúde privado nega o atendimento? É simples, acionamos a justiça, e reclamamos o estabelecido no contrato!
Senão, vejamos: quando aconteceu aquela tragédia com uma aeronave da TAM em Congonhas, contra quem as vítimas acionaram a Justiça? Contra o Estado Brasileiro ou contra a companhia aérea? Só este fato – por mais que a empresa esteja tentando amenizar seu prejuízo – demonstra - mesmo num país onde quase tudo leva a intromissão abusiva do governo, como são estes dois casos, os planos de saúde e a aviação civil – que as pessoas sabem onde melhor obter a reparação para seus danos e mais, que é pura perda de tempo procurar algum responsável na Infraero, na Anac, no Ministério da Defesa, no Ministério dos Transportes, ou seja lá onde, pois o jogo de empurra-empurra, numa hora destas, não tem fim.

Certa vez, numa conversa com amigos, todos servidores públicos de alto escalão, eu ouvia sua reclamações sobre as mudanças que estavam sendo implementadas pelo governo FHC no tocante às suas aposentadorias; reclamavam, em suma, que o governo estava mudando as regras do jogo no meio do percurso, e consideravam isto injusto. (Não houve momento na conversa, todavia, em que um deles se lembrasse de quantas regras eles mesmos já haviam derrogado para os cidadãos na área em que atuam - pimenta nos olhos dos outros é refresco, não?).

Porém, a queixa deles procede - pelo menos no âmbito moral, ou melhor, em termos de um conceito de justiça natural, dado que, quando fizeram o concurso público, o governo oferecia a aposentadoria integral no edital. Contudo, as disposições editalícias não são de ordem contratual, mas antes, oriundas de um jus imperi que permite ao ente estatal modificá-las unilateralmente, com base numa doutrina de prevalência do interesse público sobre o interesse do particular, seja lá qual for este direito, fundamento ou por quem se o declame. Concluindo, por mais que reclamassem, não podiam fazer nada, isto por que eles não tinham direito como aposentados, já que ainda não haviam cumprido os requisitos previstos em lei para a aposentadoria, o que vale dizer, no direito vigente, que a eles assiste apenas uma “expectativa de direito”, ou no fim das contas, o mesmo que nada.

Duas coisas, portanto, separam irrevogavelmente o serviço privado do serviço público: a contratualidade e a igualdade jurídica entre as partes. Pela contratualidade, ambos os lados têm certos entre si todos os seus direitos e deveres, e ex-ante, concordam com todos os termos e declaram-se satisfeitos com o acordo celebrado; pela igualdade jurídica entre as partes, temos que nenhum lado tem o poder de modificar unilateralmente as cláusulas estabelecidas. Juntos, estes dois institutos dão o contorno, moldam, concretizam o que há de mais rarefeito nos serviços públicos: a responsabilidade.

Enquanto que em relação aos serviços privados há sempre um direito concreto a ser defendido judicialmente e um responsável direto a ser cobrado, no serviço público as pessoas contam, no máximo, com estas tais de expectativas de direito, ou alegados direitos políticos (como se já não houvesse de fato direitos concretos a serem reclamados), verdadeiras fumaças que se desfazem somente no momento em que sobra um cidadão com um prejuízo na mão.
Se há algum direito a ser reclamado, isto sim, é o de podermos escolher de quem compramos nossos serviços; que as pessoas que recebem o nosso dinheiro não brinquem com ele, mas façam o combinado, e que haja uma justiça idônea a compelir os espertinhos a cumprirem com as suas responsabilidades.
Livre-mercado, respeito aos contratos, Estado necessário: eis os nossos direitos!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Papel Reciclado? Quanto Desperdício!

Por Klauber Cristofen Pires

(Inspirado no artigo “Recycling: What a Waste!”, de Jim Fedako, em

Tempos atrás, recebi um programa de um concerto musical produzido em papel reciclado. Achei curioso e decidi pesquisar um pouco sobre este modismo politicamente correto, e encontrei algumas informações que, digamos, valem por um questionamento.

Primeiro, vale lembrar – ou informar, pra quem não sabe - que a produção de papel, no Brasil, é ponta de lança mundial. Nós temos simplesmente o melhor e mais barato papel do mundo, e todo ele fabricado a partir de árvores plantadas. Nosso país possui uma relativa abundância de madeira e grandes reservas de caulim de excelente qualidade (o pigmento que deixa o papel branquinho e brilhante).

Já o processo de reciclagem de papel, mesmo aquele feito por processos semi-industriais ou industriais, tem como resultado, na melhor das hipóteses, algo parecido com o que se usa nas casas de secos e molhados para embrulhar pão, lingüiça ou farinha. É um papel de cor ocre, grosseiro, com visíveis impurezas; as fotos perdem a nitidez e as cores ficam pálidas.

Todavia, conquanto se pareça com um mero papel de embrulho, o reciclado custa muito mais caro, e tanto é assim que seu uso se restringe a usos nobres, como cartões natalinos, prospectos de shows de teatro e convites de formatura. Na verdade, o que faz o sucesso do papel reciclado é a sugestão que move as pessoas a pagar um alto preço por ele, pensando que assim ajudam a natureza.

Entrementes, por alto que já seja o preço do papel reciclado no mercado consumidor, ele ainda não comporta em si todos os custos para a sua produção, pois não entram na sua contabilidade o IPTU e a taxa de coleta de lixo, que todos pagamos, e que, dependendo do município, cobrem os custos de coleta, seleção e possivelmente, de alguma etapa prévia de sua reindustrialização. Destarte, também não cobre o nosso próprio custo doméstico de comprar mais recipientes para a separação, e nem, afinal, o nosso trabalho de separá-lo.

A economia nos ensina que, dados dois ou mais métodos de se produzir alguma coisa, a escolha pelo menos custoso é a que mais preserva os recursos naturais. Será preciso provar este postulado? Então vejamos: quem consome mais tinta? A moderna caneta esferográfica, ou a caneta-tinteiro? E quem consome mais gasolina? Um carro popular atual ou aqueles “DKV’s” que, além do combustível, também queimavam óleo? Falando de carro, quem consome mais aço? Os de hoje ou os da metade do século anterior? E eletricidade? A tv de hoje ou aquela de válvulas?

