sábado, 31 de outubro de 2015

Por que os tucanos mentem sobre o Estatuto do Desarmamento?

Simbolo-do-PSDB-TUCANOSim, vamos variar um pouquinho, afinal o PT e suas pequenas linhas auxiliares são uma verdadeira “encheção de saco” e é bom, de vez em quando mudar de alvo – apenas de vez em quando, porque o dever nos chama a manter a vigilância constante. Hoje temos que falar sobre o Partido da Social Democracia Brasileira, a nossa velha conhecida “oposição” partidária mais expressiva.
Como por vezes já disse, particularmente não pertenço ao grupo que acredita que PT e PSDB sejam exatamente a mesma coisa. Não são. A diferença não é de essência e natureza, é de grau, mas isso estabelece uma distinção ideológico-prática que é, a meu ver, relevante. Um é um partido socialista, que se casa com o sindicalismo barulhento, a Teologia da Libertação, e, uma vez no poder, com o populismo estatizante ao estilo getulista e nacional-desenvolvimentista que tanto nos caracterizou a história. O outro é social-democrata, com alas mais sociais-liberais, e, em candidaturas mais regionais, já chegou até a ter abertura para opções mais conservadoras e liberais que no PT seriam absolutamente impossíveis; recordo-me aqui, na última eleição, de Rodrigo Mezzomo, que concorreu a deputado federal pelo partido no Rio de Janeiro, embora não tenha sido eleito. O governo deFernando Henrique tem um legado, consolidou o Plano Real – há quem diga que ele apenas “pegou uma carona”; é certo que eu era um bebê à época e quem acompanhou pode ter uma impressão mais acertada, mas o que eu li em livros e documentos que registram a história não me permitiu retirar seus méritos como estadista naquele momento. Respeito o governo de FHC, a lei de responsabilidade fiscal – que hoje Dilma descumpriu -, o tripé macroeconômico, o combate à inflação.
No entanto, eles são ambos de esquerda. Um amigo, o jornalista Victor Grinbaum, recentemente fez uma comparação interessante. Após a queda da ditadura de Vargas, ele deixou o Brasil comandado por PSD e PTB, o primeiro mais moderado e centrista, o segundo mais esquerdista, mas dois partidos que representavam diferentes setores de sua base de sustentação. A oposição de verdade, portanto, ficava basicamente limitada à UDN, o partido do grande Carlos Lacerda, mas sem conseguir, normalmente, impedir o domínio nacional dos outros dois partidos. Getúlio, assim, possibilitou que ele e sua herança política sempre prevalecessem. Na Nova República, com o passar do tempo, PSDB e PT passaram a monopolizar as atenções e a disputa pelos cargos e pelo poder, sem que haja um partido conservador ou liberal para contrabalançar. Não temos sequer uma UDN de verdade. O PSDB não é a alternativa em que gostaríamos de votar. Muitos de seus membros defendem bizarrices como as cotas raciais, por exemplo. Embarcam em todo tipo de agenda politicamente correta. O partido é apenas a opção relativamente possível que nós tivemos durante esse tempo todo.
Relativamente possível. Afinal, o tipo de oposição frágil, ineficaz, conivente, desapaixonada, frouxa, covarde que fizeram durante todos esses anos de domínio lulopetista sempre nos revoltou, e sempre os deixou longe de alcançarem a vitória sobre o irmão gêmeo mais violento. A frouxidão de alguns líderes tucanos, esta semana, se somou à mentira. O próprio Fernando Henrique Cardoso – que já vinha passando vergonha com suas entrevistas internacionais dizendo que Dilma é honrada, e sua hesitação em apontar o dedo para os inimigos do Brasil – e o senador Aloysio Nunes Ferreira – este último um ex-terrorista comunista ao tempo do regime militar, que até vinha tendo posições mais ativas contra o governo, embora seu nome também tenha aparecido na Lava Jato – mentiram. Não há outra palavra.
Segundo FHC, em vídeo, referindo-se ao importante projeto de lei, cujo relatório, em um primeiro passo importante, foi inicialmente aprovado nessa semana, “revogar o Estatuto do Desarmamento é um escândalo”. O ex-presidente fez um apelo para que os deputados se esforcem por rejeitar o pedido, sob a alegação de que o malfadado estatuto foi uma “construção política feita com a sociedade e teve efeitos: reduzir o número de mortes”. Número de mortes esse, segundo o tucano, “que já é absurdo, continua sendo absurdo. Como é que vamos agora derrubar este estatuto e permitir que pessoas, até criminosos, tenham legitimamente armas? ”. Porque, é claro, criminosos terem armas seria algo que jamais imaginaríamos ver por aqui… Em seu perfil na rede social Facebook, Aloysio faz coro com o grande referencial simbólico de seu partido. Diz que o Estatuto “foi uma conquista importante da sociedade brasileira”, feita com base em uma interpretação, pelo Congresso, do “anseio da população pela redução da violência”. Voltar atrás seria, para ele, “um enorme retrocesso, uma barbaridade”. Aloysio, tal como FHC, é “rigorosamente contra isso”.
Não podemos pedir deles mais do que eles podem dar, é verdade. Somente os retardados e cínicos acreditam que o PSDB e seus caciques sejam lideranças “de direita”, liberais ou conservadoras; a esquerda social-democrata, a espécie política a que eles pertencem, basicamente defende o controle excessivo das armas em quase qualquer lugar do mundo. É uma das grandes bandeiras dos Democratas nos Estados Unidos, por exemplo. O mínimo que não deveriam fazer, porém, seria mentir. O povo brasileiro não construiu o Estatuto do Desarmamento, senhores. Ao contrário, o povo brasileiro opinou NO REFERENDO DE 2005, votando CONTRA a proibição da comercialização de armas de fogo. 63,94 % dos eleitores não se sentiram comovidos pelos reclames “bonitinhos” dos desarmamentistas, grupo do qual os tucanos sempre fizeram parte, preparando o terreno para esse estatuto desde o tempo em que governaram. A maioria dos principais tiranos da história moderna também fez uso do desarmamento, e não à-toa os conservadores americanos são tão ciosos de sua liberdade de portar instrumentos de defesa da vida.
Já discutimos nossa opinião sobre o desarmamento; é ineficaz, os mais de 50 mil homicídios por ano respondem aos ilustres tucanos sobre o quanto nossa sensação de insegurança e nosso medo de sair às ruas foram confrontados por essa política inútil. É imoral, porque nada justifica que o indivíduo seja, desde que atestadas mínimas condições mentais, privado desse direito, e forçado a deixá-lo completamente entregue às mãos do Estado – do qual, em hipotético caso de necessidade, diante de eventuais arbitrariedades, ele não terá meios de se proteger. O Estado não é sacrossanto, muito ao contrário; como garantir, a priori, que isso jamais será necessário?
Fernando Henrique, Aloysio Nunes, PSDB: cessem de ginásticas conceituais e mentiras. Querem ser intérpretes do povo, mas não o estão efetivamente representando. Oxalá chegue o dia em que possamos mostrar a esses senhores que seu tempo na história já terminou e que eles se convençam disso. Precisamos de uma nova via que nos represente. Que ela venha o quanto antes!

SOBRE O AUTOR

Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista, graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela UFRJ, colunista e assessor de imprensa do Instituto Liberal. Estagiou por dois anos na assessoria de imprensa da AGETRANSP-RJ. Sambista, escreveu sobre o Carnaval carioca para uma revista de cultura e entretenimento. Participante convidado ocasional de programas na Rádio Rio de Janeiro.
Fonte: Instituto Liberal

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