Por Klauber Cristofen Pires Sob uma interpretação particular, o meu entendimento é que a diminuição progressiva dos votos brancos e nulos converge para a acentuação da polarização entre os eleitores governistas e os da oposição, ao passo que os faltosos tendem a demonstrar um alheamento voluntário baseado em um sentimento de falta de representatividade política. Não por acaso, os resultados do segundo turno de 2002, 2006 e 2010 apontam uma contínua queda dos percentuais dos candidatos vitoriosos.
Prezados leitores,
Como já expliquei anteriormente, o sistema votação em dois turnos persegue o ideal da consolidação de uma maioria absoluta sobre o total dos outros candidatos, dispositivo este que do ponto de vista de uma autêntica democracia representativa é algo não só inútil como perverso, eis que por tal meio costumam assumir os vencedores - especialmente o PT, que nutre um projeto permanente de poder hegemônico - o direito à legitimidade de reivindicar o butim sobre os adversários e seu eleitorado minoritário.
Em uma autêntica democracia representativa, a mera abstenção não constitui o esgotamento dos direitos políticos do eleitor, dado que a qualquer momento ele pode se valer das instituições públicas ou privadas para exigir o respeito aos seus direitos. Isto bem entendido, há quem falte às urnas justamente por preferir a estabilidade destas instituições à escolha personalista do mandatário da nação. Para tais pessoas, o governante será aquele que conduzirá os cuidados sobre a administração pública, e se o fizer de forma razoável, assim está bem, já que dele não se espera que tenha por objetivo infiltrar-se e interferir em seu credo religioso, na educação dos seus filhos, na forma do seu casamento e na condução e proteção dos seus
bens e dos seus negócios.
Claramente, não é este o cenário brasileiro, mas sim aquele em que os cidadãos estão marcadamente divididos entre os que apóiam ações de agressão à vida e aos bens dos seus conterrâneos e os que procuram se defender delas. Portanto, não vivemos em um ambiente que se possa classificar de pacífico ou harmônico.
Diante deste fato, importa avaliarmos o resultado das eleições sobre uma interpretação mais coerente com a realidade, pelo menos tal como enxergada pelos que passarão a ocupar o poder em 2011. Para tanto, reformulamos os percentuais não segundo os votos válidos, mas sobre o total de votos apurados. Preferimos desprezar o total do eleitorado porque este número pode compreender pessoas mortas ou de outra forma impossibilitadas. Como se vê, diante desta comparação, apenas 41,05 % dos eleitores votaram em Dilma Roussef, portanto, representando uma relação bem menor do que a maioria esperada.
Outros dados podem nos sugerir também informações relevantes:
Em 2010, considerados brancos e nulos em relação ao total apurado, temos o seguinte comparativo de 2002 a 2010 (Vide dados e gráfico):
Da análise dos dados, facilitada pelas linhas do gráfico, pode-se perceber uma tendência de elevação das abstenções, acompanhada simultaneamente por uma suave tendência de queda tanto dos votos brancos quanto dos nulos, ocasionando uma curva total de eleitores "não efetivos" com tendências de elevação desde o 1º turno de 2006.
Sob uma interpretação particular, o meu entendimento é que a diminuição progressiva dos votos brancos e nulos converge para a acentuação da polarização entre os eleitores governistas e os da oposição, ao passo que os faltosos tendem a demonstrar um alheamento voluntário baseado em um sentimento de falta de representatividade política. Não por acaso, os resultados do segundo turno de 2002, 2006 e 2010 apontam uma contínua queda dos percentuais dos candidatos vitoriosos.
Lógico, há mil e uma razões para uma pessoa faltar ou votar em branco ou nulo, todavia os números falam quando possuem uma tendência visível, não meramente aleatória, tanto quanto são representativos os números, considerados absolutamente; no caso, o 2º turno de 2010 foi marcado pelo mais alto nível de abstenções, em uma relação extremamente incomum: 21,5%, mais do que os eleitores da candidata Marina Silva.
De todo modo, o que se quis representar aqui é que a aprovação popular do governo Lula e de sua sucessora, a agora presidenta eleita Dilma Roussef, segundo as urnas, sempre andou bem longe dos anunciados 80% e caminha para um desgaste. Além disso, há uma gradual mobilização popular de oposição, representada diminuição dos votos brancos e nulos, e por outro lado, acompanhada de um aumento geral de insatisfação com as opções políticas existentes, segundo o crescimento gradual das abstenções.
Concluindo, há dois movimentos de insatisfação com o continuismo lulo-dilmista e que estão seguindo caminhos diferentes: os que aceitam a representatividade política alternativa existente e os que não a aceitam. Um bom trabalho de formação de uma nova fente de oposição, sem as dubiedades e servilismos vistos até então, clara, objetiva, transparente e que se apresente desde já pode captar esta fatia do eleitorado antes mesmo da reversão pelos votos situacionistas.
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