Já ouvi dizer que os office-boys da famosa rede Wall-Mart são instruídos para coletarem de volta os clipes dos documentos que foram entregues aos destinatários, como parte de seus procedimentos de redução de custos. Como era de se esperar, tem havido protestos, com alegações, em função disso, de condições de trabalho ultrajantes. Ora, isto nada tem de ultrajante. Reutilizar os grampos não ofende ninguém e cada clipe que retorna gera uma economia que pode ser repartida entre a empresa, o cliente e o governo. E a natureza? Agradece, claro!

Em outros países, os clientes podem comprar detergentes e produtos parecidos a granel: de posse do vasilhame, é só levá-lo ao supermercado e enchê-lo. No Brasil, esta técnica ficou melhor assimilada com o uso das embalagens “refill”, feitas de um saquinho plástico, para que o cliente em casa complete o frasco. Ei, e vale lembrar que ainda funciona o método de comprar refrigerantes e cervejas com troca do “casco”; uma invenção simples e econômica que já existia muito antes da ordem unida: “-reciclar!”

Como vimos, “reduzir” e “reutilizar” produzem muito mais resultado do que reciclar. Ao observarmos o trabalho dos catadores de lixo, verificamos que, no possível, eles procuram manter a integridade dos objetos e materiais coletados, justamente pensando em “reutilização”, como no caso das caixas de papelão e vasilhames de vidro. Lembremos que os catadores de lixo agem de acordo com as demandas de mercado.

Dado o alto preço do alumínio, a relativa facilidade de obtê-lo no lixo e um produto da reciclagem ser tão bom quanto o original, é possível que a coleta de latas de bebidas tem sido um dos poucos materiais que tornam economicamente viável a reciclagem. No caso do papel, entretanto, não soa ser assim, no que pese tamanha campanha pró-reciclagem. Nos telejornais e programas sedizentes educativos, mostram-se crianças nas escolas aprendendo a reciclar papel: moem, molham, adicionam cola, prensam, e aprendem nestas oficinas como podem desperdiçar seu precioso tempo, e deixar de fazer algo mais benéfico para si mesmas e para a humanidade para poder produzir algo com péssima qualidade.

Quem de fato está interessado a ajudar a natureza, pode decidir por tomar atitudes melhores de que pagar para ajudar a produzir algo que depois pagará de novo, e mais caro, para obter: atualmente, por exemplo, dificilmente precisamos de documentos escritos; uma apresentação com “data-show”, que alguém deve fazer, para digamos, relatar as realizações de seu departamento, pode muito bem dispensar o acompanhamento de cópias impressas dos slides. Isto é perda de tempo e de dinheiro. Depois os ouvintes jogarão estas cópias no lixo. Melhor fizer se coletar o endereço de todos e depois enviar o arquivo por email.

Outra boa solução é imprimir os dois lados da folha. Ela foi feita pra isto, mas muita gente, por ignorância ou preguiça, as utiliza em um só lado; impressões de ambos os lados resultam em documentos e processos menores, mais fáceis de manusear, e economizam. Outra dica é visualisar o documento antes de imprimi-lo. É incrível, mas a maioria das pessoas que conheço são aquelas que imprimem várias vezes e também várias vezes dizem: “droga”(ou coisa pior...)

Concluindo, não se trata aqui de refutarmos – a priori – a reciclagem. Ela pode ser útil e necessariamente preservadora da natureza se for economicamente viável. Com o papel, é visível que os custos de reciclagem superam em muito os da já bastante eficiente produção nacional de papel original, e pior, para resultar num produto muito inferior. Isto claramente indica que, para a sua produção, utilizamos, com desperdício, outros recursos que poderiam ser melhor utilizados em outras finalidades.
A reciclagem de papel, portanto, pode agravar a poluição e e devastação, ao invés de contê-la. O erro dos ecologistas está em tomar a reciclagem como uma ordem geral, despida de qualquer raciocínio lógico e pragmático, e pautada caso a caso. Erros assim são típicos dos déspotas e tiranos, ignorantes conscientes e orgulhosos dos princípios do livre-mercado.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Preserve a Natureza: Não Maldiga o Lucro!

Por Klauber Cristofen Pires

Quem poderia imaginar que de um curso de sobrevivência na selva poderíamos ter uma aula de economia? Não é exagero, mas isto mesmo! O Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS, sediado em Manaus, é uma das instituições mais respeitadas do mundo no que faz: ensinar técnicas de combate e sobrevivência em florestas equatoriais, e o curso de sobrevivência, que também é extensível a civis, tem, entre seus ensinamentos, o de que se não deve extrair os palmitos das palmeiras.

A razão? Não, não pensem de que se trata de alguma portaria do Ibama. A questão é outra: o trabalho de obter o palmito, que envolve cortar a palmeira, retirar as folhas e as lâminas externas que envolvem o broto comestível, consome mais calorias do que se obtém com a sua ingestão. Na selva, seja para o soldado ou para um sobrevivente de um desastre aéreo ou naufrágio, a moeda corrente são as calorias.

Evidentemente, ao pegarmos um vidro de palmito na prateleira do supermercado não estamos a valorizá-lo por seu valor nutricional, mas pelo seu sabor, pelo que o temos como uma iguaria. É apenas uma questão de preferências. Não obstante, a lei continua a ser a mesma: notemos que um vidro de palmito custa bem mais caro que outros legumes ou verduras. Este preço salgado tem uma informação a prestar: que o público deve consumi-lo com moderação. Se, por acaso, houver uma excepcional procura, isto é, se uma parcela expressiva da população exercer a sua preferência por este bem, o preço aumentará cada vez mais, dissuadindo os fãs menos ardorosos, até equilibrar a oferta com a demanda.

Entretanto, isto não é tudo: um dado preço tem a característica também de incentivar a produção, e é isto o que tem ocorrido justamente com o palmito, pois já há produtores animados com o mercado promissor. Se depender deles, as saladas não sentirão a falta do ingrediente precioso.

