Hoje, vivemos uma dupla crise no Brasil e na América Latina: a crise conjuntural de um modelo bolivariano de visão política pós-ditadura totalitário, que fecha um ciclo de uma luta de centralizadores do século passado.
Os centralizadores ditos de direita contra os centralizadores ditos de esquerda, ambos sob a égide do final de um ciclo cognitivo, que tem como referência principal uma Revolução Demográfica que nos tirou de 1 para 7 bilhões de habitantes. O momento é da descentralização que combaterá os centralizadores. Os conceitos de direita e esquerda ficaram em 1999.
A outra crise é estrutural. É a chegada da Internet, que permite a reintermediação da publicação e da articulação sem a necessidades dos antigos intermediadores.
Antes do século XXI, não havia a possibilidade de um movimento de massa sem pensar nos antigos intermediadores políticos. Os movimentos de 2013 foram manifestações de forma, antes de qualquer coisa, e deixaram frutos metodológicos para os de 2015 contra o PT. Pessoas foram para as ruas em ambos os movimentos e disseram não principalmente para os antigos intermediadores, de forma espontânea.
Muitos reclamaram que não havia, em 2013, uma pauta unificadora, mas foi justamente a ausência de uma pauta unificadora, que é a característica do século XXI. São micro-pautas unidas em torno de um sentimento geral, que devem (e ainda não são) reguladas por plataformas digitais participativas, que ainda não existem, que vão permitir um novo diálogo de massa para o fazer político.
Hoje, a comunicação cidadão-política é feita, de forma vertical, esporádica, através de representantes, que não conseguem mais processar a demanda de um cidadão empoderado de mídia. A política 3.0 já está começando e será feita de forma horizontal, o tempo todo, através de plataformas digitais participativas.
Estamos saindo da gestão da política para a curadoria política. Serão os algoritmos que nos permitirão aumentar a participação das pessoas nas decisões coletivas, através de um longo processo de aprendizado da melhor forma de programá-los.
Por fim, muitos reclamam no Brasil da passividade da nossa oposição diante dos descalabros do atual governo, mas vivemos justamente um momento de passagem.
O que estamos questionando, pela ordem é:
– O PT;
– O PSDB e os outros partidos de oposição;
– E também e principalmente o atual fazer político.
Não temos nada ainda para colocar no lugar, mas os movimentos MBL, Vem para Rua e Revoltados on-line apontam o início de um novo modelo.
O próximo passo é o desenvolvimento de Plataformas Digitais Participativas, que possam, por exemplo, via algoritmos, apontar as principais demandas e escolher dias e maneiras de se fazer manifestações.
Estes movimentos, que podemos chamar de Uber da política, passam de gestores da massa a curadores da massa.
O papel dos novos agentes políticos não é mais dialogar com a massa diretamente, mas criar plataformas para que o diálogo ocorra lá dentro, mediados por algoritmos.
Aprender ao longo do tempo como programar estes algoritmos para que eles possam ter a menor taxa possível de vandalismo e fraude e a maior possível de relevância, diante do que as pessoas querem a cada momento. Sim, da mesma maneira que os taxistas estão contra o Uber, a classe política não quer que os movimentos 3.0 da política cresçam.
Estão com receio legítimo de perder o lugar. Mas vão; resta saber o sofrimento que teremos até que consigamos colocar algo mais eficaz no lugar.
SOBRE O AUTOR
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense/IBICT Instituto Brasileiro em Ciência e Tecnologia com a tese “Macro-crises da Informação”. Jornalista e consultor especializado em estratégia no mundo Digital, desde 1995 com foco no apoio à sociedade a lidar melhor com essa passagem cultural, reduzindo riscos e ampliando oportunidades. Atualmente, se dedica a implantação de laboratórios de inovação digital participativos em organizações públicas e privadas, incluindo Escolas. Atualmente, tem ajudado neste campo a IplanRio, empresa de tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro e a Secretária Municipal de Educação do Rio de Janeiro e a ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestre, entre outros. Professor nos seguintes cursos do Rio: MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, Gestão Estratégica de Marketing Digital e/ou Mídias Digitais nos cursos de Pós-graduação da Faculdade Hélio Alonso (IGEC) e Mídias Digitais Interativas no Senac/RJ, bem como, em diferentes curso de pós, MBA da Universidade Veiga de Almeida, além disso, professor do IBP – Instituto Brasileiro do Petróleo. Palestrante do AgendaPolis (Brasília), onde já promoveu oito encontros sobre o tema “Governo 2.0” para organizações dos Governos Federal, Estadual e Municipal. Autor do livro “Gestão 3.0 e a crise das organizações tradicionais”, publicado pela Editora Campus/Elsevier, em agosto de 2013. Escolhido como um dos 50 Campeões brasileiros de inovação, pela Revista Info, em 2007. É também co-autor junto com Marcos Cavalcanti do primeiro livro sobre Web 2.0 no Brasil: Conhecimento em Rede, da Editora Campus/Elsevier, utilizado em vários concursos públicos, incluindo o do BNDES.