Tem sido muito comum disseminar a idéia de que o lucro é o grande motor da devastação da natureza. Na tv, nos livros escolares, nas tribunas dos políticos ou mesmo nas missas, tem sido vendida com muito sucesso a idéia de que somos todos vítimas de empresários “gananciosos” e “inescrupulosos”. Não fôssemos um povo tão fútil e mentalmente preguiçoso, bastaria pouco para ver que o lucro, por si só, nada informa sobre a extração de recursos naturais. Por maior que fosse a expectativa de lucro da atividade madeireira, por exemplo, nada ele poderia fazer se a população abdicasse de querer casas, móveis e outros objetos de madeira, ou que para isto preferisse, por exemplo, o plástico ou o aço. Em termos bastante simples: não é o lucro que serra a árvore, mas sim a demanda das pessoas. Aquele que em público condena a insensibilidade do madeireiro, mas ao voltar pra casa senta-se numa mesa de madeira, pega suas roupas num roupeiro de madeira e dorme em uma cama de madeira, age como um hipócrita, dado que é seu cúmplice patrocinador.

Extrair madeira com objetivo de lucro é muito mais vantajoso para a preservação da natureza, porque a atividade tende a se desmobilizar quando se torna economicamente desinteressante. Que não sejam os motivos econômicos, serão, por exemplo, os políticos: não serão pessoas comuns as beneficiadas com casas, móveis e objetos, mas políticos e burocratas, que, pelo fato de que não haver um preço definido para a madeira, e mesmo que houvesse, NÃO seriam eles que pagariam por ela, nada se importam com o custo de ter uma bela estante de mogno trabalhado em seus gabinetes, bastando-lhes, para tê-la brilhando, lustrosa, à sua frente, não mais que uma canetada. Não serão também, da mesma forma, empreendedores a lhes fornecer, servindo como mais uma instância de juízo sobre a conveniência da empreitada, mas peões ou soldados, que lhes obedecerão cegamente, até que não haja um mínimo pedaço de pau para se fazer um palito de dente.

Isto já aconteceu antes, e muito nos países comunistas. Um dos exemplos mais marcante foi a esterilização do mar de Aral, antes uma das maiores reservas piscosas daquele país. A eliminação das árvores da ilha da Páscoa também pode ser um exemplo significativo, pois eram colhidas para a construção e transporte daqueles cabeções, tão somente com o objetivo de saciar a vontade dos soberanos.

Sempre que fazemos algo com intuito de obter lucro, desde que haja liberdade de concorrência – não é necessário que haja uma concorrência real e já estabelecida – tendemos a racionalizar ao máximo os custos, e nisto reside um grande fator de preservação dos recursos naturais!

As primeiras geladeiras, para quem não sabe, consumiam o gás refrigerante sem retorno! Isto mesmo: quando o gás acabasse, o seu dono tinha de comprar mais uma garrafa de gás. Este sistema perdurou principalmente nas frotas de caminhões frigoríficos. Foi o custo de produzir este gás que gerou a necessidade de um sistema de refrigeração que o condensasse novamente para reutilização em um novo ciclo. Se nos ativermos somente às geladeiras, veremos que hoje um destes aparelhos consome menos de um quarto da energia elétrica, possui uma eficiência térmica muito maior, dificilmente enferruja ou dá pane, e somente exige uma carga de gás se houver um dano físico ao seu sistema.

Os pneus dos carros, que antes furavam por qualquer motivo e exigiam uma câmara interna, hoje rodam mais de sessenta mil quilômetros sem necessidade de troca, e ainda admitem uma recauchutagem que lhes dará uma sobrevida de mais uns vinte mil quilômetros! Outra: quanto se gastava antigamente de tinta com a escrita a bico-de-pena? Imagine-se, há meio século atrás, a escrever este artigo, molhando uma pena, palavra por palavra, no tinteiro, e depois passando o mata-borrão! Mesmo as famosas canetas-tinteiro, objeto do desejo de tantos estudantes daquele tempo, consumiam, por documento, muito mais tinta que as modernas esferográficas. São milhões os casos em que a busca de eficiência resultou em produtos cada vez melhores, mais seguros e mais baratos. Não dá, para o tamanho que se espera de um artigo, continuar citando aqui, mas qualquer pessoa pode observar que isto é verdadeiro.

Se há um único argumento que se pode apontar contra o sistema de livre mercado, é o de que este procura atender a pessoas comuns, pessoas do povo, e a um número cada vez maior. Os ambientalistas detestam isto: não que não adorem as maravilhas modernas, pois delas não abrem mão, ah, isto não! Carro popular? Cruz-credo, que cafonice! Um daqueles luxuosos jipões 4X4 é o mínimo aceitável. Aceitável, mas só pra eles e pra quem se lhes garanta o poder de determinar como os outros devem viver. Não à toa, em nosso país, comunidades inteiras, que viviam em seus domínios muito antes da chegada destes gurus do comportamento alheio, hoje passam fome, pois foram proibidas, por estes estranhos que se interpuseram a elas, de pescar, caçar, extrair o alimento ou o remédio da flora, ou mesmo de plantar uma modesta “rocinha” ou criar uma galinha ou porco (pois são espécies “invasoras”). Agora só o que podem fazer é esperar que caia um pedaço de pau de uma árvore para fazer uma carranca e implorar para que um ambientalista passe por lá e compre! Eu é que não vou comprar: artesanato é uma daquelas coisas que só tem uma utilidade: dar de presente.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Responsabilidade Social? Não, Ação Humana!



Por Klauber Cristofen Pires

A exemplo do presidiário que preenche seu tempo e suas energias costurando bolas, e com isto distrai-se das agruras da vida de detento ao mesmo tempo em que, cansado da rotina de trabalho estafante, volta para a sua cela adiando qualquer plano de fuga, podem se considerar os empresários que aderem de corpo e alma a determinadas campanhas de responsabilidade social. Ignoram, ao colaborar com um projeto alheio, quais os seus objetivos últimos e para que fins emprestam os seus recursos.

Aproveitando o exemplo acima, cumpre lembrar que a boa fama pelo programa de recuperação dos presos é auferida, afinal, pelo diretor do presídio: ele é quem vai aparecer na entrevista da tv como sendo magnânimo, humanitário e genial; certo, os presidiários também podem vir a serem entrevistados, mas de uma maneira bem diferente, isto é, com a câmera apontada de cima para baixo, para transmitir aos telespectadores uma imagem de sua inferioridade, e o com um tom impresso pelo entrevistador que lhes extraia sentimentos tais como arrependimento e anseio pelo perdão, quando não também a alegria de poderem se redimir e diminuir as suas penas.

Pessimamente assessorados por uma geração inteira de administradores formados segundo teorias marxistas e keynesianas, que na vida profissional somente reproduzirão os cânones gramscistas de formação cidadã da futura sociedade socialista, permitem-se acreditar que investem na boa imagem de suas empresas, e devido a isto que aumentarão a aceitação de seus produtos por parte de um público consumidor cada vez mais exigente e “politicamente consciente”.

Bom, no que depender de mim, desistam, pois decido o que comprar medindo variáveis que eu conheço, tais como qualidade, preço, quantidade ou facilidades de pagamento. Não me permito comprar algum produto porque na tv determinada empresa alega que cuida de crianças carentes, patrocina a dança do boi-qualquer-coisa ou protege o mico-leão dourado, simplesmente porque, para mim, na condição de um consumidor varejista, é impossível medir o custo-benefício disso com base na oferta de um produto que se encontra na prateleira. Tampouco, desconheço quem, mesmo entre aqueles a quem sabidamente conheço como defensores públicos de tais políticas, ajam diferentemente quando de forma prosaica e baixando a vigília, visitam o supermercado ou a loja de departamentos, tal como já os flagrei.

Os alegados bens sociais não podem ser medidos, e não tenho como saber se a empresa age de forma eficiente ou não. Hipoteticamente, é possível que, para cuidar de uma creche com duzentas crianças, por exemplo, uma empresa extraia dos seus consumidores uma quantia tal que exceda em muito o custo necessário para este fim; uma quantia que poderia, a bem dizer, ser mais bem utilizada para o bem de mais crianças se fosse deixada na mão dos próprios consumidores, que poderiam decidir de per se como utilizá-la.

Ademais, não deixa de ser uma certa agressão ao direito de propriedade e de escolha do consumidor: já houve em minha vida determinadas instituições que pediram a minha colaboração,e eu, julgando a sua idoneidade, com algumas tenho colaborado, com outras deixei de colaborar e a outras mais nem sequer dei ouvidos. Idoneidade, portanto, também não é uma característica extrínseca do produto, e muitos consumidores podem acabar pagando a mais, mesmo sem querer, por uma eventual falta de escolhas no mercado local, como por exemplo, a pessoa que pára em frente a um posto de gasolina e que por isto obriga-se a financiar o maracatu, os jogos pan-americanos, a proteção à baleia jubarte e à tartaruga marinha, a restauração de um sem-número de igrejas (mesmo se for um ateu), quando o que tudo o que desejava era não mais que alguns litros de gasolina.

Voltando ao esquema gramscista, tais empreendedores negligenciam o cuidado de a quem entregar a execução de seus empreendimentos sociais, e expõem gerações de jovens ingênuos aos cuidados de ardilosos agentes de transformação social, que ali edificarão as madraçais para a criação de um PT-eleitorado, havido por esclarecer aos seus pupilos que seus patrocinadores se encontram, se utilizarmos a metáfora acima, não no papel do diretor, mas no do presidiário arrependido. (isto, na melhor das hipóteses).

Não trato aqui, e que isto fique bem claro, de detratar tantas iniciativas – principalmente as humanitárias – postas em prática de boa-fé por estes empreendedores. Apenas chamo a atenção para o fato de que a classe empresarial adepta destas campanhas está a criar graves dificuldades para si mesmas. Percebam que o próprio termo “responsabilidade social”, assim como “justiça social”, provém da mesma ideologia que cria sua própria língua com o fim de implantar seus objetivos, à margem de qualquer possibilidade de dissensão, e os coloca ex-ante como sujeitos culpados pelas mesmas mazelas as quais os governos apresentaram como argumentos na hora de aumentar os impostos.

Com isto, o Estado de índole totalitarista alcança vários objetivos de uma só tacada: drena dos empresários os recursos com os quais poderiam investir mais em seus produtos ou até mesmo se imbuírem em um esforço do esclarecimento de sua verdadeira contribuição à sociedade; colhe gratuitamente os louros pelo relativo sucesso dos empreendimentos sociais privados (ahh..esta eficiência burguesa...); como um chupim, celebra ao ver suas vítimas criarem seus filhotes que no futuro irão comer seus irmãos adotivos no ninho, e finalmente, libera-se dos recursos que arrecadou com o pretexto de fazer o serviço para financiar ong’s e movimentos sociais, os quais ainda mais instigarão o ódio à iniciativa privada, às relações consensuais e à liberdade de expressão.

Todos os dias, ao acordar e tomar o café da manhã, milhares de pessoas, a maioria das quais nem conheço empenham-se em fazer a minha vida melhor, e me permitem também me especializar, como retribuição a elas, com o fruto de meu trabalho. É claro que elas buscam o lucro. Mas egoísmo, sim, seria exigir que tudo o que fazem por mim tivesse de ser gratuito. O mero fato de eu não ter de acordar às quatro da madrugada para ordenhar uma vaca, moer e torrar o café e preparar a massa do pão já demonstra o imenso mutirão nesta sociedade em que todos contribuímos com algo em troca de outras coisas mais. Isto é somente para dizer que não há maior responsabilidade para um empresário que fornecer seu produto ao menor custo possível e na maior quantidade possível, para tantas pessoas que dele dependem, e que confiam nele para isto, ou senão não teriam deixado a roça!

Aos empresários realmente incorporados de um espírito patriótico e humanitário, sugiro que modifiquem um pouco a orientação de tais programas. A começar, vamos mudar de nome? Que tal “Ação Humana”, por exemplo? “Ação” indica dinâmica, movimento, empreendedorismo; “Humana” sugere humanitarismo, colaboração, acordo. “Ação Humana” foi a obra-prima monumental do filósofo Ludwig von Mises, um judeu-austríaco que fugiu da Alemanha Nazista para nos ensinar que os seres humanos são colaboradores entre si.

A seguir, sugiro que seus projetos sejam enfatizem a valorização do ser humano como indivíduo; da existência de Deus como fonte de amor e de confiança a cada uma destas pequenas almas; da autoconfiança e da responsabilidade pessoal; do empreendedorismo e da liderança; da confiança mútua como atmosfera das relações humanas; da função social da propriedade, considerada em seu aspecto apriorístico, e não segundo as definições casuístas, arbitráveis por conveniência alheia, expressas pela estrutura jurídico-ideológica vigente. (Observem como propositadamente, a palavra “confiança” aqui aparece abundantemente).
Façam isto agora: telefonem para seus amigos e combinem todos juntos esta mudança de postura. Reúnam-se, façam uma avaliação de seus programas sociais à luz do que acabei de explanar-vos e implementem, para ontem, mudanças construtivas. Não percam tempo!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Quem faz mais Medalhas?

Por Klauber Cristofen Pires

De vez em quando dou uma passada na imprensa cubana, principalmente no Granma Internacional Digital e no Juventud Rebelde. Move-me a curiosidade, de um de lado, de procurar saber alguma coisa da vida cotidiana dos cubanos (muitas vezes a verdade transparece em meio à névoa propagandista), e por outro, de acompanhar o desempenho de seus jornalistas.

Acompanhar as colunas de opiniões é um hobby particularmente interessante, e adianto, pode ser um rico campo de estudo para a Psicologia. Como destaque, os colunistas cubanos são peritos em fazer de uma nota de rodapé um tratado: qualquer fato que em um jornal qualquer não ocupe mais que duas linhas e meia, nos jornais “.cu” merece cinqüenta! O personagem “Rolando Lero”, da escolinha do professor Raimundo, enfim, encontraria um emprego digno de seus talentos...

Terminados os Jogos Pan-Americanos, o negócio de lá agora é colher os louros. Sem falsa modéstia – e até mesmo, eu diria, com justa razão - Cuba se orgulha de ser uma potência esportiva e de vender seu sucesso como o corolário de uma política de saúde e educação providas pelo Estado, ou melhor, pela Revolução.
Ademais, para que se não diga que no país vige uma repressão à liberdade de expressão, há uma enquete sobre os jogos no site “Trabajadores.cu” (http://www.trabajadores.cubaweb.cu/, dia 13/08/2007), onde os internautas podem se manifestar sobre a seguinte pergunta: “¿Por qué Cuba gana en Panamericanos a países con 10 veces más habitantes, más recursos y sin bloqueo económico?” , com as seguintes alternativas: “Porque es Socialista”, “Porque el deporte es para todos”, “Porque el Estado apoya el desarrollo deportivo”, e “Porque em otros paises no apoyam el deporte tanto como Cuba”.

Consideradas “todas” as respostas disponíveis, votei naquela que dizia que outros países não apóiam tanto o esporte como Cuba, embora, no contexto, como se vê, todas as alternativas levassem ao mesmo resultado... Com efeito, há uma grande diferença entre Cuba e os demais países da América: enquanto que no Brasil, Canadá, Estados Unidos ou México as pessoas buscam realizar seus próprios sonhos e laboram por seus objetivos, em Cuba todos recebem o apoio do Estado, mas somente aquele destinado a realizar os objetivos de um só homem.

Todavia, seria oportuno mostrar que há um equívoco ainda não-esclarecido: isto porque, mantidas as mesmas condições com que Fidel mantém o seu plantel de estrelas, o Brasil logra conseguir muito mais medalhas que Cuba. Com efeito, são tantos os campeões nacionais que hoje a liderança mundial no quadro de medalhas, cabe, indiscutivelmente, ao nosso país. De quê estou falando? Ora bolas, claro, do nosso rebanho bovino! Por quê não? Seria injusto compará-los com os atletas caribenhos?

Para quem duvida, leia da própria pena de Fidel Castro, em seu artigo “La Constancia Escrita”, publicado no dia 08 de agosto de 2007: ...“En una entrevista con un diario brasileño, el empresario alemán Ahmet Öner, promotor de cuatro boxeadores cubanos ya refugiados en Alemania, admitió que organizó la fuga de Rigondeaux y de Lara, por la que dijo haber pagado cerca de medio millón de dólares.”... “...Cuba dispone de muchos buenos deportistas pero no se los ha robado a nadie.”

Ora, como se vê, (“...Cuba dispõe de muitos bons esportistas, mas não os roubamos de ninguém!”) o entendimento do Comandante é que os dois boxeadores quase lhes foram roubados! Portanto, não são os jovens atletas seres humanos e donos de seus próprios corpos, dotados do direito natural de decidir sobre a própria vida, mas literalmente, são tratados como uma “coisa”, ou como se diz em latim, “res”. Ora, pelo visto, porquê então não comparar as “reses” cubanas com as brasileiras?

Talvez ainda assim Cuba saia perdendo muito: só para começarmos pelo campo da “saúde e educação”, por exemplo, eu não apostaria um atleta cubano contra um Nelore tupiniquim : afinal, o rebanho brasileiro tem andado muito bem, obrigado. São tratados com veterinários bem-qualificados, remédios de última geração e equipamentos caros e modernos. Quem se lembra de alguns anos atrás, quando, desafiados pelo Canadá, eles é que acabaram tendo de se explicar sobre as suas vacas doidinhas?

Mas as diferenças não param aí. Enquanto que os bois e vacas brasileiros recebem uma muito boa alimentação, balanceada e controlada por veterinários e nutricionistas, em Cuba já houve momentos em que a OMS teve de enviar suplementos alimentares e de obrigar o governo de lá a subir a ração diária de 1600 para 1800 calorias, por conta de uma epidemia de doenças mentais causada por avitaminose! (Ver em http://www.olavodecarvalho.org/convidados/cuba.htm)

Muito antes do sucesso da tomada de La Moncada, mais especificamente, em 1949, expressava-se, com um teor um tanto profético, o filósofo Ludwig von Mises, em sua obra-prima, "Ação Humana" (2):

"Tem sido afirmado que as necessidades fisiológicas de todos os homens são idênticas e que essa igualdade pode servir de base para medir o grau de satisfação objetiva. Quem expressa tais opiniões e recomenda o uso desse critério na formulação de políticas governamentais na realidade está propondo que se tratem os homens da mesma maneira que um criador lida com seu gado. Tais reformadores não percebem que não há um princípio universal válido para todos os homens. O princípio que vier a ser escolhido dependerá dos objetivos que se quer atingir. O criador de gado não alimenta suas vacas com a intenção de fazê-las felizes, mas visando a objetivos específicos que ele mesmo estabelece. Pode preferir mais leite ou mais carne ou qualquer outra coisa. Que tipo de pessoas os criadores de homem querem formar: atletas ou matemáticos? soldados ou operários? Quem pretender fazer do homem a matéria-prima de um sistema preestabelecido de criação e alimentação na verdade está arrogando-se poderes despóticos e usando seus concidadãos como um meio para atingir seus próprios fins, que são indubitavelmente diferentes dos que eles mesmos pretenderiam atingir." (Ludwig von Mises, Ação Humana: Um Tratado de Economia, Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995, 2ª ed. p. 243.)
Mas, e quanto à educação? Aqui já não se encontram diferenças gritantes; ao contrário, as grades curriculares de ambos parecem assemelhar-se: uma das primeiras coisas que um jovem cubano e um novilho zebu aprendem é que não devem passar dos limites da cerca elétrica; outra, também muito importante, é que se decidirem fugir, devem antes saber quem são os vizinhos amigos de seu dono, pois basta um vacilo e podem ser devolvidos...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Pirataria se Ensina na Escola


Por Klauber Cristofen Pires

Com alguma recorrência temos visto nos noticiários reportagens sobre caça a produtos originários de pirataria e contrafação. Com algum empenho, órgãos fiscais e policiais têm procurado deter o avanço da produção de produtos falsificados ou copiados tais como bolsas, relógios, bebidas, roupas e perfumes, e principalmente, CD’s e DVD’s.


Não é o foco deste artigo comentar sobre a eficiência das instituições no combate à pirataria; o certo é que, para as condições normais de qualquer país, o Brasil hoje aplica uma quantidade enorme de recursos em serviços de repressão; contudo, a cada dia, o que qualquer ser humano que saiba andar sobre duas pernas e tem consciência disso constata é que prospera nas ruas dos centros de qualquer cidade um verdadeiro shopping center deitado sobre lonas de estilo “pára-quedas”.


Em qualquer sociedade que pretenda se situar acima do estado de barbárie, um senso comum de respeito à propriedade privada, não aceito como uma restrição ou necessidade, e sujeito às mais variadas exceções e relativizações, mas como um valor propriamente, de cunho apriorístico, há de servir como a atmosfera que permite a todos conviver em paz.


Nestas sociedades, o serviço fiscal e policial ataca nas exceções, concentrando-se sobre os indivíduos que não compreendem os valores da sociedade ou não possuem força de vontade para arcar com os custos de uma autodisciplina. Claro se vê, portanto, que há muito não é o caso do Brasil, onde a exceção, há muito, é regra, donde se conclui que uma verdadeira cultura simpática aos produtos pirateados se dissemina progressivamente, mesmo entre pessoas que, ao olharem-se no espelho, se vêem como probas e honestas.


Tais indivíduos agem de tal forma talvez porque simplesmente devem ter sido acostumados a isto desde a juventude. Com efeito, em nenhum lugar do Brasil a pirataria se institucionalizou como algo plenamente normal como nas próprias escolas e universidades, tanto públicas quanto privadas. Em qualquer biblioteca escolar se pode constatar a presença de serviços de fotocópias; nas universidades, o desrespeito à propriedade intelectual é tão marcante que os próprios professores de Direito começam as suas aulas entregando aos alunos fotocópias de livros e revistas jurídicas. Não será de se estranhar, portanto, que futuros juízes, promotores e advogados venham no futuro a apoiar derrogações do direito de propriedade com relação a outros bens de consumo.


Ao desenvolver este tema, não haverá quem, inclusive dentre os universitários, venha a alegar estado de pobreza como justificativa para a reprodução ilegal de textos e livros; com relação a isto, em contra-mão, apenas digo: enganam-se redondamente!


Querem provas? Bom, primeiro, façamos o seguinte: experimente qualquer pessoa reproduzir um livro por meio de fotocópias e verá logo, sem que isto se torne uma surpresa, que o custo da reprodução e da encadernação será ou muito próximo, ou até mesmo superior ao do livro. A reprodução somente se torna interessante porque ou se extraem do livro apenas algumas seções, ou as escolas ou universidades custeiam os serviços reprográficos. Entretanto, quando se compara o custo da reprodução com o do livro original e usado, mesmo uma pequena quantidade de folhas já lhe ultrapassa o preço.


Este mercado de sebo, construído principalmente por pessoas não relacionadas ao comércio, são a tônica no ambiente universitário nos países onde o direito de propriedade é respeitado, cujo principal exemplo são os Estados Unidos.


Não pensem os brasileiros - nem os pobres, que alegam não possuir acesso ao livro, nem os mais abastados, para os quais a compra dos livros escolares dos filhos, muitas vezes feitas à base de empréstimos bancários ou, na melhor das hipóteses, adquirida graças a uma parcela reservada do 13º salário, aparenta um certo status social - que os americanos, sim, aquele povo muito mais rico que o nosso, desperdiçam um bom livro usado, barato e o que é melhor, já marcado com anotações estratégicas das aulas ministradas no ano anterior!


O livro usado, além de não ofender ao princípio do direito de propriedade, estimula e remunera os autores indiretamente, pois alavanca a venda dos livros novos (Sempre haverá alguém que pode preferir o livro novo, seja por conter revisões mais atualizadas, seja porque pretende permanecer com ele mais tempo, ou qualquer outro motivo). O bom livro, que se presta à consulta a qualquer momento, está a postos na estante ou no sebo mais próximo. A fotocópia, depois de feita e aproveitada por uns dias, nada mais é do que, literalmente, dinheiro jogado no lixo! Imagine a montanha de papel e toner gastos por ano no Brasil, e se terá uma idéia do quanto de dinheiro que este país amassa e joga na lixeira. Em dias de discurso ecologicamente correto, pense o leitor nas conseqüências.


Nada é pior, depois do que foi dito, somente para finalizar, da pobreza intelectual que constitui o estudo por meio de fotocópias. Um livro constitui uma estrutura de raciocínio, de um desenvolvimento que o autor pretende apresentar ao leitor e que para isto recorre a todo um corpo de demonstrações e argumentos. que as mais das vezes se torna incompleto e incompreensível se não lido no todo. O estudo por meio de fotocópias se traduz em um aprendizado pobre, feito de cacos desconexos e sem harmonia. O estudante viciado em fotocópias se torna, enfim, como diz aquela música, em alguém que sabe “de quase tudo um pouco e quase tudo maaaallll.”...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sobre o Trabalho Doméstico Infantil

Por Klauber Cristofen Pires

Há algum tempo atrás, a trabalho, visitei as instalações de uma Delegacia do Ministério do Trabalho e Emprego. Oportunamente, sempre me perguntei qual a necessidade desta diferença que foi criada no nome desta instituição, isto porque a mudança havida parece sugerir que emprego não deve significar necessariamente trabalho. As ideologias de esquerda adoram a abundância: nas passeatas que seus grupos promovem, recorrentemente apelam a frases tais como “contra a violência e a favor da paz”, ou “contra o desemprego e a favor da estabilidade”, e assim por diante.

Entrementes, o que me chamou a atenção foi ver, espalhados pelos corredores, diversos cartazes anunciando uma campanha daquele Ministério contra o trabalho doméstico infantil. Claro, que aqui não se trata de emprego, e talvez seja esta a fundamentação oriunda da diferença no nome acima comentada: o trabalho então passaria a ser entendido não apenas como o resultante de acordos de prestação remunerada de serviços entre partes contratantes, mas sim como qualquer ação humana.

Se isto for verdade, então o Estado, por meio do seu MTE, passa a aumentar significativamente a amplitude de sua competência, de modo a lhe ser permitida a interferência ilimitada na vida privada: não causaria estranheza, portanto, opinar sobre o trabalho doméstico, como acabou de fazer, e por extensão, não teremos o direito a nos surpreender se um dia nos for exigido filiação em algum sindicato para trocar o pneu do carro ou consertar o cano da pia, ou mesmo se vier a considerar a vida sexual do casal como um problema trabalhista.

Tal como a legislação trabalhista não consiste em garantia de trabalho, mas antes, em um código corporativista constituído de diversas formas de impedi-lo ou dificultar sua ocorrência, não poderia ser diferente com a instituição criada para fiscalizá-lo. Portanto, ao ampliar sobejamente seu campo de atuação, parece o Estado interessado em repudiar o trabalho, a priori, onde quer que se encontre; parece, portanto, assaz interessado em minar as iniciativas das pessoas, em estimular o niilismo, até mesmo dentro do reduto mais sagrado, que é o lar.

Neste contexto, talvez seja conveniente relatar alguns aspectos da minha infância: desde quando garoto, sempre me acostumei a auxiliar nas tarefas domésticas, de tal forma que, com cerca de 10 ou 11 anos (independentemente de ser do sexo masculino – meus pais não me concediam tal privilégio) já cuidava praticamente de todas as tarefas domésticas, tal como colocar as coisas em ordem, varrer, encerar e lustrar, passar palha de aço, limpar e lustrar os móveis, lavar as louças, varrer e “capinar” o quintal, e muito mais.

Jamais, contudo, estas tarefas cercearam meus estudos ou minhas brincadeiras, ou pior, fizeram de mim um tipo revoltado. Pelo contrário: a uma certa altura da minha vida, ingressei em instituições de ensino militares, e praticamente todas as tarefas a mim incumbidas foram cumpridas com naturalidade: limpava banheiros, varria o alojamento, lavava e passava minha roupa, lustrava meus coturnos e sapatos, bem como meu cinto e os meus distintivos e insígnias. Tudo isto, sem prejudicar meus estudos, a ponto de ter me formado como oficial-aluno (distinção concedida aos melhores alunos), tanto no nível secundário quanto no superior.

Em linha contrária, se melhor posição eu – ainda – não galguei na vida, confesso que isto se deve unicamente aos meus próprios defeitos, jamais a algum alegado tempo que me fora subtraído ou trauma adquirido. Pelo contrário, parece-me que tudo isto sempre me proporcionou um senso de autoconfiança e independência, que eu claramente sentia serem muito superiores a muitos outros jovens da mesma idade.

Mais além, a participação na divisão das fainas do lar também contribuiu para o desenvolvimento do valor do companheirismo, de repartir o ônus, de sentir-se integrado na célula familiar; dias atrás, testemunhei um fato deprimente, ao observar um morador de meu prédio, abarrotando-se de forma atrapalhada com pertences que retirava do seu carro para levar ao seu apartamento enquanto seu filho, um chupinzão mais alto que ele próprio, o acompanhava atrás, de mãos livres, e pior ainda, resmungando e de cara amarrada, carregando não mais que um fone de ouvido conectado a um aparelho de MP3!

Responsabilidade, justiça, comando e gestão também podem ser valores adquiridos com a disciplina familiar. Meu pai costumava me dizer que os melhores comandantes são aqueles que, quando na função de subordinados, melhor obedeceram. Hoje eu vejo o quanto lhe assiste a razão. Definitivamente, jamais tive uma empregada doméstica que se saísse melhor do que eu mesmo: basta-me um olho rápido para a avaliar a qualidade dos seus serviços; por extensão, na condução dos meus afazeres profissionais, sempre tive clara a medida das tarefas a serem distribuídas aos colegas subordinados, desde que sempre me senti capaz eu mesmo de realizá-las.

Se meu testemunho puder valer de alguma coisa, principalmente às famílias constituídas por pais e mães mais jovens, peço que entendam que, durante a minha infância, participar ativamente dos afazeres domésticos era uma necessidade, que foi facilmente superada com a colaboração mútua entre pais e filhos, vislumbrada a oportunidade de poupar o dinheiro que seria empregado com uma empregada doméstica para uso em outros fins, considerados por nós todos como mais valiosos.

É certo que hoje muitas famílias têm condições tranqüilas de manter não somente uma, mas talvez até mais auxiliares. Não pretendo aqui sugerir aos pais que reduzam seus filhos à função de domésticas. Entretanto, algumas poucas medidas podem ajudar a orientar seu filho a ser mais organizado, disciplinado e companheiro: ordene à sua secretária que limpe o quarto de seu filho, mas quanto à arrumação, isto deve pertencer a ele; determine a seu filho que lave imediatamente o copo que acabou de usar para beber água ou suco, bem como levar a sua roupa usada à área de serviço; que também ajude a carregar as compras do supermercado, a lavar a louça do jantar e coisas assim. Isto não lhe fará nenhum mal, por mais que o MTE sustente o contrário.



quarta-feira, 23 de maio de 2007

Uma História Liberal

Por Klauber Cristofen Pires

Meu pai costumava contar – com alguma recorrência - uma história para mim e meus irmãos. Era sobre a vida de uma família de nossa terra natal, a ilha de São Francisco do Sul, no nordeste de Santa Catarina. A história, além de realmente bela, era anunciada por ele como exemplo a ser seguido.

Esta família, dizia ele, era constituída por uma mulher e seus três filhos, todos muito pobres e necessitados. Todavia, jamais ela entregara os pontos; soubera como superar os percalços de seu – apenas aparente – infortúnio: quando ao entardecer, ela puxava seus filhos para coletarem “berbigões” nas coroas próximas às praias, aproveitando a maré baixa. Berbigões são moluscos característicos daquela região, e bastante apreciados pelos veranistas, tal como os mexilhões e as ostras. Tempos atrás, meu pai viu, em um grande supermercado, os mesmos, então denominados “Vôngoles”. Bem mais chique, não?

Com a coleta dos moluscos, eles voltavam pra casa e, ainda de madrugada, punham-se a cozinhá-los, para vendê-los ainda fresquinhos ao público. Todos participavam. Naquele tempo, bem se diga, não havia bolsa disso ou daquilo. Mas havia a escola pública. E até que era boa, comparada aos padrões atuais. Sem ter cadernos ou livros didáticos – não sei se já existia merenda escolar, mas creio que não - o único incentivo que as crianças tinham era a visão de um futuro melhor, apontada pela mãe, que não cansava de lhes exigir a boa aplicação nos estudos.

O primeiro dos filhos formou-se como sargento do exército, sendo que usou de seus recursos para financiar os estudos superiores do segundo irmão, que conquistou a carreira da Medicina, e ambos, finalmente, também ajudaram o caçula, que também alcançou o nível superior, tendo logrado invejável sucesso na carreira.

Que mãe vitoriosa! Que família vitoriosa! Imaginemos o quanto podemos aprender com um exemplo tão singelo, mas ao mesmo tempo tão profundamente belo! Exemplo de fé na vida, ao decidir por não abortar ou abandonar seus filhos; exemplo de fé em si mesma (e certamente, também em Deus), ao contar com seus próprios recursos e meios para superar as suas próprias dificuldades; exemplo de gestão, ao manter sempre a família sempre unida! E quantos outros exemplos mais...!

Que boa providência a de não haver naquele tempo bolsas-isso-e-aquilo e tantos benefícios! Ainda bem que não existia esta patrulha contra o trabalho infantil! Sorte que não existia o Ibama! Que alívio que o aborto era considerado por todos como uma monstruosidade! Quão afortunados por terem podido freqüentar uma escola ainda não ideologizada! (ou, pelo menos, não tanto como agora...).

Desconheço se esta senhora ainda vive. Se isto é certo, também o é o fato de que esteja desfrutando da vida com um farto conforto psicológico e espiritual, rodeada de amor, carinho, respeito e admiração, por seus filhos, noras e netos. Todavia, não deve estar desfrutando somente de conforto íntimo, mas também de amplo conforto material, incomparavelmente maior do que se estivesse escorada em benefícios pagos pelo governo.

Sua vida foi a prova de que o planejamento familiar fomentado pelo Estado é somente o atestado de sua incompetência, e a legalização do aborto é o instrumento que pretende obter para justamente – abortar – os insucessos – de seus desmandos e interferências na vida privada.

Em um mundo livre, mesmo o Brasil de quarenta anos atrás (sim, em muitos aspectos, eles eram muito mais livres que nós!), os indivíduos trabalham (não ficam necessariamente esperando em uma fila de emprego) usando dos talentos e recursos de que dispõem, e ao, fim, toda a humanidade prospera mais um pouco.

Em uma sociedade livre, não há que se falar em desemprego. Não há nada, por mais simplório que seja, que uma pessoa não possa fazer, e então obter algum ganho com seu esforço. Isto porque mesmo as tarefas muito banais têm algum preço, quando os compradores avaliam as oportunidades que terão caso abdicarem de fazê-las eles próprios. Imaginemos João, um excelente advogado. João também é um excelente cozinheiro. Ele costuma convidar amigos aos fins de semana para apreciarem seus talentos culinários. Contudo, necessita de uma cozinheira em sua casa, para fazer as refeições durante a semana, simplesmente porque seu tempo aplicado na advocacia é muito mais caro do que o tempo gasto na cozinha.

O desemprego não é senão fruto de proibições e/ou obrigações: o salário mínimo, por exemplo, não é uma garantia de emprego por um salário arbitrado como “justo”, mas sim tão somente uma proibição de contratar as pessoas mais humildes que, por não possuírem mais habilidades, somente podem contar com o subemprego ou benefícios do governo. Em cada um dos mais de mil artigos que compõem a CLT, ou de outros tantos que jazem nas legislações previdenciária, tributária ou ambiental, prevalece uma proibição de contratar. Não deveria ser surpresa haver tanto desemprego.

Em um mundo liberal, não há ninguém para mandar nos outros; cada um assume as rédeas de sua própria vida, e espontaneamente toma a iniciativa de executar as atitudes que julga cabíveis segundo o julgamento que faz de suas possibilidades e das necessidades dos demais.